PROCESO N.º : 20.276/03 INTERESSADO : RAIMUNDO DE SÁ BARRETO GRANJEIRO-PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE BARBALHA NATUREZA : PROCESSO NORMATIVO CONSULTIVO RELATOR : CONSELHEIRO ERNESTO SABOIA PARECER TÉCNICO n.º 66/2003 Consulta. Parte legítima para iniciar processo normativo consultivo. Preenchimento dos pressupostos de admissibilidade exigidos no inciso XXVIII do art. 1.º da Lei n.º 12.160/93 c/c art.157, inciso I do Regimento Interno. Indagações sobre a possibilidade da Câmara Municipal fazer aplicação financeira dos saldos duodecimais disponíveis em suas contas correntes e a forma de contabilização dos rendimentos provenientes das aplicações. Responder, em tese, no sentido de ser possível a realização de aplicação destes recursos, os quais deverão ser contabilizados como receitas Patrimoniais para efeito de consolidação contábil, alertando que a Câmara não poderá dispor destes recursos. RELATÓRIO Reportam-se os presentes autos sobre CONSULTA formulada a este Tribunal de Contas pelo Exmº. Sr. Raimundo de Sá Barreto Granjeiro da Câmara Municipal de Barbalha. seguinte : Basicamente, a autoridade acima mencionada indaga, o A Câmara Municipal pode fazer aplicação financeira dos saldos duodecimais disponíveis em suas contas correntes? E como contabilizar os rendimentos provenientes das aplicações? Em seguida, a Presidência determinou que a matéria fosse distribuída, conforme registrado na sessão realizada no dia 21/08/2003. Chamada a se manifestar sobre o objeto da presente consulta, a Coordenadoria de Assistência Técnica do, através de seu 1
Departamento de Assistência Técnica aos Municípios (), emitiu a Informação n.º 161/03, sugerindo, em síntese, a admissibilidade da consulta em apreço, para, no mérito, em suma, se posicionar da seguinte forma: É possível à Câmara Municipal realizar aplicações financeiras dos saldos duodecimais disponíveis em suas contas correntes, desde que não comprometa o pagamento das despesas previamente fixadas e estes rendimentos deverão ser contabilizados como receitas patrimoniais do Município, não podendo dispor destes valores como se fossem recursos próprios. É o relatório. RAZÕES DO VOTO. 1- DA ADMISSIBILIDADE Preliminarmente, a presente consulta deve ser admitida por este, considerando que foi apresentada por parte legítima, como também a matéria enfocada é de competência do, preenchendo assim os pressupostos do art. 1.º,XXVIII da Lei Estadual n.º12.160/93 c/c art. 157, inciso I do Regimento Interno do. 2- DO MÉRITO A informação técnica n.º161/03 da COTEC apresenta de forma detalhada as respostas as indagações formuladas pelo nobre consulente, cujas razões e fundamentos concordo integralmente, as quais devem ser respondidas em tese, no sentido de que: A Câmara Municipal pode realizar aplicação financeira dos saldos duodecimais disponíveis em suas contas correntes, desde que não prejudique o pagamento das despesas previamente fixadas. A aplicação desses dividendos não pode prejudicar o cumprimento das obrigações financeiras assumidas pelo Poder Legislativo. No tocante à forma de contabilização destes rendimentos, levando em consideração que os frutos civis dessa aplicação decorrem do patrimônio, devem estes ser creditados, para efeito de consolidação contábil, como receita de caráter patrimonial. 2
É de bom alvitre ressaltar que a Câmara de Vereadores, dentro da política de orçamento público, não passa de unidade orçamentária da administração municipal, razão pela qual o resultado dessas aplicações financeiras hão de pertencer ao Município, e não ao Poder Legislativo, especificamente. Inolvidável o entendimento consagrado pelo Tribunal de Contas de Santa Catarina, através da decisão n.º 2.581/2002, corroborando com a posição ora exposta, verbis: É lícito à Câmara de Vereadores aplicar no mercado financeiro as suas disponibilidades de caixa, desde que não interfiram no cumprimento das obrigações financeiras, sendo que os rendimentos dessas aplicações serão creditados nas contas a que se referem como Receitas Patrimoniais. Logo, uma vez não comprometendo suas obrigações financeiras, e desde que os frutos civis pertençam ao Município, poderá a Câmara de Vereadores fazer aplicação financeira dos saldos duodecimais disponíveis em suas contas correntes. DECISÃO O Tribunal Pleno, fundamentado no art. 1.º, XXVIII, da Lei Estadual n.º12.160/93 c/c art. 157, I do Regimento Interno, DECIDE: 1. pela admissibilidade da presente CONSULTA, face a legitimidade do consulente, de acordo com o artigo 1.º, inciso XXVIII, da Lei n.º 12.160, c/c o art. 157, I, do Regimento Interno deste Tribunal; 2. responder à indagação formulada pelo consulente nos termos constantes da Informação n.º 161/03 emitida pela COTEC e das razões de voto suso indicadas; 3
3. dar ciência da presente decisão e informação técnica acima indicada. SALA DAS SESSÕES DO TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS, em Fortaleza, 20 de novembro de 2003. PROCESSO N o : 20.276/03 INFORMAÇÃO N o : 161/03 INTERESSADO : Câmara Municipal de BARBALHA - CE O Exmº Sr. Raimundo de Sá Barreto Granjeiro, Presidente da Câmara Municipal de Barbalha, envia-nos a seguinte consulta: A Câmara Municipal pode fazer aplicação financeira dos saldos duodecimais disponíveis em suas contas correntes? E como contabilizar os rendimentos provenientes das aplicações? A COTEC, através de seu Departamento de Assistência Técnica aos Municípios, informa em tese, que: PRELIMINARMENTE Registre-se que o consulente é parte legítima para encaminhar a consulta a esta Corte de Contas, bem como a matéria enquadra-se no art. 1º, inciso XXVIII da Lei n 12.160/93 (Lei Orgânica do ) c/c do art. 157, incisos I e II do Regimento Interno do. NO MÉRITO 4
Inicialmente lembramos que o orçamento do ente político é aprovado por uma só lei orçamentária anual, que engloba os Poderes Executivo e Legislativo em peça única, a lei orçamentária anual do Município. Pelo princípio da universalidade, o orçamento deve abranger as receitas e as despesas, evidenciando assim, a política econômica-financeira e o programa de trabalho do governo, o qual abrange tudo o que é executado pelas administrações diretas e indiretas, bem como pelo Poder Legislativo. Ressalte-se, por oportuno, que a Câmara de Vereadores, usualmente, não faz previsão de receitas anuais em seu orçamento, pois é sustentada exclusivamente com os recursos financeiros arrecadados pelo Executivo Municipal. 5
Na verdade, a Câmara tão-somente fixa suas despesas de capital e de custeio, tais como: subsídios dos vereadores, remuneração de servidores, material de expediente, energia elétrica, etc. Dessa forma, infere-se que, embora a Câmara detenha autonomia e possa gerir os recursos financeiros que lhe não repassados mensalmente, o Legislativo não deixa de ser uma unidade orçamentária de administração pública municipal. O Tribunal de Contas de Santa Catarina, consultado acerca do mesmo tema, manifestou através da Decisão nº 2.581/2002, de relatoria do Conselheiro Luiz Suzim Marini, em sessão realizada dia 07/10/2002, o seguinte entendimento: É lícito à Câmara de Vereadores aplicar no mercado financeiro as suas disponibilidades de caixa, desde que não interfiram no cumprimento das obrigações financeiras, sendo que os rendimentos dessas aplicações serão creditados nas contas a que se referem como Receitas Patronais. Por todo o exposto, e respondendo objetivamente a indagação do consulente, entendemos, s.m.j., ser possível à Câmara Municipal realizar aplicações financeiras dos saldos duodecimais disponíveis em suas contas correntes, desde que não comprometa o pagamento das despesas previamente fixadas. Finalmente, a Câmara não poderá dispor dos rendimentos anteriores como se fossem recursos seus, próprios, pois estes pertencem ao municípios e deverão ser creditados como Receitas Patrimoniais, para efeitos de consolidação contábil. É a Informação Sub Censura Departamento de Assistência Técnica aos Municípios, do, em Fortaleza, 02 de outubro de 2003. 6
LUIZ MARIO VIEIRA Coordenador da COTEC DANIELLE NASCIMENTO JUCÁ Diretora do 7