Nº 8718/11 MJG MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL HABEAS CORPUS Nº 109.738/SP PACTE : HENRIQUE WELLINGTON MIRWALD GARRETT IMPTE : WILTON MIRWALD GARRETT COATOR : RELATOR DO HC Nº 213.973 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RELATOR : EXMO. SR. MINISTRO MARCO AURÉLIO PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES. ART. 33, CAPUT, C/C O ART. 40, V, DA LEI Nº 11.343/06. PRISÃO CAUTELAR. NEGATIVA DO BENEFÍCIO DA LIBERDADE PROVISÓRIA. WRIT CONTRA DECISÃO QUE INDEFERIU PEDIDO DE LIMINAR NOS AUTOS DO HC Nº 213.973/SP, IMPETRADO NO STJ. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 691 DO STF. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. EXCEPCIONALIDADE NÃO DEMONSTRADA. APONTADO EXCESSO DE PRAZO NA CUSTÓDIA PROVISÓRIA. JUÍZO DE RAZOABILIDADE. DESÍDIA NÃO EVIDENCIADA. ADOÇÃO DAS PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA O REGULAR DESENVOLVIMENTO DO FEITO. INSTRUÇÃO CRIMINAL JÁ ENCERRADA. AÇÃO PENAL NA FASE DE OFERTA DE ALEGAÇÕES FINAIS PELA DEFESA. PACIENTE SUBMETIDO À CIRURGIA BARIÁTRICA ANTES DE SUA PRISÃO CAUTELAR. ALEGADO RISCO DE DESNUTRIÇÃO. PROBLEMAS DE SAÚDE E IMPOSSIBILIDADE DE ACOMPANHAMENTO MÉDICO E NUTRICIONAL NÃO ATESTADA NOS AUTOS. RECOMENDAÇÃO DE MONITORAMENTO DA CONDIÇÃO DE SAÚDE DO PRESO. MANUTENÇÃO DA SEGREGAÇÃO ANTECIPADA. - Parecer pelo não-conhecimento do mandamus ou, no mérito, pelo indeferimento da ordem.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 2 EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RELATOR epígrafe, diz a V. Exa. o que segue: O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, nos autos em Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado por Wilton Mirwald Garrett, advogado, em favor de HENRIQUE WELLINGTON MIRWALD GARRETT, contra decisão da Presidência do Superior Tribunal de Justiça, que indeferiu medida liminar nos autos do HC nº 213.973/SP, nos seguintes termos: O thema decidendum, relativo à concessão de liberdade provisória a paciente que responde por crime de tráfico ilícito de entorpecente, é controverso tanto no âmbito do Superior Tribunal de Justiça quanto no âmbito do Supremo Tribunal Federal, de modo que deve ser enfrentado pela Turma julgadora quando do julgamento do pedido. Indefiro, por isso, a medida liminar. Solicitem-se as informações. Após, vista ao Ministério Público Federal, com posterior encaminhamento ao relator. Intimem-se. Consta dos autos que o paciente e um corréu foram presos em flagrante, em 08/10/2010, na Rodovia Presidente Dutra, Km 204, sentido São Paulo Rio de janeiro, pela prática, em tese, do delito previsto no art. 33 c/c o art. 40, V, ambos da Lei nº 11.343/06, porquanto surpreendidos por policiais com 10.015,3 g de crack e 880,2g de cocaína. Ao indeferir o pedido de liberdade provisória, o Juízo da 2ª Vara Judicial da Comarca de Santa Isabel - Foro Distrital de Arujá/SP consignou a inexistência de excesso de prazo na custódia cautelar do ora paciente, destacando a circunstância de a instrução probatória se encontrar concluída.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 3 Inconformada, a defesa do paciente impetrou habeas corpus perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que denegou ao ordem por entender não configurado o excesso de prazo na segregação processual ou incúria do Juízo de origem na condução da fase instrutória. Reiterado o pedido de liberdade provisória no Superior Tribunal de Justiça, o Ministro Presidente, Ari Pargendler, nos autos do HC nº 213.973/SP, indeferiu a liminar, ressaltando que a matéria alusiva à concessão de liberdade a paciente denunciado por crime de tráfico ilícito de drogas é controversa e deve ser apreciada pela Turma julgadora. Daí o presente writ, em que o impetrante afirma ainda não estar encerrada a instrução criminal, encontrando-se o paciente preso há mais de 295 dias. Aponta a ocorrência de excesso de prazo e considera ser imperioso o relaxamento da prisão, sob pena de restar caracterizado o cumprimento antecipado da pena, em afronta ao princípio constitucional da presunção de inocência. Ressalta, também, o enunciado da Súmula nº 697 do STF, segundo o qual a proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão processual por excesso de prazo. Assevera, ainda, que o paciente foi submetido a uma cirurgia bariátrica (redução de estômago) em 01/06/2010 e não vem tendo acompanhamento médico nutricional adequado na prisão, o que pode levar a graves complicações pós-operatórias, como anemia e desnutrição, e até mesmo ao óbito.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 4 Requer, assim, a concessão da ordem de habeas corpus para que seja assegurado ao paciente o direito de responder ao processo em liberdade, determinando-se a expedição de alvará de soltura em seu favor. Medida liminar indeferida. É o relatório. prosperar. A presente súplica, todavia, não reúne condições de Com efeito, o presente habeas corpus volta-se contra decisão do Ministro Ari Pargendler, do Superior Tribunal de Justiça, que houve por bem indeferir o pedido liminar deduzido nos autos do HC nº 213.973, no qual se postula o relaxamento da custódia cautelar do paciente, por excesso de prazo na formação da culpa. Entretanto, cumpre destacar que o conhecimento do habeas corpus em tal circunstância reveste-se de caráter excepcional, legitimando-se apenas nos casos em que o constrangimento à liberdade de locomoção do paciente for evidente, podendo ser demonstrado de plano. A própria análise relativa à existência de ilegalidade pressupõe o exame do mérito do pedido formulado. Por isso mesmo, o pronunciamento antecipado da instância superior deve restringir-se aos casos em que a constrição à liberdade do paciente resultar de decisão teratológica, ou manifestamente ilegal, ou seja, apenas na hipótese em que a afronta ao ordenamento jurídico e aos direitos fundamentais do acusado apresentar-se flagrante, o que, efetivamente, não ocorre no caso.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 5 Nessa vertente, as alegações deduzidas na inicial não conduzem à conclusão de que tenha sido proferida decisão absolutamente teratológica ou ilegal. Ao contrário. No presente caso, não houve, por parte do Juízo de origem, desídia na instrução do processo, uma vez que vem adotando todas as providências necessárias para o regular andamento do feito. Tanto é assim que, por decisão proferida em 05/10/2011, declarou o encerramento da instrução e deferiu, em razão disso, o recambiamento do paciente para uma das unidades prisionais do seu Estado de origem, Pernambuco. 1 Por sua vez, o fundamento da decisão que indeferiu a medida liminar residiu, em última análise, na inexistência de ilegalidade na própria manutenção da custódia cautelar do paciente, devendo a questão relativa à concessão da liberdade provisória a réu que responde por crime de tráfico ser enfrentado pela Turma julgadora. Há de se reconhecer que tal contexto descaracteriza a presença de ilegalidade flagrante, capaz de legitimar o pleno exercício da competência dessa Suprema Corte em hipótese como a descrita nos autos. O presente remédio heróico, a bem da verdade, é um claro exemplo de impetração sucessiva ou per saltum, em face de decisão denegatória de liminar na instância anterior. De todo modo, o exame acurado dos presentes autos, não revela circunstâncias indicadoras de flagrante ilegalidade ou de abuso de poder aptas a ensejar o afastamento, sempre excepcional, do mencionado verbete. 1 Informação extraída do sítio eletrônico do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, relativa ao andamento do Processo nº 045.01.2010.005423-6.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 6 Observa-se que, de fato, o paciente encontra-se preso desde 08/10/2010. No entanto, pelo que se extrai das informações juntadas ao feito, não há como reconhecer a existência de constrangimento ilegal por excesso de prazo na formação da culpa. Sabe-se que não configura injusta coação quando o elastério no encerramento da instrução decorre de circunstâncias que não podem ser atribuídas ao Juiz do processo ou ao Ministério Público. Além disso, nos dias de hoje, em que o número de ações penais cresce em todo o país, o prazo processual não deve ser visto como mera expressão aritmética, de maneira que a eventual caracterização da demora orienta-se pelo critério da razoabilidade. Na espécie, não se constata, à evidência, incúria por parte do Juízo de origem na condução do feito, posto que vem tomando as medidas necessárias para a regular tramitação do processo. Alias, como já mencionado, por decisão recente, proferida em 05/10/2011, reiterou o encerramento da instrução e ainda deferiu o recambiamento do paciente para uma das unidades prisionais do Estado de Pernambuco. Restou ainda esclarecido que um dos motivos da demora foi a espera do laudo pericial do veículo em que apreendidos os entorpecentes e da folha de antecedentes dos acusados, vindas dos Estados de Pernambuco e de Alagoas, bem como a certidão de objeto e pé dos processos existentes, já que os próprios réus admitiram ostentar condenações. De toda sorte, em que pese a sobrecarga da pauta de audiência do Juízo de primeiro grau, a instrução encontra-se encerrada, já tendo sido deferido o prazo sucessivo de 5 (cinco) dias para apresentação de alegações finais pela defesa dos réus.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 7 Por fim, a respeito, especificamente, da alegação do impetrante sobre a necessidade de acompanhamento nutricional, em razão de cirurgia bariátrica (redução de estômago) a que foi submetido o paciente em junho de 2010, tem-se que a assertiva não enseja a desconstituição da custódia cautelar. Sabe-se que a decretação do confinamento domiciliar para preso provisório apenas deve ocorrer em casos excepcionalíssimos, quando se verificar a ocorrência de moléstia grave, que importe em risco para a sua vida, conjugada com a impossibilidade de tratamento adequado na unidade prisional em que se encontra ou de um deslocamento constante entre o local da custódia e o estabelecimento hospitalar apropriado para os devidos cuidados médicos. No presente caso, verifica-se que não há comprovação sequer de que o paciente vem apresentando problemas de saúde decorrentes da realização da cirurgia bariátrica como anemia e desnutrição, que não possam ser tratados, de modo satisfatório, na unidade prisional em que se encontra segregado cautelarmente, sobretudo quando examinada declaração subscrita por nutricionista, datada de 13/10/2010, em que é recomendada uma alimentação equilibrada, com o uso regular de suplementos vitamínicos e minerais. Nesse contexto, a adequação das necessidades do ora paciente dieta balanceada e uso de suplementos nutricionais é possível de ser implementada com a manutenção de sua custódia cautelar, cabendo ao Diretor da unidade prisional acompanhar de maneira mais próxima a condição de saúde do preso, diligenciando de acordo com as situações clínicas supervenientes.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 8 Ante o exposto, opina-se pelo não-conhecimento do pedido de habeas corpus ou, no mérito, pelo indeferimento da ordem. Brasília, 19 de outubro de 2011. MARIO JOSÉ GISI Subprocurador-Geral da República