AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE PRÉ-ESCOLARES ATENDIDOS NOS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE GUARAPUAVA PR



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Transcrição:

Alim. Nutr., Araraquara v. 23, n. 1, p. 121-129, jan./mar. 2012 ISSN 0103-4235 ISSN 2179-4448 on line AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE PRÉ-ESCOLARES ATENDIDOS NOS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE GUARAPUAVA PR Vanessa Fernanda GOES* Bruno Moreira SOARES** Daniele Gonçalves VIEIRA** Rayza Dal Molin CORTESE*** Patricia Cristina PICH**** Patrícia CHICONATTO** RESUMO: Avaliar o estado nutricional e o consumo alimentar de pré-escolares atendidos nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) do município de Guarapuava, Paraná. O estado nutricional foi avaliado por meio dos índices antropométricos: peso por idade (P/I), peso por estatura (P/E), estatura por idade (E/I) e índice de massa corporal por idade (IMC/I); os dados socioeconômicos e demográficos foram avaliados utilizando-se um questionário específico e o consumo alimentar foi analisado por meio de inquérito dietético (pesagem direta dos alimentos) e comparado às recomendações do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Participaram deste estudo 150 crianças de 30 a 60 meses de idade, sendo 51,3% meninos. Concernente o estado nutricional observou-se que 76% das crianças eram eutróficas, de acordo com IMC/I. Observouse excesso de peso em 23,3% (IMC/I) e baixa prevalência de déficits nutricionais (0,7%), segundo IMC/I e P/E. Com relação ao consumo de nutrientes, a ingestão de cálcio foi inadequada por todas as crianças (100%). A ingestão de ferro mostrou-se com menor percentual de inadequação, 38,3% para os pré-escolares de 30 a 42 meses e 48,5% para os de 43 a 60 meses. Não se verificou associação entre a escolaridade da mãe (p=0,599), rede de esgoto (p=0,338) e tempo de permanência no CMEI (p=0,619) com o estado nutricional. O excesso de peso entre os pré-escolares, bem como uma visível inadequação dos nutrientes ofertados pela alimentação escolar podem no futuro comprometer o estado de saúde desta população. PALAVRAS CHAVE: Consumo alimentar; estado nutricional; pré-escolar. INTRODUÇÃO Os Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs), antigamente denominados creches, são instituições que visam proteger, alimentar, fornecer atendimento psicopedagógico e desenvolvimento integral às crianças. 7,27 Essas instituições são fundamentais para famílias de baixa renda no Brasil, pois possibilitam a participação da mulher no mercado de trabalho, gerando aumento na renda familiar e melhora nas condições de saúde das crianças, visto que, há integração da educação, do cuidado básico de saúde e da alimentação. 32,34 Sendo assim, é necessário que esta integração influencie, de forma favorável, o estado nutricional e o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças. 5 Com isso, a nutrição assume papel fundamental em todas as fases do processo de crescimento, pois qualquer deficiência de nutrientes pode repercutir sobre o crescimento e comprometer o ganho pondero-estatural de forma definitiva. 12 Deste modo é essencial uma alimentação adequada, do ponto de vista nutricional, para assegurar o crescimento e o desenvolvimento equilibrados durante a infância, assim como, para a promoção e a manutenção da saúde e do bemestar do indivíduo. 15 Particularmente, o período pré-escolar é decisivo em termos de formação dos hábitos alimentares, que tendem a se solidificar na vida adulta. Assim, o mais precocemente possível, é importante estimular o consumo de uma alimentação variada e equilibrada, incentivar a criança a se alimentar sozinha, oferecer local adequado para realizar as refeições, afim de que identifique o sabor, a cor e a textura da cada alimento. 19 * Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas Curso de Mestrado Universidade Estadual do Centro-Oeste UNICENTRO e a Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG 85040-080 Guarapuava PR Brasil. E-mail: nessaffgoes@hotmail.com. ** Departamento de Nutrição UNICENTRO 85040-080 Guarapuava PR Brasil. *** Programa de Pós-Graduação em Nutrição Curso de Mestrado Universidade Federal de Santa Catarina UFSC 88040-970 Florianópolis SC Brasil. **** Programa de Pós-Graduação em Nutrição Clínica Curso de Especialização Faculdade Evangélica do Paraná 80730-000 Curitiba PR Brasil. 121

Para se conhecer a magnitude, o comportamento e os determinantes dos agravos nutricionais, bem como, identificar os grupos de risco, realiza-se avaliação do estado nutricional, 29 por meio da antropometria. Proposto pela Organização Mundial da Saúde, 42 a antropometria é um método simples utilizado universalmente na avaliação do crescimento, 28,42 com a finalidade de verificar o crescimento e as proporções corporais em um indivíduo ou em uma população, e estabelecer atitudes de intervenção. 31 Os distúrbios na saúde e na nutrição, independentes de suas etiologias, afetam, constantemente, o crescimento infantil, que guarda estreita dependência com os fatores ambientais, no passado e no presente. 10,16,42 A influência dos fatores ambientais é maior do que a dos fatores genéticos na expressão do potencial de crescimento das crianças menores de cinco anos. 16,22 Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o estado nutricional e o consumo alimentar dos préescolares matriculados em Centro Municipais de Educação Infantil do município de Guarapuava, Paraná. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo, do tipo transversal, realizado com 150 crianças de 30 a 60 meses de idade, atendidas em seis CMEIs, que acompanhavam num total cerca de 250 crianças nessa faixa etária. O município de Guarapuava possui dez CMEIs e, para a seleção dos centros estudados, foi realizada escolha aleatória com obtenção do consentimento da Secretária Municipal de Educação. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesqui sa da Universidade Estadual do Centro-Oeste UNICENTRO, sob o número 182/2009. O estudo foi realizado no período de fevereiro a abril de 2010, sendo que as crianças participantes foram aquelas cujos pais ou responsáveis concordaram voluntariamente em participar do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE. O tamanho amostral limitou-se devido a não autorização de alguns pais e a ausência de algumas crianças durante os dias de coleta de dados, que foi realizada por uma acadêmica do último ano do curso de nutrição, devidamente treinada. Foram avaliados dados demográficos (sexo e idade), dados socioeconômicos familiares (escolaridade materna, renda familiar, densidade familiar, número de dormitórios nos domicílios, número de familiares empregados, condições de habitação, benefícios sociais de toda família e tempo de frequência da criança na creche), variáveis relacionadas às condições de nascimento (peso da criança ao nascer, idade gestacional), aleitamento materno e a presença de doenças frequentes, como verminoses, anemias, doenças respiratórias e dermatológicas, entre outras. Esses dados foram obtidos através de um questionário específico autoaplicável que foi explicado e entregue juntamente com o TCLE. A avaliação antropométrica seguiu as recomendações do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional SISVAN. 10 Para obtenção do peso, utilizou-se uma balança digital da marca Plenna, com capacidade de 150kg, onde a criança foi posicionada no centro do equipamento, com o mínimo de roupa possível e descalça. Para a aferição da estatura, foi afixada em parede sem rodapé uma fita métrica de material resistente, inelástica e flexível, com precisão de 0,1cm. A criança descalça foi posicionada com a cabeça livre de adereços no centro da fita, de pé, ereta, e com os pés bem juntos. A coleta dos dados antropométricos foi realizada em uma sala devidamente equipada e organizada, durante o período letivo. A classificação do estado nutricional foi feita de acordo com os conjuntos de curvas de crescimento da World Health Organization WHO, 40 por meio dos índices de estatura para a idade (E/I), peso para a idade (P/I), peso para estatura (P/E) e índice de massa corporal para a idade (IMC/I). O IMC foi obtido através da razão entre o peso obtido (kg) e a estatura ao quadrado (m 2 ) (IMC= Peso/ Estatura 2 ). Para comparação dos conjuntos de medidas antropométricas obtidos foi utilizada a escala escore Z, com padrão de referência. A classificação do estado nutricional dos pré-escolares, segundo o critério escore-z para os índices P/I, P/E, e IMC/I, foi reunida em três grupos (excesso de peso, eutrofia e baixo peso) que englobaram as outras classificações dos índices, com o objetivo de facilitar a análise dos dados. O grupo excesso de peso incluiu as classificações: risco de sobrepeso, peso elevado para idade, sobrepeso e obesidade. O grupo eutrofia englobou as classificações: peso adequado para idade e eutrofia. E o grupo baixo peso foi utilizado para as classificações muito baixo peso para a idade, baixo peso para idade, magreza e magreza acentuada. Concernente o índice E/I, foi dividido em duas categorias: estatura adequada e baixa estatura. As classificações muito baixa estatura para idade e baixa estatura para idade foram incluídas na categoria baixa estatura. Para obtenção e análise dos índices antropométricos foi utilizado o programa WHO Anthro. 39 A avaliação do consumo alimentar da alimentação ofertada nos CMEIs foi feita pelo método de pesagem direta dos alimentos consumidos pelas crianças, sendo que todas as preparações que fizeram parte de cada refeição (desjejum, colação, almoço e lanche da tarde) foram pesadas antes de serem oferecidas às crianças e, após cada refeição, foi feita a pesagem dos restos, para verificação da ingestão real dos pré-escolares. 1,3,2,15 A pesagem dos alimentos foi realizada por uma acadêmica do último ano de nutrição devidamente treinada. Foi estabelecido o porcionamento padrão de cada preparação (média em triplicata dos pratos), usado como re ferência para se calcular a quantidade proporcional do resto e da repetição. 1,3,2,15 Para a pesagem dos alimentos, foi utilizada uma ba lança digital da marca Plenna com precisão de uma grama e capacidade para cinco quilos. Para os cálculos e análise dietética do consumo alimentar foi utilizado o programa de avaliação nutricional Avanutri. Utilizou-se as informações fornecidas pelos 122

fabricantes dos alimentos formulados para avaliação no programa. Após a análise dietética foi realizada a comparação da quantidade de cada nutriente (energia, carboidratos, proteínas, lipídeos, cálcio, ferro, fibras, vitaminas A e C, magnésio e zinco) da alimentação escolar com as recomendações do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que preconiza que os cardápios sejam planejados, de modo a atender, quando em período integral, no mínimo 70,0% (setenta por cento) das necessidades nutricionais diárias dos alunos matriculados na educação básica. 6 A recomendação do PNAE é distinta para os préescolares de um a três anos (12 a 36 meses) e de quatro a cinco anos (48 a 60 meses). Sendo assim, os pré-escolares estudados foram divididos em dois grupos, um com idade até três anos e cinco meses (30 a 42 meses) e outro de três anos e seis meses a cinco anos (43 a 60 meses). As adequações dos nutrientes foram realizadas com base nas recomendações do PNAE, sendo considerado consumo adequado o valor igual ou maior que a recomendação. O percentual de crianças que tiveram consumo inadequado de cada nutriente foi estabelecido pela divisão do número de crianças que tiveram consumo inadequado pelo número total de crianças, de acordo com a faixa etária. Na realização das análises descritivas e tabulação dos dados foram utilizados os programas Epi Info versão 3.3.2 e Microsoft Excel. A análise estatística foi realizada no Programa Estatístico Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 16.0. O teste do Qui-quadrado foi usado para associar as variáveis: ingestão energética (kcal) e estado nutricional (índices antropométricos); ingestão energética (kcal) e faixas etárias dos pré-escolares; escolaridade materna, tempo de permanência nos CMEIs, rede de esgoto e o estado nutricional (IMC/I). As variáveis ingestão energética e tempo de permanência foram categorizadas para realização do teste estatístico. Foi utilizando nível de significância de 5% (p<0,05). RESULTADOS Do total das crianças, 51,3% (n=77) pertenciam ao gênero masculino, com média de idade de 47,8 ± 8,8 meses, sendo que a faixa etária de 30 a 42 meses foi composta por 47 crianças. Segundo os índices P/I, P/E e IMC/I, os pré-escolares apresentaram prevalência de eutrofia, num total de 92,6%, 76,7% e 76,0%, respectivamente. O índice IMC/I identificou o maior percentual de excesso de peso (23,3%), sendo os meninos responsáveis por maior parte desse (Tabela 1). Observou-se, desnutrição aguda caracterizada pelo baixo peso (Tabela 1). E uma criança com indício de desnutrição crônica ou pregressa indicada pela baixa estatura, estando 99,3% dos pré-escolares com a estatura adequada para idade. A avaliação do perfil socioeconômico (Tabela 2) demonstrou que entre as famílias 76,7% possuíam renda de um a três salários mínimos. Entretanto o recebimento de benefício social familiar não foi verificado em 79,3%. Quanto às condições sanitárias das residências, 24,0% das residências familiares não estavam conectadas à rede de esgoto. Analisando a escolaridade verificou-se que a maioria das mães possuía o ensino médio completo (36,7%), não havendo mães analfabetas. As crianças permaneciam nos CMEIs de um a dois anos (38,7%) e a presença de doenças frequentes foi constatada em 79,3% dos pré-escolares, segundo questionamento feito aos familiares (Tabela 2). Não foi verificado associação entre as variáveis escolaridade da mãe (p=0,599), rede de esgoto (p=0,338) e tempo de permanência no CMEI (p=0,619) com o estado nutricional (IMC/I). Em relação às condições de nascimento (Tabela 3), 90,6% das crianças possuíam peso adequado (2500 a 4000g), e a maioria (90,0%) nasceu com idade gestacional adequada (a termo). O aleitamento materno exclusivo foi realizado durante seis meses por 66,0% das mães (Tabela 3). Em relação ao consumo alimentar (Tabela 4), verificou-se que a faixa etária de 43 a 60 meses foi a que obteve o maior número de nutrientes consumidos de forma inadequada por todos os pré-escolares, sendo esses, magnésio, cálcio, fibras e carboidratos. Quanto aos macronutrientes, todos foram consumidos de forma inadequada pelos préescolares de ambas às faixas etárias. A ingestão do micronutriente cálcio foi inadequada em todos os pré-escolares (100%). O ferro foi o nutriente que apresentou menores percentuais de inadequação entre os pré-escolares. Na avaliação dietética da alimentação escolar verificou-se que, a quantidade de alimentos fornecidos era a mesma independente da faixa etária, contudo as recomendações do PNAE são distintas entre ambas. Tabela 1 Distribuição percentual dos índices P/I, P/E e IMC/I de acordo com o gênero dos pré-escolares de Centros Municipais de Educação de Guarapuava, PR, 2010. Frequência Meninos (%) Frequência Meninas (%) Índice Eutrofia (n) Excesso de peso (n) Baixo peso (n) Eutrofia (n) Excesso de peso (n) Baixo peso (n) P/I 94,8 (73) 5,2 (4) 0,0 (0) 90,4 (66) 9,6 (7) 0,0 (0) P/E 74,0 (57) 26,0 (20) 0,0 (0) 79,4 (58) 19,2 (14) 1,3 (1) IMC/I 74,0 (57) 26,0 (20) 0,0 (0) 78,1 (57) 20,5 (15) 1,3 (1) 123

Tabela 2 Caracterização do perfil socioeconômico dos domicílios e da família dos pré-escolares de Centros Municipais de Educação Infantil de Guarapuava, PR, 2010. Variáveis n Frequência (%) Frequência acumulada (%) Renda familiar Sem renda 2 1,3 1,3 1 a 3 salários mínimo 116 77,3 78,6 >3 salários mínimos 29 19,3 97,9 Não informou 3 2,0 100,0 Escolaridade da mãe Ensino Fundamental Incompleto 16 10,6 10,6 Ensino Fundamental Completo 10 6,7 17,3 Ensino Médio Incompleto 28 18,7 36,0 Ensino Médio Completo 55 36,7 72,7 Ensino Superior Incompleto 20 13,3 86,0 Ensino Superior Completo 18 12,0 98,0 Não informou 3 2,0 100,0 Número de dormitórios 1 16 10,7 10,7 2 63 42,0 52,7 3 52 34,7 87,3 4 9 6,0 93,3 5 4 2,7 96,0 Não informou 6 4,0 100,0 Número de pessoas por domicílio 1 a 3 52 34,7 34,7 4 a 6 94 62,7 97,3 Mais que 7 3 2,0 99,3 Não informou 1 0,7 100,0 Número de trabalhadores por domicílio 0 1 0,7 0,7 1 25 16,7 17,4 2 111 74,0 91,4 3 11 7,3 98,7 4 1 0,7 99,4 Não informou 1 0,7 100,0 Água tratada Sim 148 98,7 98,7 Não 1 0,7 99,3 Não informou 1 0,7 100,0 Serviço de esgoto Sim 111 74,0 74,0 Não 36 24,0 98,0 Não informou 3 2,0 100,0 Energia elétrica Sim 149 99,3 99,3 Não informou 1 0,7 100,0 Caracterização do domicílio Próprio 94 62,7 62,7 Alugado 34 22,7 85,3 Cedido 20 13,3 98,7 Não informou 2 1,3 100,0 Benefício social Bolsa família 27 18,0 18,0 Leite das crianças 2 1,3 19,3 Aposentadoria 2 1,3 20,6 Não recebe benefício social 119 79,3 100,0 Presença de Doenças frequentes Sim 119 79,3 79,3 Não 24 16,0 95,3 Não informou 7 4,7 100,0 Tempo de permanência no CMEI < 1 ano 37 24,7 24,7 1 a 2 anos 55 36,7 61,3 > 2 anos 58 38,7 100,0 124

Tabela 3 Características do nascimento e aleitamento materno dos pré-escolares de Centros Municipais de Educação Infantil de Guarapuava, Paraná, 2010. Variáveis N Frequência (%) Frequência acumulada (%) Peso ao nascer <2500g 14 9,3 9,3 2500-4000g 136 90,6 100,0 Idade gestacional A termo 135 90,0 90,0 Pré termo 12 8,0 98,0 Não informou 3 2,0 100,0 Aleitamento materno exclusivo < 6meses 49 32,7 32,7 6meses 99 66,0 98,7 Não informou 2 1,3 100,0 Tabela 4 Média, desvio padrão e percentual de inadequação do consumo de nutrientes de pré-escolares nos Centro Municipais de Educação Infantil de Guarapuava, PR, 2010. Nutriente Média Desvio Percentual de inadequação (n) Percentual de inadequação (n) fornecida padrão 30 42 meses 43 60 meses Energia (kcal) 748,5 163,7 76,6 (36) 64,1 (66) Proteína (g) 25,8 13,2 38,3 (18) 64,1 (66) Lipídeos (g) 16,3 6,8 76,6 (36) 79,6 (82) Carboidratos(g) 124,5 22,7 40,4 (19) 100,0 (103) Fibras (g) 8,6 3,9 61,7 (29) 100,0 (103) Cálcio (mg) 148,7 126,4 100,0 (47) 100,0 (103) Ferro (mg) 7,3 4,2 38,3 (18) 48,5 (50) Vitamina A (μg) 178,3 201,3 97,9 (46) 68,9 (71) Vitamina C (mg) 14,2 14,3 63,8 (30) 65,0 (67) Magnésio (mg) 52,2 21,4 59,6 (28) 100,0 (103) Zinco (mg) 2,7 1,7 38,3 (18) 65,0 (67) Pode-se observar que o percentual de ingestão energética para ambas as faixas etárias estava abaixo da recomendação. Sendo que não foi verificada associação entre a ingestão energética e as diferentes faixas etárias (p=0,180). Assim como, não houve associação entre a ingestão energética e o estado nutricional (IMC/I, P/I, P/E e E/I) dos pré-escolares (p=0,847; p=0,073; p=0,863; p=0,601, respectivamente). DISCUSSÃO Os achados do estudo demonstram uma maior prevalência de eutrofia e estatura adequada para idade entre os pré escolares, sendo observado uma parcela de excesso de peso. Em relação à alimentação consumida nos CMEIs, verificou-se inadequação na ingestão de todos os micro e macronutrientes de acordo com as recomendações do PNAE. Martino et al. 24 avaliaram 189 crianças de 16 a 82 meses de idade durante um ano nos CMEIs de Alfenas em Minas Gerais, com base nas curvas da WHO 40 e também encontraram maior prevalência de crianças eutróficas, com percentuais de 58,3% para o índice P/I e 68,2% para P/E. Porém observaram desnutrição crônica (20,5%) e desnutrição aguda (4,0%), diferentemente dos achados do presente estudo. No estudo de Fisberg et al., 21 827 crianças entre 4 a 84 meses de idade, assistidas de creches públicas do Município de São Paulo, foram avaliadas pelas curvas do National Center for Health Statistic (NCHS). A prevalência do déficit de altura foi 7,0%, apontando a existência de desnutrição crônica entre o grupo de crianças estudadas. Por outro lado, a prevalência de sobrepeso foi 3,5%. Contudo, a prevalência de déficit de altura foi superior que a encontrada no presente estudo (0,7%) e a prevalência de sobrepeso inferior. Tuma et al. 37 avaliaram 230 pré-escolares de 24 a 71 meses de idade e destacaram a ocorrência de 6,1% de excesso de peso e 4,8% de déficit de estatura, utilizando as curvas do NCHS, corroborando com os resultados do presente trabalho. A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher 9 mostrou que o excesso de peso (de acordo com o índice peso para altura) é uma realidade em 6,6% das crianças brasileiras menores de cinco anos 125

de idade, indicando, a exposição da população ao risco de obesidade na infância. Assim, por meio dessas pesquisas pode-se vislumbrar a tendência de aumento das prevalências de sobrepeso e obesidade nas crianças brasileiras. Os dados antropométricos do presente trabalho são relevantes porque foram comparados com o novo padrão de crescimento da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse novo padrão representa a população mundial e possui credibilidade junto à comunidade científica, embora existam ainda poucos trabalhos que o utiliza. Em relação ao perfil socioeconômico das famílias, no estudo de Castro et al., 13 quase a totalidade das famílias (93,3%) tinham rendimento inferior a cinco salários mínimos, o que foi semelhante com a renda das famílias estudadas. Além da maioria dos domicílios possuírem de um a dois dormitórios (59,5%), e grande parte das famílias constituía-se de cinco a oito membros (49,4%), o que divergiu do presente estudo, que teve maior parte das famílias constituídas de quatro a seis membros (62,7%). Zöllner & Fisberg, 43 descreveram os fatores associados ao estado nutricional de crianças assistidas em creches da Prefeitura do Município de São Paulo e mostraram, com relação à escolaridade materna que, 55,7% das mães tinham até sete anos de estudo, e que 3,0% eram analfabetas. No presente estudo 80,7% das mães possuíam mais de oito anos de estudo (ensino médio incompleto ou mais), não havendo mães analfabetas, o que pode estar positivamente relacionado ao estado nutricional encontrado nas crianças estudadas. A escolaridade materna é um determinante do estado nutricional de crianças. 18,25,26 O fato de a escolaridade materna persistir fortemente associada ao crescimento infantil, mesmo quando são semelhantes às condições socioeconômicas, está relacionado, provavelmente, com a importância que cuidados apropriados têm para a saúde e a nutrição da criança. 25 O grau de escolaridade da mãe influencia, favoravelmente, o estado de nutrição do filho, pois o meio informal de transferência de conhecimentos da mãe pode se articular com outros fatores do meio social, como trabalho, renda e condições de ambiente físico. 17 Além disso, os distúrbios do estado de saúde e nutricional, nos primeiros anos de vida, nos países em desenvolvimento, estão associados às condições gerais de vida e ao nível de atendimento das necessidades básicas da população, como as condições de rede de esgoto, 34 que não estavam presentes em um número considerável de famílias no presente estudo. Contudo, essa situação não ocorre somente no município avaliado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 23 o esgotamento sanitário atinge apenas 52,2% dos 5.507 municípios avaliados no Brasil, o que compromete o meio ambiente e, consequentemente, a saúde da população que utiliza rios, lagos, lagoas e solo contaminados por esgoto lançado sem tratamento. Contudo, a falta de rede de esgoto parece não ter influenciando no estado nutricional dos pré-escolares. O benefício social parece não atingir toda a população que deveria. No presente estudo 77,3% das famílias possuem renda de um a três salários mínimos e, 79,3% não recebem nenhum benefício social. Os benefícios sociais são programas instituídos para complementação de renda das famílias, objetivando combater a pobreza, eliminar o trabalho infantil e aumentar os níveis de escolaridade das crianças e adolescentes. 30 Com isso, o benefício social pode contribuir de forma positiva na manutenção e melhoria no estado nutricional dos pré-escolares. Silva et al. 35 observaram que, de forma geral, os programas de creches favorecem as crianças mais velhas (com dois anos ou mais). Os resultados mostraram que as crianças que não frequentavam creches tinham maior prevalência de déficits de altura (16,6%), enquanto que o grupo que tinha acesso a esse serviço, o percentual foi menor (12,5%). Os resultados da pesquisa de Silva & Sturion, 34 que teve como base a análise do estado nutricional de 2.096 crianças menores de sete anos, mostraram influência positiva exercida pelo tempo de permanência em creches sobre a estatura para a idade das crianças. O que pode ter ocorrido também no presente estudo, visto que 38,7% dos préescolares permaneciam de um a dois anos nos CMEIs e o percentual de déficit de altura foi baixo. Silva 33 também constatou a influência benéfica da frequência na creche, nos primeiros anos de vida, e no estado nutricional (efeito tardio) dos escolares pertencentes às famílias de menor renda domiciliar per capita, quando analisou dados relativos a crianças da faixa etária de seis a dezesseis anos. Os resultados deste estudo corroboram o estudo de Castro et al., 13 no qual a maioria das mães (52,9%) relatou que as crianças nasceram com peso adequado e quanto a idade gestacional, 94,7% nasceram a termo. Sabe-se que o recém-nascido pré-termo tem grande chance de desenvolver deficiências nutricionais, principalmente pela velocidade de crescimento, imaturidade de vários órgãos ou sistemas e dificuldade em se prover uma nutrição adequada. Isto deve-se ao fato do peso ao nascer exercer influencia sobre o crescimento e o desenvolvimento da criança e, em longo prazo, repercutirá nas condições de saúde do adulto. 20 Sendo assim, o peso ao nascer e a idade gestacional podem ter influenciado, de forma positiva, o estado nutricional encontrado no presente estudo. Da mesma forma, o aleitamento materno exclusivo, que foi realizado por 6 meses pela maior parte das mães, pode ter influenciado o estado nutricional atual das crianças, visto que o aleitamento materno adotado exclusivamente nos seis primeiros meses de vida é reconhecido como padrão alimentar capaz de garantir a saúde da criança, devido à composição nutricional e aos fatores de proteção contra doenças que esse alimento confere. 41 Em relação ao consumo alimentar de pré-escolares Alves et al. 1 utilizaram o método de pesagem direta dos alimentos, e constaram que a proteína (106,7%) e o sódio (167,5%) fo ram os únicos nutrientes acima das recomen- 126

dações. Os demais nutrientes encontravam-se abaixo da adequação recomendada de ingestão, inclusive os outros macronutrientes, lipídios (56,7%) e carboidratos (65,6%). O cálcio foi o nutriente com menor oferta. Castro et al., 13 avaliaram a ingestão alimentar dos pré-escolares (24 a 72 meses) por meio de questionário de frequência alimentar, recordatório 24 horas e pesagem direta dos alimentos consumidos nas creches e verificaram que 75,7% das crianças apresentaram inadequação da ingestão energética em relação à necessidade energética estimada (EER) e 92,8% dos pré-escolares apresentaram ingestão de cálcio abaixo do valor da ingestão adequada (AI). As vitaminas e minerais são necessários para o crescimento e desenvolvimento adequado. Os nutrientes mais críticos são ferro, cálcio, zinco e vitamina A, pois as quantidades recomendadas são elevadas em relação à capacidade gástrica e ao tamanho corporal de crianças pré-escolares. 36 Todos esses nutrientes foram consumidos de forma inadequada na alimentação escolar, sendo imprescindível a complementação desses para evitar consequências para o estado de saúde dos pré-escolares. A deficiência de ferro tem como consequências: perda da resistência às infecções, com infecções de repetição em curtos intervalos de tempo; redução da capacidade lúdica; perda de apetite e distúrbios na área neuropsicomotora. 38 Pesquisas recentes mostraram prevalência de anemia ferropriva de 69,0% em crianças de creche da rede municipal de São Paulo. 11 O zinco desempenha importantes funções como componente de diversas enzimas e também na resistência imunológica do organismo. 14 O Ministério da Saúde reconhece que a carência de vitamina A é um sério problema de saúde pública e está associada a 23,0% das mortes por diarreia em crianças brasileiras. Com isso institui o Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A, destinado a prevenir e controlar essa deficiência nutricional mediante suplementação e, crianças de seis a 59 meses e puérperas no pós-parto imediato. 8 No estudo de Cruz et al., 15 foram coletadas amostras das refeições servidas nas seis creches municipais, sendo que antes da distribuição eram sorteadas para pesagem três porções (amostras) de alimentos e/ou preparações componentes das refeições. Esses pesquisadores verificaram que o cálcio foi ofertado de forma insuficiente para os pré-escolares assistidos nas creches em turno integral, sendo 301mg ±55 para pré-escolares de dois a quatro anos e 352mg ±63 para os de quatro a cinco anos. Portanto, assim como no presente estudo, os estudos citados anteriormente mostram que o mineral cálcio é consumido de forma inadequada pela maioria dos préescolares, sendo que este possui funções na estruturação dos ossos e dentes, contração muscular, irritabilidade de nervos, coagulação sanguínea e ação cardíaca. 4 Contudo, estudos transversais apresentam limitações, pois avaliam um único momento, sendo necessário um acompanhamento para obtenção de dados mais consistentes e fidedignos. Em relação à inadequação da alimentação escolar dos pré-escolares está poderia ser corrigida pela alimentação ofertada fora dos CMEIs, o que pode ter influenciado no estado nutricional encontrado, porém a falta de investigação dessa limitou afirmações. CONCLUSÃO A prevalência de excesso de peso encontrada evidencia que este pode se tornar um problema de saúde, uma vez que essas crianças estariam vivenciando a transição nutricional, uma progressiva redução de déficits nutricionais e aumento da prevalência de excesso de peso, que está relacionada com mudanças demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas. Assim, é fundamental o monitoramento correto e eficiente pelos gestores municipais e dos CMEIs, professores, pais, universidades e organizações não governamentais, para que se possa garantir um estado nutricional saudável para as crianças. A alimentação escolar nos CMEIs era igual para a faixa etária estudada, havendo inadequação dos nutrientes ofertados. Possivelmente, em médio e longo prazo esta inadequação poderá causar problemas nutricionais na população estudada. O fato de não ter ocorrido associação do consumo de energia com o estado nutricional pode ser explicado pelo fato da alimentação dos pré-escolares não estar restrita somente ao que era ofertado pelo CMEIs, por isso estes achados apontam a necessidade de um diagnóstico alimentar envolvendo a alimentação do domicílio, atuação dos pais e familiares da criança na educação alimentar. É recomendável a realização continuada de estudos de consumo alimentar e avaliação do estado nutricional de crianças pré-escolares com vistas a conhecer a sua prática alimentar e prevenir doenças provenientes de hábitos alimentares inadequados. AGRADECIMENTOS À Secretaria da Educação do Município de Guarapuava por ter cedido o espaço para a realização da pesquisa, e a todos os professores e pais que colaboraram com o desenvolvimento da mesma. GOES,V. F.; SOARES, B. M.; VIEIRA, D. G.; CIRTESE, R. D. M.; PICH, P. C.; CHICONATTO, P. Evaluation of the nutritional status and alimentary consumption of preschoolers attended in the municipal centers of infantile education in Guarapuava PR. Alim. Nutr., Araraquara, v. 23, n. 1, p. 121-129, jan./mar. 2012. ABSTRACT: Evaluating the nutritional status and alimentary consumption of preschoolers attended in the Municipal Centers of Infantile Education (CMEIs) in Guarapuava, Paraná, Brazil. The nutritional status was evaluated through the anthropometric indicators: weight for age (W/A), weight for height (W/H), height for age (H/A) and body mass index for age (BMI/A); the socioeconomic and demographic data was evaluated by using a specific 127

questionnaire and the alimentary consumption was analyzed through dietary inquiry (direct weighing of the food) and compared to the recommendations of the National Program for School Alimentation. 150 infants between 30 to 60 months old took place in this study, being 51.3% boys. Apropos the nutritional status it has been observed that 76% of the infants were adequate, according to BMI/A. It has been observed the excess in weight in 23.3% (BMI/A) and low prevalence of nutritional deficits (0.7%), according to BMI/A and W/H. Regarding the nutritional consumption, the ingestion of calcium was inadequate in all infants (100%). The ingestion of iron showed lower percentage of inadequacy, 38.3% for the preschoolers between 30 to 42 months old and 48.5% for those between 43 and 60. It wasn t verified any association among the mother s scholarity (p=0.599), sewers network (p=0.338) and time of permanence in the CMEI (p=0.619) with the nutritional status. The excess in weight among the preschoolers as well as a visible inadequacy of the nutrients offered by the school alimentation may compromise the health status of this population in the future. KEYWORDS: Food consumption; nutritional status; preschool. REFERÊNCIAS 1. ALVES, G. et al. Avaliação antropométrica e consumo alimentar de pré-escolares em creches de Umuarama, Paraná. Arq. Ciênc. Saúde Unipar., v. 12, p. 119-126, 2008. 2. BARBOSA, R. M. S; SOARES, E. A.; LANZILLOTTI, H. S. Avaliação da ingestão de nutrientes de crianças de uma creche filantrópica: aplicação do consumo dietético de referência. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., v. 7, p. 159-166, 2007. 3. BARBOSA, R. M. S. et al. Avaliação do consumo alimentar de crianças pertencentes a uma creche filantrópica na Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., v. 6, p. 127-134, 2006. 4. BARNESS, L. A.; CURRAN, J. S. Nutrição. In: BEHRMAN, R. E. et al. Nelson tratado de pediatria. Rio de Janeiro: Guanabara, 2009. 3568 p. 5. BISCEGLI, T. S. et al. Avaliação do estado nutricional e prevalência de carência de ferro em crianças frequentadoras de uma creche. Rev. Paul. Pediatr., v. 24, p. 323-329, 2006. 6. BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Resolução n. 38, de 16 de julho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 2009. p. 55. 7. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 20 dez. 1997. 60 p. 8. BRASIL. Portaria nº 729, 13 maio 2005. Institui o Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A. Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 maio 2005. 5 p. 9. BRASIL. Ministério da Saúde. Pesquisa nacional de demografia e saúde da criança e da mulher, PNDS, 2006. Brasília, DF, 2008. 306 p. 10. BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Protocolos do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional SISVAN na assistência à saúde. Brasília, DF, 2008. 61 p. 11. BUENO, M. B. et al. Prevalência e fatores associados à anemia entre crianças atendidas em creches públicas de São Paulo. Rev. Bras. Epidemiol., v. 9, p. 462-470, 2006. 12. CARDOSO, A. L.; LOPES, L. A.; TADDEI, J. A. (Coord.) Tópicos atuais em nutrição pediátrica. São Paulo: Atheneu, 2006. 175 p. 13. CASTRO, T. G. et al. Caracterização do consumo alimentar, ambiente socioeconômico e estado nutricional de pré-escolares de creches municipais. Rev. Nutr.,v. 18, p. 321-330, 2005. 14. COUSINS, R. J. Zinc. In. ZIEGLER, E.; FILER JR., L. J. Conocimientos actuales sobre nutrición. Washington, DC: OPS, 1997. cap. 29, p. 312-327. 15. CRUZ, G. F. et al. Avaliação dietética em creches municipais de Teresina, Piauí, Brasil. Rev. Nutr., v. 14, p. 21-32, 2001. 16. DEVINCENZI, M. U.; RIBEIRO, L. C.; SIGULEM, D. M. Crescimento Pôndero-estatural do Pré-escolar. Compacta Nutr., v. 6, p. 7-16, 2005. 17. ENGSTROM, E. M.; ANJOS, L. A. Déficit estatural nas crianças brasileiras: relação com condições socioambientais e estado nutricional materno. Cad. Saúde Pública, v. 15, p. 559-567, 1999. 18. ENGSTROM, E. M.; ANJOS, L. A. Relação entre o estado nutricional materno e sobrepeso nas crianças brasileiras. Rev. Saúde Pública, v. 30, p. 233-239, 1996. 19. FAGIOLI, D.; NASSER, L. A. Educação nutricional na infância e na adolescência: planejamento, intervenção, avaliação e dinâmicas. São Paulo: RCN, 2006. 244 p. 20. FALCÃO, M. C. Avaliação nutricional do recémnascido. Pediatria, v. 22, p. 233-239, 2000. 128

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