TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO 2ª CÂMARA CRIMINAL AGRAVO Nº 0040224-87.2014.8.19.0000 AGRAVANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO AGRAVADO: MAURO MONTELLO VIANA OUTRO NOME: MAURO MONTELLO VIANNA RELATORA: DES. KATIA MARIA AMARAL JANGUTTA AGRAVO. Execução Penal. Artigos 171 e 298, ambos do Código Penal. Condenação total de 5 anos de reclusão, em regime semiaberto. Concessão de Prisão Albergue Domiciliar, sob monitoramento eletrônico, a ser cumprida em seu domicílio, na Comarca da Capital. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Pretensão à cassação do benefício. Violação da norma contida no artigo 117, da Lei de Execução Penal. 1. O artigo 117, da Lei de Execução Penal prevê a prisão albergue domiciliar, cujo rol de situações é taxativo, o que conduziria à conclusão de que, se o apenado não se enquadra em qualquer das hipóteses ali previstas, não haveria amparo à sua concessão. 2. Em hipóteses em que não exista casa de albergado no local de residência do apenado, deve incidir o princípio da razoabilidade, permitindo-se ao Agravado cumprir sua pena em prisão domiciliar, com monitoramento eletrônico, até que haja, na Região de sua residência, casa de albergado, para onde, então, poderá ser transferido. 3. In casu, porém, não se mostra possível, o deferimento da prisão albergue domiciliar, com monitoramento eletrônico se, na localidade onde
o apenado reside, existe Casa de albergado instalada, o que lhe permite cumprir devidamente a pena, como lhe foi imposta. RECURSO PROVIDO. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo nº 0040224-87.2014.8.19.0000, em que é Agravante O Ministério Público e Agravado Mauro Montello Viana, em Sessão realizada em 07 de outubro de 2014, ACORDARAM, À UNANIMIDADE, os Desembargadores que compõem a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO, nos termos do voto da Des. Relatora. RELATÓRIO Objetiva o presente Recurso de Agravo em Execução Penal, a reforma da r. decisão do Juízo da VEP, que concedeu progressão para o regime aberto com a concomitante Prisão Albergue Domiciliar, com monitoramento eletrônico, ao apenado, fundado no fato de que, no Município onde o apenado reside, não há Casa de Albergado por desídia do Estado (doc. 00003). Informa que, o apenado cumpre pena de 2 anos de reclusão, pela prática do crime de estelionato e, conforme cálculo, o término de pena está previsto para 28 de fevereiro de 2016. Sustenta que, a prisão albergue domiciliar PAD -, é uma modalidade especial de prisão, e se encontra disciplinada no artigo 117 da LEP: 2
Art. 117 - Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de: I- Condenado maior de 70 (setenta) anos; II- Condenado acometido de doença grave; III - Condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental; IV - Condenada gestante. Assevera que, esta modalidade de prisão, mais benéfica de todas as existentes, é cabível em hipóteses estritas, representando, pois, medida de cunho nitidamente excepcional, sendo admitida somente nos casos em que não existe, de fato, unidades prisionais de regime aberto ou, caso haja, quando forem insuficientes as vagas nas mesmas. Salienta haver uma unidade prisional de regime aberto, qual seja, Casa de Albergado Crispim Ventino, na qual há vagas para o recebimento daqueles que progridem do regime semiaberto para o aberto, ressaltando, ainda, que da forma como vem sendo feito, pois esse procedimento simplesmente aniquila com o regime aberto, resumindo o sistema de execução penal a dois regimes, o fechado e o semiaberto, o que, consequentemente, permite em grande parte dos casos o contato extremamente prematuro do sentenciado com a liberdade.. O recurso veio instruído com as peças constantes dos docs. 00014/00047 e 00050/69, estando a r. decisão agravada no doc. 00048, mantida em juízo de retratação, conforme doc. 00078. desprovimento do recurso. As contrarrazões de Agravado estão no doc. 00075, pelo A douta Procuradoria de Justiça, pelo Parecer da ilustre Drª. Ana Paula Cardoso Campos, opinou pelo provimento do recurso (doc. 00086). 3
VOTO Com efeito, a matéria posta em exame no presente recurso de Agravo, vem sendo objeto de análise por esse Tribunal que, dependendo da situação do apenado, tem deferido ou indeferido o pedido de cumprimento da pena em prisão domiciliar. A respeito do tema preceitua o artigo 117, da Lei de Execução Penal que, o condenado maior de 70 anos, o acometido de doença grave, aquele com filho menor ou deficiente físico ou mental, e a gestante, fazem jus à prisão domiciliar, situações em que não se enquadra o ora Agravado, cumprindo salientar que, essa relatoria entende tratar-se de rol taxativo. Ademais, as doenças acometidas pelo apenado (doc. 00040) não podem ser consideradas graves a ponto de inseri-las nesse rol. Incorreto, pois, ao meu juízo, seria o deferimento do aludido benefício, visto que, em consonância com o princípio progressivo de cumprimento das penas privativas de liberdade deve aplicar-se a graduação dos benefícios a serem obtidos. De se destacar que, o ora Agravado tem pena a cumprir até 02/10/2015, tendo sido condenado ao total de 5 anos de reclusão, em regime semiaberto, como se observa do cálculo de pena obtido em consulta ao site desse Tribunal, uma vez que o contido nos docs. 00029/33 data de 08/11/2013, vindo a obter a concessão da prisão albergue domiciliar em 09/04/2014, segundo a decisão agravada (doc. 00048), a ser cumprida em seu domicílio. Ocorre que, atualmente, há apenas 4 Casas de Albergado em todo o Estado, sendo duas delas femininas e duas masculinas, ficando duas situadas em Campos dos Goytacazes, uma nessa Comarca, e uma em Itaperuna, as quais não são suficientes para abrigar todos os apenados do Estado que residem em municípios diversos. 4
Evidentemente, há exceções à lei, não se podendo admitir que a omissão estatal impeça a ressocialização do apenado, agravando sua situação. É verdade que, o E. Supremo Tribunal Federal já se manifestou a respeito da matéria, entendendo que a inexistência de estabelecimento adequado ao regime aberto não autoriza a aplicação da prisão domiciliar, haja vista a prevalência do interesse público na efetivação da sanção penal, em detrimento do interesse individual do condenado. No entanto, em hipóteses em que não exista casa de albergado no local de residência do apenado, deve incidir o princípio da razoabilidade, permitindo-se ao Agravado cumprir sua pena em prisão domiciliar, com monitoramento eletrônico, até que haja, na Região de sua residência, casa de albergado, para onde, então, poderá ser transferido. Entretanto, note-se que, conforme informação nos autos, o ora Agravado reside nessa Comarca, na Rua Aires Saldanha, em Copacabana (docs. 00042 e 00046), em região em que há casa de albergado, o que lhe permite cumprir devidamente a pena, como lhe foi imposta. Ante o exposto, voto no sentido de DAR PROVIMENTO AO RECURSO, para reformar a r. decisão agravada para, afinal, cassar a prisão albergue domiciliar concedida ao Agravado e restabelecer o cumprimento do regime aberto em Casa de Albergado que venha a ser indicada pelo Juízo da Execução. Rio de Janeiro, 07 de outubro de 2014. (data do julgamento) Rio de Janeiro, 08 de outubro de 2014. (data da entrega) KATIA MARIA AMARAL JANGUTTA DESEMBARGADORA RELATORA 5