PROCESSO: 084/175-2015 INTERESSADO (A): ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA BANCO DO BRASIL Vistos. Autos conclusos com parecer jurídico. Decido. 1. RELATÓRIO. Denúncia tombada à fl. 02, datada de 14 de outubro de 2015, revela, em síntese, que a Denunciada vem patrocinando a perturbação dos moradores da Vila Parati durante a realização de eventos automotivos denominados Pancadão da AABB, prejudicando a paz e o silêncio público, afetando drasticamente crianças e idosos.
foi juntado aos autos às fls. 03/28. Laudo técnico de avaliação de ruídos em áreas habitadas Instada, a Assessoria Jurídica pontuou que os níveis de ruídos devem seguir os patamares previstos na Legislação de Regência (Lei Estadual 5.715/93), atentando, ainda, ao fato segundo o qual a Denunciada encontra-se com licenciamento ambiental vencido, e que a pretendida renovação, além de ter sido aviada fora do prazo, não foi instruída de documentos constantes no parecer técnico de fls. 91/99, dos autos 175/2015, dentre os quais se destacam: projeto de isolamento acústico e alvará de funcionamento. Ao final, o parecer conclui que a atividade desenvolvida pela Denunciada desrespeita a Lei, na medida em que o ruído desprendido de som automotivo ultrapassa todos os limites máximos, opinando pela não renovação da licença ambiental e, ainda, pela imediata paralisação da atividade, sem prejuízo de multa. É o que merecia relatar.
2. FUNDAMENTO. 2.1. REUNIÃO DOS AUTOS. Como medida processual saneadora, faço a reunião dos autos 084/2015 e 175/2015, já que a presente decisão lhes impactarão, simultaneamente. 2.2. DA LICENÇA DE OPERAÇÃO. Antes de palmilhar o cerne da denúncia ou mesmo os dados constantes no laudo técnico de avaliação de ruídos, cumpre ressaltar que a Denunciada dispõe de Licença de Operação vencida, conforme certidão do Departamento Ambiental, vide fls. 102, inserta nos autos 175/2015. O art. 5º, III, da Lei Municipal 1.424/2011, relata, sem controvérsia, que a operação do estabelecimento ou atividade, após o efetivo cumprimento das obrigações, depende de licenciamento, senão vejamos: Art. 5º [...] III. Licença de Operação (LO): autoriza a operação do estabelecimento, empreendimento ou atividade, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e eventuais condicionantes determinados para a operação.
Deste modo, a Denunciada deveria ter aviado o pedido de renovação da LO no prazo devido, constante no art. 18, 1º, da mencionada legislação ambiental. Mesmo ao fazê-lo tardiamente, descuidou da juntada de documentos indispensáveis à sua pretensão, tendo, inclusive, preterido a exibição de projeto de isolamento acústico, como bem frisou parecer técnico de fls. 91/98. Portanto, considerando que a LO ora concedida encontra-se vencida, e não tendo a Denunciada obtido, por sua própria desídia, a renovação da indispensável Licença de Operação, a continuidade da atividade pela Infratora mostra-se temerária estando, pois, realizando eventos de maneira irregular. Vejamos: Art. 36 - Nenhum divertimento público poderá ser realizado sem licença da Prefeitura. (Código de Postura do Município) Simétrico é o entendimento constante na obrigação estampada no art. 60, da Lei Federal 9.605/2008, in verbis: Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes:
Ademais, registre-se, que, mesmo quando a Denunciada detinha Licença de Operação não cumpriu com as condicionantes da LO (vide o verso do doc. de fl. 88), deixando de apresentar os relatórios mensais relativos à avaliação de paisagem sonora referente a cada evento. 2.3. DA PROTEÇÃO SOSSEGO PÚBLICO Sabe-se que o Estado Democrático de Direito não admite que as regras legalmente estabelecidas para o bom convívio social sejam desrespeitadas ou simplesmente ignoradas, principalmente quando tal conduta atinge o conjunto da sociedade, ofendendo valores e princípios indispensáveis ao equilíbrio ambiental, assim entendido como aquele que favorece, dentre outras obrigações, a preservação do sossego público e a dignidade da pessoa humana. Nesse diapasão, a Lei de Política Municipal do Meio Ambiente (Lei Ordinária 1423/2011), consorciada com outras legislações do gênero, informa, de maneira clara e inequívoca, que é dever de todos e obrigação do Estado, in casu, do Município de Imperatriz, garantir a função ambiental da propriedade, identificando e responsabilizando os agentes poluidores, ex vi o art. 2º, III, IV e V, da citada Norma Paroquiana. Em mesma direção, se ergue o Código de Postura do Município de Imperatriz na medida em que coloca como dever da Prefeitura
fiscalizar e proibir atividades que criem condições nocivas ou ofensivas à saúde, à segurança e ao bem-estar público (art. 7º, caput, I). Mais adiante, o mesmo codex, tratando mais especificamente sobre a matéria, pano de fundo do presente feito, impõe a proibição àquele que, nos moldes da Denunciada, perturba sistematicamente o sossego público, com exagerado ruído sonoro que se desprende de potentes equipamentos de som automotivos, vazados durante a noite, madrugada dentro, atingindo, em cheio, não apenas a família do Denunciante, mas, sobretudo, os moradores daquela redondeza. Com efeito, cite-se: Art. 33 - É proibido perturbar o sossego público com ruídos ou sons excessivos, tais como: VI - música excessivamente alta proveniente de lojas de discos e aparelhos musicais; A Lei Estadual 5.715, de 11 de junho de 1993, é contundente quando veda a perturbação da tranquilidade e o bem-estar público, vejamos: Art. 1º. É vedado perturbar a tranquilidade e o bem-estar público com ruídos, vibrações, sons excessivos ou incômodos de qualquer natureza, produzidos por qualquer forma ou que contrarie os níveis máximos fixados nesta lei.
Ou seja, o laudo técnico revela que a Denunciada desrespeitou todos os níveis máximos permitidos, atraindo, pois, sem detença, a hipótese jurídica ora insculpida na Normal Gonçalvina. Por seu turno, a Carta Mãe de 1988, elegeu a dignidade da pessoa humana como condição sine qua non da existência do Estado Democrático de Direito (art.1º, III), princípio mitigado pela Denunciada quando impõe grave perturbação sonora a dezenas de moradores da Vila Parati e adjacências, situação tecnicamente comprovada por laudo técnico juntado nos presentes autos, o fazendo, como dito alhures, ao arrepio das regras que ora se comprometera a obedecer quando da então vigente Licença de Operação. Talvez não fosse necessário realçar, mas diante de tamanho descalabro, convém repisar o ensinamento de Ferdinand Lassalle para quem a Constituição de um país não se resume, apenas, numa folha de papel, mas na soma de todos os princípios e valores legitimamente concebidos pelo povo. Nesse contexto, o caro princípio constitucional de valoração e proteção da dignidade da pessoa humana não pode ser visto, apenas, como um discurso, mas, sobretudo, como uma garantia que deve ser respeitada por todos, principalmente por quem, no exercício do munus público, tem o dever de velar pelo cumprimento da Lei e da Constituição Federal, na defesa do interesse público.
Portanto, seja qual for o argumento a ser usado na análise dos autos, conclui-se que a Denunciada age irregularmente ora porque não tem a Licença de Operação, ora, ainda, porque realiza eventos produzindo ruídos que alcançam patamares acima do permitido, irradiando som automotivo intolerável, prejudicando a comunidade, inclusive crianças e idosos, castigados semanalmente pelo desumano Pancadão da AABB. Entendo, com todas as vênias ao pensamento divergente, que uma sociedade livre e democrática, fundada a partir de princípios republicanos, mesmo diante da delinquência de alguns, não pode tolerar situações como que ora enfrentamos, de flagrante desrespeito a Lei e a Carta Magna, ao meio ambiente a dignidade da pessoa humana, maltratando uma comunidade inteira, sujeita a insônia decorrente de ruído insuportável, tudo, pasmem, para atender a uma vontade particular, indiscutivelmente nociva ao interesse público, fato que, por si só, a um juízo de razoabilidade, autoriza medida administrativa deverasmente eficiente. Destarte, pois, mesmo que os céus desabem diante da presente decisão, o sossego público deve ser respeitado como garantia de paz e vida digna aos moradores gravemente afetados pela atividade irregular e ilegalmente mantida até a presente data pela Associação Atlética Banco do Brasil de Imperatriz.
3. DISPOSITIVO. DECIDO: Ante ao exposto, e por tudo que dos autos consta, a) Liminarmente, notificar a Denunciada para cessar, imediatamente, todo e qualquer evento automotivo ou qualquer outro que implique na perturbação do sossego público, nos termos do art. 1º, da Lei 5.715/93, ora em razão da inexistência de Licença de Operação ora, ainda, em razão de o local não comportar isolamento acústico indispensável à retenção de ruído sonoro excessivo, apontado no substancial laudo técnico; b) Autorizo a autuação e a consequente aplicação de multa, no importe de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), em caso de descumprimento da presente decisão, sem prejuízo de embargo e de mandado de apreensão de todo e qualquer aparelho de som capaz de provocar os ruídos apontados no laudo técnico, nocivos ao sossego público; c) Indefiro, por consequência, o pedido de renovação da Licença de Operação ora irregularmente pleiteada, face à ausência de documentos que se lhes são indispensáveis;
d) Concedo o prazo de 20 (vinte) dias para que a Denunciada, querendo, apresente Defesa, ficando advertida, desde logo, das cominações de estilo, a fim de garantir o direito a ampla defesa e ao contraditório; e) E, por derradeiro, instauro procedimento administrativo, em autos apartados, para apurar eventual crime ambiental atribuído a Denunciada, a fim de subsidiar representação junto ao Ministério Público e a adoção de outras medidas necessárias. presente decisão. Expeça-se notificação a Denunciada, com cópia integral da Oficie-se a Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, a Polícia Militar (3º e 14º BPM), a Delegacia Regional de Segurança, a Superintendência de Defesa Civil, a Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte, e ao Corpo de Bombeiros, dando-lhes conhecimento da presente decisão e, assim, adotarem as providências aos seus encargos. Registre-se. Publique-se. Cumpra-se. Imperatriz-MA, 25 de fevereiro de 2016. DR. DANIEL PEREIRA DE SOUZA Secretário Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente