UNIVERSIDADE EÖTVÖS LORÁND FACULDADE DE LETRAS ESCOLA DOUTORAL DAS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM PROGRAMA DOUTORAL DE ROMANÍSTICA.



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Transcrição:

UNIVERSIDADE EÖTVÖS LORÁND FACULDADE DE LETRAS ESCOLA DOUTORAL DAS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM PROGRAMA DOUTORAL DE ROMANÍSTICA Márta Csaba Palavras derivadas no PB e no PE Apresentação da tese Budapeste 2 0 1 1

1. Escolha do tema e objectivos A presente tese estuda a formação das palavras derivadas no português do Brasil (PB) e no português europeu (PE). O número dos habitantes do Brasil ronda os 200 milhões, constituindo assim a maior comunidade lusófona da população do mundo. A língua por eles usada diverge na pronúncia, na gramática e no vocabulário da língua portuguesa usada na Europa, em Portugal. O objectivo deste estudo é detectar e apresentar as semelhanças e diferenças que se podem observar na área da formação das palavras derivadas entre o PB e o PE. A tese tem como base uma recolha de palavras que podem ser consideradas formações brasileiras e que foi compilada a partir do dicionário português unilingue Miniaurélio: o minidicionário da língua portuguesa publicado em Curitiba, no Brasil em 2004. Baseando-se nesta recolha, a tese estuda os processos de formação (derivação prefixal, derivação sufixal, derivação parassintética, derivação regressiva e conversão) presentes na criação das palavras recolhidas. Neste trabalho, ao lado de vários outros dicionários unilingues editados no Brasil e em Portugal, desempenhou um papel importante o Dicionário Electrônico Houaiss da Língua Portuguesa, publicado no Brasil, em 2002, em CD-ROM, porque este dicionário muitas vezes apresenta a data do primeiro registo conhecido ou estimado da dada palavra. A investigação esperava ter igualmente resultados neste aspecto, nomeadamente supunha que a maior parte das palavras recolhidas seria datada do século XX, o que pode provar a lenta mas permanente diferenciação das duas variantes do português na área do vocabulário também. Ao mesmo tempo, a explosão da informática e da telecomunicação parece contrabalançar este processo. A verificação das palavras recolhidas nas páginas da Internet dos dois países serviu para ter uma visão sobre a frequência da dada palavra nas duas variantes do português, e com esse exame confirmei que as palavras que podem ser consideradas formações brasileiras apresentam uma frequência mais significativa nas páginas brasileiras da Internet. 2. Alguns antecedentes Entre as obras relativas à formação das palavras no português por mim conhecidas, uma das primeiras é a obra Portuguese Word Formation with Suffixes de Allen, editada em 1941, que estuda as palavras formadas com sufixos e se baseia em dicionários. 1

As palavras prefixadas foram examinadas pelo estudo Sobre a Formação de Palavras com Prefixos no Português Actual de Ching, editado em 1971-1972, que é baseado num corpus recolhido de jornais de Portugal. A obra Dinâmica Léxica Portuguesa do autor brasileiro Assumpção Júnior, editada em 1986, estuda a formação de palavras na língua portuguesa por um lado através de exemplos recolhidos de dicionários, e por outro lado através de exemplos encontrados em obras literárias até então ausentes dos dicionários. Sandmann, autor igualmente brasileiro, na sua obra Formação de Palavras no Português Brasileiro Contemporâneo, publicada pela primeira vez em 1989, estuda a formação de palavras no português do Brasil. A sua obra baseia-se num corpus recolhido de jornais brasileiros e constituído de palavras que não figuram no dicionário brasileiro unilingue Novo Dicionário da Língua Portuguesa publicado por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira em 1975. 3. A estrutura da tese O presente trabalho é um estudo sincrónico que se baseia numa recolha de palavras compilada a partir dum dicionário unilingue publicado no Brasil em 2004. Escolhi este método porque deste modo tive a possibilidade de examinar um conjunto de palavras que sem dúvida podem ser consideradas como criações brasileiras. Ao mesmo tempo tenho de notar que as formações novas, ou seja as que ainda não figuram no dicionário, não fazem parte deste trabalho. Através da análise das palavras recolhidas, na minha tese apresento de forma descritiva os processos presentes na formação de palavras no PB, e quando for o caso, contrasto-os com os processos semelhantes do PE. O primeiro capítulo da tese apresenta a escolha do tema e o método da investigação. O segundo capítulo trata a derivação prefixal, o terceiro capítulo apresenta a derivação sufixal, o quarto capítulo fala sobre a derivação parassintética, o quinto capítulo é dedicado à derivação regressiva e o sexto capítulo apresenta a conversão. O sétimo capítulo resume os resultados e as conclusões. A tese tem um anexo, onde as palavras estudadas se apresentam em tabelas ilustrativas. Junto este anexo à tese em forma digitalizada em CD-ROM, permitindo assim o seu estudo simples e claro. 2

4. A compilação da recolha O dicionário que serviu como ponto de partida à investigação tem 832 páginas (a que se junta uma Minienciclopédia de 63 páginas), e na sua introdução pode ler-se que contém mais de 30 mil verbetes e locuções. Escolhi este dicionário como ponto de partida da investigação por várias razões: trata-se duma obra bastante recente, o número de verbetes nele publicados é por um lado suficientemente elevado para servir de base a uma análise linguística e por outro permite supor que as palavras nele reunidas têm uma frequência bastante importante ou média. Do dito dicionário recolhi as palavras derivadas que, ou absolutamente não constam nos dicionários editados em Portugal ou, se aparecem neles, levam a indicação de brasileirismo. Os dicionários unilingues publicados em Portugal utilizados na pesquisa, em ordem cronológica da sua edição, foram os seguintes: 1. Grande Dicionário Universal da Língua Portuguesa 3.0 (cd-rom), 1997; 2. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, 2001; 3. Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (2009) (on-line); 4. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2009) (on-line). No dicionário brasileiro tomado como ponto de partida não figura a etimologia das palavras. Para ter este dado e também para confirmar que a dada palavra realmente faz parte do vocabulário usado, verifiquei a sua presença nos seguintes cinco dicionários unilingues editados no Brasil que apresento em ordem cronológica da sua publicação: 1. Minidicionário Sacconi da Língua Portuguesa, 1996; 2. Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI, Versão 3.3., 1999; 3. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (CD-ROM), 2002 4. Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa (on-line) 2007; 5. idicionário Aulete da língua portuguesa (on-line) desde 2008. A recolha compilada do modo mencionado constitui-se de 772 elementos. Como era de esperar, o maior grupo de palavras é o das formações criadas por derivação sufixal (606 palavras), a que segue a conversão (83 palavras), a derivação prefixal (58 palavras), a derivação parassintética (14 palavras) e por fim a derivação regressiva (11 palavras). 3

5. Resultados Os processos de formação tratados na tese, como as formas e os dados que merecem menção na ordem da sua aparição são os seguintes: A derivação prefixal está representada na nossa recolha por 58 elementos que se distribuem entre 16 prefixos. A maior representatividade foi atingida pelas palavras formadas com os prefixos des- e in- (8 elementos por cada), a que seguiram as palavras formadas com os prefixos auto- e a(n)- (6 e 5 elementos respectivamente). Dos prefixos mencionados, os prefixos des-, in- e a(n)- formam palavras que expressam negação, falta. O primeiro pode juntar-se a substantivos, adjectivos e verbos, enquanto o segundo pode juntar-se a substantivos e adjectivos. Encontrei casos que não correspondem às expectativas na direcção da formação ou nas condições fonológicas. Entre os exemplos formados com o prefixo inaparecem verbos também, mas estes formaram-se presumivelmente a partir do adjectivo criado mais cedo (p.ex.: independer do adjectivo independente). Entre as palavras formadas com o prefixo an- merecem menção alguns adjectivos (p.ex.: aético), porque estes, em vez do prefixo an- que se espera no caso das palavras que começam por uma vogal, formaram-se com a sua variante a-. Examinando a formação dos substantivos não-avaliativos a partir de substantivos, os meus dados relativos ao PB confirmam a observação de Vilela, segundo a qual entre os sufixos -eiro e -ista, concorrentes na formação dos nomina agentis o primeiro é o mais frequente, ou seja nesse aspecto as duas variantes do português são idênticas. Nesta mesma subsecção examinei os substantivos em -eria. Estudando esses casos cheguei à conclusão que a terminação -aria é mais frequente no PE, enquanto no PB o mais frequente é a terminação -eria. Isso justifica que este último no PB é considerado um sufixo, mas no PE não aparece como tal nem nas gramáticas nem nos dicionários, ali é apenas uma terminação. No caso das formações avaliativas, a minha investigação revelou a maior frequência das formas diminutivas, e entre elas o papel determinante do sufixo -(z)inho no PB também. Encontrei alguns casos quando o sufixo avaliativo se junta a verbo (p.ex.: falastrão), ou também casos quando o sufixo -íssimo, formador do superlativo sinético dos adjectivos, se junta a substantivos (p.ex.: finalíssima). Estudando os substantivos formados de verbos, examinei as palavras da minha recolha formadas com -ção és -mento que são sufixos concorrentes e que não se bloqueiam. Na minha recolha figuram 29 palavras formadas com o sufixo -ção, e destas 5 tem o seu par formado com o sufixo -mento no PB. A verificação destes pares na Internet demonstrou que a palavra 4

formada com o sufixo -ção é a mais frequente. 33 palavras figuram na minha recolha com o sufixo -mento, e no caso de 12 pode encontrar-se o seu par formado com o sufixo -ção no PB. No caso de 7 pares o uso da forma com o sufixo -ção revelou-se mais frequente. Este estudo confirmou a observação de Basílio segundo a qual o número das palavras criadas com o sufixo -ção é maior. No exame dos adjectivos formados a partir de substantivos encontrei exemplos a formas criadas de siglas (p.ex.: ABCD abecedense), e casos onde o adjectivo foi criado a partir do nome (p.ex.: o adjectivo eciano formado do nome de Eça de Queirós, em vez do qual no PE se usa a adjectivo queirosiano, formado do apelido). No caso dos adjectivos formados a partir de verbos constatei que o número das formações criadas com os sufixos concorrentes e sinónimos -dor e -nte que aparecem na recolha é quase igual. De entre as 772 palavras da minha recolha, no caso de 367 não encontrei dados relativos ao seu primeiro registo. Das restantes 405 palavras 262 (ou seja 64,85% das palavras com datação) são datadas no século XX. Isso confirmou a minha expectativa prévia, e pode provar a diferenciação lenta mas permanente entre as duas variantes do português. Encontrei exemplos onde o PB exprime com uma forma sintética o que no PE se expressa por uma perífrase (p.ex.: returno jogo da segunda mão e borracharia casa de pneus). O PB cria palavras derivadas a partir duma palavra importada, como por exemplo no caso das formações goleiro, marqueteiro e roqueiro criadas respectivamente das palavras gol, marketing e rock importadas do inglês, ou no caso das formações chargista, hachurar e nuançar criadas respectivamente das palavras charge, hachure e nuance importadas do francês. 164 palavras da recolha demonstraram uma frequência superior a 1000 nas páginas de Portugal da Internet, o que indica a sua penetração no PE. Na altura da compilação da recolha (Verão de 2009) 32 palavras ainda não figuravam nos dicionários de Portugal. Porém, na última verificação de todos os elementos (Janeiro de 2011) já figuravam no Priberam, dicionário on-line de Portugal em permanente actualização. Destas 32 palavras, 8 elementos demonstraram uma frequência maior a 1000 nas páginas de Portugal da Internet no decorrer duma das minhas buscas efectuadas (Verão de 2009 e Janeiro de 2010). Estes dados também indicam que as formações do PB se infiltram lentamente no PE. 5