Exercício de treino Mais do que uma repetição uma oportunidade para inovar!



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Transcrição:

Exercício de treino Mais do que uma repetição uma oportunidade para inovar! Bruno Travassos 1 & Duarte Araújo 2 1 Universidade da Beira Interior / Faculdade Motricidade Humana - UTL 2 Faculdade Motricidade Humana Universidade Técnica de Lisboa Correspondência para: Bruno Travassos, brunotravassos@hotmail.com; Tel: 275320690 Os desportos colectivos caracterizam-se pelas relações estabelecidas entre os jogadores, quer de colaboração, quer de oposição, num dado contexto (p.ex., jogo oficial de uma dada liga) para atingir um determinado fim (p.ex., marcar golo). Nesta perspectiva são fundamentais comportamentos de diálogo que permitam desenvolver a dinâmica entre os jogadores da mesma equipa, sob a oposição do adversário. Nesta relação de forças, torna-se fundamental um equilíbrio entre as funções a desempenhar por cada jogador, inseridas numa organização colectiva, e a capacidade que cada um tem em explorar o contexto de jogo. A exploração do contexto de jogo tem grande variabilidade, mas não é aleatória, pois visa a obtenção do objectivo da equipa para o jogo. Neste sentido, atingir o objectivo da equipa, implica criatividade nas acções do jogo, de modo a desequilibrar o adversário, mesmo durante os processos defensivos. Para operacionalizar um treino que responda a estas necessidades é necessário desenvolver uma acção táctica contextualizada pelo modelo de jogo definido pela equipa, procurando rentabilizar a tomada de decisão individual em prol do grupo, tendo em consideração aspectos fisiológicos, psicológicos, motores, sociais, culturais. Face à complexidade inerente a todos estes processos, a construção do exercício de treino terá que ser um processo bastante racional e objectivo dotado de intencionalidade. Deste modo, propomos a utilização da Abordagem Baseada nos Constrangimentos (ABC, Araújo, 2005) como instrumento para pensar a construção do exercício de treino. A ABC tem como base conceptual a Teoria Ecológica da Tomada de Decisão, bem como a teoria dos sistemas Dinâmicos, pelo que considera que a Tomada de Decisão ou se quisermos o fenómeno Percepção-Acção ocorre pela interacção de três tipos de constrangimentos que são fundamentais para percebermos e analisarmos o comportamento dos indivíduos ou da equipa aquando da realização do treino, ou em situação de jogo (consideramos 1

constrangimento, tal como na física, como o grau de ligação entre as partículas, i.e., duas partículas estão mais constrangidas apresentando menores graus de liberdade, quanto maior for o seu nível de ligação). Deste modo, consideramos, segundo Newell (1986) citado por Araújo (2005), os seguintes constrangimentos - Do Desportista características individuais que poderão ser: - estruturais como o peso, altura, IMC, estrutura neuro-anatómica músculos e articulações que poderão afectar factores como a capacidade de coordenação, o espaço necessário para a sua acção. - funcionais como factores fisiológicos (velocidade, resistência, Força ), psicológicos (motivações, emoções, tensões), sensoriais (capacidade que tenho em recolher a informação disponível no contexto) ou o nível de perícia que o indivíduo apresenta. - Da Tarefa são específicos de uma actividade particular e incluem as regras, objectivos, medidas do campo, i.e., dizem respeito às características específicas da actividade e à sua organização. - Do Contexto Os constrangimentos do contexto caracterizam o espaço e todas as condições em que se desenvolve a actividade. Deste modo, estes poderão ser físicos tal como a altitude, a temperatura, o tipo de piso, pavilhão, ou poderão ser de âmbito social onde incluímos as normas e valores sociais e culturais vigentes, ou o ambiente gerado pelos adeptos que têm bastante impacto sobre os desportistas. É da interacção entre estes que poderemos considerar que emerge a acção táctica anteriormente referida. Por acção táctica entendemos a resolução intencional de uma dada situação, resultante da exploração do contexto visando um objectivo, e tendo em consideração o estado em que se encontra o indivíduo, bem como as estratégias colectivas definidas à priori. Quando falamos de desportos colectivos, e do Futsal concretamente, poderemos ainda numa perspectiva mais macro, considerar a equipa através dos seus constrangimentos colectivos (diferente dos indivíduos) no sentido de perceber a forma como esta explora o meio para alcançar os seus objectivos. Face a esta relação entre constrangimentos, fruto da dinâmica e da complexidade inerente às actividades desportivas em geral e ao futsal em particular, onde pretendemos que de acordo com Garganta (2007) o jogo se desenvolva na confluência de uma dimensão mais previsível, através dos princípios de jogo, com outra menos previsível, materializada a partir da autonomia dos jogadores, que fomentam a diversidade e a singularidade dos acontecimentos, torna-se necessário desenvolver o exercício de treino (designado na ABC por tarefa) de forma a solicitar os comportamentos pretendidos em competição tendo por base dois conceitos fundamentais: Afinação (capacidade de detectar e utilizar a informação relevante disponível no contexto) e Calibração (capacidade de escalonar o movimento à informação percepcionada de modo a atingir um dado objectivo). Isto implica que a 2

concepção das tarefas de treino seja representativa das que os jogadores desempenham em competição. Uma tarefa representativa é uma tarefa que possibilita que o jogador percepcione e aja como se pretende que o faça em jogo. Ou seja são tarefas que preservam os acoplamentos informaçãomovimento estabelecidos durante o jogo. Para isto é necessário que a informação disponível na tarefa corresponda à do jogo, de modo a que a acção do jogador seja de facto acção táctica, acção que resolve e que permite atingir os objectivos da equipa. Deste modo, uma finta só é uma finta se o comportamento motor emergir da exploração da situação em causa, tendo em conta o adversário, a sua posição, a possibilidade que este tem para a acção, a sua reacção ao movimento, o espaço que os separa bem como o local do campo em que se encontram, ou se quisermos numa perspectiva de conjunto qual a estratégia da equipa, que apoios e coberturas tem para dar continuidade à situação. Do mesmo modo, a imitação do comportamento evidenciado por determinado jogador não deverá ser realizada só porque numa situação específica se traduziu em enorme sucesso. Essa acção é resultado de um indivíduo inserido numa equipa com determinada estratégia, que se encontra a jogar contra um adversário que tem determinadas características e organização e naquele momento especifico, pela leitura e compreensão da situação (que se processa em milésimos de segundos e é um processo inconsciente e não verbalizável) procurou a resolução da situação de determinada forma que foi favorável. Uma implicação do processo descrito, é que as tarefas de treino deverão traduzir uma simplificação da realidade do jogo sem reduzir a mesma, através da manipulação fundamentalmente dos constrangimentos da tarefa. As regras da tarefa dizem respeito ao espaço e tempo disponíveis para a acção, o número de jogadores envolvidos, a sua disposição, tipo de acções permitidas e o objectivo, sendo que estas deverão ter uma funcionalidade e objectividade que se reflicta no jogo. Dito de outro modo, não devem quebrar os acoplamentos percepção-acção que acontecem no jogo (Araújo, 2005). Para além dos constrangimentos de tarefa, o treinador poderá ainda nesta construção jogar com factores do indivíduo, em termos de fadigas, capacidade exercer forças, concentração, ou em termos de contexto, fazendo variar o barulho no pavilhão, a temperatura ou o tipo de piso em que se treina, para além dos aspectos de relacionamento gerados no seio de uma equipa onde aspectos como a responsabilização ou a solidariedade terão repercussões na forma com os indivíduos encaram a situação. É importante realçar, que tal como referimos anteriormente, fruto da interacção gerada entre os diferentes tipos de constrangimentos, qualquer alteração que se verifique em qualquer um dos constrangimentos leva a resultados completamente diferentes. 3

Exemplos de tarefas de treino: Exemplo 1 Diagnóstico: Dificuldade na construção de dinâmica de grupo devido à comunicação e leitura dos posicionamentos e possibilidades de acção dos colegas se apresentar disfuncional, i.e., não conseguindo coordenação. Possíveis causas: Capacidade de leitura desajustada; leitura centrada apenas na bola e no portador da bola; capacidade de leitura dos colegas e das suas possibilidades para acção desajustada Objectivo da Tarefa: Circulação de bola em espaço reduzido (10mx10m); Afinação à informação que permite uma melhor definição das possibilidades de acção dos colegas e adversários; Coordenação entre colegas; Capacidade de leitura posicionamentos e possibilidade para passe; Passe como meio de comunicação; Descrição da tarefa: 3 jogadores com bola; 2 jogadores sem bola; 1 jogador defesa Os jogadores com bola deverão circular a bola com os jogadores sem bola de forma a que o defesa não consiga apanhar/tocar nenhum jogador sem bola. Se o defesa apanhar um jogador sem bola este passa a apanhar. O jogador que recebe a bola não poderá devolver a quem lhe efectuou o passe. O defesa pode interceptar os passes. Comportamentos esperados: Constante leitura do posicionamento dos jogadores sem bola; Ajuda constante entre os colegas com bola e sem bola; Leitura das possibilidades de passe, tendo em consideração o colega, mas também o defesa e suas possibilidades de acção; Realizar o passe com precisão para o jogador sem bola, quer parado quer em deslocamento Outras regras adicionais: O jogador que fizer um passe para fora vai defender; se o defesa interceptar a bola o jogador defende duas vezes; limitar o nº de toques; não permitir que falem, aumentar o número de jogadores, alterar o espaço de jogo. Descrição funcional: Esta tarefa obriga a uma constante leitura e ajuste da situação à posição do defesa e dos atacantes sem bola, bem como à realização da saída motora em termos de direcção e velocidade do passe em relação ao deslocamento do colega sem bola. Proporciona aos jogadores informações contextuais sobre posicionamentos e deslocamentos dos companheiros bem como dos defesas para intercepção do passe. Permite a quem recebe o passe direccionar a sua atenção para o defesa/espaço para receber a bola/apoio colega. De uma forma geral este exercício procura solicitar uma dinâmica de grupo onde os indivíduos vão desenvolver uma maior afinação à informação disponibilizada pelos colegas, melhorando a sua coordenação. 4

Este exercício poderá ser realizado em diferentes partes da unidade de treino, tendo em consideração outros aspectos que se pretendam considerar. Por exemplo se verificarmos aquando do diagnóstico que este problema apenas acontece na parte final do jogo, então a nossa questão poderá não estar directamente nos problemas que evidenciamos, mas na fadiga que irá alterar a capacidade de resposta do indivíduo. Então este exercício deverá ser realizado em situação de fadiga, por exemplo na parte final do treino, levando a que novos estados individuais de equilíbrio se atinjam pois este aspecto irá alterar factores como a concentração, a atenção, a predisposição para a acção ou a capacidade de exercer forças, entre outros. Exemplo2 Diagnóstico: Ocupação de espaços na zona central da defesa permite a entrada de muitas bolas na zona central ou na diagonal no corredor contrário. Possíveis causas: Posicionamento em campo face posicionamento colegas de equipa; Leitura desajustada das possibilidades de acção adversário; Marcação individual sem ter em consideração o corte de linhas de passe (principio de jogo Concentração); Objectivo da Tarefa: Posicionamento em 2 corredores protegendo linhas de passe em profundidade no corredor central, pressão sobre portador da bola não permitindo que a equipa atacante consiga encontrar linhas de passe para a frente Descrição da tarefa: 4x3+GR. Equipa atacante em 3:1 (movimentações de acordo com modelo de jogo) com pivot a procurar receber bola na zona central ou entrada ala lado contrário procurando para finalizar. Defesa pressionante na linha 3 com ocupação de 2 corredores e manutenção de 2 linhas defensivas. Organização defensiva (Individual/Mista) de acordo com o definido no modelo de jogo. Comportamentos esperados: Constante leitura do posicionamento dos colegas; rápido posicionamento face à posição da bola e dos colegas de equipa; definição constante de 2 linhas defensivas e de 2 corredores defensivos; pressão imediata sobre portador da bola atacando o pé forte; rápida circulação da bola por parte da equipa que ataca e objectividade para a finalização, movimentação do pivot para receber bola entre linhas e alas explorarem lado contrário bola. Outras regras adicionais: Se a bola entrar na zona central a equipa defende 2 vezes; Se equipa que defende recupera bola sai rápido em contra-ataque; 4x4+GR; Passar marcação para linha 2 com o objectivo de ganhar a bola o mais rápido possível. 5

Descrição funcional: Esta tarefa obriga a uma leitura constante das possibilidades de circulação de bola e de entradas sem bola dos atacantes por parte dos defesas de forma a anteciparem a sua acção retirando tempo disponível de jogo aos atacantes. O facto de os atacantes privilegiarem o passe para o pivot ou ala contrária na diagonal, obriga a que os defesas ocupem bem o espaço de jogo, cortando as linhas de passe, tendo também em atenção as entradas realizadas sem bolas pelos atacantes. Em suma este exercício pretende que a defesa tenha uma ocupação racional do espaço no sentido de prever e antecipar as acções adversárias e deste modo desequilibrando a sua estrutura. O foco atencional é dado, neste exercício à estrutura defensiva, no entanto poderão ser também estabelecidas algumas regras para a forma como a equipa que ataca se organiza, de acordo com o modelo de jogo definido. Tal como na situação anterior, teremos que ver se este fenómeno ocorre durante todo o jogo, ou por exemplo apenas na sua parte final, ou ao fim de quanto tempo de o jogador se encontrar em campo, no sentido de aferir se o problema se poderá situar ao nível da fadiga como constrangimento individual. Neste caso esta situação deverá ser treinada procurando condicionar o/os indivíduos através do factor fadiga. Conclusões Como conclusões gostaríamos de realçar a construção a que este processo obriga tendo sempre como objectivo o jogo e os comportamentos que este solicita aos jogadores e à equipa. Esta construção deverá ter sempre em consideração que um indivíduo perante uma situação descobre ou re-descobre sempre soluções únicas de acordo com as interacções estabelecidas e o estado em que se encontra todo o sistema. O desportista mais experiente ou o melhor não é então apenas uma pessoa dotada de algo transcendental, é um indivíduo que é capaz de ver o que os outros não vêm e de explorar as situações na busca de indicadores que lhe permitam resolver o problema. A questão que se coloca é se no treino estamos a conseguir que este processo se desenvolva ou por outro lado estamos a limitar as possibilidades de acção dos indivíduos enquanto seres pensantes tornando-os em repetidores de acções motoras. Para o futuro o desafio que se coloca é o de melhorar a caracterização do jogo, definindo não apenas o que é visível a olho nú ou facilmente mensurável, mas percebendo com que base é que se estabelecem as relações entre os indivíduos e quais os constrangimentos que permitem a emergência da tomada de decisão, i. e., as informações que permitem aos jogadores tomar uma decisão e desenvolver a sua acção, permitindo melhorar ainda mais a representatividade das tarefas de treino. 6

Bibliografia Araújo, D. (2005). O Contexto da Decisão. A Acção Táctica no Desporto. Lisboa. Visão e Contextos Garganta, J. (2007). Modelação Táctica em Jogos Desportivos: A Desejável Cumplicidade entre Pesquisa, Treino e Competição. I Congresso Internacional Jogos Desportivos. FADEUP 7