Resumo. Ronaldo de ALMEIDA JUNIOR¹ José Carlos Toledo VENIZIANI JUNIOR² Mario Roberto ATTANASIO JUNIOR³



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Transcrição:

A Legislação Florestal (Lei n. 12.651/2012) como Instrumento de Proteção e Recuperação das Áreas de Preservação Permanente das Propriedades Rurais da Bacia Hidrográfica do Córrego dos Pires - Jaú-SP Ronaldo de ALMEIDA JUNIOR¹ José Carlos Toledo VENIZIANI JUNIOR² Mario Roberto ATTANASIO JUNIOR³ Resumo A preservação e/ou recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) apresenta grande relevância devido à necessidade de proteção dos corpos d água em decorrência da degradação gerada pela ação antrópica. A legislação ambiental representa um dispositivo fundamental à proteção destas áreas. Este trabalho teve como objetivo identificar as APPs e as áreas a serem recuperadas nas propriedades rurais da bacia hidrográfica do Córrego dos Pires, por meio da aplicação e análise da Lei Florestal (Lei nº 12.651/2012). O trabalho foi realizado a partir da delimitação das divisas das propriedades, seguido da elaboração dos mapas de APP e da sobreposição dos mesmos. Os resultados indicaram propriedades na APP. Conforme fundamentação da Lei Florestal, a faixa de preservação foi delimitada e a de recuperação variou de acordo com a área total de cada propriedade. A APP total correspondeu a 26,48ha, sendo necessária recuperação de 12,06ha, isso representou uma área de recuperação não obrigatória de aproximadamente 54%. Levando-se em consideração os problemas encontrados no que se refere ao déficit de vegetação, esta constatação revela à necessidade da elaboração de um plano de recuperação da área, além da reestruturação e complementação das ações previstas na legislação ambiental vigente, visando à adequação das APPs nas propriedades. Palavras-chave: Área de Preservação Permanente, Córrego dos Pires, Lei Florestal, Propriedades rurais, Recuperação. 1. Faculdade de Tecnologia de Jahu r.junior_10@hotmail.com. 2. Faculdade de Tecnologia de Jahu jose.veniziani@fatec.sp.gov.br. 3. Faculdade de Tecnologia de Jahu marioraj@yahoo.com.br.

1. Introdução O processo de colonização e ocupação do território brasileiro têm se caracterizado pelo desordenamento e consequente destruição dos recursos naturais de forma predatória e agressiva ao meio ambiente (RIBEIRO et al., 2005). A ação antrópica exploratória sobre as áreas de preservação ambiental tem gerado inúmeros impactos, afetando negativamente a condição e a qualidade dos corpos d água, comprometendo a qualidade de vida das atuais e futuras gerações. A criação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) surgiu da necessidade de proteger os cursos d água, em decorrência das consequências geradas pelas ações antrópicas sobre a vegetação nativa adjacente a rios e córregos, que levaram a degradação de ecossistemas (LIMA et al., 2011). As APPs presentes nas propriedades rurais são consideradas bens de interesse individual e coletivo, pois o proprietário além exercer sua atividade econômica, deve zelar por oferecer um serviço ambiental à sociedade, ou seja, a propriedade rural possui função econômica e ambiental, representando um bem de interesse comum a todos. Os órgãos ambientais auxiliam no processo de defesa ao meio ambiente por meio da elaboração e implantação de leis e projetos com objetivo de proteger e direcionar melhor a relação entre ser humano e meio ambiente. A importância da existência de leis, como a Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012 alterada pela Lei 12.727, de 17 de outubro de 2012, que trata da reforma da Lei Florestal brasileira, exige dos proprietários rurais a destinação, preservação e recuperação (se necessário), de uma parcela de área ao longo das margens dos cursos d água para a Área de Preservação Permanente (APP). Diante deste contexto, a identificação das APPs em conjunto com as áreas que devem ser recuperadas na bacia hidrográfica do Córrego dos Pires é fundamental, pois esta contribui no diagnóstico dos possíveis impactos ambientais da ação antrópica sobre estas áreas. Este trabalho teve como objetivo levantar as propriedades rurais e identificar as Áreas de Preservação Permanente e as áreas a serem recuperadas na zona rural da bacia hidrográfica do Córrego dos Pires, por meio da aplicação e análise da Lei Florestal vigente (Lei nº 12.651/2012), visando garantir o seu cumprimento. O levantamento das propriedades rurais e a identificação de suas APPs, e das áreas que devem ter suas matas ciliares recuperadas permitiu a identificação das demandas para adequação ambiental das áreas rurais a Legislação Florestal vigente. 214

2. Fundamentação Teórica As matas ciliares ou florestas ciliares podem ser definidas como a vegetação florestal característica das margens ou áreas adjacentes a corpos d água, tendo como principal função assegurar a proteção das nascentes e margens dos rios (LIMA, 1989). A existência das matas ciliares exerce um papel fundamental para a conservação e manutenção do ciclo hidrológico. Para Alves et al. (2009) essas matas funcionam como barreira física, regulando os processos de troca entre os ecossistemas terrestre e aquático. As matas ciliares ocupam as áreas mais dinâmicas da paisagem, tanto em termos hidrológicos, como ecológicos e geomorfológicos (SILVA et al., 2010). As matas ciliares são áreas protegidas por lei desde 1965, quando se instaurou o Código Florestal brasileiro (Lei nº 4.471/1965), e ainda permanecem protegidas pela Lei nº 12.651/2012, que revogou o Código Florestal de 1965. Segundo a Legislação Florestal vigente (Lei nº 12.651/2012), a mata ciliar é contemplada como sendo Área de Preservação Permanente situada em torno dos corpos d água. Desta forma, a recuperação da mata ciliar tem função de compor a Área de Preservação Permanente, visando garantir o equilíbrio do ecossistema. As Áreas de Preservação Permanente podem ser definidas de acordo com o art. 3º, II da Lei Florestal vigente (Lei nº 12.651/2012), como (...) áreas protegidas, cobertas ou não de vegetação nativa, possuindo função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Nestas áreas, criadas para proteger os cursos d água não é permitido supressão arbórea ou qualquer modificação para outros fins que não seja o de preservação, ou seja, são áreas que não podem ter suas condições originais alteradas, devendo-se manter intocadas e preferencialmente cobertas pela vegetação nativa. A utilização do geoprocessamento tem ganhado notoriedade e vem sendo frequentemente aceito por diversos profissionais da área ambiental, aplicandose em levantamentos e análises ambientais, bem como para auxiliar o planejamento e desenvolvimento territorial (FRANÇA, 2011). O geoprocessamento tem como base a aplicação de ferramentas que possibilitam analisar o território de forma clara e objetiva. A utilização de sensores para captação de dados espaciais possibilitou conhecer e explorar o planeta Terra de forma dinâmica, através do reconhecimento e caracterização dos elementos existentes (ROSA, 2007). Ainda segundo o autor, os dados gerados por sensores representam uma importante ferramenta para a elaboração de inventário, mapeamento e monitoramento 215

dos recursos naturais. Com o avanço dos anos, o conjunto de técnicas e produtos do Sensoriamento Remoto tornou-se extremamente preciso e confiável, sendo amplamente aceito devido à geração de informações em um curto espaço de tempo e a custo acessível (ROSA, 2007). Ao longo do desenvolvimento e evolução da humanidade o processo de ocupação do território brasileiro têm se caracterizado pelo desordenamento e degradação dos recursos naturais de forma predatória, reflexo da falta de planejamento e gestão territorial. A ação antrópica exploratória sobre as áreas de preservação tem comprometido a existência da vegetação nativa remanescente e consequentemente colocado em risco à condição ideal de todo o ecossistema. Diante deste cenário, é necessário que o processo de ocupação do território ocorra a partir da utilização controlada dos recursos naturais, pois este é o princípio básico de um projeto de desenvolvimento equilibrado (SILVA; WERLE, 2007). Para que isso ocorra de forma eficiente é necessário o poder público e a sociedade atuar conjuntamente, por meio da legislação e adoção de um modelo de desenvolvimento ambientalmente correto e adequado. O foco do planejamento ambiental está na tomada de decisões, dependendo exclusivamente da elaboração de diagnósticos que possam identificar e definir o melhor uso possível dos recursos naturais do meio planejado. Desta forma, o planejamento implica em previsões e ações futuras, devendo ser consideradas também as consequências de cada ação determinada, bem como o somatório delas ao ambiente (MACHADO, 2009). Diante da importância que o planejamento ambiental representa para o desenvolvimento territorial, em uma bacia hidrográfica o foco de um planejamento adequado está voltado para a preservação e/ou recuperação das APPs. A recuperação destas áreas representa um importante instrumento de gestão ambiental, que deve ser adotado conjuntamente pelo poder público e os proprietários, beneficiando o crescimento e desenvolvimento adequado da área. O primeiro Código Florestal existente no Brasil foi criado em 1934, através do Decreto nº 23.793/1934, que tinha como premissa básica o estabelecimento de normas para exploração, conservação e reconstituição de florestas, assim como a determinação de pena prisional ou detenção consequente de multa por conduta causadora de danos a florestas (RIBEIRO, 2010). O código de 1934 manteve-se sustentado por outros decretos e leis subsequentes até a sua revogação em 1965 quando foi instituído um novo Código Florestal. O Código Florestal de 1965 (Lei nº 4.771/1965) apresentava como princípio básico a proteção de todas as florestas existentes em território 216

nacional, assim como os solos da erosão e os corpos hídricos do assoreamento. A novidade deste código de 1965 é representada pelas áreas privadas que então passaram a ser protegidas através de novos fundamentos, caracterizados pelo surgimento da Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente (RIBEIRO, 2010). Com o desenvolvimento econômico e ambiental crescente das últimas décadas e a falta de mecanismos necessários para o cumprimento da lei em vigência, o poder legislativo viu a necessidade da alteração/modificação do código existente. Perante esta necessidade, em 2012 o Código Florestal de 1965 foi revogado pela Lei nº 12.651/2012, que promoveu uma reforma do Código Florestal brasileiro. A lei Florestal de 2012 pouco se diferencia do Código Florestal de 1965 no que se refere às metragens das Áreas de Preservação Permanente. A existência da Lei Florestal de 2012 (Lei nº 12.651/2012) em sua respectiva vigência representa função semelhante de proteção aos cursos d água e as vegetações nativas, estabelecendo normas para Áreas de Preservação Permanente, áreas de Reserva Legal, exploração florestal e etc., porém com alterações no que se refere às Áreas de Preservação Permanente em áreas rurais consolidadas. Dentre as normas criadas para proteção das áreas de preservação, a Lei estabelece critérios e metragens gerais, que devem ser adotados pelos proprietários para a preservação e/ou recuperação das Áreas de Preservação Permanente de qualquer propriedade, excetuando-se o critério para recuperação de APPs em áreas rurais consolidadas (áreas ocupadas anteriormente a 22 de julho de 2008). A Tabela 1 mostra a relação do local, largura do curso d água e faixa a ser preservada. Para adequação e consequente regularização das propriedades rurais que possuem áreas consolidadas, visando à recuperação das Áreas de Preservação Permanente, é necessário que o proprietário se inscreva no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e cumpra as condições impostas pelo Programa de Regularização Ambiental (PRA) com objetivo de adequar as áreas irregulares. O Capítulo VI da Lei Florestal vigente (Lei nº 12.651/2012) faz referência ao Cadastro Ambiental Rural (CAR). O CAR é um registro eletrônico nacional, obrigatório para todas as propriedades e posses rurais do território nacional, composto por informações georreferenciadas delimitando as Áreas de Preservação Permanente, as reservas legais e os remanescentes de vegetação nativa. O cadastro é um dever de todos os proprietários, titulares do domínio útil ou possuidores a qualquer título de imóvel rural (FAEP, 2012). 217

Tabela 1 Metragem da APP de acordo com o art. 4º da Lei Florestal vigente (Lei nº 12.651/2012). Local Largura do curso d água Metragem/faixa de APP Ao longo de quaisquer cursos d água natural perene ou intermitente, excluídos os efêmeros Nas nascentes e olhos d água perenes Entorno de Lagos e Lagoas naturais Reservatório d água artificial * Até 10m 10m a 50m 50m a 200m 200m a 600m 30m 50m 100m 200m + de 600m 500m - 50m < 1ha Dispensado Entre 1 e 20ha 50m em zona rural + de 20ha 100m em zona rural Zona Urbana 30m Zona Rural Zona Urbana Não é exigida desde que não ocorra barramento ou represamento dos cursos d água naturais * A largura mínima de APP das áreas no entorno dos reservatórios de água artificial decorrentes de barramento ou represamento de cursos d água naturais será definida na licença ambiental do empreendimento. Fonte: Lei Florestal Lei nº 12.651/12. Segundo o art. 29º 1º, incisos I, II e III da Lei Florestal de 2012 (Lei nº 12.651/2012), a inscrição no CAR se dá por intermédio do órgão ambiental municipal ou estadual e necessita dos seguintes documentos: t Identificação do proprietário ou possuidor do imóvel; t Comprovação da propriedade ou posse; t Planta georreferenciada e memorial descritivo do imóvel, contendo: t Indicação das coordenadas geográficas com, pelo menos, um ponto de amarração do perímetro do imóvel; t Informações sobre: vegetação nativa, APP, Áreas de Uso Restrito, Áreas Consolidadas e Reserva Legal, caso existentes. A inscrição no CAR é indispensável para aderir ao Programa de Regularização Ambiental (PRA). O PRA permite ao proprietário rural regularizar legalmente as Áreas de Preservação Permanente consolidadas, desde que não estejam em áreas de risco e sejam observados critérios técnicos de conservação do solo e da água. O PRA soluciona vários passivos ambientais dos proprietários rurais e promove o acesso aos incentivos econômicos e financeiros na prestação de serviços ambientais (FAEP, 2012). 218

Para participar do PRA é necessário estar adequado aos seguintes requisitos (FAEP, 2012): t Cadastro Ambiental Rural (CAR); t Projeto de Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas; t Termo de compromisso de adesão ao PRA; t Cotas de Reserva Ambiental (CRA), quando couber. Agindo de forma conjunta ao CAR e ao PRA, a Lei Florestal ainda estabelece aos proprietários metragens específicas para recuperação das Áreas de Preservação Permanente em áreas rurais consolidadas. O art. 3º, IV define a área rural consolidada como sendo a área de imóvel com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio. De acordo com a Lei, as propriedades que se enquadram nesse contexto devem recuperar a Área de Preservação Permanente levando em consideração os critérios e metragens fundamentados nos art. 61-A e 61-B da Lei Florestal vigente: Tabela 2 Critério e metragem para recuperação de APP em áreas rurais consolidadas de acordo com o art. 61-A e 61-B da Lei Florestal vigente (Lei nº 12.651/2012). Área da propriedade rural (em módulos fiscais) Ao longo de cursos d água perenes* Nascentes e olhos d água perenes Entorno de lagos e lagoas naturais Veredas Limite (%) da área de recuperação de APP < 1 5m 15m 5m 30m 10% 1 a 2 8m 15m 8m 30m 10% 2 a 4 15m 15m 15m 30m 20% 4 a 10 20m a 100m** 15m 30m 50m Não há limite Demais 20m a 100m** 15m 30m 50m Não há limite casos ** Contada a a partir partir da da borda da da calha do do leito regular. ** ** Nos Nos demais demais casos, casos, conforme conforme determinação determinação do PRA do PRA observando observando o mínimo o mínimo de 20m de e o 20m máximo e o de 100m. Fonte: Lei Florestal Lei nº 12.651/2012. De acordo com a Lei Florestal vigente (Lei nº 12.651/2012), as Áreas de Preservação Permanente devem ser preservadas pelo proprietário ou ocupante da área, como estabelece o art. 7º ou podem ser alteradas de acordo com as condições impostas pelo art. 8º, referente ao regime de proteção das Áreas de Preservação Permanente. Segue a transcrição dos artigos: Art. 7º - A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser mantida pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física 219

ou jurídica, de direito público ou privado ; Art. 8º - A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previsto na própria Lei. Ainda de acordo com o regime de proteção das Áreas de Preservação Permanente, em seu Art. 61-A: Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008. Ou seja, para toda supressão de vegetação anterior a 22 de julho de 2008, salvo condições previstas na Lei, o proprietário pode seguir com sua atividade regularmente. Porém as áreas ainda constituem Áreas de Preservação Permanente e, portanto não podem ter outro uso ou aplicação, exceto para atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural pré-existentes, sendo permitida a manutenção e continuidade dessas atividades desde que não estejam em áreas que ofereça risco às pessoas e ao meio ambiente e que sejam observados critérios técnicos de conservação do solo e da água, indicados pelo Programa de Regularização Ambiental (PRA). Ou seja, o proprietário tem de recuperar (se necessário) a mata ciliar da Área de Preservação Permanente conforme determina a Lei, e ainda pode prosseguir com sua atividade regularmente, desde que a mesma não seja alterada. 3. Materiais e Métodos Para a realização deste trabalho foram utilizados os seguintes materiais: t Imagens do Google Earth; catálogo ID: 10100100083E6102 (data: 04/ 07/2008) e ID: 10100100083E6100 (data: 01/06/2010) disponível no Google Earth acesso em 15/03/2013. t Cartas Topográficas do Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo (IGC), escala 1:10.000, folhas (SF-22-Z-B-II-4-NE-A) e (SF-22-Z-B-II-4-NE-B). A bacia hidrográfica do Córrego dos Pires está localizada no município de Jaú, região centro-oeste do Estado de São Paulo, entre as latitudes: 22º17 11 ; 22º15 05 S e longitudes 48º34 03 ; 48º30 27. A Figura 1 apresenta o mapa de localização da área de estudo. A bacia hidrográfica do Córrego dos Pires é uma sub-bacia da bacia do rio Jaú que está inserida na UGRHI 13 Tietê-Jacaré (AZEVEDO et al., 2012). Ainda segundo o autor o clima da Bacia é do tipo Cwa, na classificação Köeppen, definido como tropical de altitude, com verão úmido e inverno seco. 220

Sua rede de drenagem é composta por quatro canais, com comprimento total de 8,35km. A precipitação anual em anos normais varia de 1400 a 1500mm. A bacia hidrográfica do Córrego dos Pires possui área total de 15,62km², desse total 9,59km² (61,4%) são ocupados por áreas urbanas e de expansão urbana. O restante, 6,03km² (38,6%), corresponde à área rural, em sua maioria composta por lavouras de cana-de-açúcar, atividade predominante na região (AZEVEDO et al., 2012). Esses dados ilustram o alto índice de urbanização ocorrido sobre a área rural, limitando-a a pouco mais de 1/3 da área total da bacia. Figura 1 Mapa de localização da bacia hidrográfica do córrego dos Pires Jaú/SP. Fonte: Cartas Topográficas do IGC escala 1:10.000 folhas Jaú I e II e Imagem do Satélite CBERS 2 B CCD 1XS 16/10/2008 órbita/ponto 156/125 bandas 1, 2 e 3 Composição Colorida e Imagem do Google Earth de 04/07/2008, acesso em 09/ 05/2010. (Sistema de coordenadas UTM-22-S Datum Córrego Alegre). Com base nas cartas topográficas do IGC e nas imagens de satélite obtidas através do software Google Earth datadas de 04/07/2008 e 01/06/2010 foi realizada a delimitação da área de estudo e a digitalização da hidrografia, gerando um mapa base para a realização da pesquisa de campo. A partir do mapa base foram levantadas informações referentes às propriedades rurais da bacia hidrográfica do Córrego dos Pires, delimitando as divisas das propriedades, por meio de entrevistas com os proprietários. As 221

informações levantadas foram transferidas para um arquivo digital utilizando o software AutoCAD MAP 2010, o que possibilitou a obtenção das áreas das propriedades. A partir da área das propriedades, determinou-se o número de módulos fiscais de cada propriedade rural, o módulo fiscal é medido em hectare, sendo considerada para o município de Jaú a área de 14ha, como um (01) módulo fiscal. A determinação do número de módulos fiscais com base nos art. 61-A e 61-B permitiu o enquadramento das áreas a serem recuperadas em cada propriedade rural. Utilizando o software AutoCAD MAP 2010 foram demarcadas as Áreas de Preservação Permanente em função das metragens estabelecidas pelo art. 4º (tabela 1) e as áreas a serem recuperadas conforme estabelecem os art. 61- A e 61-B (tabela 2). 4. Resultados e Discussão As Áreas de Preservação Permanente presentes nas propriedades rurais da bacia hidrográfica do Córrego dos Pires apresentam diversas irregulares, entre elas: voçorocas nas cabeceiras, erosões, assoreamento dos cursos d água e represas, poluição difusa/visual, entre outras. Um dos maiores problemas da bacia é o déficit de vegetação remanescente nativa, de modo geral essas áreas de florestas foram suprimidas ou modificadas ao longo do tempo, devido a uma série de fatores econômicos e sociais, fruto da ação antrópica predatória sobre estas áreas. As APPs do Córrego dos Pires possuem parcela considerável de área desmatada, comprometendo assim a função ecológica do curso d água, fauna e flora. A rede hidrográfica do Córrego dos Pires apresenta a partir da borda da calha do leito regular, largura transversal menor que 10m. Diante desta constatação, a Lei Florestal vigente (Lei nº 12.651/2012), em seu art. 4º, estabelece que as APPs de qualquer área devam ser preservadas ou recuperadas em no mínimo 30m para esta largura de curso d água, ou seja, por Lei, em qualquer propriedade, é necessário destinar, preservar e/ou recuperar APP com uma faixa mínima de 30m. No entanto, para propriedades rurais consolidadas, o limite exigido de recuperação é determinado pelos art. 61-A e 61-B. Na bacia hidrográfica do Córrego dos Pires, todas as propriedades rurais foram classificadas como área rural consolidada, por se tratar de área de ocupação bastante antiga, portanto anterior à data de 22 de julho de 2008. Dentre as 16 propriedades rurais levantadas apenas cinco (05) possuem APPs, restringindo a análise a estas propriedades. As propriedades rurais consolidadas foram codificadas em letras e números sequenciais. A letra representa o proprietário e o número representa 222

o número da propriedade que cada proprietário possui na bacia hidrográfica do Córrego dos Pires. O mapa das propriedades rurais consolidadas sobrepostas as APPs (art. 4º) e as áreas a serem recuperadas (art. 61-A e 61-B) podem ser observados na Figura 2. Figura 2 Propriedades rurais consolidadas e as Áreas de Preservação Permanentes. Fonte: Cartas do IGC escala 1:10.000 folhas SF-22-Z-B-II-4-NE-A e SF-22-Z-B-II-4- NE-B e Imagem do Google Earth de 01/06/2010. (Sistema de coordenadas UTM- 22-S Datum Córrego Alegre). As propriedades que apresentam área em APP foram nomeadas D2, F1, L1, G3 e M1. Por meio do cálculo da área total das propriedades e das respectivas áreas em módulos fiscais, levando em consideração a Lei nº 8.629/ 1993 as propriedades puderam ser classificadas como pequenas e médias propriedades. A classificação foi feita de acordo com o tamanho da área em módulos fiscais. Esta lei classifica como pequena propriedade as que possuem área entre um (01) e quatro (04) módulos fiscais e média propriedade as com área entre quatro (04) e quinze (15) módulos fiscais, sendo considerado o valor de 14ha para cada módulo fiscal no município de Jaú, conforme a Instrução 223

Especial do INCRA de 1980. Desta forma foi possível classificar as propriedades D2, F1 e L1 como pequenas propriedades e as propriedades G3 e M1 como médias propriedades. A Lei Florestal vigente determina a faixa de recuperação de acordo com a área total da propriedade, calculada em módulos fiscais. Com base nos art. 61-A e 61-B, a tabela 3 apresenta a relação da área total em hectare e módulos fiscais, além do estabelecimento de critérios para recuperação das APPs em áreas rurais consolidadas. Tabela 3 Área das propriedades rurais em módulos fiscais e a área consolidada a ser recuperada. Propriedade Área total (ha) Nº em Módulos Fiscais* Faixa a ser recuperada** Nascentes de olhos d água Limite (%) máximo de área de recuperação permitido D2 33,40 2,39 15m 15m 20% F1 55,69 3,98 15m 15m 20% G3 126,86 9,06 20m a 100m*** 15m Não há limite L1 23,54 1,68 8m 15m 10% M1 82,28 5,88 20m a 100m*** 15m Não há limite * O módulo fiscal do município de Jaú é 14 hectares. ** Contada a partir da borda da calha do leito regular. *** Nos demais casos, conforme determinação do PRA observando o mínimo de 20m e o máximo de 100m. Fonte: Elaborado pelo autor. A Lei determina que os proprietários devam destacar a parcela de sua propriedade, que está às margens dos corpos d água, zelando pela preservação e destinando as mesmas a recuperação caso necessário. Adotando a Lei Florestal como referência para base de um plano de recuperação, as cinco (05) propriedades que apresentam APP em suas áreas, nomeadas D2, F1, L1, G3 e M1, foram divididas e analisadas individualmente. A figura 3 ilustra as propriedades e identifica as APPs e as áreas que devem ser recuperadas, em cada propriedade rural. Em relação à recuperação da mata ciliar dos cursos d água, com base nos art. 61-A e 61-B da Lei Florestal de 2012, as propriedades G3 e M1 (figuras 3- D e 3-E) foram enquadradas como propriedades entre quatro (04) e dez (10) módulos fiscais, devendo ser recuperada uma faixa de APP entre 20m e 100m, não havendo limite máximo de área para recuperação. A determinação da faixa de 20m a 100m é de responsabilidade do Programa de Regularização Ambiental (PRA), havendo a necessidade de cada proprietário aderir ao programa. A fim de caracterizar o pior quadro possível, optamos por considerar neste estudo a faixa mínima exigida por Lei, ou seja, 20m. 224

Constatou-se também que as propriedades D2 e F1 (figura 3-A e 3-C) possuem áreas entre dois (02) e quatro (04) módulos fiscais, portanto deve ser recuperada uma faixa de 15m, não podendo ultrapassar 20% da sua área total. A propriedade L1, (figura 3-B) possui área entre um (01) e dois (02) módulos fiscais, portanto deve ter uma faixa recuperada de apenas 8m, não podendo ultrapassar 10% da sua área total. Figura 3 Propriedades rurais consolidadas que possuem APPS e identificação das áreas a serem recuperadas. Fonte: Elaborado pelos autores. Tomando por base os art. 61-A e 61-B a propriedade L1 é a que apresenta a menor área total (23,54ha) sendo necessária a recuperação de 1,36ha o que corresponde a 5,77% de sua área total. Se considerarmos a Área de Preservação Permanente estipulada pelo art. 4º temos uma área de 4,72ha, isso representa que aproximadamente 71% da APP não será recuperada. Em relação à propriedade D2, que possui área total de 33,4ha, deve ser recuperada uma área de 1,5ha, correspondendo a 4,49% da área total da 225

propriedade. Comparando a APP estipulada no art. 4º (2,82ha) e a área a ser recuperada, temos que em torno de 47% da APP não será reflorestada. É importante lembrar que além das APPs dos cursos d água, a Lei Florestal vigente em seu art. 61-A exige recuperação de um raio mínimo de 15m no entorno das nascentes perenes. As propriedades F1, G3 e M1 apresentam nascentes perenes em suas áreas além dos cursos d água. A propriedade F1, que possui área total de 55,69ha tem de recuperar 1,45ha ou 2,6% da área total da propriedade, sendo que sua APP correspondente a 3,67ha permitindo concluir que 60% de sua APP não será recuperada. Na propriedade M1, devem ser recuperados 3,63ha ou 4,41% da área da propriedade, sendo que sua APP, estabelecida com base no art. 4º da lei Florestal, é de 6,04ha, indicando que 40% da área total da APP da propriedade não será recuperada. A propriedade G3 apresenta APP de 9,23ha, porém a área a ser recuperada é de 4,12ha que corresponde a apenas 3,24% da área total, indicando que 55% de sua área não estão sujeitas a recuperação florestal. A área total das APPs na área rural da bacia hidrográfica do Córrego dos Pires segundo o art. 4º da Lei Florestal de 2012 corresponde a 26,48ha, porém segundo as especificações dos art. 61-A e 61-B devem ser recuperados apenas 12,06ha, representando que aproximadamente 54% da APP não será obrigatoriamente recuperada. A seguir a tabela 4 apresenta às áreas de preservação e recuperação em relação à área total da propriedade. Tabela 4 Área das propriedades, área de preservação e área de recuperação. Propriedade Área da propriedade (ha) Área de preservação (ha)* % da área de preservação APP a ser recuperada Nascente a ser recuperada Área de recuperação (ha) % da área de recuperação L1 23,54 4,72 20,05% 8m - 1,36 5,77% D2 33,40 2,82 8,44% 15m - 1,50 4,49% F1 55,69 3,67 6,59% 15m 15m 1,45 2,60% M1 82,28 6,04 7,34% 20m** 15m 3,63 4,41% G3 126,86 9,23 7,27% 20m** 15m 4,12 3,24% TOTAL 321,77 26,48 8,22% - - 12,06 3,74% * Área calculada em faixa de 30m. ** Nos demais casos, conforme determinação do PRA observando o mínimo de 20m e o máximo de 100m. Neste estudo foi adotado o limite mínimo exigido. Fonte: Elaborado pelo autor. 226

A legislação Florestal vigente, ainda em seu art. 61-A, autoriza a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas consolidadas até 22 de julho de 2008, ou seja, estas atividades implantadas anteriormente a esta data podem continuar, desde que não ocorra nova supressão da vegetação remanescente e seja comprovada a prática de conservação do solo e da água. Mediante o art. 3º, XXV da Lei Florestal de 2012 foi estabelecido à definição de áreas úmidas, porém, o complemento da Lei não faz referência à proteção destas áreas. A Lei Florestal não apresenta critérios e metragens para proteção destas áreas, porém o art. 6º, IX considera que são de preservação permanente, quando declaradas de interesse social por ato do Chefe Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação (...), entre elas: proteger áreas úmidas. Sendo assim é possível proteger as áreas úmidas, por meio de legislação estadual ou municipal específica, sendo o Chefe do Poder Executivo o responsável por estabelecer proteção a estas áreas. No entanto, no município de Jaú, nenhum documento ou lei municipal faz referência à proteção destas áreas, assim sendo, as áreas úmidas, não são amparadas por Lei, não havendo obrigatoriedade de recuperação da mesma a não ser que se enquadre dentro da faixa determinada pela APP. Na propriedade M1 existe uma área úmida considerável que transcende a faixa estabelecida de 30m (APP). É importante ressaltar que as áreas úmidas presentes na bacia se encontram em estágio avançado de degradação, havendo a necessidade de recuperação das mesmas. Nas proximidades da nascente situada ao norte da bacia (propriedade F1) existe uma represa decorrente do barramento do curso d água, constituindo um reservatório artificial. Para esse tipo de cenário, a Lei Florestal vigente em seu art. 4º, III define que as áreas no entorno de reservatórios artificiais decorrente de barramento ou represamento de cursos d águas naturais, a faixa de APP deve ser definida pela licença ambiental do empreendimento. Esta regra se aplica a qualquer área, sendo consolidada ou não. Em contrapartida o art. 4º 4º, ressalta que para acumulações naturais ou artificiais, com superfície inferior a um (01) hectare, ficam dispensadas as faixas de proteção, sendo vedada nova supressão de áreas de vegetação nativa. Desta maneira a represa citada fica dispensada da faixa de preservação, uma vez que a área da superfície representa apenas 0,77ha. Os critérios para proteção das áreas de reservatórios artificiais eram regulamentados pela Resolução CONAMA nº 302/2002, sendo a mesma revogada pela Lei Florestal de 2012. 227

5. Conclusões Devido à situação de degradação apresentada constata-se que existe a necessidade da realização de intervenções nesta região, com objetivo de iniciar um processo de recuperação das Áreas de Preservação Permanente, situadas na bacia hidrográfica do Córrego dos Pires. A recuperação das Áreas de Preservação Permanente na zona rural da bacia, passa pela regularização das propriedades em relação a Legislação Florestal vigente (Lei nº 12.651/2012). Esta situação é de extrema importância para recuperação ambiental da região, visando recuperar o equilíbrio do sistema rompido com a supressão da vegetação ciliar. Os dados coletados por meio deste estudo permitem verificar que a proposta de recuperação por meio dos critérios fundamentados nos art. 61-A e 61-B do Lei Florestal vigente, se revelam insuficientes para garantir a recuperação das matas ciliares, nas APPs situadas nas propriedades rurais da bacia hidrográfica do Córrego dos Pires. Fica evidente a necessidade de reestruturar e complementar as ações previstas, por meio de legislação municipal e/ou estadual específica, que permita um maior aprofundamento da lei no sentido restritivo, visando garantir ao menos a recuperação total das APPs, previstas no art. 4º da Lei nº 12.651/2012 e ainda incluam a regulamentação específica em relação às áreas úmidas e represas artificiais, sendo fundamental que contemplem o pagamento por serviços ambientais, com o objetivo de ressarcir os proprietários em função das respectivas perdas ocasionadas pela legislação criada e aplicada. 6. Referencias Bibliográficas ALVES, H. Q.; REZENDE, A. C. P.; SPOSITO, R. C. Geoprocessamento como ferramenta de conservação de recursos hídricos e de biodiversidade: um estudo de caso para o município de Canarana MT. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 14., 2009, Natal. Anais... Natal: INPE, 2009. p. 3439 3446. AZEVEDO, P. F. F.; REZENDE, J. H.; VENIZIANI JR, J. C. T.; FAXINA, R. R. C. Ocupação de fundos de vale da bacia hidrográfica do Córrego dos Pires Jaú-SP. In: SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA EM MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS, 4., 2012, Jaú. Anais... São Carlos: Rima Editora, 2012. p. 103 118. BRASIL, 1934. Código Florestal. Decreto nº 23.793 de 23 de janeiro de 1934. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d23793.htm>. Acesso em: 10 mai. 2013. BRASIL, 1964. Estatuto da Terra. Lei nº 4.504 de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l4504.htm>. Acesso em: 10 mai. 2013. BRASIL, 1965. Código Florestal. Lei n 4.471 de 15 de setembro de 1965. Disponível em: <http:/ /www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4771.htm>. Acesso em: 10 mai. 2013. 228

BRASIL, 1993. Lei nº 8.629 de 25 de fevereiro de 1993. Dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l8629.htm>. Acesso em: 10 mai. 2013. BRASIL, 2002. Resolução nº 302 de 20 de março de 2002. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso entorno. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 de maio de 2002. DOU nº 90, Seção 1 páginas 67-68. BRASIL, 2012. Lei Florestal. Lei 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e da outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/ 2012/Lei/L12651.htm>. Acesso em: 10 mai. 2013. BRASIL, 2012. Lei nº 12.727 de 2012 de outubro de 2012. Altera a Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; e revoga as Leis nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001, o item 22 do inciso II do art. 167º da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, e o 2º do art. 4º da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/ L12727.htm>. Acesso em: 10 mai. 2013. FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO ESTADO DO PARANÁ (FAEP). Novo Código Florestal. ano I. Curitiba: 2012. 92 p. Disponível em: <http://codigoflorestal.sistemafaep.org.br/ wp-content/uploads/2012/11/novo-codigo-florestal.pdf>. Acesso em: 10 mai. 2013. FRANÇA, C. N. Mapeamento de APP: Área de Preservação Permanente e Reserva Legal de parte da bacia hidrográfica do ribeirão Cafezal: comparativo entre o código florestal de 1965 e o projeto de lei 1.876/99. 2011. 40 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) Universidade Estadual de Londrina. Londrina, 2011. GARCIA, G. J.; MARCHETTI, D. A. B. Princípios de fotogrametia e fotointerpretação. São Paulo: Nobel, 1995. 275 p. INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (INCRA). Instrução Especial nº 20 de 28 de maio de1980, Aprovada pela Portaria/MA 146/80 DOU 12/06/80 Seção I p. 11.606. Estabelece o Módulo Fiscal de cada Município, previsto no Decreto nº 84.685 de 06 de maio de 1980. Disponível em: < http://www.incra.gov.br/index.php/institucionall/ legislacao /atos-internos/instrucoes/file/129-instrucao-especial-n-20-28051980 >. Acesso em: 10 mai. 2013. LIMA, M. N. S.; MONTEIRO, T. R. R.; RÊGO, S. C. A.; MENESES, L. F.; LIMA, P. P. S. Geoprocessamento na identificação de irregularidades em APP em loteamentos na APA Tambaba PB. In: GEONORDESTE, 5. E SEMINÁRIO DE GEOTECNOLOGIAS, 3., 2011, Feira de Santana. Anais... Feira de Santana, 2011. p. 152 155. LIMA, W. P. Função Hidrológica da Mata Ciliar. In: SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR. 1989. Campinas. Anais... Campinas: Fundação Cargill, 1989. p. 25 42. MACHADO, G. S. Avaliação de Impacto e Plano de Controle Ambiental para uma Empresa de Beneficiamento de Minérios. 2009. 72 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Ambiental) Universidade do Extremo Sul Catarinense. Criciúma, 2009. MACHADO, P. A. L. Legislação das Matas Ciliares. In: SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR, 5., 1989, Campinas. Anais... Campinas: Fundação Cargill, 1989. p. 2 10. 229

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