EFFECT OF COOLING DONOR OVARIES ON IN VITRO BOVINE EMBRYO PRODUCTION AND CULTURE OF GRANULOSA CELL MONOLAYERS.



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EFFECT OF COOLING DONOR OVARIES ON IN VITRO BOVINE EMBRYO PRODUCTION AND CULTURE OF GRANULOSA CELL MONOLAYERS. Marques, C.C., Pereira, R.M., Vasques, M.I., Baptista, M.C., Horta, A.E.M. Departamento de Reprodução, Estação Zootécnica Nacional - INIA, Vale de Santarém, Apartado 17, 2000 Vale de Santarém, Portugal Summary: Donor ovaries for granulosa cell and oocyte in vitro cultures, collected at slaughter house were conditioned at 4ºC and 37ºC. The effects of conditioning temperatures of donor ovaries on granulosa cell viability at the onset of in vitro culture, oocyte maturation, in vitro fertilisation and embryo development as well as on D8 embryo quality, were evaluated. The percentage of viable granulosa cells at the beginning of culture was significantly higher when donor ovaries were conditioned at 4ºC (29.7% vs. 24.6%, P<0.01). On the other hand, cooled ovaries provoked a significant decrease on oocyte maturation (56.8% vs. 76.4%, P<0.0002) and tended to decrease cleavage rate (77.4% vs. 83.1%, P<0.10). The decrease on oocyte maturation formerly checked by observing fresh oocytes, was confirmed by nuclear staining of previously fixed oocytes (56.3% vs. 73.6%, P<0.005). The conditioning temperature of donor ovaries did not influence either the rates of D8 or hatched embryos. Quality of transferable embryos (D8) was impaired by cooling, the proportion of good quality grade 2 embryos being significantly decreased (2.7% vs. 27.2%, P<0.001) and that of poor quality grade 4 embryos being increased (42% vs. 23.3%, P<0.003). Results above show that cooling bovine donor ovaries at 4ºC before processing, significantly improve the viability of granulosa cells to be used in monolayers co-incubated in vitro with embryos. On the other hand, cooled donor ovaries significantly decrease the meiotic competence of collected oocytes and the quality of transferable embryos with 8 days old. - 136 -

INFLUÊNCIA DA REFRIGERAÇÃO DE OVÁRIOS DADORES NA PRODUÇÃO DE EMBRIÕES BOVINOS E CULTURA DE CÉLULAS DA GRANULOSA IN VITRO Marques, C.C., Pereira, R.M., Vasques, M.I., Baptista, M.C., Horta, A.E.M. Departamento de Reprodução, Estação Zootécnica Nacional - INIA, Vale de Santarém, Apartado 17, 2000 Vale de Santarém, Portugal Sumário: Ovários bovinos colhidos em matadouro e utilizados como dadores de células da granulosa e oócitos para a produção de embriões in vitro foram acondicionados a 4ºC e 37ºC. Estudou-se o efeito da temperatura de acondicionamento quer sobre a viabilidade inicial das células da granulosa a serem utilizadas na co-cultura dos embriões, quer sobre a maturação dos oócitos, as taxas de fertilização e desenvolvimento embrionário in vitro, e a qualidade dos embriões obtidos. A percentagem de células da granulosa viáveis no início das culturas foi significativamente superior quando as células eram oriundas de ovários refrigerados (29,7% vs. 24,6%, P<0,01). Por outro lado, o acondicionamento por refrigeração diminuiu significativamente a taxa de maturação oocitária (56,8% vs. 76,4%, P<0,0002), e só tendencialmente se verificou uma diminuição da taxa de fertilização neste grupo (77,4 vs. 83,1, P<0,10). A diminuição da taxa de maturação anteriormente avaliada a fresco, foi confirmada numa amostragem através de coloração nuclear (56,3% vs. 73,6%, P<0,005). A temperatura de acondicionamento dos ovários não influenciou a taxa de produção de embriões com 8 dias de idade (D8) nem a percentagem de embriões extrusados. A qualidade dos embriões D8 foi significativamente afectada pelo processo de refrigeração dos ovários, tendo-se observado neste grupo uma diminuição significativa na proporção dos embriões de boa qualidade (grau 2: 7,2% vs. 27,2%, P<0,001) e um aumento relativo dos de má qualidade (grau 4: 42% vs. 23,3%, P<0,003). Os resultados apresentados mostram que a viabilidade das células da granulosa cultivadas in vitro é favoravelmente influenciada pelo acondicionamento dos ovários dadores a 4ºC. Por outro lado, a refrigeração dos ovários a 4ºC, diminui significativamente a competência meiótica dos oócitos e a qualidade dos embriões obtidos ao 8º dia (embriões transferíveis). Trabalho parcialmente financiado pelo projecto PRAXIS/3.2/AGR/01/94 Introdução Na recolha dos ovários de bovinos em matadouro para posterior utilização das células da granulosa e oócitos na cultura in vitro, põe-se a questão de saber qual o efeito da temperatura de acondicionamento sobre a qualidade das células utilizadas. Os estudos realizados até hoje têm centrado a sua atenção somente no efeito da temperatura de acondicionamento dos ovários sobre a capacidade dos oócitos maturados e fertilizados in vitro na produção de embriões (Gordon, 1994). Porém, nos sistemas que utilizam - 137 -

os mesmos ovários como dadores de células da granulosa utilizadas em monocamadas na cocultura de embriões, não se sabe de que modo a temperatura de acondicionamento pode influenciar os resultados. Neste trabalho compararam-se duas situações com dois objectivos: acondicionamento dos ovários a 4 ºC e a 37 ºC sobre a viabilidade inicial das células da granulosa utilizadas na cocultura in vitro de embriões, e sobre a produção e qualidade dos embriões (taxa de maturação, taxa de fertilização, taxa de embriões em D8 e extrusados). Materiais e Métodos Os ovários foram recolhidos em matadouro e transportados para o laboratório no prazo máximo de duas horas e trinta minutos. Após a recolha, os ovários foram colocados em garrafa térmica contendo uma solução de PBS com albumina sérica bovina (BSA, 0,15% p/v) e sulfato de kanamicina (0,05 mg/ml). Durante o transporte organizaram-se dois grupos, de acordo com as temperaturas de acondicionamento: 4 ºC e 37 ºC. No laboratório, procedeu-se à aspiração dos folículos com 2 a 6 mm de diâmetro para obtenção do complexo cumulus-oócito e das células da granulosa. O líquido folicular recolhido foi diluído em meio de lavagem 1 (TCM 199 + 5% SOCS + antibióticos) e as células da granulosa foram separadas por centrifugação da suspensão (100 G durante 5 min), após a recolha dos oócitos. A suspensão celular obtida foi submetida a contagem (câmara de Neubauer) e coloração vital (azul tripan a 0,4%). Esta suspensão foi diluída para obter 1x10 6 células/ml e colocaram-se 8 gotas de 100 µl submersas em óleo mineral em placas de cultura (Nunclon, Nunc). As placas assim preparadas permaneceram na incubadora a 39 ºC, 5% de CO2 e 100% de humidade. Os complexos cumulus-oócito (n=4400) foram incubados em meio de cultura de oócitos (TCM 199 + 10% SOCS + antibióticos) durante 22 a 24 horas para permitir a maturação in vitro, nas condições descritas anteriormente. Após a maturação, uma amostragem de oócitos (n=251) foi submetida a fixação (75% etanol + 25% ácido acético) e coloração nuclear com acetolacmoid (Suss et al., 1988). Dos restantes oócitos (n=4149), foram identificados por exame a fresco os maturados (n=2994), através da expansão das células do cumulus e da densidade uniforme do ooplasma. Parte desta população (n=1555) foi submetida à fertilização in vitro (Pereira et al, 1997) e transferida para as monocamadas de células da granulosa 22 horas depois. A clivagem foi avaliada 48 h depois da inseminação e os embriões prosseguiram em cultura até à fase de extrusão. No estudo das células da granulosa, compararam-se as viabilidades iniciais entre os dois grupos (ovários acondicionados a 4ºC e 37ºC) em 7 sessões através de análise de variância (ANOVA/LSD; StatSoft Inc., 1995). Os critérios relativos à taxa de maturação oocitária, clivagem, produção de embriões em D8 e extrusados, foram comparados entre os dois grupos por ANOVA em 19 sessões. A taxa de maturação dos oócitos fixados e corados (5 sessões) e a qualidade dos embriões D8 (19 sessões) foram comparadas por qui-quadrado (StatSoft Inc., 1995). A qualidade dos embriões em D8 baseou-se numa classificação de 1 (excelente) a 4 (mau). Num estudo prévio (resultados não publicados), avaliou-se o estadio de maturação dos oócitos submetidos a 4ºC durante o transporte, imediatamente após a aspiração folicular, por - 138 -

coloração nuclear (n=257). Verificou-se que o arrefecimento não afectou o grau de sincronização no reinício da meiose, por avaliação da presença da vesícula germinal. Resultados Os ovários acondicionados a 4 ºC forneceram células da granulosa com viabilidades iniciais significativamente superiores aos acondicionados a 37 ºc (Tabela 1). Tabela 1. Influência da temperatura de transporte dos ovários sobre a viabilidade das células da granulosa no início da cultura in vitro. Número de sessões Células viáveis (%) Média ± ep Ovários a 4 ºC 7 29,74 ± 0,026 a Ovários a 37 ºC 7 21,64 ± 0,028 b ANOVA P 0,0104 Relativamente à maturação oocitária, verificou-se que a temperatura de acondicionamento dos ovários a 4 ºC diminuiu significativamente a percentagem de oócitos maturados, quer na avaliação a fresco quer por coloração nuclear (Tabela 2). O coeficiente de variação entre sessões neste grupo atingiu 33% enquanto que no grupo de ovários acondicionados a 37 ºC foi de 9%. Tabela 2. Certificação da maturação dos oócitos em ambos os grupos (avaliação a fresco e coloração nuclear). Avaliação a fresco Oócitos fixados e corados Sessões Oócitos % maturação Sessões Oócitos (n) média ± dp (n) % maturação Ovários a 18 3381 76,4 ± 7,0 5 164 73,78 37ºC Ovários a 4ºC 17 768 56,8 ± 18,7 3 87 56,32 Significância ANOVA P 0,0002 χ 2 =7,92 P 0,005 n=população inicial A taxa de fertilização mostrou uma tendência (P 0,101) para ser inferior no grupo de ováios acondicionados a 4 ºC, não se tendo verificado diferenças significativas quanto às taxas de produção de embriões D8 e extrusados (Tabela 3). Tabela 3. Influência da tempertura de transporte dos ovários sobre as taxas de fertilização e desenvolvimento embrionário in vitro. Clivagem (%) D8 (%) Extrusados (%) n média ± dp n média ± dp n média ± dp Ovários a 37ºC 18 83,1 ± 6,9 18 19,1 ± 7,9 17 71,2 ± 32,9 Ovários a 4ºC 19 77,4 ± 12,5 19 18,0 ± 13,9 17 50,9 ± 44,9 ANOVA P 0,101 P 0,78 p 0,14 n = número de sessões de cultura - 139 -

Relativamente à qualidade dos embriões em D8, houve mais embriões de grau 1 e 2 no grupo de ovários acondicionados a 37 ºC. Por outro lado, houve significativamente mais embriões de pior qualidade (grau 4), no grupo acondicionado a 4 ºC (Tabela 4). Tabela 4. Influência da temperatura de transporte dos ovários sobre a qualidade dos embriões com oito dias de idade. Embriões Distribuição da classificação (%) em D8 (n) Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Ovários a 37ºC 180 6,1 27,2 43,3 23,3 Ovários a 4ºC 69 1,5 7,2 49,3 42,0 χ 2 P 0,124 P 0,001 P 0,399 P 0,003 Discussão A co-cultura de embriões com células somáticas revelou-se determinante na produção in vitro de embriões, permitindo ultrapassar o bloqueio que se verifica no estadio de 8-16 células e prosseguir o desenvolvimento (Fukui et al., 1989). Os trabalhos realizados revelam que os factores embriotróficos presentes nas culturas celulares não parecem depender da espécie nem do órgão de origem das células (Goto et al., 1992). Relativamente às células da granulosa, parece existir um compromisso entre a concentração e a viabilidade inicial das células, sendo frequente encontrarem-se concentrações de 1x10 6 /ml com 50% de viabilidade (Wang, 1991). Outros autores utilizam concentrações inferiores (1x10 5 /ml) mas com viabilidades superiores (80%, Goto et al., 1992). No nosso sistema raramente se atingem viabilidades de 50%, e quando as células são transportadas a quente (37 ºC) observam-se por vezes viabilidades muito baixas (9%). Outros autores também referem viabilidades mais baixas, da ordem dos 30-40%, nos seus sistemas de cultura celular (Kuran et al., 1995). Os resultados mostram que o transporte dos ovários dadores a 4 ºC, aumentam a viabilidade das células em cerca de 8%, justificando-se a utilização desta técnica nos sistemas que normalmente têm viabilidades iniciais baixas. Em relação ao efeito da temperatura a que são submetidos os ovários dadores de oócitos, sobre o desenvolvimento embrionário in vitro, existem trabalhos que indicam haver um efeito negativo das temperaturas baixas sobre a taxa de clivagem e percentagem de blastocitos obtidos (Yang et al., 1990). Estes autores observaram taxas de blastocitos extremamente baixas quando armazenam os ovários a 4 ºC (0 a 3,7%), em comparação com os valores obtidos para temperaturas de armazenamento de 24 ºC e 37 ºC (80,3% e 69,4%, respectivamente). No nosso trabalho, não houve diferenças significativas entre os grupos relativamente à taxa de fertilização e produção de embriões, tendo-se verificado somente uma tendência para os valores serem mais baixos no grupo dos 4 ºC, relativamente à taxa de fertilização e de embriões extrusados. Contudo, este efeito das baixas temperaturas de armazenamento diminuiu significativamente a taxa de maturação dos oócitos e a qualidade dos embriões em D8 (embriões transferíveis). Os resultados mostram que o choque térmico provocado nos ovários após o abate, compromete a competência maturacional dos oócitos que se reflecte, por sua vez, na qualidade dos embriões com 8 dias de idade. O choque térmico parece afectar a maturação oocitária inicialmente antes - 140 -

da quebra da vesícula germinal, tal como é sugerido por Barnes et al. (1997), sendo menos evidente este efeito quando os oócitos já se encontram em estadios ulteriores de maturação. Os resultados permitem concluir que a viabilidade das células da granulosa cultivadas in vitro é favoravelmente influenciada pelo acondicionamento dos ovários dadores a 4ºC. Por outro lado, a refrigeração dos ovários dadores de oócitos a 4ºC, diminui significativamente a competência meiótica dos oócitos e a qualidade dos embriões obtidos ao 8º dia (embriões transferíveis). Assim, deverão considerar-se acondicionamentos diferentes dos ovários durante o transporte consoante a finalidade a que se destinam (produção de culturas de células da granulosa ou de embriões). Bibliografia Barnes, F.L., Damiani, P., Looney, C.R., Duby, R.T. (1997). The meiotic stage affects subsequent development of cooled bovine oocytes. Theriogenology, 47: 183. Fukui, Y., Urakawa, M., Sasaki, C., Chikamatsu, N., Ono, H. (1989). Development to the late morula or blastocyst stage following in vitro maturation and fertilization of bovine oocytes. Anim. Reprod. Sci., 18: 139-148. Gordon, I. (1994). Laboratory Production of Cattle Embryos. Ed. Ian Gordon, Biotechnology in Agriculture Nº 11, CABI, Cambridge. Goto, K., Iwai, N., Takuma, Y., Nakanishi, Y. (1992). Co-culture of in vitro fertilized bovine embryos with different cell monolayers. J. Anim. Sci., 70: 1449-1453. Kuran, M., Broadbent, P.J., Hutchinson, J.S.M. (1995). Follicle-stimulating hormone stimulated differentiation and progesterone production of bovine granulosa cells in culture. Anim. Reprod. Sci., 39: 237-249. Pereira, R.M., Vasques, M.I., Marques, C.C., Baptista, M.C., Horta, A.E.M. (1997). Efeito do soro de vacas em cio superovuladas sobre a produção in vitro de embriões bovinos e a síntese de progesterona por monocamadas de células da granulosa. 1º Congresso Ibérico de Reprodução Animal, 3-6 Julho, Estoril. StatSoft Inc., (1995). STATISTICA for Windows (computer program manual). Tulsa, OK. Suss, U., Wüthrich, K., Stranzinger, G. (1988). Chromossome configurations and time sequence of the first meiotic division in bovine oocytes matured in vitro. Biol. Reprod., 38: 871-880. Wang, W. (1991). Factors affecting metabolic requirements and in vitro culture of bovine embryos. Ph.D. Thesis, The National University of Ireland. Yang, N.S., Lu, K.H., Gordon, I. (1990). In vitro fertilization (IVF) and culture (IVC) of bovine oocytes from stored ovaries. Theriogenology, 33: 352. - 141 -