MUDANÇAS GENÉTICAS EM LINHAS PURAS DE FRANGO DE CORTE 1 GENETIC EVOLUTION OF PURE PATERNAL AND MATERNAL BROILER LINES



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MUDANÇAS GENÉTICAS EM LINHAS PURAS DE FRANGO DE CORTE 623 MUDANÇAS GENÉTICAS EM LINHAS PURAS DE FRANGO DE CORTE 1 GILBERTO SILBER SCHMIDT 2, DANISIO PRADO MUNARI 3, ELSIO ANTONIO PEREIRA DE FIGUEIREDO 4, DIRCEU LUIZ ZANOTTO 5 e MÔNICA CORRÊA LEDUR 6 RESUMO - O objetivo deste trabalho foi avaliar as mudanças genéticas ocorridas no desempenho, na composição da carcaça e no tamanho e resistência dos ossos, em linhagens experimentais, após seis gerações de seleção. As aves pertenciam às linhas paternas LL, LLc (controle), ZZ e LC1 (comercial), e às maternas PP, PPc (controle), KK e LC2 (comercial). As mudanças genéticas foram obtidas a partir dos desvios entre cada linha selecionada e a respectiva linha controle (LL-LLc e PP-PPc). A seleção para peso corporal resultou em respostas correlacionadas na conversão alimentar, mas não nas características de carcaça. As mudanças genéticas no ganho de peso não estão sendo acompanhadas por mudanças correlacionadas na resistência dos ossos. A ênfase de seleção diferenciada entre linhas puras paternas e maternas está alterando o conteúdo de Ca, água e de gordura das carcaças de frango de corte. Termos para indexação: composição de carcaça, mudança genética, seleção. GENETIC EVOLUTION OF PURE PATERNAL AND MATERNAL BROILER LINES ABSTRACT - An experiment was carried out to determine the genetic changes in performance, carcass composition and measures of bone size and resistancy of paternal (LL, LLc, ZZ and LC1) and maternal lines (PP, PPc, KK and LC2). The genetic changes were estimated as deviations between selected and control lines (LL-LLc and PP-PPc). The body weight selection improved feed:gain ratio, but did not cause any correlated response in the carcass traits. The genetic changes in the weight gain are not acompanied by correlated changes in the bone resistancy. Diferent selection emphasis in the selection of paternal and maternal pure lines is altering the Ca, water and fat content of the carcass. Index terms: carcass composition, genetic trend, selection. INTRODUÇÃO A evolução no desempenho das linhagens de frango de corte tem sido acentuada nas últimas décadas, sendo ao redor de 85 a 90% dos ganhos em produtividade de origem genética (Chambers, 1995). 1 Aceito para publicação em 18 de agosto de 1998. 2 Zoot., Dr., Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves (CNPSA), Caixa Postal 21, CEP 89.700-000 Concórdia, SC. Bolsista do CNPq. E-mail: schmidt@cnpsa.embrapa.br 3 Zoot., D.Sc., Dep. de Zootecnia, UNIMAR, Campus Universitário, CEP 17500-000 Marília, SP. 4 Zoot., Ph.D., Embrapa-CNPSA. Bolsista do CNPq. E-mail: elsio@cnpsa.embrapa.br 5 Eng. Agr., M.Sc., Embrapa-CNPSA. E-mail: zanotto@cnpsa.embrapa.br 6 Zoot., Dr., Embrapa-CNPSA. E-mail: mledur@cnpsa.embrapa.br O melhoramento genético, por si só, tem determinado ganhos anuais da ordem de 2,5, 0,25 e 0,15%, respectivamente, em peso corporal, rendimento de carcaça e de peito, além de reduções de 0,02 unidades, 0,1% e 0,4 dias, respectivamente, na conversão alimentar, gordura abdominal e idade de abate (Andrade, 1990). As linhagens atuais podem ser de 2,7 a 3,4 vezes mais pesadas que as linhagens controle, nas idades de 21, 42 e 56 dias (Havenstein et al., 1994a). Chambers et al. (1981) verificaram redução de 0,42 unidades na conversão alimentar, após 11 anos de seleção. Têm sido observados aumentos na ordem de 6 a 7% no rendimento de carcaça, 4% no rendimento de coxa e sobrecoxa, 3% no rendimento de peito e 4% na gordura abdominal (Havenstein et al., 1994b). Associadas às mudanças favoráveis, ocorrem algumas desfavoráveis, como o aumento de problemas de locomoção

624 G.S. SCHMIDT et al. e a mortalidade (Chambers, 1995). Havenstein et al. (1994a), comparando linhagens selecionadas e controle, verificaram diferenças significativas quanto à mortalidade. A alta incidência de deformidades de pernas tem sido associada à seleção para aumento do peso corporal. Chambers (1995) estimou que a ocorrência de lesões atribuídas à discondroplasia tibial estava evidente em 48,6% das linhagens modernas contra apenas 1,2% nas populações controle. O objetivo deste trabalho foi avaliar mudanças ocorridas no crescimento, na composição proximal da carcaça e nas medidas de tamanho e resistência dos ossos, em linhagens experimentais, após seis gerações de seleção para crescimento rápido. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi conduzido na Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves, localizada em Concórdia, SC. Utilizaram-se quatro linhagens paternas (LL, ZZ, LLc e LC1), quatro linhas maternas (PP, KK, PPc e LC2), sendo LC1 e LC2 linhas comerciais. As populações controle (LL e PPc) originaram-se em 1986, respectivamente das linhagens utilizadas para representarem o material genético da época. As linhas paternas experimentais foram selecionadas para peso corporal, fertilidade e eclodibilidade, durante seis gerações (1986/92), enquanto as linhas maternas, além dessas características foram selecionadas para produção de ovos até a 40 a semana de idade. As linhas paternas e maternas foram avaliadas independentemente uma da outra, em aviários distintos. Os pintos foram alojados em boxes com cama de maravalha, isolados por sexo, utilizando-se delineamento inteiramente casualizado, com seis repetições de 30 aves cada. Utilizou-se o manejo preconizado para frango de corte, com as rações contendo 3.050 e 3.150 kcal de energia metabolizável e 22% e 20% de proteína bruta, respectivamente, para as fases inicial (1 a 28 dias), e de crescimento (29 a 42 dias). Foram avaliados o peso corporal, consumo de ração, conversão alimentar e viabilidade até o 42 o dia de idade. No 43 o dia de idade, 16 aves/sexo/linhagem foram abatidas para avaliação das características de carcaça, asa, peito e coxa e gordura abdominal. Foram avaliadas as partes nobres, coxa e peito, após a desossa, de oito aves/sexo das linhagens LL, PP, LC1, LC2, LLc e PPc, com relação aos teores de água, proteína, extrato etéreo e cinza, de acordo com a Association of Official Analytical Chemists (1984). Na tíbia esquerda avaliaram-se o peso seco desengordurado e as porcentagens de Ca, P e cinza. Na tíbia direita determinaram-se o comprimento, diâmetros maior, menor e intermediário e a resistência. As mudanças genéticas, após seis gerações de seleção, foram estimadas a partir do desvio da média entre as populações selecionadas e as respectivas populações controle. As análises de variância foram realizadas utilizando-se o pacote estatístico do programa SAS. RESULTADOS E DISCUSSÃO As médias das características de crescimento e os desvios entre as linhagens selecionadas e controle são apresentadas nas Tabelas 1 e 2, respectivamente. A avaliação das linhagens experimentais, em comparação às populações controle, indica que a seleção para peso corporal resultou, de modo geral, em ganhos genéticos significativos nas características de crescimento (Tabela 2). Porém, a inclusão da seleção para a produção de ovos, nas linhas maternas, reduziu o ganho genético em peso no 42 o dia de idade. O ganho genético por geração foi maior na linha macho LL (71,5 g) do que na linha fêmea PP (29,7 g). Com relação à conversão alimentar e consumo de ração, LL apresentou melhorias da ordem de 0,075 e 48 g/geração, respectivamente, o que não ocorreu nas linhas maternas. A maior ênfase na seleção para peso no 42 o dia determina resposta correlacionada nessas características, resultado que é semelhante aos de Havenstein et al. (1994a). A comparação entre as linhagens experimentais e comerciais, demonstra ganhos genéticos similares no peso corporal e na conversão alimentar, nas linhas paternas. Já nas linhas maternas, PP apresentou maior peso no 42 o dia que a LC2, indicando que, provavelmente, a ênfase dada à produção de ovos, nas linhas comerciais, foi maior do que a dada à PP. Embora a seleção para peso corporal possa determinar redução na viabilidade (Dunnington & Siegel, 1991), essa característica não apresentou mudanças significativas durante o processo de seleção, em ambas as linhas. As características de carcaça das linhas paternas, não diferiram entre as linhas selecionadas e a controle, exceto em relação a rendimento de

MUDANÇAS GENÉTICAS EM LINHAS PURAS DE FRANGO DE CORTE 625 carcaça e coxa. A linha ZZ apresentou ganhos genéticos significativos em rendimento de asa, peito e porcentagem de gordura abdominal. Comparando com a linhagem comercial, no geral verificam-se diferenças apenas no rendimento de peito, envolvendo as linhas ZZ e LC1. Nas linhas maternas, verificaram-se diferenças significativas somente no rendimento de peito, com melhor desempenho para KK. Os resultados demonstram que a seleção para peso corporal não determinou respostas correlacionadas nas características de carcaça, portanto, estas devem ser introduzidas no processo de seleção para que se possa obter ganhos genéticos significativos. As linhas experimentais não diferiram das comerciais, com relação à composição proximal (Tabela 3), exceto em comprimento da tíbia e extrato etéreo da coxa na linha materna, indicando que as mudanças correlacionadas foram semelhantes em ambas. Nas linhas paternas, comparando TABELA 1. Médias estimadas por quadrados mínimos em relação a peso corporal no 42 o dia de idade (P42), consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA) e porcentagens de viabilidade (VB), carcaça (C), gordura abdominal (PG), asa (AS), peito (PT) e coxa (CX) 1. LL ZZ LC1 LLc PP KK LC2 PPc P42 (g) 1.801a 1.644b 1.836a 1.372c 1.557A 1.401C 1.487B 1.379C CR (g) 3.763a 3.773a 3.625ab 3.474b 3.070AB 3.223A 2.929AB 2.879B CA (g/g) 2,09a 2,21b 2,06a 2,54c 1,97A 2,09A 2,16A 2,09A VB (%) 95,50a 89,50a 93,50a 86,00a 96,00A 94,67A 96,00A 96,67A C(%) 70,20ab 70,80ab 71,50a 69,80b 74,50A 73,10A 73,90A 73,80A PG (%) 3,42a 2,73b 2,91ab 2,98ab 3,91A 3,79A 3,89A 3,51A AS (%) 12,71a 10,97b 11,52ab 11,81ab 12,61A 12,42A 12,29A 12,94A PT (%) 26,84ab 28,21a 25,83b 25,81b 23,80AB 24,21A 22,64B 23,97A CX (%) 34,32a 33,05a 33,86a 33,80a 32,00A 31,89A 32,07A 32,53A 1 Dentro de linha paterna, as médias seguidas de mesma letra minúscula, ou dentro de linha materna seguidas de mesma letra maiúscula não diferem (P<0,05) pelo teste t. TABELA 2. Desvios entre as linhagens controle e selecionada quanto a peso corporal no 42 o dia de idade (P42), consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA) e porcentagens de viabilidade (VB), carcaça (C), gordura abdominal (PG), asa (AS), peito (PT) e coxa (CX) LL ZZ LC1 PP KK LC2 P42 (g) 429 272 464 178 22 108 CR (g) 289 299 151 191 344 50 CA (g/g) -0,45 0,33-0,46-0,12 0,00 0,07 VB (%) 9,50 3,50 7,50-0,67-2,00-0,67 C (%) 0,40 1,00 1,70 0,70-0,70 0,10 PG (%) 0,44-0,25-0,07 0,40 0,28 0,38 AS (%) 0,90-0,84-0,29-0,33-0,52-0,65 PT (%) 1,03 2,40 0,02-0,17 0,24-1,33 CX (%) 0,52-0,75 0,06-0,63-0,64-0,46

626 G.S. SCHMIDT et al. LL e LLc, observaram-se ganhos genéticos significativos no comprimento da tíbia (0,66 mm/geração), diâmetro médio (0,17 mm/geração) e peso seco desengordurado da tíbia (0,105 g/geração). Todavia, tais aumentos não foram acompanhados por incremento significativo na resistência da tíbia. As linhas maternas, PP e PPc não diferiram nas características avaliadas, apesar de PP apresentar maiores conteúdos de extrato etéreo na coxa e no comprimento da tíbia que LC2. Constatou-se, por meio das diferenças entre PP e PPc, que o processo de seleção não alterou essas características. As diferenças de ganhos genéticos observadas entre as linhas paternas e maternas foram decorrentes dos processos de seleção a que foram submetidas. A seleção para produção de ovos, na linha materna, foi, aparentemente, responsável pelo maior acúmulo de Ca na tíbia. As médias das linhas paternas selecionadas foram superiores às das linhas maternas, em diâmetro maior e médio da tíbia, quantidade de água no peito e coxa, e inferiores em extrato etéreo na coxa e peito, cinza e Ca. O aumento do comprimento da tíbia, sem conseqüente alteração da resistência, determina maior fragilidade da estrutura óssea das linhas paternas. Os machos da linha paterna foram superiores às fêmeas em diâmetro da tíbia e inferiores em cinza, Ca e P, porém com maior peso seco desengordurado (Tabela 4). Na linha materna, os machos superaram as fêmeas quanto ao comprimento, diâmetro e peso seco desengordurado da tíbia e teores de água no peito e coxa. Pelo valor negativo da correlação entre resistência e comprimento da tíbia (-0,30), nas linhas paternas e maternas, concluiu-se que aumento no comprimento provocou redução na resistência. Todavia, não foi encontrada relação entre a resistência e as medidas de diâmetro da tíbia. O comprimento teve correlações positivas com as medidas de diâmetro maior (0,55), intermediário (0,26) e menor (0,32). Entre as medidas de diâmetro, as correlações variaram de 0,35 a 0,50. Portanto, o aumento do comprimento implicou aumento do diâmetro, sem alterar a resistência. TABELA 3. Médias, por quadrados mínimos, estimadas na tíbia em relação a comprimento (CT), diâmetros maior (DMA), médio (DMD) e menor (DME), resistência (RT), teores de Ca (Ca) e P (P) e peso seco desengordurado (PSD) e no peito e coxa, respectivamente, em relação a teores de água (AGP e AGC), proteína (PP e PC), extrato etéreo (EEP e EEC) e cinzas (CZP e CZC), por linhagem e nas médias das linhas paternas (LP) e maternas (LM) 1. Média LL LLc LC1 PP PPc LC2 LP LM CT (mm) 88,06a 84,09b 88,49a 90,31A 87,67AB 85,64B 87,14A 87,83A DMA (mm) 21,62ab 20,64b 21,93a 20,87A 20,59A 20,72A 21,53A 20,70B DMD (mm) 7,66a 7,35a 7,79a 7,79A 7,54A 7,87A 7,66A 7,72A DME (mm) 16,42a 15,39b 16,58a 16,07A 15,39A 15,38A 16,28A 15,59B RT (dan/mm 2 ) 2,96a 2,92a 3,25a 5,55A 4,98A 5,10A 3,01B 5,22A Ca (%) 18,02a 17,94a 17,94a 18,68A 18,60A 18,91A 17,98B 18,73A P (%) 9,15a 9,15a 9,13a 9,63A 9,70A 9,68A 9,15B 9,68A PSD (g) 4,25a 3,62b 4,21a 4,11A 3,65A 3,95A 4,02A 3,90A AGP (%) 70,97a 70,61a 70,31a 67,70A 67,84A 68,66A 70,67A 68,06B AGC (%) 68,90a 68,55a 68,91a 64,64A 65,50A 66,39A 68,81A 65,56B PP (%) 20,86a 20,69a 20,69a 20,72A 20,75A 20,21A 20,74A 20,55A PC (%) 17,66a 17,69a 17,44a 17,46A 18,14A 17,71A 17,60A 17,77A EEP (%) 7,19a 8,19a 7,62a 10,43A 10,45A 9,44A 7,63B 10,09A EEC (%) 2,42a 11,96a 12,39a 15,81A 14,59AB 14,25B 12,18B 14,88A CZP (%) 1,18a 1,13a 1,27a 1,13A 1,31A 1,23A 1,15A 1,22A CZC (%) 0,95a 0,90a 0,95a 0,81A 0,90A 0,89A 0,93A 0,86A 1 Dentro de linha paterna, as médias seguidas de mesma letra minúscula, ou dentro de linha materna e da média, seguidas de mesma letra maiúscula não diferem (P<0,05) pelo teste t.

MUDANÇAS GENÉTICAS EM LINHAS PURAS DE FRANGO DE CORTE 627 TABELA 4. Médias, por quadrados mínimos, estimadas na tíbia, em relação a comprimento (CT), diâmetros maior (DMA), médio (DMD) e menor (DME), resistência (RT), teores de Ca (Ca) e P (P) e peso seco desengordurado (PSD) e no peito e coxa, respectivamente, em relação a teores de água (AGP e AGC), proteína (PP e PC), extrato etéreo (EEP e EEC) e cinzas (CZP e CZC), por sexo das linhas paternas e maternas 1. Macho Fêmea Macho Fêmea CT (mm) 88,40a 85,86a 89,60A 86,30B DMA mm) 22,19a 20,88b 21,55A 19,59B DMED (mm) 7,96a 7,36b 8,20A 7,36B DME (mm) 17,01a 15,56b 16,28A 14,67B RT (dan/mm 2 ) 2,87a 3,16a 5,02A 5,60A Ca (%) 17,79b 18,16a 18,80A 18,84A P (%) 9,06b 9,23a 9,63A 9,45A PSD (g) 4,44a 3,61b 4,33A 3,50B AGP (%) 70,36a 70,67a 68,63A 67,26B AGC (%) 69,01a 69,28a 66,92A 65,11B PP (%) 20,51a 20,88a 20,62A 20,51A PC (%) 17,59a 17,78a 17,60A 18,42A EEP (%) 8,03a 7,25a 9,49B 11,09A EEC (%) 12,47a 12,01a 14,64A 15,52A CZP (%) 1,09a 1,19a 1,25A 1,14A CZC (%) 0,93a 0,94a 0,84A 0,94A 1 Médias seguidas de mesma letra minúscula dentro de linha paterna ou de mesma letra maiúscula dentro de linha materna não diferem (P< 0,05) pelo teste t. CONCLUSÕES 1. A seleção, baseada apenas no peso corporal, não determina respostas correlacionadas nas características de carcaça; embora a conversão alimentar tenha melhorado, em decorrência da seleção para peso corporal, melhores ganhos são obtidos por meio da seleção direta para conversão. 2. As alterações genéticas no ganho de peso não são acompanhadas de mudanças correlacionadas na resistência dos ossos; a seleção diferenciada entre as linhas paternas e maternas altera os teores de cálcio e os percentuais de água e gordura das carcaças. REFERÊNCIAS ANDRADE, A.N. Avicultura do futuro: uma perspectiva para o século 21. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 30., 1990, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1990. p.71-76. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS. Official methods of analytical chemists. 14.ed. Arlington, 1984. 1141p. CHAMBERS, J.R. Advantages and disadvantages of genetic improvement of meat-type poultry and possible solutions. In: SIMPÓSIO TÉCNICO DE MATRIZES DE CORTE, 1., Chapecó. Anais... Chapecó: Associação Catarinense de Avicultura, 1995. p.120-131. CHAMBERS, J.R.; GAVORA, J.S.; FORTIN, A. Genetic changes in meat-type chickens in the last twenty years. Canadian Journal of Animal Science, Edmonton, v.61, p.555-563, 1981. DUNNINGTON, E.A.; SIEGEL, P.B. Genetic analyses of Bantam and selected low-weight White Plymouth Rock chickens and their crosses. 1. Growth, immunoresponsiveness and carcass characteristics. Genetique Selection Evolution, Paris. v.23, n.2, p.141-148, 1991. HAVENSTEIN, G.B.; FERKET, P.R.; SCHEIDELER, S.E.; LARSON, B.T. Growth, livability, and feed conversion of 1957 vs 1991 broilers when fed typical 1957 and 1991 broiler diets. Poultry Science, Champaign, v.73, p.1785-1794, 1994a. HAVENSTEIN, G.B.; FERKET, P.R.; SCHEIDELER, S.E.; RIVES, D.V. Carcass composition and yield of 1991 vs 1957 broilers when fed typical 1957 and 1991 broilers diets. Poultry Science, Champaign, v.73, p.1795-1804, 1994b.