In vitro evaluation of three temporary tissue conditioners submitted to penetration tests



Documentos relacionados
AVALIAÇÃO IN VITRO DA ALTERAÇÃO NA RESILIÊNCIA DE DOIS CONDICIONADORES DE TECIDO, EM DIFERENTES INTERVALOS DE TEMPO

EFEITO DA APLICAÇÃO DE SELANTE E DA ARMAZENAGEM SOBRE A DEFORMAÇÃO PERMANENTE DE UM CONDICIONADOR DE TECIDOS

5 Discussão dos Resultados

O fluxograma da Figura 4 apresenta, de forma resumida, a metodologia adotada no desenvolvimento neste trabalho.

DUPLICADORES. PERDA DE ÁGUA EM FUNÇÃO DA REUTILIZAÇÃO

Curso de Extensão em Clínica Odontológica Faculdade de Odontologia de Piracicaba - UNICAMP

Avaliação in vitro da resistência à compressão de condicionadores de tecido submetidos a diferentes tempos de armazenamento

AVALIAÇÃO IN VITRO DA RUGOSIDADE SUPERFICIAL DE DOIS TIPOS DE REVESTIMENTOS DO CONDICIONADOR DE TECIDO SUBMETIDOS AO TESTE DA ESCOVAÇÃO MECÂNICA

Linha 1: Resposta biológica nas terapias em Odontologia.

Como a palavra mesmo sugere, osteointegração é fazer parte de, ou harmônico com os tecidos biológicos.

Eixo Temático ET Gestão de Resíduos Sólidos

Implantes Dentários. Qualquer paciente pode receber implantes?

Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO 098-ETE PHILADELPHO GOUVEA NETTO - São José do Rio Preto SP

ANÁLISE DO DIAGRAMA DE DOSAGEM DE CONCRETO OBTIDO ATRAVÉS DOS CORPOS-DE-PROVA MOLDADOS EM OBRA

TIJOLOS CRUS COM SOLO ESTABILIZADO

TIJOLOS DO TIPO SOLO-CIMENTO INCORPORADOS COM RESIDUOS DE BORRA DE TINTA PROVENIENTE DO POLO MOVELEIRO DE UBA

4 Materiais e Métodos

A INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE VÁCUO NAS PROPRIEDADES FÍSICAS DOS PRODUTOS DE CERÂMICA VERMELHA.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Reabilitação Oral Estética e Função Relato de caso clínico

Encontro e Exposição Brasileira de tratamento de superficie III INTERFINISH Latino Americano

PREVALÊNCIA DE CÁRIE DENTÁRIA NOS ALUNOS DA ESCOLA MUNICIPAL ADELMO SIMAS GENRO, SANTA MARIA, RS: UMA ANÁLISE DESCRITIVA PARCIAL 1

AVALIAÇÃO DA RUGOSIDADE

ENTECA 2003 IV ENCONTRO TECNOLÓGICO DA ENGENHARIA CIVIL E ARQUITETURA

ESPECIALIDADE MEDICINA DENTÁRIA

ANÁLISE POR COMPUTAÇÃO GRÁFICA DAS ALTERAÇÕES PRODUZIDAS EM PRÓTESES TOTAIS SUPERIORES IMERSAS DIRETAMENTE EM ÁGUA E PELA TERMOCICLAGEM

Os géis inicial e final também foram obtidas com o Viscosímetro Fann modelo 35A.

UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS COMPÓSITOS EM GRADES DE PLATAFORMAS MARITIMAS (2012) 1 OLIVEIRA, Patrícia, GARAY, André RESUMO

ANÁLISE DOS PADRÕES DE RESISTÊNCIA ELÉTRICA DO LABORATÓRIO DE CALIBRAÇÃO DE GRANDEZAS ELÉTRICAS DA ELETRONORTE PARA MELHORIA DA INCERTEZA DE MEDIÇÃO

PROJETO QUALIFEIRAS QUALIDADE NAS FEIRAS LIVRES DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA - ES

Conexão protética mais utilizada em implantes unitários por cirurgiões-dentistas que praticam implantodontia

MANUAL DE INSTRUÇÕES DE USO

Por: Renato Fabricio de Andrade Waldemarin;Guilherme Brião Camacho e Vinícius Marcel Ferst

Revestimento em chapa 100% alumínio; Liga 3105 Têmpera H 46; Pintura Polyester; Cores sólidas ou metalizadas; Peso (1,5 mm): 4,06 Kg/m 2.

Boletim. Contabilidade Internacional. Manual de Procedimentos

INTERFEROMETRIA LASER APLICADA À INVESTIGAÇÃO EM MEDICINA DENTÁRIA

Estudo da Viabilidade Técnica e Econômica do Calcário Britado na Substituição Parcial do Agregado Miúdo para Produção de Argamassas de Cimento

Técnicas De Fundição. Page 1. Saúde Forma Função Estética. Fundição em areia.

&RPSDUDomRH$QiOLVHGH5HVXOWDGRV

EDITAL FACEPE 14/2008 PROGRAMA DE BOLSAS DE INCENTIVO ACADÊMICO - BIA

Genkor. 32 FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº Introdução

Palavras-chave: Capeamento; Concreto; Compressão Axial.

ESTUDO DA REMOÇÃO DE ÓLEOS E GRAXAS EM EFLUENTES DE PETRÓLEO UTILIZANDO BAGAÇO DA CANA

7º Simpósio de Ensino de Graduação PLANO APPCC PARA O PROCESSO DE OBTENÇÃO DO RAVIÓLI DE CARNE CONGELADO

INSTALAÇÃO, LUBRIFICAÇÃO E MANUTENÇÃO DAS CORRENTES TRANSPORTADORAS PROCEDIMENTO DE INSTALAÇÃO DA CORRENTE

1 Introdução. 2 Material

DESENVOLVIMENTO DE COMPOSIÇÃO DE CONCRETO PERMEÁVEL COM AGREGADOS ORIUNDOS DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL DA REGIÃO DE CAMPINAS

Universidade do Estado de Mato Grosso Engenharia Civil Estradas II

COMISSÃO DE SEGURIDADE SOCIAL E FAMÍLIA PROJETO DE LEI

Desenvolvimento de Estratégia para Programação do Futebol de Robôs da Mauá

AUTOMAÇÃO DO PROCESSO DE MEDIÇÃO DE JUNTAS DE CABEÇOTE

Breve introdução sobre o processo de extração mecânica de óleo e produção de farelo de soja

O FORNO A VÁCUO TIPOS E TENDÊNCIA 1

ADJUVANTES PARA AS ARGAMASSAS OU BETÕES

Steel frame - fechamento (parte 3)

DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA AUTOMATIZADO PARA INSPEÇÃO ULTRA-SÔNICA EM CASCO DE NAVIO

PROGRAMA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA DO SERVIDOR DO IPAMV: COMPROMISSO COM A VIDA

[3] VSL, Sistema VSL de Proteção de LAJES, Sistemas VSL de Engenharia S.A., Rio de Janeiro, Brasil.

Optima Para projetos únicos.

25 a 28 de Outubro de 2011 ISBN

LESÕES DOS ISQUIOTIBIAIS

Como ocorrem e como evitar patologias em pisos de concreto? Veja as recomendações para escolha de materiais e reparo de falhas mais comuns

Tabela de Procedimentos Odontológicos Página: 1 de 10 Especialidade: ENDODONTIA

AQUECEDOR SOLAR A VÁCUO

Estudo do comportamento do gesso-α com a adição de ácidos graxos

Biologia floral do meloeiro em função de doses de nitrogênio em ambiente protegido.

Prof Dr.Avelino Veit Mestre Ortodontia Doutor Implantodontia Fundador projetos socio-ambientais Natal Azul e Salve o Planeta Azul

NORMAS E PROCEDIMENTOS PARA A REALIZAÇÃO DA ATIVIDADE COMPLEMENTAR DE TRABALHO DE GRADUAÇÃO

Fazendo de seu sorriso nossa obra de arte

CAPÍTULO 7 FABRICAÇÃO DOS DORMENTES

Considerações sobre a Relevância da Interação Solo-Estrutura em Recalques: Caso de um Prédio na Cidade do Recife

Eficiência da Terra de Diatomácea no Controle do Caruncho do Feijão Acanthoscelides obtectus e o Efeito na Germinação do Feijão

ANÁLISE DA VIABILIDADE DE INCORPORAÇÃO DE AGREGADOS RECICLADOS PROVENIENTES DO BENEFICIAMENTO DE RESÍDUO CLASSE A NA PRODUÇÃO DE CONCRETOS C20 E C30

CONVERSÃO DE TEMPERATURA

PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DAS GUIAS DE ENCAMINHAMENTO ODONTOLÓGICO PROGEO

Régua graduada. metro e trena

Relatório de atividades Arte e cidadania caminhando juntas Pampa Exportações Ltda.

Ufi Gel SC/P Ufi Gel hard/c. Ufi Gel SC / P Ufi Gel hard / C. aplicação

ANÁLISE EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DOS DIFERENTES PROCEDIMENTOS DE CURA NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE VIGAS DE CONCRETO ARMADO

APROVEITAMENTO SUSTENTÁVEL DE RECURSOS NATURAIS E DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA INOVAÇÃO QUÍMICA DE COMPÓSITOS POLIMÉRICOS

Tabela 1 - conteúdo de umidade em alguns alimentos:

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ÁGUA DESTILADA E OSMOSE REVERSA 1. Wendel da Silva Lopes 2, Andressa da Silva Lopes 3, Adriana Maria Patarroyo Vargas 4.

A presente seção apresenta e especifica as hipótese que se buscou testar com o experimento. A seção 5 vai detalhar o desenho do experimento.

ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO SENSORIAL DE IOGURTE NATURAL COM POLPA DE ABACAXI BASE MEL

Eng Civil Washington Peres Núñez Dr. em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES ENCAMINHADOS AO ATERRO SANITÁRIO DO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA (GO).

TRABALHOS TÉCNICOS PROPOSIÇÃO DE MÉTODO DE DOSAGEM MARSHALL PARA MISTURA BETUMINOSA TIPO C.B.U.Q.

SIMPLES E EFICIENTES PROCEDIMENTOS PARA AS REABILITAÇÕES ORAIS SOBRE DENTES NATURAIS E IMPLANTES

Instruções de utilização. AH Plus. Material de selamento de canais radiculares

III Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí III Jornada Científica 19 a 23 de Outubro de 2010

PROPOSTA EXPERIMENTAL PARA SEPARAÇÃO MECÂNICA E ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DE MATERIAIS PARTICULADOS

Efeito de hipoclorito de sódio na desinfestação de meristemas de bastão-do-imperador

DESCRIÇÃO DE TÉCNICA. PALAVRAS-CHAVE: Moldagem; Materiais dentários; Prótese total. Nerildo Luiz Ulbrich* Ana Paula Gebert de Oliveira Franco**

NOTA TÉCNICA Preparo Pré-Tomográfico conceito Bioparts Implantes Parciais Com necessidade de referência protética Sem nenhum provisório

ESTUDO DO COMPORTAMENTO TÉRMICO DA LIGA Cu-7%Al-10%Mn-3%Ag (m/m)

ESTUDO DOS COMPONENTES DA MISTURA PARA CONCRETO COMPACTADO COM ROLO (CCR) DE BARRAGEM, COM VISTAS A MELHORAR O SEU DESEMPENHO.

DNIT. Pavimento rígido - Selante de juntas - Especificação de material NORMA DNIT 046/ EM. Prefácio. Resumo

4 Experimentos Computacionais

3. Quais são os planos disponíveis para a contratação do produto BB Dental Massificado?

AVALIAÇÃO ESTRUTURAL DO SUPORTE SILICOALUMINOFOSFÁTICO ATRAVÉS DA DIFRAÇÃO DE RAIOS-X OBTIDO COM DIFERENTES TEMPOS DE SÍNTESE

Transcrição:

ISSN: Versão impressa: 1806-7727 Versão eletrônica: 1984-5685 Artigo Original de Pesquisa Original Research Article Avaliação in vitro de três condicionadores de tecido submetidos a testes de penetração In vitro evaluation of three temporary tissue conditioners submitted to penetration tests Daniel Maranha da ROCHA* Ilana Serafim dos SANTOS** Lilian Eiko MAEKAWA*** Lafayette NOGUEIRA JÚNIOR**** Marcos Yasunori MAEKAWA***** Endereço para correspondência: Address for correspondence: Lilian Eiko Maekawa Rua Evolução, 692 Vila Brasilina CEP 04163-001 São Paulo SP E-mail: lilian.maekawa@uol.com.br * Doutorando da área de Concentração em Dentística do Programa de Pós-Graduação em Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos Unesp. ** Cirurgiã-dentista graduada na Faculdade de Odontologia de São José dos Campos Unesp. *** Doutoranda da área de Concentração em Endodontia do Programa de Pós-Graduação em Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos Unesp. **** Professor assistente. Doutor da disciplina de Prótese Parcial Removível do departamento de Materiais Odontológicos e Prótese da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos Unesp. ***** Professor assistente. Doutor da disciplina de Prótese Parcial Removível do departamento de Materiais Odontológicos e Prótese da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos Unesp. Recebido em 10/8/08. Aceito em 12/9/08. Received on August 10, 2008. Accepted on September 12, 2008. Palavras-chave: prótese total; prótese parcial removível; condicionadores de tecido. Resumo Introdução e objetivo: O objetivo do estudo foi avaliar a existência de alterações na resiliência de quatro diferentes condicionadores de tecido: Coe Comfort (CC), Ufi-Gel (UG), Sofreliner S (SS) e Sofreliner MS (SMS), associados aos seus respectivos selantes de superfície em diferentes intervalos de tempo. Material e métodos: Foram confeccionadas 160 cápsulas de resina acrílica que, após seu acabamento, foram preenchidas com os condicionadores de tecido. Para o grupo CC não houve tratamento da superfície interna das cápsulas, sendo o material preparado conforme as indicações do

50 Rocha et al. Avaliação in vitro de três condicionadores de tecido submetidos a testes de penetração fabricante e acomodado nas cápsulas, e para os condicionadores de tecido UG, SS e SMS realizou-se o tratamento interno das cápsulas. Após a obtenção dos corpos-de-prova, estes foram submetidos a testes de penetração, realizados nos intervalos de 1h, 24h, 30 e 60 dias. Resultados: Avaliou-se o efeito do fator tempo na resiliência desses materiais e observou-se que o CC foi o condicionador que mais perdeu essa característica com o passar do tempo, comprovando que seu uso está limitado apenas por curto período. Já os condicionadores UG, SS e SMS, apesar de terem uma pequena deficiência na resiliência na primeira hora, demonstraram-se mais estáveis após todos os testes ao final de 60 dias. Conclusão: Condicionadores de tecido à base de silicona permanecem com as características iniciais por até 60 dias, enquanto condicionadores de tecido à base de resina acrílica perdem progressivamente sua viscoelasticidade. Keywords: complete dentures; removable partial dentures; tissue conditioners. Abstract: Introduction and objective: The aim of this study was to evaluate resilience changes of four tissue conditioners: Coe Comfort (CC), Ufi- Gel (UG), Sofreliner S (SS) and Sofreliner MS (SMS), associated to their respective surface sealers at different times. Material and methods: A hundred and sixty capsules of acrylic resin were made and then finished prior to the filling with the tissue conditioners. For the CC group the capsules were not treated and were filled with the material. For the conditioners UG, SS and SMS, the capsules were internally treated prior to the material insertion. All the materials were used following the manufacturer s instructions. The tests were carried out after 1h, 24h, 30 days and 60 days. Results: The effect of time at the materials resilience was evaluated and it was observed that CC loses more resilience than UG, SS and SMS, what proofs that its use is limited only to a short period. UG, SS and SMS, despite having a little resilience deficiency in the first moment, showed better results after 60 days. Conclusion: It was concluded that silicon based materials keep its initial characteristics till 60 days, while acrylic resin based materials progressively lose its viscoelasticity. Introdução Materiais reembasadores macios vêm sendo amplamente empregados de forma terapêutica em clínicas por amortecerem em parte os impactos mastigatórios, podendo ser classificados como de uso prolongado (meses) ou de tratamento (dias) [12]. Em geral esses materiais têm sido utilizados em pacientes que apresentam reentrâncias severas ou sintomatologia dolorosa constante nos rebordos; eles são úteis no tratamento após cirurgia oral, na instalação de implantes e em obturações de defeitos congênitos ou adquiridos do palato. Apesar das divergências de opiniões sobre o uso de materiais reembasadores, alguns pacientes toleram melhor as suas próteses totais ou parciais quando reembasadas. Durante a prática clínica é relativamente comum observar inflamações de diversos graus de intensidade afetando a mucosa que reveste o rebordo alveolar desdentado, sob próteses totais e/ou próteses parciais removíveis. Na maioria dos casos tais processos inflamatórios ocorrem pela má adaptação dos aparelhos protéticos, promovendo a sobrecarga dos tecidos subjacentes [12]. Os primeiros estudos a respeito de condicionadores de tecido deram-se a partir de 1970, quando Braden [1, 2] analisou as propriedades dos condicionadores de tecido e observou que eles consistiam em um pó polímero poli (etilmetacrilato ou polímeros) e em um líquido cuja mistura era de um éster aromático e 30% etanol, resultando em um gel que possibilitava com seu uso um material absorvedor de impactos. Além disso, Braden e Causton [3] também estudaram as propriedades reológicas desses materiais, constatando que a mistura apresentava comportamento de líquido viscoso.

RSBO v. 6, n. 1, 2009 51 Os materiais reembasadores normalmente usados têm como base resinas acrílicas ou siliconas. Os materiais à base de resinas podem ser termoativados ou quimicamente ativados, e estes geralmente empregam poli (metilmetacrilato) ou poli (etilmetacrilato) como principal componente estrutural. O plastificador, componente que retarda a reação polimerização, geralmente é o dibutilftalato. O efeito resultante da reação é uma resina macia de curta duração chamada de condicionador de tecido. Os condicionadores de tecido são materiais caracteristicamente temporários, cuja utilização deve ser limitada ao tempo necessário para obtenção de tecidos saudáveis [7]. A maior vantagem desses materiais consiste em sua grande versatilidade e facilidade de uso [4]. Entre suas indicações estão os cuidados pós-operatórios de cirurgias e instalação de implantes, a estabilização de próteses totais ou parciais [8], o reembasamento de próteses provisórias [11, 15] e a moldagem funcional [7]. A grande desvantagem dos condicionadores de tecido está associada à baixa efetividade de limpeza, visto que frequentemente pacientes relatam sabor e odor desagradáveis com o passar do tempo [4]. Isso ocorre em função da redução da fluidez dada pela perda de componentes plastificadores constituintes das resinas acrílicas reembasadoras que promovem a manutenção de sua textura macia [13], favorecendo o crescimento micótico e o acúmulo de restos alimentares em suas porosidades. O crescimento fúngico mais comumente associado é o da Candida albicans. Com sua durabilidade comprometida, o material mostra-se rígido e poroso, perdendo sua função inicial e apresentando-se prejudicial à mucosa, o que provoca o acúmulo de placa e detritos [14]. O etanol, presente na composição dos condicionadores de tecido, por ser volátil facilmente evapora, contribuindo para o endurecimento precoce do material [1, 2]. Materiais com alta concentração de etanol apresentam perda de peso e contração, enquanto os que possuem etanol em baixas concentrações demonstram poucas alterações dimensionais em razão do equilíbrio dos processos de evaporação do etanol e da absorção de água [3, 13, 6, 10]. Verifica-se que o recobrimento da superfície porosa do condicionador de tecido por um selante promove a manutenção da sua resiliência por um maior período de tempo, o que consequentemente aumenta sua longevidade [5, 9]. Para o sucesso no reembasamento direto com materiais resilientes, devem-se respeitar os seguintes fatores [15]: correta manipulação; características intrínsecas do material; aplicação periódica de selantes de superfície; retornos e acompanhamentos; correta higienização realizada pelo paciente. O objetivo deste estudo foi avaliar in vitro a existência de alterações na resiliência de quatro diferentes condicionadores de tecido associados aos seus respectivos selantes de superfície em diferentes intervalos de tempo. Material e métodos Para este estudo foram confeccionadas cinco cápsulas metálicas idealizadas pelo autor, usinadas em cilindros de aço inoxidável em torno CNC (controle numérico computadorizado), com as seguintes características: 25 mm de diâmetro, 10 mm de espessura e alívio interno, 20 mm de diâmetro e 3 mm de profundidade. Obteve-se um molde dessas cápsulas em silicone industrial (Rodhorsil Clássico Materiais Odontológicos Ind. Bras., São Paulo), e a partir dessa etapa, por meio do preenchimento desse molde com cera 7, foram obtidas novas cápsulas posteriormente incluídas em mufla metálica. Após a cristalização do gesso, a cera foi removida da área interna da mufla, e procedeu-se à prensagem da resina acrílica ativada termicamente (RAAT Clássico Materiais Odontológicos Ind. Bras., São Paulo). A prensagem foi realizada inicialmente numa prensa estática, observando como parâmetro a justeza entre as bordas da base da mufla e a respectiva contramufla, sendo posteriormente transferida para prensa de molas quando foi submetida ao ciclo de polimerização. Após a polimerização, as muflas foram resfriadas espontaneamente para evitar ao máximo a indução de tensões que poderiam provocar alterações nas propriedades do material. As muflas foram abertas e as cápsulas foram removidas em resina acrílica. Esse processo foi realizado até a obtenção de 160 cápsulas de resina, que receberam acabamento, e suas áreas centrais foram preenchidas com os condicionadores de tecido respectivos de cada grupo experimental. Para o grupo Coe Comfort (CC), não houve tratamento da superfície interna das cápsulas, sendo o material preparado conforme as indicações do fabricante e acomodado nelas. Em seguida uma placa de vidro foi colocada na parte superior das cápsulas preenchidas a fim de permitir uma uniformidade de superfície e facilitar as mensurações, criando assim corpos-de-prova do grupo CC. Para os condicionadores de tecido Ufi-Gel (UG), Sofreliner S (SS) e Sofreliner MS (SMS), realizou-se o tratamento das paredes internas das cápsulas de resina conforme sugerido

52 Rocha et al. Avaliação in vitro de três condicionadores de tecido submetidos a testes de penetração pelos fabricantes. Feito isso foram preparados os condicionadores de tecidos e acomodados nas cápsulas, da mesma forma do grupo anterior, gerando os corpos-de-prova dos grupos UG, SS, SMS (figura 1). Figura 1 Corpos-de-prova Após os intervalos sugeridos pelos fabricantes, aplicaram-se os selantes de superfície de acordo com as instruções deles. Os corpos-de-prova foram submetidos a testes de penetração de 1 mm, com uma ponta romba de 3 mm de diâmetro em máquina universal de ensaio (EMIC, Paraná) (figuras 2 e 3). Os testes foram realizados nos períodos de 1 hora, 24 horas, 30 dias e 60 dias após a inserção dos condicionadores nas cápsulas. Durante o período do estudo, os corpos-de-prova ficaram imersos em saliva artificial e foram armazenados em estufa bacteriológica a 37ºC. Resultados A resiliência foi medida operacionalmente ante a resistência à penetração de uma ponta romba de 3 mm de diâmetro em máquina universal de ensaio, sendo avaliado também o efeito fator tempo na resiliência desses materiais. As médias e os desvios-padrão dos valores de resiliência obtidos encontram-se na tabela I e no gráfico 1. Tabela I Médias e desvios-padrão dos grupos experimentais (Kgf/cm 2 ) Figura 2 Ponta romba em contato inicial com o material reembasador * letras diferentes indicam variação estatisticamente significante (p < 0,05) Figura 3 Ponta romba durante o ensaio de penetração Gráfico 1 Valores de resiliência dos materiais reembasadores (Kgf/cm 2 )

RSBO v. 6, n. 1, 2009 53 Procurou-se avaliar a influência da variável independente (fator tempo) sobre a variável dependente (resiliência) no ensaio de compressão, verificando-se a hipótese de que o fator tempo produz efeito igual sobre a resiliência dos materiais estudados. Para tanto, os dados foram analisados utilizando-se um modelo estatístico paramétrico, a análise de variância (Anova) fator único, considerando-se apenas o fator tempo. O nível de significância adotado foi o valor convencional de 5%. Após ter sido realizado o teste de variância Anova para todos os grupos, observou-se que nos períodos analisados houve alteração significativa do fator resiliência para o grupo CC. Assim, nesse grupo foi aplicado o teste de comparação múltipla (Tukey) com o objetivo de analisar em qual período houve alteração do fator resiliência, o que se deu após 60 dias. Nos testes de penetração avaliou-se o efeito do fator tempo na resiliência dos materiais e foram obtidos os valores apresentados na tabela I. Com base na análise estatística descritiva observou-se que o CC foi o condicionador que apresentou, nas condições experimentais desse estudo, maior alteração de resiliência com o passar do tempo, demonstrando pequena variação apenas nas primeiras 24 horas e, após 60 dias, grande alteração de resiliência. Em contrapartida, os demais condicionadores (UG, SS e SMS), apesar de evidenciarem pequena deficiência na resiliência na primeira hora, demonstraram maior estabilidade ao final do período do estudo (60 dias). Na avaliação da influência do fator tempo sobre resiliência, verificou-se que o efeito produzido sobre a resiliência era igual em todos os materiais estudados. Discussão Os condicionadores de tecido são materiais de uso temporário que devem permanecer apenas durante o tempo necessário para recuperação dos tecidos, uma vez que em função da evaporação do etanol e da absorção da água acontecem contração e perda de peso, provocando uma desadaptação do material ao rebordo. Além disso, nos materiais à base de resinas acrílicas ocorre a perda gradativa de plasticizantes, o que provoca a perda das características elásticas, diferentemente das siliconas, que mantêm por mais tempo tal propriedade. A utilização de selantes sobre os condicionadores de tecido no intuito de reduzir a absorção de água e a perda do plasticizante comprovou que este age como uma barreira, prevenindo a absorção de água e preservando por um maior período sua resiliência, além de auxiliar na prevenção da adesão de bactérias, fungos, resíduos alimentares e saliva [5]. Neste estudo nota-se que o CC foi o condicionador que mais perdeu sua resiliência com o passar do tempo, apresentando pequena mudança apenas nas primeiras 24 horas. Após 60 dias houve grande alteração em sua resiliência, o que comprova que seu uso está limitado apenas por curto período, corroborando com os autores [1, 3, 10, 13] que verificaram que os materiais à base de resinas acrílicas têm menor longevidade na cavidade oral, principalmente por causa de sua perda de plasticizantes e consequente enrijecimento. Entretanto os demais condicionadores (UG, SS e SMS), apesar de mostrarem pequena deficiência na resiliência na primeira hora, foram mais estáveis após todos os testes no final de 60 dias. Isso se deve em função da diferença de composição desses materiais, que possuem maior estabilidade em suas propriedades, bem como da ação dos selantes de superfície, que agem como barreiras impedindo a perda de substâncias e a absorção de água [9, 10, 11]. Os condicionadores de tecido podem promover o sucesso no tratamento e na reabilitação do paciente parcialmente ou totalmente desdentado. Contudo observaram-se limitações no tempo de permanência desses materiais na cavidade bucal, uma vez que sua resiliência diminui com o tempo, resultando em um material rígido. O condicionador CC apresentou grande alteração após 60 dias, apesar de demonstrar estabilidade nas primeiras 24 horas, e deve ser indicado em casos pós-cirúrgicos ou de curta permanência. Os demais materiais mostraram maior estabilidade e menores alterações, permitindo sua indicação para uso prolongado, assim como para reembasamento de próteses transicionais. Conclusão Baseando-se nos resultados obtidos neste experimento, infere-se que os condicionadores de tecido à base de siliconas possuem melhor desempenho durante intervalos de tempo mais longos, enquanto materiais à base de resinas acrílicas perdem substancialmente suas propriedades em longo prazo, devendo ser indicados para tratamentos mais curtos. Referências 1. Braden M. Tissue conditioner: I. Composition and structure. J Dent Res. 1970;49(1):145-8. 2. Braden M. Tissue conditioner: II. Rheologic properties. J Dent Res. 1970;49(3):496-501.

54 Rocha et al. Avaliação in vitro de três condicionadores de tecido submetidos a testes de penetração 3. Braden M, Causton B. Tissue conditioner: III. Water immersion characteristics. J Dent Res. 1971;50(6):1.544-7. 4. Cerveira Netto H, Lin D. Condicionadores teciduais. Rev Fac Odont São José dos Campos. 1977;6(1/2):101-4. 5. Dominguez N, Thomaz C, Gerzina T. Tissue conditioners protected by a poly (methyl methacrylate) coating. Int J Prosthodont. 1996;9:137-41. 6. Ellis B, Lamb DJ, Al-Nakash S. Water sorption by a soft liner. J Dent Res. 1977;56(12):1.526. 7. Graham BS, Jones DW, Sutow EJ. Clinical implications of resilient denture lining material research. Part I: flexibility and elasticity. J Prosthet Dent. 1989;62(4):421-8. 8. Grant AA, Heath JR, McCord JF. Complete prosthodontics. Editora Wolfe; 1994. 9. Gronet PM, Driscoll CF, Hondrum SO. Resiliency of surface-sealed temporary soft denture liners. J Prosthet Dent. 1997;77(4):370-4. 10. Kazanji MNM, Watkinson AC. Soft lining materials: their absorption of, and solubility in, artificial saliva. Br Dent J. 1988;165(3):91-4. 11. Marchini L. Prótese total imediata superior e inferior. Rev Assoc Paul Cir Dent. 1998;52(4):293-6. 12. Marchini L, Cunha VPP. Condicionadores de tecido: considerações sobre seu uso clínico. Odontol Ens Pesq. 1998;3(3):9-12. 13. Murata H, Kawamura M, Hamada T, Saleh S, Kresnoadi U, Toki K. Dimensional stability and weight changes of tissue conditioners. J Oral Rehabil. 2001;28(10):918-23. 14. Razek MKA. Influence of tissue conditioning materials on the oral bacteriologic status of complete denture wearers. J Prosthet Dent. 1980;44(2):137-42. 15. Zavanelli RA, Mesquita MF, Zavanelli AC. Reembasamento direto com material resiliente: considerações e relato de caso clínico. PCL. 2002;4(22):503-7.