MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO 4º OFÍCIO DA TUTELA COLETIVA PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO Nº 1.26.000.000838/2013-64. PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO Cuida-se de procedimento administrativo instaurado a partir de representação formulada por MARIA LÚCIA DE SOUZA MOREIRA E SILVA, por meio da qual relatou que sua mãe, MARIA ALICE DE SOUZA MOREIRA, idosa de nacionalidade portuguesa, ao se dirigir a uma agência do Bradesco (Av. Conselheiro Aguiar), para fazer 'comprovação de vida', a fim de dar continuidade ao recebimento de sua pensão do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, não teve aceita sua carteira de estrangeira, sob a alegação de que o documento estaria vencido desde 2005. Aduziu a noticiante, em síntese, que, de acordo com as informações disponíveis no portal eletrônico da Polícia Federal, estão dispensados da substituição da CIE, mesmo após o vencimento, os estrangeiros maiores de 60 anos, caso de sua genitora. Entretanto, continua, ao entrar em contato telefônico, por diversas vezes, com a Polícia Federal, obteve a informação de que a interessada procurasse a Receita Federal ou obtivesse uma 2ª via do documento de sua mãe, o que contradiz a informação constante no site. Para instrução do feito, foram inicialmente requisitadas informações do Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, o qual, em resposta, por meio do Ofício nº 166-GAb/Deest/SNJ/MJ, de 18.4.2013, aduziu que (f. 13-15): a) o Decreto-Lei nº 2.236/1985, alterado pela Lei nº 8.988/1995, em Av. Gova. Agamenon Magalhães, nº 1800 - Espinheiro Recife - PE - CEP 52021-170 Fone/fax: (81) 2125-7300
2 seu artigo 2º, estabelece que o documento de identidade para estrangeiro será substituído a cada nove anos, a contar da data de sua expedição, ou não prorrogação do prazo de estada ; b) além disso, estabelece ainda que ficam dispensados da substituição de que trata o caput do artigo 2º aqueles estrangeiros que tenham participado de recadastramento anterior e que tenham completado sessenta anos de idade até a data do vencimento do documento; c) por sua vez, a Portaria nº 2.524/2008 do Ministério da Justiça estabelece que o estrangeiro, na condição de permanente no Brasil, cuja idade seja superior a sessenta anos de idade, detentor de CIE Carteira de Identidade de Estrangeiro, com prazo de validade determinado, poderá requerer, sem ônus, a substituição de sua CIE na unidade de Polícia Federal mais próxima. Sugeriu-se, ademais, o encaminhamento da requisição de informações ao Departamento de Polícia Federal, haja vista não ser de competência do Ministério da Justiça a emissão de cédula de identidade de estrangeiro. Instada pelo parquet, a Divisão de Cadastro e Registro de Estrangeiros da Polícia Federal, por meio do Ofício nº 0214/2013- DICRE/CGPI/DIREX, de 8.5.2013 (f. 43-44), informou que: a) MARIA ALICE DE SOUZA MOREIRA, nascida em 06.04.1929, de nacionalidade portuguesa, está registrada no Sincre Sistema Nacional de Cadastro e Registro de Estrangeiros com a classificação permanente, RNE nº w379298-t, com amparo na Portaria nº 526/95-MJ, bem como é titular de CIE com validade até 21.11.2005; b) é correta a informação constante no sítio da Polícia Federal na internet, conforme artigo 2º do Decreto-Lei nº 2.236/1985, de que ficam dispensados de substituir a CIE os estrangeiros com visto permanente que tenham participado de recadastramento anterior e que contem com sessenta anos de idade. Em mensagem eletrônica do dia 13 de maio de 2013, a representante narra que, consoante informações do sítio da PF, para emissão de segunda via de
3 CIE é necessária a apresentação de numeração do documento de entrada no Brasil, o qual, apesar dos esforços da representante, não foi localizado, uma vez que sua genitora reside no Brasil há mais de sessenta anos. À vista dessa informação, e ainda visando a instruir o presente procedimento, expediram-se ofícios: (a) ao Chefe da DICRE/CGPI/DIREX, a fim de que esclarecesse: sobre a possibilidade de emissão de segunda via da CIE, para estrangeiros de mais de sessenta anos, sem a apresentação de documentação referente à sua entrada no Brasil (muitas vezes ocorridas há décadas) e, em caso positivo, qual procedimento deve ser adotado; e se a desnecessidade de substituição da CIE, autorizada pelo Decreto-Lei nº 2.236/1985, alterado pela Lei nº 8.988/1995, já foi ou é objeto de orientação e/ou recomendação do Ministério da Justiça / Polícia Federal à Previdência Social e/ou a outros entes da administração pública federal, direta e indireta; e (b) ao INSS, para que informasse se existe alguma orientação ou recomendação a suas agências e/ou às instituições bancárias conveniadas, acerca do procedimento a ser adotado, durante a realização do recadastramento de beneficiários, em relação aos estrangeiros idosos, os quais estão dispensados de substituir a sua CIE, nos termos do artigo 2º do Decreto-Lei nº 2.236/1985. Em resposta, o Serviço de Manutenção de Benefícios do INSS informou que a regulamentação de comprovação de vida e renovação de senha por parte dos beneficiários está contida na Resolução Presidencial n. 141/PRESI/INSS, de 02/03/2011, e no Memorando Circular n. 19/CGRDPB/DIRBEN/INSS, de 02/09/2011 (f. 54-57). A Divisão de Cadastro e Registro de Estrangeiros do Departamento de Polícia Federal informou que: (a) é possível a emissão de segunda via da CIE, para estrangeiros maiores de sessenta anos, sem apresentação da documentação referente à sua entrada no Brasil, desde que já esteja registrado na Polícia Federal, e conforme orientações disponibilizadas no site do DPF; e (b) apesar de não haver orientação específica dirigida à Previdência Social, esta deve cumprir as prescrições constantes na Lei n. 9.505/1997 (f. 61-62). Por fim, instado a prestar informações específicas sobre o benefício da Sra. Maria Alice de Souza Moreira, o INSS informou constar em seus sistemas a
4 informação de APRESENTAÇÃO FÉ VIDA REALIZADA, estando o benefício, portanto, ativo (f. 66-70). É o relatório. Após regular instrução, e tendo sido solucionado o problema individual relatado na representação, não se vislumbram outras medidas a serem adotadas pelo Ministério Público Federal, a justificar a continuidade deste procedimento. À luz das informações prestadas pela Polícia Federal e pelo Ministério da Justiça, MARIA ALICE DE SOUZA MOREIRA, por ser estrangeira com visto permanente no Brasil, bem como por ter participado de recadastramento anterior e possuir mais de sessenta anos de idade, está dispensada de substituir sua CIE, conforme autoriza o artigo 2º do Decreto-Lei nº 2.236/1985. Ou seja, a legislação em vigor permite que a referida cidadã portuguesa utilize, para todos os fins, sua CIE (embora com a indicação de prazo de validade expirada). Ocorre que, quando da apresentação da referida CIE perante o Banco Bradesco em Recife/PE, para fins de recadastramento de benefício do INSS, a agência, ao observar o prazo de validade de CIE vencido desde 2005, conforme estampado no próprio documento, recusou-se a efetuar o recadastramento. É certo que, consoante esclarecido pela Divisão de Estudos e Pareceres do Departamento de Estrangeiros/Ministério da Justiça, o artigo 3º da Portaria nº 2.524/2008, do Ministério da Justiça, dispõe que o estrangeiro residente na condição de permanente, cuja idade seja superior a 60 anos e que possua CIE com prazo de validade determinado, poderá requerer, sem ônus, a substituição de sua CIE na unidade de Polícia Federal mais próxima. De acordo com o relatado pela noticiada na mensagem de f. 45, para a solicitar a emissão de segunda via da CIE é exigida a apresentação referente à entrada do estrangeiro no Brasil, de que não mais dispõe. No entanto, instada a se pronunciar no curso da instrução, a Polícia Federal esclareceu que é possível a
5 emissão de segunda via da CIE, para estrangeiros maiores de sessenta anos, sem apresentação da documentação referente à sua entrada no Brasil, desde que já esteja registrado na Polícia Federal, e conforme orientações disponibilizadas no site do DPF. Ressaltou ainda que a Previdência Social deve cumprir as prescrições constantes na Lei n. 9.505/1997 (f. 61-62). De outro giro, evidenciou-se que o recadastramento da idosa de que trata a representação foi efetivado com sucesso, apesar do inicial receio da instituição bancária, justificável em razão da peculiaridade da situação. Com efeito, cumpre ponderar que, considerando a descentralização promovida pelo INSS no recadastramento de seus beneficiários/pensionistas em favor dos agentes bancários, ante a imensa capilaridade do sistema previdenciário e de assistência social no Brasil, é compreensível que determinadas situações, bastante peculiares como a da Sra. Maria Alice Moreira, aconteçam. Trata-se, como se vê, de situação pontual e bastante particular. Não há, pois, elementos indicativos de ilegalidade na atuação da Administração Pública ou de falhas sistêmicas no recadastramento de benefícios, a gerar lesão aos direitos da coletividade de usuários do serviço. Posto isso, com amparo no art. 9 da Lei n 7.347/85 e no art. 17, caput, da Resolução n.º 87/2006 -CSMPF, decido pelo arquivamento deste procedimento preparatório. Comunique-se a presente decisão ao(à) noticiante, nos termos do art. 17 da Resolução CSMPF n.º 87, de 2006, cientificando-o(a), inclusive, da previsão inserta no 3º desse dispositivo. Em seguida, encaminhem-se os autos ao NAOP/PFDC 5ª Região, no prazo estipulado no 2º do art. 17 da Resolução CSMPF nº. 87, de 2006, para fins de revisão. Recife, 4 de dezembro de 2013.
6 CAROLINA DE GUSMÃO FURTADO PROCURADORA DA REPÚBLICA