CONTROLE DE QUALIDADE PERLIMINAR DE ASTRONIUM FRAXINIFOLIUM, UMA PLANTA PROMISSORA DO CERRADO BRASILEIRO PRELIMINAR QUALITY CONTROL OF ASTRONIUM FRAXINIFOLIUM, A PROMISING PLANT OF BRAZILIAM CERRADO Cássia Regina Primila Cardoso (1) Hérida Regina Nunes Salgado (2) Wagner Vilegas (3) Resumo O Brasil é um país rico em biodiversidade, além do conhecimento etnofarmacológica associado a pertencer à população de alguns biomas, como o cerrado brasileiro. Os principais pesquisadores estão estudando muitas espécies de plantas, com o objetivo de além de levantar dados botânicos e químicos, também investigar novas substâncias activas e perfil terapêutico. Além do enfoque médico é relevante para a aplicação de extratos vegetais para fins ambientais, tais como o controle de pragas na agricultura e na otimização de processos industriais. Isto aplica-se a otimização da produção de etanol a partir de várias fontes, como cana-de-açúcar. O objetivo deste estudo foi avaliar, de forma preliminar, a composição química e controle de farmacognosia e de qualidade microbiológica de Astronium fraxinifolium, droga vegetal, de acordo com a literatura, tem atividade antimicrobiana e pode ser usado, no futuro, na otimização do processo fermentativo para obtenção de etanol. Palavras-chave: Astronium spp. Controle de qualidade. Cerrado brasileiro. Abstract Brazil is a rich country in biodiversity, plus the ethnopharmacological knowledge associated with belonging to the population of some biomes, such as the Brazilian cerrado. Leading researchers are studying many plant species, for the purpose of besides raising botanical and chemical data, also investigate new active substances and therapeutic profile. Besides the medical focus is relevant to application of plant extracts for environmental purposes, such as pest control in agriculture and optimization of industrial processes. This applies to the optimization of ethanol production from various sources such as sugar cane. The aim of this study was to evaluate, in a preliminary way, the chemical composition and control of pharmacognosy and microbiological quality of Astronium fraxinifolium, vegetable drug, according to the literature, has antimicrobial activity and may be use, in the future, in the optimization of fermentative process for ethanol obtaining. Keywords: Astronium spp. Controle de qualidade. Cerrado brasileiro. 1 2 Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop MT; Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNESP, Araraquara SP; 3 Campus Experimental do Litoral Paulista/UNESP, São Vicente SP; e-mail de contato: cassiaregina2001@yahoo.com.br. 218
1 Introdução Da família Anacardiaceae e conhecida como gonçalo-alves, Astrinium fraxinifolium é uma espécie promissora do cerrado brasileiro, especialmente de sua madeira. Porém, a atividade humana tem reduzido sua ocorrência no cerrado brasileiro (Aguiar et al., 2001). Nos últimos anos tem sido observado um crescente interesse pelas plantas medicinais, por apresentarem potenciais terapêuticos e econômicos visados, especialmente, pela indústria farmacêutica, que realiza a prospecção de novos produtos. A literatura relata a atividade antimicrobiana do gênero Astronium (Costa et al., 2010), o que desperta o interesse de estudos complementares sobre a aplicabilidade dos estratos de A. fraxinifolium na produção de etanol por fermentação, visando otimização. O conjunto de ensaios de qualidade consiste em identificação botânica macro e microscópica, prospecção fitoquímica, ensaios de autenticidade e pureza (cinzas, umidade, granulometria, características organolépticas), testes microbiológicos, entre outros (Anvisa, 2009). As drogas vegetais podem conter uma grande quantidade de fungos e bactérias (10 4 UFC/g e 10 5 UFC/g, respectivamente), provenientes do solo, da microflora natural de certas espécies ou introduzida pela manipulação (Farias, 2001). Os contaminantes comuns, em certas condições de produção e armazenamento, podem desenvolver-se na droga vegetal, acentuando o processo de degradação e perda de princípios ativos. Em geral, para materiais destinados ao uso interno, os limites são: bactérias aeróbias (máximo 10 5 UFC/g); bolores e leveduras (máximo 10 3 UFC/g); Escherichia coli (máximo 10 UFC/g); outras enterobactérias (máximo 10 3 UFC/g), Salmonella (ausência); Pseudomonas aeruginosa (ausência); Staphylococcus aureus (ausência). Portanto, o presente trabalho tem como objetivo dar o primeiro passo no levantamento de dados científicos desta espécie, com foco nas técnicas de controle de qualidade farmacognóstico e microbiológico, além da triagem química, uma vez que poderá ser aplicada, em estudos futuros, como um produto natural eficiente na otimização do processo fermentativo de etanol. 2 Material e métodos O trabalho foi realizado nos Laboratórios de Fitoquímica do Instituto de Química e Controle de Fármacos e Medicamentos/FCFar da Universidade Júlio de Mesquita Filho - SP. As folhas foram coletadas na região de Votuporanga SP, nos meses de setembro, outubro e novembro de 2011 (período considerado de baixa umidade no ambiente). As exsicatas foram 219
depositadas no Herbário Ibilce/Unesp, em São José do Rio Preto SP. A planta foi seca em estufa sem circulação de ar, a 37 C, por 5 dias e submetida à pulverização em moinho de facas. O pó foi então analisado. 1. Controle farmacognóstico: a) Teor de umidade em estufa (110 º C): As replicadas de 1,0 g foram submetidas à estufa e pesadas a cada 1 hora, até peso constante. A perda de água e componentes voláteis foi expressa em % das replicatas em 3 experimentos independentes; b) Determinação da densidade aparente não compactada: Foi utilizada uma proveta vazia de 100 ml, previamente pesada. A mesma foi preenchida com droga vegetal pulverizada até o volume total, sem compactação ou pressão; c) Determinação de extrativos em álcool (a frio): Uma massa de 4 g de da droga foi macerada com 100 ml de solvente especificado, por 6 horas em temperatura ambiente e agitação frequente e deixada em repouso por 18h. A solução foi filtrada e 25 ml do filtrado para a cápsula de porcelana e evaporar até a secura em banho-maria. A secagem do resíduo foi realizada a 105 C (estufa) por 6h; d) Teor de cinzas totais e insolúveis em ácido: Os resultados foram expressos em porcentagem, com referência à massa inicial da droga vegetal, de acordo com a Farmacopeia Brasileira (1988); e) Triagem química: O extrato foi submetido a uma triagem através de testes químicos para os marcadores (Wagner et al., 1984), a fim de se determinar a classe de produtos naturais presentes. 2. Obtenção do extrato: O extrato foi obtido com a utilização de etanol 70 % e os seguintes métodos: a) Maceração (1:30 m/v; 40 C; agitação); b) Remaceração (1:90 em 3 x; TA; repouso); c) Percolação (1:100 m/v; TA; 24 h); d) Percolação, nas mesmas condições em com variação do volume de solvente (gradativamente, de 1:90 a 1:50 m/v). O objetivo foi determinar, em pequena escala, o método que favorecia o melhor rendimento. 2. Controle microbiológico: a. Contagem de formas viáveis: O método utilizado para a contagem de microorganismos (aeróbios, bolores e leveduras) consistirá na técnica de semeadura em profundidade (MERCK, 1989), respeitando condições de temperatura, meio, oxigênio e tempo de incubação, favorecendo o crescimento e a contagem das colônias. Após a incubação, foram determinadas unidades formadoras de colônias por unidade de peso (UFC/g). 220
b. Pesquisa de patógenos específicos: A pesquisa de patógenos específicos consistiu no isolamento e diferenciação, visando a identificação, utilizando provas bioquímicas e sorológicas do microorganismo em questão (enterobactérias, Escherichia coli, Salmonella sp., Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus). 3 Resultados e discussão Os parâmetros de qualidade farmacognóstica e microbiológica apresentaram os resultados expressos na tabela 1. Estes dados favorecem a obtenção de novas informações sobre a espécie vegetal. Na análise microbiológica, foram realizados os seguintes ensaios: contagem do número total de microrganismos, pesquisa de Salmonella sp. e Escherichia coli e pesquisa de Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa. Os patógenos estiveram ausentes e o número de formas viáveis se apresentou dentro dos limites permitidos ( 10 5 UFC/g). Os resultados de umidade e presença de micro-organismos ressalta que o processamento está adequado para essas espécies. Tabela 1. Parâmetros de qualidade farmacognóstica e microbiológica da droga vegetal (Farmacopeia brasileira, 1988/2010) Parâmetro Resultado Resultado esperado Avaliação da qualidade Teor de umidade (%) 11,69 ± 2,35 14 % Aceitável Densidade (%) 0,28 ± 0,67 - Aceitável Cinzas totais (%) 4,97 ± 0,03 - Aceitável Cinzas insolúveis (%) 0,9 ± 0,01 - Aceitável Teor de extrativos (%) 29,2 ± 1,82 - Aceitável Formas viáveis (UFC/g) 1,45 ± 10 3 ± 113 10 5 Aceitável Fungos (UFC/g) 7 ± 10 2 ± 51 10 3 Aceitável Patógenos (UFC/g) Ausentes Ausentes Aceitável Dados obtidos a partir de triplicatas, em três experimentos independentes. O estudo comparativo de diferentes variáveis e seleção do melhor método extrativo basearam-se em dois critérios: a) rendimento; b) perfil cromatográfico em camada delgada para os principais marcadores, previamente determinados por triagem química convencional. Os dados de rendimento foram: maceração (%) = 25 ± 2,3; remaceração (%) = 23,4 ± 1,7; percolação (%) = 31,8 ± 0,8. Os três processos geraram extratos com perfil fitoquímico similar 221
por CCD. Portanto, foi selecionada a percolação para elaboração do extrato, uma vez que o rendimento foi mais significativo. O extrato apresentou, nos testes químicos, prevalência qualitativa de taninos e flavonoides, o que justifica as atividades etnofarmacológicas da espécie (cicatrizante, antiinflamatória, antidiarreica, etc.). A tabela 2 demonstra os dados obtidos na triagem química das classes de metabólitos secundários. A figura 1 demonstra o perfil fitoquímico geral, com diferentes sistemas de solvente e reveladores químicos. 4 Conclusões A análise dos parâmetros de qualidade de A. fraxinifolium revelaram um adequado processamento da droga vegetal. Os dados químicos indicaram a presença de flavonoides, taninos e saponinas, o que poderiam ser uma explicação para a atividade antimicrobiana relatada na literatura. Portanto, estudos futuros para a aplicação do extrato na otimização dos processos industriais parece ser um caminho promissor. Tabela 2. Triagem química do extrato hidroalcoólico 70 % de Astronium fraxinifolium. Grupo de metabolitos Resultado Método Possível marcador Flavonoides ++ Shinoda SIM Flavonoides + Taubock SIM Flavonoides + Pew SIM Flavonoides + Cloreto de Al Taninos +++ Gelatina (2%) Taninos +++ Cloreto férrico (5%) Saponinas + Formação de espuma em H 2 O SIM SIM SIM? Dados obtidos a partir de triplicatas, em três experimentos independentes. Referências bibliográficas AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Consulta pública nº 35, 12 de junho de 2009. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 23 de julho de 2009. 222
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