A ALTA VELOCIDADE FERROVIÁRIA COMO FACTOR DINAMIZADOR DA ECONOMIA NA REGIÃO NORTE: O TRANSPORTE DE MERCADORIAS NO EIXO PORTO VIGO



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Transcrição:

A ALTA VELOCIDADE FERROVIÁRIA COMO FACTOR DINAMIZADOR DA ECONOMIA NA REGIÃO NORTE: O TRANSPORTE DE MERCADORIAS NO EIXO PORTO VIGO Vítor Patrício Rodrigues Ribeiro 1 Rui António Rodrigues Ramos 2 Universidade do Minho Departamento de Engenharia Civil Francisco Carballo Cruz 3 Universidade do Minho Departamento de Economia No contexto do desenvolvimento da rede ferroviária de alta velocidade projectada para Portugal, o corredor Porto Vigo surge integrado no projecto prioritário n.º 19 da rede transeuropeia de transportes. Do ponto de vista geográfico esta ligação permitirá melhorar as acessibilidades existentes entre a região Norte de Portugal e a Galiza, potenciando as já fortes relações comerciais entre estas duas regiões. Paralelamente permitirá integrar esta região na rede ferroviária de alta velocidade, quer ibérica quer transeuropeia. Esta comunicação pretende analisar e identificar as potencialidades da intermodalidade que deverá resultar da disponibilidade do transporte ferroviário de mercadorias em alta velocidade neste eixo. A análise será desenvolvida recorrendo a uma abordagem metodológica que desenhará cenários e implementará análises prospectivas assentes na interacção directa com os principais stakeholders responsáveis pela dinamização do transporte de mercadorias na região. Palavras-chave: Planeamento Territorial, Transportes, Intermodalidade 1 Investigador, Email: vítor.geografia@gmail.com 2 Coordenador do Grupo de Trabalho das Mercadorias, Email: rui.ramos@civil.uminho.pt 3 Co-Coordenador do Grupo de Trabalho das Mercadorias, Email: fcarballo@eeg.uminho.pt 1

1. INTRODUÇÃO Esta comunicação tem por base o estudo que está a ser desenvolvido pelo grupo de trabalho relativo a mercadorias inserido num projecto de investigação mais alargado e pluridisciplinar que tem por finalidade avaliar os efeitos económicos da melhoria da ligação ferroviária Porto-Vigo na Euro-Região Norte de Portugal-Galiza (NIPE, 2007). A incumbência deste grupo de trabalho passa por caracterizar o estado actual do transporte de mercadorias, bem como desenvolver análises prospectivas através da implementação de cenários, de forma a identificar a relevância do transporte de mercadorias por via ferroviária na região e o seu impacto na nova linha de altas prestações ferroviárias. O transporte de mercadorias, na região Norte de Portugal é dominado na longa distância pelo modo marítimo, enquanto que o transporte rodoviário mantém uma posição de hegemonia nas relações comerciais com a Espanha estando a ganhar quota de mercado nas relações comerciais com o resto da Europa. Assim, pretende-se que a nova infra-estrutura ferroviária, desenhada para tráfego misto, contribua para alterar as actuais quotas do transporte de mercadorias nos diferentes modos promovendo soluções mais eficientes suportadas por um modelo de intermodalidade e melhorando a performance e a competitividade das empresas implantadas na região. Por outro lado, a posição geoestratégica da região tem vindo a melhorar em virtude de recentes investimentos de consolidação territorial (alguns já executados outros apenas planeados). Essas melhorias traduzem-se fundamentalmente num fortalecimento das condições logísticas da região Norte de Portugal e resultam de investimentos no Porto Leixões, no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, e respectivo centro de carga aérea, e nas quatro plataformas logísticas integrantes da Rede Nacional de Plataformas Logísticas, proposta recentemente pelo Governo Central. 2. RELAÇÕES GEOCOMERCIAIS NA EURO-REGIÃO NORTE DE PORTUGAL GALIZA Os países da União Europeia (UE25) foram os principais impulsionadores do comércio internacional, em valor, da Península Ibérica representando para Portugal 96% e para Espanha 93% do valor transaccionado na Europa. Estes dados, expressos na tabela 1, permitem destacar 2

que Portugal tem mais de 70% desta dinâmica orientada para os países do Centro e Sul da Europa, designadamente Espanha (34%), Alemanha (17%), França (14%) e a Itália (7%). Tabela 1 Comércio internacional (M ) de Portugal e Espanha com a Europa em 2004 UE 25 ESPANHA PORTUGAL Importações Exportações Total % Importações Exportações Total % Espanha 12930 7170 20100 34 Portugal 6.738 14.265 21.003 8 Alemanha 33.387 17.090 50.477 20 6.312 3.869 10.181 17 França 31.570 28.396 59.966 23 4.122 4.014 8.136 14 Itália 18.776 13.224 32.000 12 2.688 1.223 3.911 7 Reino Unido 12.683 13.226 25.909 10 2.036 2.757 4.793 8 Resto paises da UE25 30.603 20.763 51.366 20 5.710 3.808 9.518 16 Total com a UE25 Resto da Europa Total com a Europa 133.756 106.963 240.719 93 33.799 22.841 56.640 96 12.499 8.388 20.887 8 1.801 596 2.397 4 146.256 111.351 257.607 100 35.600 23.438 59.038 100 Fonte: GEP (2006). 4.º Relatório do Observatório Transfronteiriço Espanha Portugal, (Adaptado). Considerando o enquadramento geográfico e a importância das relações comerciais de Portugal efectuadas com a Espanha e a França salientamos o facto de apresentarem um comportamento modal diferente. Relativamente às trocas comerciais com a Espanha o transporte rodoviário de mercadorias representou cerca de 87% do volume transaccionado, enquanto o transporte marítimo absorveu 11% e o ferroviário cerca de 2% do total (Ministérios das Obras Públicas Transportes e Comunicações - MOPTC, Ministério do Fomento, 2006). No que concerne às transferências de mercadorias com a França constatamos que o transporte marítimo foi a opção mais utilizada até 2002 passando a partir desta data a registar-se a predominância da opção pelo transporte rodoviário. Até ao presente momento, o transporte ferroviário tem tido uma contribuição muito residual nas trocas comerciais com ambos os países. Segundo o estudo de viabilidade técnica, económica e ambiental da ligação luso-espanhola em alta velocidade Porto-Vigo, o volume de mercadorias transportado entre a Galiza e Portugal tem registado uma tendência favorável, ascendendo a cerca de 4 milhões de toneladas, sendo o transporte rodoviário claramente a opção utilizada (AVEP, 2004). O estudo salienta, fruto de inquéritos realizados a vários camionistas, o papel preponderante da Província de Pontevedra no conjunto das trocas comerciais na Euro-Região. De facto, cerca de 70% das mercadorias transportadas de Pontevedra tinham como destino a região Norte de Portugal, enquanto que 60% das mercadorias transportadas da região Norte destinaram-se a Pontevedra e 31% à Corunha. 3

Tabela 2 Origem Destino de mercadorias transportadas pelo modo rodoviário na Euro-Região Espanha/Portugal Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Total La Coruna 158786 74048 173791 198512 2993 608130 Lugo 34777 7583 9383 323 69 52135 Orense 644506 114248 81994 4947 1235 846930 Pontevedra 960105 133426 147884 81376 1874 1324665 Total 1798174 329305 413052 285158 6171 2831860 Portugal/Espanha La Coruna Lugo Orense Pontevedra Total Norte 323013 44620 50465 626901 1044999 Centro 43328 12315 12028 79585 147256 Lisboa 280420 10079 12624 73438 376561 Alentejo 32483 1027 1131 7161 41802 Algarve 1205 157 115 597 2074 Total 680449 68198 76363 787682 1612692 Fonte: Estudo de viabilidade técnica, económica e ambiental da ligação Porto Vigo em alta velocidade. 3. A DISTRIBUIÇÃO MODAL DO TRÁFEGO DE MERCADORIAS 3.1 TRANSPORTE RODOVIÁRIO O transporte rodoviário de mercadorias tem vindo a assumir uma posição cada vez mais forte nas relações de Portugal com a UE25. Como se pode verificar pela análise do gráfico 1, entre 1995 e 2005, este modo de transporte praticamente duplicou o volume de mercadorias transportadas, passando de cerca de 13 milhões de toneladas para aproximadamente 28 milhões de toneladas. No mesmo período o transporte marítimo também apresentou um aumento do volume de mercadorias transportadas, enquanto que os restantes modos foram uma opção praticamente residual. Nesta década assistimos ao reforço da quota de mercado do modo rodoviário que aumentou de 50% para 61%, cujo crescimento se deveu indubitavelmente à perda de quota de mercado do transporte marítimo, que passou de 48% em 1995 para 33% em 2005. 4

Gráfico 1 Total de mercadorias entradas e saídas, de e para a União Europeia por modo de transporte e respectivas quotas de mercado (1995 e 2005) 30000 1995 2005 25000 Milhares Toneladas 20000 15000 10000 Quota de mercado (%) 1995 2005 Maritimo 48 33 Rodoviario 50 61 Aereo 0 0 Outros 2 6 5000 0 Rodoviário Maritimo Aereo Outros Modo de transporte Fonte: GEP (2006). Transporte Internacional de Mercadorias em Portugal (elaboração própria). No quadro da UE25 os países de origem/destino das mercadorias da região Norte, no modo rodoviário, com maior relevância entre 2001 e 2003 foram a Espanha, França, Itália e a Alemanha. Porém a Espanha foi o principal país de origem das mercadorias apesar de ter registado a diminuição mais acentuada, ao passar de cerca de 1 milhão de toneladas em 2001 para as 900 mil toneladas em 2003. Relativamente às mercadorias transportadas com origem na Região Norte apraz-nos referir que este período se caracteriza por um crescimento acentuado, passando de cerca de 800 mil toneladas para aproximadamente as 2,2 milhões de toneladas respectivamente. Dos vários postos fronteiriços entre Portugal e Espanha destacamos o facto de em 2004 a fronteira Valença/Tuy ter registado um tráfego médio diário de 1481 veículos pesados de mercadorias, tendo sido o 2.º posto fronteiriço nacional mais procurado a seguir ao de Vilar Formoso/Fuentes de Onoro que registou 2107 viaturas (MOPTC; Ministério do Fomento, 2006). 5

3.2 Transporte Marítimo O comércio internacional de mercadorias tem mantido ao longo da última década uma tendência de crescimento favorável, ao passar de 52 milhões de toneladas em 1996 para aproximadamente 80 milhões de toneladas em 2005. Neste tipo de comércio o transporte marítimo tem sido preponderante apesar de o modo rodoviário evidenciar uma tendência de aproximação, como se pode verificar pela análise do gráfico 2. Gráfico 2 Evolução do Comércio Internacional de mercadorias por modos de transporte (1994-2006) 8x10 4 Total Rodoviário Maritimo Aéreo Outros 7x10 4 6x10 4 Mil Toneladas 5x10 4 4x10 4 3x10 4 2x10 4 1x10 4 0 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Ano Fonte: GEP (2006). Transporte Internacional de Mercadorias em Portugal, (elaboração própria). Neste contexto é fundamental aferir-se quais os mercados mundiais que orientam este modo de transporte, encontrando-se os resultados expressos no gráfico 3. Do tráfego de mercadorias com origem ou destino nos portos portugueses realçamos a importância do mercado Intra União Europeia (Intra UE) assim como a América, África, OPEP e o resto da Europa, ao consubstanciarem o quadro dos cinco grupos económicos de países mais importantes. Considerando a importância do mercado Intra UE constata-se que em 2004 os principais parceiros de Portugal foram o Reino Unido, a Rússia, os Países Baixos e a França enquanto que a 6

Espanha manteve relações comerciais dominantes com a Itália, a Rússia, o Reino Unido, a Turquia, a França e os Países baixos (MOPTC; Ministério do Fomento, 2006). Gráfico 3 Toneladas de mercadoria movimentada por Grupo Económico de Países (2000-2005) 3,0x10 7 2,0x10 7 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Toneladas 1,0x10 7 0,0 Intra-UE América África OPEP Europa Ásia Grupo económico de países EFTA PALOP Austrália, OC e OT Diversos Fonte: GEP. SIT Sistema de Informação de Transportes (elaboração própria). Os portos espanhóis que em 2004 movimentaram maior volume de mercadorias foram os de Bilbao, Bahia de Algeciras, Barcelona e Valência, que alcançaram conjuntamente cerca de 35 milhões de toneladas, representando cerca de 60 % das trocas comerciais entre Espanha e a UE. Relativamente aos portos nacionais o porto de Leixões foi o que mais se destacou, transaccionando mais de 28% do tráfego de e para a UE25, cujo movimento excedeu as 4,5 milhões de toneladas. Das quais, mais de 1 milhão de toneladas correspondem a trocas com Espanha, sendo que 78% deste volume resulta das relações com os portos de Bahia de Algeciras, Valência e Málaga. O porto de Leixões mantém uma relação extremamente importante com estes três portos, uma vez que das trocas comerciais destes com Portugal 52%, 48%, e 68%, respectivamente, são com o porto de Leixões. O volume de mercadorias movimentadas no porto de Leixões em 2006 superou as 14 milhões de toneladas, predominando o tipo de movimento de descarga. Entre 2005 e 2006 7

assistiu-se a uma ligeira diminuição no volume de descarga que passou de 10,17 para 10,13 milhões de toneladas. Por sua vez o movimento de cargas registou um ligeiro aumento, atingindo em 2006 cerca de 4 milhões de toneladas. O principal tipo de carga movimentada neste porto tem sido os granéis líquidos e a carga contentorizada, como se pode verificar no gráfico 4. Contudo, nos últimos anos a quota movimentada de granéis líquidos tem vindo a evidenciar uma tendência de diminuição, passando de 61% em 1990, para 58% em 2000, e sendo de 50% em 2006. A mesma tendência verifica-se na carga fraccionada, que passou de 14%, a 6% e a 4%, no mesmo período de análise. A única subida no período foi da carga contentorizada, com 12%, 20% e 28%, respectivamente. A carga movimentada em roll-on/roll-off tem representado uma quota ainda bastante incipiente, enquanto que os granéis sólidos mantiveram uma posição estável, próxima dos 15%. Gráfico 4 Toneladas de mercadoria movimentada no porto de Leixões, segundo o tipo de carga (1990 2006). 8x10 3 Mil Toneladas 7x10 3 3x10 3 2x10 3 Carga Geral Fraccionada Carga Contentorizada RO-RO Granéis Sólidos Granéis Liquidos 1x10 3 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Ano Fonte: APDL - Boletim Estatístico Anual 2006 (elaboração própria). De entre os granéis líquidos movimentados no porto de Leixões verifique a predominância dos produtos petrolíferos cujo volume anual médio foi de cerca de 5 milhões de toneladas (gráfico 5). Embora com uma tonelagem média anual inferior também se realçam os produtos agrícolas, com 8

1,4 milhões de toneladas, os géneros alimentares, as máquinas e veículos e o grupo dos minerais brutos, com cerca de 800 mil toneladas/ano (GEP, 2006: Transporte Internacional de Mercadorias). Gráfico 5 Comércio Internacional no Porto de Leixões, por grupos de produtos (2000 2005). Prod. Químicos Prod. Petrolíferos Prod. Metalúrgicos Prod. Agricolas Min. Desperd. para Metalurgia Min. Bruto, Manuf., Mat. Constr. Máquinas, Veículos Gén. Alimentares Combustíveis Min. Sólidos Adubos 2000 2002 2004 2005 0 1x10 6 2x10 6 3x10 6 4x10 6 5x10 6 6x10 6 Toneladas Fonte: APDL Boletim Estatístico Anual 2006 (elaboração própria). Tendo por base os investimentos previstos para o porto de Leixões, que permitirão o aumento da sua capacidade, o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações prevê o aumento da procura para 2020, conforme representado no Gráfico 6. Podemos constatar que os aumentos mais significativos, em termos da capacidade do porto, se verificam na carga geral que se pretende que passe dos 9,2 milhões de toneladas em 2005 para 10,75 milhões de toneladas em 2020, e na carga contentorizada dos 6 milhões para 7,55 milhões de toneladas no mesmo período. Em termos de carga movimentada apenas os granéis sólidos apresentarão uma ligeira diminuição, contrastando com a carga geral e a contentorizada que registarão um aumento significativo próximo dos 2 milhões de toneladas. 9

Gráfico 6 - Capacidade, Carga e Taxa de utilização no Porto de Leixões (2005 e 2020). 1,0x10 7 8,0x10 6 2005 2020 Capacidade Capacidade Utilização Utilização Taxa utilização Taxa utilização 100 75 Toneladas 6,0x10 6 4,0x10 6 2,0x10 6 50 25 % 0,0 Carga geral Fraccionada Contentorizada Roll-on/Roll-off Gran. Liquidos Gran. Sólidos Tipo de Carga Fonte: Elaboração própria, MOPTC (2006), Orientações estratégicas para o sector marítimo-portuário. 0 O porto de Viana do Castelo é considerado no âmbito deste estudo como o porto secundário mais importante. Na tabela 3 apresenta-se o tipo de carga movimentada em 2006, a partir dos dados apresentados podemos aferir que a carga geral fraccionada e os granéis sólidos representaram a quase totalidade dos movimentos efectuados. O movimento de carga é dominado pelos segmentos da carga geral fraccionada e da carga contentorizada, embora com menor expressão. Em termos da matriz Origem/Destino, apresentada no mesmo quadro, verifica-se que as maiores transacções são com a UE25 e o mercado Nacional. Entre 1998 e 2001 este porto apresentou uma tendência de crescimento no volume de mercadorias movimentadas, ao passar de cerca de 760 mil toneladas para mais de 1 milhão de toneladas. Porém a partir de 2002 esta tendência inverteu-se, ao movimentar cerca de 874 mil toneladas, e apenas 561 mil toneladas em 2006. A direcção do movimento de cargas neste porto é largamente dominada pelas importações. Relativamente aos principais produtos movimentados o papel foi o principal produto exportado, com 60 mil toneladas movimentadas, e o cimento e a madeira estrangeira os principais produtos importados, que representaram mais de 400 mil toneladas. 10

Tabela 3 Toneladas de mercadoria movimentada no Porto de Viana do Castelo em 2006 Tipo de carga Origem/Destino MERCADORIAS Carga Descarga Total Carga Geral Fraccionada 87.703 170.090 257.793 Contentorizada 290 0 290 Ro-Ro 0 0 0 Granéis Sólidos 0 254.528 254.528 Granéis Líquidos 0 48.482 48.482 Portos Carga Descarga Total Continente e Regiões Autónomas União Europeia Extra União Europeia 0 195.369 195.369 87.672 142.725 230.397 321 135.006 135.327 TOTAL 87.993 473.100 561.093 TOTAL 87.993 473.100 561.093 Fonte: Elaboração própria, IPTM Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos. 3.3 TRANSPORTE AÉREO E FERROVIÁRIO Ao longo do texto já abordamos a ténue contribuição das opções modais aérea e ferroviária no transporte de mercadorias, no contexto da região em análise. Contudo, é ainda de salientar que o transporte aéreo registou entre 2000 e 2004 uma diminuição no volume de mercadorias transportadas passando de 166 para 136 mil toneladas. As mercadorias transportados pelo modo aéreo tiveram como principal origem/destino os países dos grupos económicos Intra-UE, América, África e PALOP. Contudo, o mercado Intra- Europeu dominou largamente as transacções comerciais realizadas neste modo de transporte, como se pode verificar pela análise do gráfico 7. A América foi a única que evidenciou uma tendência de crescimento neste período, enquanto os restantes apresentaram uma diminuição no tráfego de mercadorias. Este decréscimo foi particularmente acentuada no caso dos países incluídos no grupo económico Intra UE. De acordo com o Plano Director do Aeroporto FSC, em 2006, foram movimentados mais de 37 mil toneladas de carga que representaram um acréscimo de 34% relativamente ao ano anterior. A estratégia do aeroporto para as mercadorias passa por continuar a apostar no desenvolvimento do centro logístico de carga aérea pretendendo atrair os mais importantes agentes internacionais de carga expresso. 11

Gráfico 7 Toneladas de mercadoria movimentada por transporte aéreo, segundo os grupos económicos dos países de origem/destino (2000-2004) PALOP OPEP Intra-UE Europa EFTA Diversos Aust., OC, OT Ásia América África 2000 2001 2002 2003 2004 0,0 2,0x10 4 4,0x10 4 6,0x10 4 8,0x10 4 1,0x10 5 1,2x10 5 Toneladas Fonte: Elaboração própria, GEP. SIT Sistema de Informação de Transportes. No que concerne ao transporte ferroviário podemos constatar, pela análise do gráfico 8, que o mercado nacional foi dominante e absorve cerca de 91% do volume movimentado. Em 2005 foram transportadas cerca de 9,6 milhões de toneladas de mercadorias das quais cerca de 8,7 milhões corresponderam a tráfego nacional e só cerca das 900 mil toneladas corresponderam a tráfego internacional, o que representa cerca de 9%. O tráfego internacional foi fundamentalmente realizado com a Espanha a Suiça e a Alemanha. Segundo um estudo do INTF - Instituto Nacional do Transporte Ferroviário (INTF, 2005) 4 sobre o transporte ferroviário de mercadorias onde foram identificados e avaliados os fluxos potencialmente captáveis pela ferrovia, realçam-se os fluxos com o Norte e Centro de Espanha, nos quais a região Norte de Portugal surge como ponto estratégico na sua geração. 4 Devido ao processo de fusão este instituto conjuntamente com a DGTT Direcção Geral dos Transportes Terrestres e a DGV Direcção Geral de Viação passam a estar integrados no recém criado IMTT Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres, I.P.. 12

Gráfico 8 Toneladas de mercadorias transportadas por tipo de tráfego ferroviário entre 2002 e 2005 tráfego internacional tráfego nacional 8,0x10 6 6,0x10 6 Toneladas 4,0x10 6 2,0x10 6 0,0 2002 2003 2004 2005 Ano Fonte: Elaboração própria, GEP. SIT Sistema de Informação de Transportes. 4. AS PLATAFORMAS LOGÍSTICAS A procura do transporte de mercadorias tem vindo a crescer perspectivando-se que esta tendência se venha a manter nos próximos anos. Pelo facto urge, á semelhança do que já acontece na Europa, dotar o território nacional de amplos espaços de armazenamento, gestão de stocks e funcionalidades de valor acrescentado (MOPTC, s.d.). Nesta perspectiva foi desenvolvida pelo governo um Plano intitulado de Rede Nacional de Plataformas Logísticas (MOPTC, s.d.), que prevê dotar a região Norte de quatro Plataformas Logísticas e um Centro de Carga Aérea. De acordo com o plano, no Grande Porto a plataforma urbana será a plataforma multimodal Maia/Trofa e a plataforma urbana portuárias será a plataforma polinucleada de Leixões (Gonçalves e Gatões/Guifões). Na restante região Norte estão previstas duas plataformas fronteiriças, em Chaves e Valença, sendo que esta última possui um papel relevante no âmbito deste estudo pois será multi-modal rodo-ferroviária. 13

5 ANÁLISE PROSPECTIVA - IMPLEMENTAÇÃO DE CENÁRIOS Em termos metodológicos e objectivando desenvolver análises prospectivas, serão criados os cenários potenciais mais relevantes, identificados os stakeholders mais representativos na cadeia de transportes expressa no esquema conceptual da figura 1, e será elaborada uma matriz de forças motrizes que afectam este sistema. Posteriormente, serão realizadas entrevistas semi-directivas com o objectivo de enquadrar as diferentes estratégias e opções dos stakeholders nos vários cenários identificados, e ao mesmo tempo procurar-se-á percepcionar o tipo de relação entre as várias opções modais e o transporte ferroviário de alta velocidade. Figura 1 Esquema conceptual da cadeia de transportes Indústria / Cliente Final Plataformas Logísticas Transporte Rodoviário Transporte Marítimo Transporte Ferroviário Transporte Aéreo Gestores (APDL, IPTM, ANA, REFER); Operadores Transitários Agentes navegação Armadores Plataformas Logísticas Matéria Prima / Indústria Fonte: Elaboração própria. As principais instituições envolvidas no transporte de mercadorias, nomeadamente os gestores das infra-estruturas e os respectivos operadores modais, são representadas na figura 2. 14

Figura 2 Principais instituições envolvidas no processo de transporte de mercadorias nas várias opções modais Ferroviário Marítimoportuário Aéreo Logística Refer CP Cargo Cargo Rail Comsa Gestores APDL; IPTM Operadores TCL TCGL ANA aeroportos de Portugal TAP cargo Lufthansa cargo Operadores logísticos SPC Serviço Português de Contentores Plataformas logísticas Maia/Trofa Leixões (Polo Gonçalves, Gatões-Guifões) Valença e Chaves CCA Centro de carga aérea Fonte: Elaboração própria. Considerando as várias forças motrizes que influenciaram nos últimos anos o transporte de mercadorias na região pretendemos com o processo de criação de cenários realizar um exercício de análise que permitirá avaliar os efeitos resultantes de acordo com cada um dos cenário propostos. Para o efeito recorreremos à realização de entrevistas semi-directivas com os principais stakeholders identificados na figura 3, de forma a incorporar as várias percepções/estratégias na definição dos cenários potenciais. Assim, em seguida são apresentados os vários cenários a desenvolver. Situação actual, ou Cenário 0 Nesta análise será descrita a situação actual do transporte de mercadorias partindo do diagnóstico realizado previamente. Não correspondende a um verdadeiro cenário, uma vez que não será abordado o prolongamento desta situação no futuro, será no entanto, uma análise importante para servir de base comparativa com os resultados provenientes dos três cenários apresentados em seguida.. Cenário 1 Este cenário, relativo à não construção da linha da linha de alta velocidade, procurará avaliar os efeitos de apenas se manter a linha ferroviária actual, contudo, o prolongamento da situação 15

actual será alterado atendendo aos diversos investimentos programados para as infra-estruturas portuárias, logísticas e aeroportuárias. No caso da consideração da linha de alta velocidade ferroviária justifica-se a análise de dois Cenários devido às potenciais soluções previstas neste momento para a alta velocidade no eixo Porto Vigo. Assim, é importante avaliar os efeitos da adopção da alta velocidade ferroviária segundo os dois cenários identificados em seguida. Cenário 2A Refere-se à construção, de raiz, da linha de alta velocidade entre Braga e Vigo, mantendo-se a ligação entre o Porto e Braga pela actual linha ferroviária, que já permite elevadas prestações. Cenário 2B Neste cenário avaliam-se os efeitos potencialmente resultantes da adopção de uma linha de alta velocidade que ligue o Porto a Braga, que contemple a passagem pelo Aeroporto Francisco Sá Carneiro, e depois a Vigo. 16

Figura 3 Esquema conceptual para a criação dos cenários Diagnóstico Prospectiva Forças motrizes negativas Cenário 2B Cenário da linha de AV Porto Valença com passagem pelo Aeroporto FSC Reuniões Stakeholders Gestores Forças motrizes positivas Cenário 2A Cenário da linha de AV Braga Valença mantendo a Linha actual Porto Braga Cenário 1 Cenário da não construção da linha de AV Transitários Logística Operadores Passado Presente Futuro Fonte: Elaboração própria. Para se proceder ao contacto com os stakeholders é fundamental compreender o conjunto de forças motrizes, que pela sua abrangência, afectam o transporte de mercadorias na região Norte. Assim, na tabela 4 são identificadas diversas dessas forças, positivas e negativas, as quais poderão potenciar ou não a introdução da alta velocidade. Essa lista forças servirá de base para desenvolver um conjunto de questões chave a colocar aos stakeholders a entrevistar. 17

Tabela 4 Forças motrizes da AV no Sistema de Transporte de Mercadorias Forças Motrizes positivas Marítimo: Porto de Leixões Previsão de aumento da procura no Porto de Leixões para 2020; Estado de saturação do Porto de Vigo em carga contentorizada; TCL assume-se como maior concessionário de contentores nacional; Construção de novo terminal multiusos; Modernização, simplificação e fiabilidade das operações marítimas (projectos PIPe, ATMOS, PORTMOS); Tentativa de reforçar a centralidade euro atlântica; Intenção de alargar o seu hinterland ao território Espanhol; Melhoramentos físicos (novo terminal multi-usos e afundamento da Bacia de Rotação). Aéreo: Aeroporto Francisco Sá Carneiro Aumento da carga movimentada em 2006; Implantação do centro de carga aérea. Plataformas Logísticas (PL) Implantação de quatro Plataformas Logísticas: Maia/Trofa (multimodal), Leixões, Valença e Chaves; Entrada em funcionamento da Plataforma do Norte do Serviço Português de Contentores em Valongo e importância do Terminal TER/TIR no Freixieiro. Outras Crescente importância do mercado intra-europeu, nomeadamente Espanha e França; Previsão de aumento da procura do transporte ferroviário até 2020; Liberalização do transporte ferroviário de mercadorias em 2007; Ligação à Rede Transeuropeia de Transportes e adesão de Portugal às auto-estradas do mar ; Intenção de aumentar a quota de mercado do transporte marítimo de mercadorias; Apostas da Comunidade Europeia: - no transporte marítimo de curta distância; - no transporte ferroviário; - na inter e co modalidade. Fonte: Elaboração Própria Forças Motrizes Negativas Previsão de crescimento do transporte rodoviário de mercadorias; Hegemonia do transporte rodoviário de mercadorias entre Norte de Portugal e Galiza; Descrédito dos empresários no transporte ferroviário devido à complexidade das operações; Diminuta quota modal do transporte aéreo e ferroviário no transporte de mercadorias; Problemas de adaptação da Bitola (Espanha estuda a hipótese de converter toda a rede para a Bitola Europeia); Rede viária moderna; Falta de fiabilidade no transporte ferroviária e processo logístico complexo. 18

6. NOTAS CONCLUSIVAS Nesta comunicação foi caracterizada a situação actual do transporte de mercadorias na região Norte. Em resumo pode-se afirmar que o aumento do comércio internacional de Portugal está a ser impulsionado pelas trocas comerciais com os países da UE25, designadamente os da região Centro/Sul da Europa, que o transporte rodoviário ocupa uma posição hegemónica no transporte de mercadorias nas trocas comerciais com a Espanha e evidencia uma tendência para ganhar quota de mercado ao transporte marítimo nas relações com os restantes países da UE25. O transporte marítimo mantém como principal mercado os países incluídos no grupo económico Intra UE. Dos portos nacionais o porto de Leixões é um dos que tem apresentado melhores desempenhos, atingindo as 14 milhões de toneladas. Neste porto a carga contentorizada tem vindo a conseguir aumentos significativos permitindo que o TCL (Terminal de Contentores de Leixões) se consolide como o maior concessionário de contentores a operar em Portugal. Constata-se que as restantes opções modais ainda possuem uma quota de mercado muito reduzida, sendo a intermodalidade no porto de Leixões actualmente dominada pelo modo rodoviário. A região Norte, fruto de importantes investimentos na Logística, no porto de Leixões e no aeroporto FSC, vê as potencialidades de reforçar a sua competitividade no que se refere ao transporte de mercadorias. A integração da região na rede de alta velocidade permite conectar-se à rede transeuropeia de transportes e contribuir para o reforço da sua posição geoestratégica, bem como ganhar novos mercados. 7. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS Esta comunicação assenta, como referido inicialmente, no trabalho desenvolvido pelo grupo das mercadorias que se insere numa equipa mais vasta e multidisciplinar. O estudo encontra-se em fase de desenvolvimento, pelo que após a conclusão da fase preliminar serão promovidas várias entrevistas aos stakeholders mais representativos na região Norte. Estas serão fundamentais para aferir a percepção e para identificar estratégias e conflitos resultantes da introdução de uma infra-estrutura ferroviária de altas prestações. 19

A avaliação dos resultados provenientes da caracterização do estado do transporte de mercadorias, ora apresentada, conjuntamente com os resultados da interacção com os stakeholders, constituirão os pilares na construção da análises prospectivas conducentes a uma visão económica mais realística face à implementação de uma solução de altas prestações na ligação entre o Porto e Vigo. Neste sentido a pertinência e o interesse estratégico desta infra-estrutura serão avaliados através de uma análise prospectiva que se focará fundamentalmente na: Ligação do transporte de mercadorias entre as infra-estruturas portuárias e a nova ligação ferroviária; Ligação do transporte de mercadorias entre as plataformas logísticas e a nova ligação ferroviária; Análise do impacto do crescimento da taxa de movimento da mercadoria contentorizada; Análise da transferência do transporte de mercadorias dos modos rodoviário e aéreo para o modo ferroviário. A conclusão deste estudo será fundamental para compreender a análise custo beneficio desta infra-estrutura, bem como da dimensão geográfica do seu funcionamento. O que também permitirá ao grupo de trabalho dispor das bases necessárias para desenvolver algumas recomendações relativas à consolidação do transporte de mercadorias e da intermodalidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANA AEROPORTOS DE PORTUGAL (2007): Plano Director do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, Porto. APDL ADMINISTRAÇÃO DO PORTO DE LEIXÕES (2006): Boletim estatístico anual, Leixões. AVEP (2004): Estudo de Viabilidade Técnica, Económica e Ambiental da Ligação Hispano-Lusa em Alta Velocidade entre Porto Vigo, s.l. COMISSÃO DO SISTEMA AEROPORTUÁRIO (2006): Orientações estratégicas para o sector aeroportuário nacional, Relatório final, s.l. GEP (2006): Boletim de Conjuntura de Transportes 2004/2005, Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, s.l. 20

GEP (2006): Boletim de Conjuntura de Transportes de Janeiro a Setembro de 2006, Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, s.l. GEP (2006): Transporte internacional de mercadorias em Portugal 1995-2005, Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, s.l. INTF (2005): O transporte ferroviário de mercadorias em Portugal âmbito nacional e internacional, Portugal. MOPTC; (2006): Orientações estratégicas para o sector Marítimo Portuário, Versão para consulta, Lisboa. MOPTC; (s.d.): Portugal Logístico Rede Nacional de Plataformas Logísticas, s.l.. MOPTC; MINISTÉRIO DO FOMENTO (2006): 4.º Relatório do observatório transfronteiriço Portugal Espanha, Lisboa. NIPE; (2007): Efeitos económicos da melhoria da ligação ferroviária Porto-Vigo na Euro- Região Norte de Portugal-Galiza, Universidade do Minho, Braga. (em desenvolvimento). 21