ERNANDO AVATER LIBRETO SÃO PAULO/PORTO ALEGRE



Documentos relacionados
UNIDADE I OS PRIMEIROS PASSOS PARA O SURGIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO.

Colégio Pedro II Departamento de Filosofia Programas Curriculares Ano Letivo: 2010 (Ensino Médio Regular, Ensino Médio Integrado, PROEJA)

Elaboração de Projetos

Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/08/2009. Humanos aprimorados versus humanos comuns

Educação Ambiental: uma modesta opinião Luiz Eduardo Corrêa Lima

MÓDULO 5 O SENSO COMUM

4. O Comunicador da Sustentabilidade

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Guia Prático para Encontrar o Seu.

GESTÃO DEMOCRÁTICA EDUCACIONAL

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO CÁTEDRA UNESCO DE LEITURA PUC-RIO

A educadora avalia a formação de nossos professores para o ensino da Matemática e os caminhos para trabalhar a disciplina na Educação Infantil.

TRABALHANDO A EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NO CONTEXTO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA NA SAÚDE DA FAMÍLIA EM JOÃO PESSOA-PB

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

OS SENTIDOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA CONTEMPORANEIDADE Amanda Sampaio França

Composição dos PCN 1ª a 4ª

Pedagogia Estácio FAMAP

A política e os programas privados de desenvolvimento comunitário

Tecnologia sociais entrevista com Larissa Barros (RTS)

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO FORMADOR: TRÊS ASPECTOS PARA CONSIDERAR

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

Escolha do tópico: TRANSFUSÃO SANGUÍNEA / DOAÇÃO DE SANGUE / SISTEMA ABO E RH.

A IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR OS VALORES NA EDUCAÇÃO

TEMAS AMBIENTAIS NA INTERNET

POR QUE SONHAR SE NÃO PARA REALIZAR?

A IMPORTÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA OS CURSOS PRÉ-VESTIBULARES

BROCANELLI, Cláudio Roberto. Matthew Lipman: educação para o pensar filosófico na infância. Petrópolis: Vozes, RESENHA

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA ESCOLA: REFLEXÕES A PARTIR DA LEITURA DOCENTE

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

INTRODUÇÃO O atual modelo econômico e social tem gerado enormes desequilíbrios ambientais. O

Projeto Jornal Educativo Municipal

Atividade Mercosul da Marcha Mundial das Mulheres uma prática social da educação popular

Prefeitura Municipal de Santos

CONSTRUÇÃO DE QUADRINHOS ATRELADOS A EPISÓDIOS HISTÓRICOS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA RESUMO

FILOSOFIA SEM FILÓSOFOS: ANÁLISE DE CONCEITOS COMO MÉTODO E CONTEÚDO PARA O ENSINO MÉDIO 1. Introdução. Daniel+Durante+Pereira+Alves+

Empreenda! 9ª Edição Roteiro de Apoio ao Plano de Negócios. Preparamos este roteiro para ajudá-lo (a) a desenvolver o seu Plano de Negócios.

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

Iniciando nossa conversa

A origem dos filósofos e suas filosofias

A EDUCAÇÃO PARA A EMANCIPAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE: UM DIÁLOGO NAS VOZES DE ADORNO, KANT E MÉSZÁROS

Apresentação. Cultura, Poder e Decisão na Empresa Familiar no Brasil

Um mercado de oportunidades

DESIGN DE MOEDAS ENTREVISTA COM JOÃO DE SOUZA LEITE

HORTA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA CONSCIÊNCIA PLANETÁRIA

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

ALTERNATIVAS APRESENTADAS PELOS PROFESSORES PARA O TRABALHO COM A LEITURA EM SALA DE AULA

ENTREVISTA. Clara Araújo

RESENHA resenha resumo resenha crítica Título: Identificação do resenhista: Referência: Dados sobre o(s) autor(es): Dados sobre a obra: Apreciação:

Dicas para Liderar com alta performance

PROFESSOR FORMADOR, MESTRE MODELO? ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de PUC-SP PASSOS, Laurizete Ferragut UNESP GT-20: Psicologia da Educação

FORMAÇÃO DE JOGADORES NO FUTEBOL BRASILEIRO PRECISAMOS MELHORAR O PROCESSO? OUTUBRO / 2013

Gênero em foco: CARTA PESSOAL

E Entrevistador E18 Entrevistado 18 Sexo Masculino Idade 29anos Área de Formação Técnico Superior de Serviço Social

O sucesso de hoje não garante o sucesso de amanhã

Top Guia In.Fra: Perguntas para fazer ao seu fornecedor de CFTV

DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES E ALUNOS DA EJA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO PROPOSTA DE MINI-CURSO

Filosofia da natureza, Teoria social e Ambiente Ideia de criação na natureza, Percepção de crise do capitalismo e a Ideologia de sociedade de risco.

AÇÕES FORMATIVAS EM ESPAÇO NÃO ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO NO PROJETO SORRIR NO BAIRRO DO PAAR

INTERPRETANDO A GEOMETRIA DE RODAS DE UM CARRO: UMA EXPERIÊNCIA COM MODELAGEM MATEMÁTICA

Profa. Ma. Adriana Rosa

VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS: UM ESTUDO DE CASOS RELATADOS EM CONSELHOS TUTELARES DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA.

Escola Bilíngüe. O texto que se segue pretende descrever a escola bilíngüe com base nas

O AMBIENTE MOTIVADOR E A UTILIZAÇÃO DE JOGOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

O guia completo para uma presença. online IMBATÍVEL!

A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NOS PROJETOS SOCIAIS E NA EDUCAÇÃO - UMA BREVE ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DO PROJETO DEGRAUS CRIANÇA

EMENTAS DAS DISCIPLINAS OFERECIDAS NO CURSO DE PEDAGOGIA Catálogo 2012

O céu. Aquela semana tinha sido uma trabalheira!

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

Daniele Renata da Silva. Maurício Carlos da Silva

PATRULHA AMBIENTAL MIRIM: Um espaço de Emancipação dos Sujeitos

Aprimoramento através da integração

POR QUE FAZER ENGENHARIA FÍSICA NO BRASIL? QUEM ESTÁ CURSANDO ENGENHARIA FÍSICA NA UFSCAR?

BEM-VINDA!!

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

Unidade I ESCOLA, CURRÍCULO E CULTURA. Profa. Viviane Araujo

Resumo da dissertação de mestrado do Professor César Vicente da Costa. Da Escola Estadual Padre Ezequiel Ramin, Juina-MT.

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

3 Dicas Poderosas Para Investir Em Ações. "A única maneira de fazer um grande trabalho é. amar o que você faz." Steve Jobs. Por Viva e Aprenda 2

Consumidor e produtor devem estar

ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE EDITH STEIN. Prof. Helder Salvador

Cais da Leitura: leitura em ação

Meu nome é José Guilherme Monteiro Paixão. Nasci em Campos dos Goytacazes, Norte Fluminense, Estado do Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1957.

CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: UM OLHAR SOBRE O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO RAFAELA DA COSTA GOMES

O TIGRE E A DEMOCRACIA: O CONTRATO SOCIAL HISTÓRICO

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

LIDERANÇA, ÉTICA, RESPEITO, CONFIANÇA

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

ED WILSON ARAÚJO, THAÍSA BUENO, MARCO ANTÔNIO GEHLEN e LUCAS SANTIGO ARRAES REINO

Estudo Exploratório. I. Introdução. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Pesquisa de Mercado. Paula Rebouças

ÁGORA, Porto Alegre, Ano 4, Dez ISSN EDUCAR-SE PARA O TRÂNSITO: UMA QUESTÃO DE RESPEITO À VIDA

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

A crítica à razão especulativa

Carta de Princípios dos Adolescentes e Jovens da Amazônia Legal

Transcrição:

ERNANDO AVATER LIBRETO SÃO PAULO/PORTO ALEGRE

2 3

FERNANDO SAVATER Expediente Fronteiras do Pensamento Temporada 2015 Curadoria Fernando Schüler Concepção e Coordenação Editorial Luciana Thomé Michele Mastalir Pesquisa Francisco Azeredo Juliana Szabluk Editoração e Design Lume Ideias (Espanha, 1947) Filósofo espanhol. Reconhecido por seu ativismo nos campos da ética, da religião e da luta contra o terrorismo, é um importante teórico na área da educação. Refletir sobre a finalidade do ensino é pensar sobre o destino do homem e sobre o lugar do humano na natureza. Revisão Ortográfica Renato Deitos www.fronteiras.com 4 5

VIDA E OBRA Nascido em San Sebastián, na Espanha, Fernando Savater é reconhecido por seu ativismo nas áreas da ética, da religião e da luta contra o terrorismo. Formado em Letras e Filosofia, é autor de mais de 50 obras, entre ensaios, narrativas e teatro, além de inúmeros artigos jornalísticos. Considera a filosofia como uma atividade de crítica permanente para expressar a subjetividade e provocar. Destacado por sua especialização em ética, defende uma ética do querer em contraposição com uma ética do dever. Iniciou a carreira como professor na Universidade Autônoma de Madri, função da qual foi afastado em 1971, pelo regime franquista. Nos anos seguintes, viveu exilado por vontade própria na França. De volta à Espanha, concluiu, em 1975, o mestrado com uma tese sobre Nietzsche e voltou a lecionar na cátedra de Ética na Universidade do País Basco. É um importante teórico na área da educação. Em Desperta e lê e O valor de educar, o filósofo se dirige aos protagonistas da educação, compartilhando perplexidades e esperanças. Em Ética para meu filho, seu livro mais conhecido e traduzido para mais de 18 idiomas, simula uma conversa entre pai e filho, transmitindo os conceitos mais importantes da ética e da moral. Para Savater, o grande problema é a falta de educação democrática da população, de pouco interesse por parte dos políticos. Dessa forma, defende uma formação laboral e humanística, e uma educação que não transmita apenas o conhecimento, mas que forme indivíduos de maneira a permitir o exercício pleno das capacidades cívicas nas áreas política e social. Próximo a teses anarquistas, alterna sua preocupação crítica e estética com a implicação política e social que nem sempre favoreceram sua imagem de pensador independente. Junto com a editora Ariel, do Grupo Planeta, criou o Prêmio Filosofia de Urgência, que é direcionado a alunos do ensino médio e graduação e premia trabalhos sobre o sentido da filosofia. Desde 1995, é professor de filosofia na Universidade Complutense de Madri e, atualmente, também é diretor da revista cultural Claves de Razón Prática. Envolvido em polêmicas culturais, estéticas e políticas na Espanha, foi um dos fundadores do partido liberal Unión Progreso 6 7

y Democracia em 2007, juntamente com Mario Vargas Llosa, Albert Boadella e Rosa Díez. Em sua mais recente obra, No te prives! Defensa de la ciudadania, questiona os direitos e deveres da cidadania democrática em um contexto de desconfiança política. A obra é uma compilação de artigos dos últimos quatro anos somados a um epílogo escrito após as eleições europeias, em que defende que a cidadania pouco tem a ver com um território, uma etnia ou uma língua em comum. Fernando Savater possui influências confessas de Nietzsche, Cioran, Spinoza, da Escola de Frankfurt e do pensamento libertário de Agustín García Calvo. Sua linha de pensamento foi categorizada como antiautoritarismo radical. Em 1982, recebeu na Espanha o Prêmio Nacional de Ensaio com La tarea del héroe, no qual defende que a ética seja liberada dos vínculos da moral, estabelecendo-se como um evento aberto com autonomia própria. IDEIAS Me defino como um leitor. Eu posso viver sem escrever ou sem polemizar, mas não sem ler. O que acontece é que eu tenho que fazer outras coisas para comprar os livros. Então, sou leitor, escritor e, acidentalmente, professor. Filosofar é refletir sobre as questões não respondidas. E esta convivência com as questões insolúveis tem um ponto de humor. A alegação de que um mamífero tenta entender o universo é risível em si mesma. O nacionalismo é a ideologia mais simples. Para ser comunista ou liberal, é preciso ler alguns livros e conhecer certas teorias. Para ser nacionalista não é necessária nenhuma elaboração mental. Basta dizer: Nós somos os melhores e a culpa de nossos problemas é dos outros, eles é que são os maus. Em países com pouca formação política, é muito eficiente. Os professores devem ensinar que esses livros são importantes e dizer o motivo, mas também comentar com os alunos os livros que interessam a eles. Senão, não há maneira de competir com meios como a televisão e as redes sociais. Creio que a educação tenha certamente de transmitir conhecimentos, conhecimentos reais, não basta somente aprimorar habilidades. Porém, por outro lado, devido ao fato de os conhecimentos atuais mudarem muito, se ampliarem, hoje o importante é ter uma disposição capaz de refletir sobre 8 9

a informação. Antigamente, a educação buscava informar, porque não havia outras fontes de informação. As crianças necessitavam ser informadas por meio de notícias, dos fatos do mundo, da ciência. Mas hoje recebemos informações a partir de muitos canais, como a internet e a televisão. Por isso, o importante é ensinar a capacidade de refletir e organizar. Refletir sobre essas informações e descartar as menos válidas, ter uma mente capaz de ordenar o que se sabe, e não uma mente simplesmente cheia de dados e de notícias. Se a boa educação é cara, a má educação é ainda mais cara. Por isso, é vital convencer a sociedade da importância da educação. A educação exige um desembolso econômico considerável, exige uma boa preparação dos professores, exige todo um compromisso social. Não temos nenhuma alternativa. Dizer que as coisas são difíceis quando não temos mais remédios para fazê-las não é a solução. Não acredito em imparcialidade nem em indiferença. É preciso assumir posições sempre. Mas não se deve esquecer que elas podem ser expostas, discutidas e modificadas. O professor deve ser esse fomentador, mostrando ao grupo como participar de controvérsias e como buscar posições que não tenham dono. Ele pode ser o exemplo, tendo firmeza em suas posições, mas mostrando-se disposto a debatê-las e a transformá-las ao final de cada aula. ESTANTE ÉTICA PARA MEU FILHO Ética para Amador 1ª edição 1991 / Edição em português Planeta do Brasil, 2012 Através de uma conversa entre pai e filho, Savater apresenta ações do que as pessoas podem, devem ou têm capacidade de fazer, ou não. Comparando essas mesmas ações a seres animados ou inanimados, o autor elabora uma série de ideias e pensamentos, para estimular no leitor o desenvolvimento de novas maneiras livres de se pensar. 10 11

O VALOR DE EDUCAR El valor de educar 1ª edição 1997 / Edição em português Planeta do Brasil, 2012 DESPERTA E LÊ Despierta y lee 1ª edição 1998 / Edição em português WMF Martins Fontes, 2001 Neste livro, Fernando Savater analisa as novas funções do professor a de organizar a grande quantidade de informações disponíveis e oferecer aos alunos ferramentas para combatê-las, discuti-las ou torná-las proveitosas. Desde os latinos, que utilizavam o mesmo termo para dizer livre e livro, a paixão por ler foi uma das formas de libertar a alma. Os textos que compõem este livro são tão diversos em seu tom quanto em sua extensão desde o ensaio até o aforismo, passando pela confissão autobiográfica, pela resenha crítica ou necrológica. 12 13

NA WEB ÉTICA URGENTE! Ética de urgencia 1ª edição 2012 / Edição em português Sesc (Livros), 2015 Este livro marca a volta de Savater ao diálogo com os jovens para debater as questões morais que mais os preocupam ou interessam. Assuntos envolvendo a crise da política, as novas tecnologias, a internet e o download ilegal, o abuso de poder público e privado, a fraqueza da democracia, as contradições do capitalismo, o terror e a banalização da violência, mas também a beleza, a felicidade, a solidariedade, os direitos dos animais, a justiça e a igualdade social são algumas das questões tratadas. SITE OFICIAL http://www.fernandosavater.com/ WIKIPEDIA http://pt.wikipedia.org/wiki/fernando_savater ENTREVISTAS Prêmio Filosofia de Urgência Entrevista para o jornal Folha de S.Paulo, publicada em março de 2015 http://is.gd/savater1 (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/03/1607919-precisamos-de-menos-filosofos-e-maisprofessores-diz-fernando-savater.shtml) Posso viver sem escrever ou sem polemizar, mas não sem ler Entrevista para a revista Mercurio, publicada em maio de 2014 (em espanhol) http://is.gd/savater2 (http://revistamercurio.es/temas/puedo-vivir-sin-escribir-o-sin-polemizar-pero-sin-leer/) Temos de intervir na política Entrevista ao site Lecturas sumergidas, publicada em março de 2014 (em espanhol) http://is.gd/savater3 (http://lecturassumergidas.com/2014/03/28/entrevista_fernando-savater_/) 14 15

As palavras de ordem da manifestação de 11 de setembro eram falsas e enganosas Entrevista ao La Vanguardia, publicada em setembro de 2012 (em espanhol) http://is.gd/savater4 (http://www.lavanguardia.com/libros/20120918/54349717177/entrevista-fernando-savater.html) Os professores estão abandonados Entrevista para a Revista Educação, publicada em setembro de 2011 (em espanhol) http://is.gd/savater5 (http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/128/artigo234301-1.asp) Da ética como método de trabalho Entrevista para a revista Nova Escola, publicada em junho de 2002 http://is.gd/savater6 (http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/etica-como-metodotrabalho-431445.shtml) Entrevista para RT Entrevista com Fernando Savater no programa do canal RT, publicada em fevereiro de 2014 (em espanhol) http://is.gd/savater9 (https://www.youtube.com/watch?v=hhvrg7u25dm) As perguntas da vida Primeiras impressões do visitante extraterrestre sobre os humanos, texto de Savater no livro As perguntas da vida http://is.gd/savater10 (http://acasadevidro.com/2015/05/08/primeiras-impressoes-do-visitanteextraterrestre-sobre-o-bicho-humano-do-filosofo-espanhol-fernando-savater-emas-perguntas-da-vida-ed-martin-fontes-2011/) A leitura nas escolas Entrevista de Fernando Savater para o canal português RTP, em novembro de 2006 http://is.gd/savater11 (https://www.youtube.com/watch?v=c6cw8c851jg) VÍDEOS E LINKS El País Artigos escritos por Fernando Savater para o jornal El País http://is.gd/savater7 (http://elpais.com/autor/fernando_savater/a/) Penso, logo existo Vídeo de entrevista de Fernando Savater, publicado em fevereiro de 2014 (em espanhol) http://is.gd/savater8 (https://www.youtube.com/watch?v=2cm-zclzmvi) 16 17

ARTIGO SAVATER: A FILOSOFIA ENTRE A ACADEMIA E O MUNDO POR SÍLVIO GALLO Professor de Filosofia na Faculdade de Educação da Unicamp, graduado em Filosofia (1986), com mestrado (1990) e doutorado (1993) em Educação e Livre Docência em Filosofia da Educação (2009). É também pesquisador do CNPq. Dedica-se a estudos da Filosofia francesa contemporânea e do Anarquismo, buscando as interfaces desses temas com a problemática educativa. Autor de dezenas de artigos e capítulos de livros, além de vários livros, foi duas vezes contemplado com o Prêmio Jabuti: em 1998, pelo livro Ética e cidadania: caminhos da Filosofia, e, em 2013, pelo livro Metodologia do ensino de Filosofia. Há pelo menos duas tendências na Filosofia, que ficam razoavelmente evidentes quando estudamos sua história. De um lado, temos a Filosofia pensada e praticada como um saber, preocupada com a verdade, que estabelece protocolos e métodos para melhor conhecer o mundo; de outro lado, ela é pensada e praticada como uma forma de viver, de constituir-se a si mesmo 18 19

na relação com os outros. Não raro, vemos conflitos entre essas duas tendências. No mundo moderno, com a consolidação das universidades, aquela primeira tendência da Filosofia ali encontrou seu lugar: consolidou-se como uma Filosofia acadêmica, especializada, como um conhecimento muito arrojado e refinado, mas, muitas vezes, totalmente afastado das pessoas comuns e dos problemas do dia a dia. Essa Filosofia acadêmica, cuja melhor expressão talvez encontremos em Kant e em Hegel, por exemplo, que de dentro do espaço acadêmico produziram conhecimentos filosóficos que ajudaram a moldar o mundo moderno, também recebeu duras críticas, de pensadores do calibre de um Schopenhauer e de um Nietzsche. Se não são raros os conflitos entre essas duas formas de compreender e praticar a Filosofia, raríssimos são os exemplos de filósofos que consigam articulá-las com sucesso, sendo capazes de produzir uma Filosofia como saber especializado, pesquisado e ensinado na universidade, com uma maneira de viver, com uma preocupação com os problemas cotidianos, dedicando-se a pensar e a interferir crítica e ativamente nos debates contemporâneos. Em nossos dias, o espanhol de origem basca Fernando Savater é um desses raros exemplos. Nascido em 1947, Fernando Fernández-Savater Martín ensinou em várias universidades espanholas, tendo sido professor de Ética na Universidade do País Basco. Atualmente, é docente da Universidade de Madri. Para expressar a Filosofia, tem se valido especialmente da forma do ensaio, buscando uma escrita que, ainda que especializada, possa ser lida por um público mais amplo. Mas, para além do ensaio, foi cada vez mais se aproximando da literatura, vindo a escrever também novelas e obras para teatro, bem como textos para jornal. Como pensador da Ética, uma de suas principais obras é Ética como amor-próprio, na qual apresenta seu pensamento, fortemente marcado por filósofos como Espinosa e Nietzsche. Outra forte influência que ele admite em seu pensamento é a de Cioran. Nesse livro, Savater apresenta uma ideia de ética centrada no indivíduo, uma Ética do querer, na esteira de Espinosa, mais do que uma Ética do dever, que, a partir de Kant, marca o mundo moderno. Para o autor, o fundamento ético é o amor- -próprio, é ele que opera como fundamentação dos valores que regem o campo ético. Se a Ética está marcada pela busca da felicidade, o pensador espanhol procura recolocar em seu eixo o indivíduo, que havia se perdido em meio às normas gerais e aos valores universais. Cada 20 21

um é a medida das coisas na perspectiva da Ética, pois, no fundo, seu sentido é dar-se a si mesmo uma vida boa, como ele destaca em Ética para meu filho. Porém, a afirmação do amor-próprio não nos coloca no âmbito de um individualismo e de um egoísmo que esqueça o meio, os outros seres humanos. Assumindo o tom polêmico ao defender um egoísmo ilustrado, Savater afirma que é através do individualismo tomado como virtude que se deve pensar temas como a democracia e os direitos humanos. Nenhuma perspectiva social pode ser colocada acima do indivíduo; ao contrário, ele é a base de qualquer agrupamento, e tal reunião só faz sentido se for para realizar o indivíduo. público em geral, os temas complexos e desafiadores da Ética e da Política. Este empreendimento marca a posição do filósofo espanhol em relação à Filosofia: não faz sentido que ela fique encastelada na universidade; como na antiga Atenas, em que filósofos como Sócrates praticavam-na na praça do mercado, ela precisa permear o cotidiano dos homens comuns, ou perde completamente sua razão de ser. Frente a isso, não é de se estranhar que ele se preocupe com o ensino da Filosofia e com a Filosofia da Educação, tema e campo que, de modo geral, não são levados em conta pelos filósofos. Professor de Ética e de Filosofia Política na universidade, no início dos anos 1990 Savater resolveu enfrentar o desafio de explicar a seu filho Amador, então adolescente, o que o pai fazia na academia. Surgiram dois livros que se tornaram best-sellers em divulgação da Filosofia: Ética para Amador (1991) e Política para Amador (1992), no Brasil publicados com os títulos respectivos de Ética para meu filho e Política para meu filho. Muito provavelmente a razão do sucesso desses livros deve-se ao fato de se conseguir trabalhar numa linguagem clara, simples, fluente, compreensível a um adolescente e ao No contexto de um mundo e de uma escola excessivamente voltados para a informação, Savater afirma que a Filosofia não teria, talvez, nada a oferecer. No livro As perguntas da vida, direcionado a estudantes do ensino médio espanhol, comenta que podemos falar em três níveis de compreensão: a informação, o conhecimento e a sabedoria; enquanto que a ciência transita entre a informação e o conhecimento, a Filosofia move-se entre conhecimento e sabedoria. E arremata: de modo que não há informação propriamente filosófica, mas pode haver conhecimento filosófico, e gostaríamos de chegar a que houvesse 22 23

também sabedoria filosófica. É possível conseguir tal coisa? Sobretudo: é possível ensinar tal coisa?. O autor não titubeia em responder positivamente; apresenta uma extensa argumentação em torno da Filosofia como atividade, processo, e não apenas como conjunto de conhecimentos historicamente produzidos, para concluir que é possível ensinar a filosofar, como busca de respostas cada vez melhores para os problemas com os quais nos defrontamos. E, mais do que isso: se a educação pretende-se humanizadora, ela não pode prescindir da Filosofia. A questão que se coloca então passa a ser: como ensinar os jovens a filosofar? A perspectiva de Savater é a de que o ensino do processo de filosofar aos jovens deve ser feito através de grandes temas, como a morte, a liberdade, o tempo, a beleza, a convivência, para citar apenas alguns, que devem ser tratados problematicamente. Para dizer de outra forma, esses temas devem ser tratados como problemas filosóficos, que enfrentamos em nosso cotidiano, e que vêm recebendo diferentes equacionamentos ao longo da história. Assim, na mesma medida em que os jovens são levados a pensar sobre esses problemas, que em maior ou menor medida todos experimentamos, em diferentes momentos de nossas vidas, também tomam contato com diferentes filósofos que, nas mais diversas épocas, incomodaram-se com esses mesmos problemas e procuraram construir formas de equacioná-los que, se não nos dão uma resposta definitiva, ajudam-nos a compreendê-los melhor, assim como nosso mundo e a nós mesmos. Afirmar a importância do ato do filosofar para o ensino de Filosofia não nos autoriza a prescindir do conteúdo filosófico, daquilo que foi produzido nesses quase três milênios de pensamento, uma vez que a atividade filosófica é uma espécie de prolongamento daquilo que já foi feito e pensado. Mais que isso: o que torna legítimo o ato de filosofar, hoje, é justamente a recordação e a recuperação daquilo que foi pensado ao longo da história, atualizado e transformado pelos nossos problemas de hoje. Se, ao ensinarmos Filosofia, nos limitarmos a expor figuras e momentos da sua história, estaremos contribuindo para afirmar a Filosofia como peça de museu, como algo que se contempla, se admira, mas se vê a distância, como algo intangível para nós. Por outro lado, se nos dedicarmos ao ensino da Filosofia buscando o processo do filosofar nos esquecendo do historicamente produzido, perderemos a legitimidade para tal ato. A recusa da tradição (História da Filosofia), que é a única maneira de manter viva a história, continuamente criando e produzin- 24 25

do, só é possível a partir dessa mesma tradição: nada criaremos, se não a tomarmos como ponto de partida. As reflexões de Savater em torno do ensino da Filosofia na educação média são especialmente importantes para o Brasil. Motivado pela redemocratização da Espanha após décadas de ditadura franquista, para ele o contato dos jovens com a Filosofia é importante no processo de construção da cidadania, na sustentação de uma sociedade que possa ser, de fato, democrática. Ora, é também em um contexto de redemocratização que tal problemática se insere na recente história brasileira, e suas ideias podem ser inspiradoras para nossas próprias reflexões e debates. Savater é uma espécie de filósofo engajado, que se põe a pensar os temas contemporâneos e, por essa razão, direciona-se para a problemática educativa. Para além da questão mais específica do ensinar Filosofia aos jovens nas escolas, além de torná-la acessível ao público geral, em obras como O valor de educar dedica-se a pensar filosoficamente questões centrais dos processos educativos, como a relação entre disciplina e liberdade, o papel da família na educação das crianças, bem como o enfrentamento pelas instituições escolares de problemas como a violência, as drogas, o racismo e a intolerância. Desde a publicação de seu primeiro livro, em 1970 (Nihilismo y acción), Savater já publicou mais de 80 obras, entre ensaios, novelas, compilações de artigos, textos para teatro, tendo obras traduzidas para mais de 20 idiomas. Recebeu a distinção de Doutor Honoris Causa de universidades espanholas e latino-americanas e foi premiado várias vezes por suas obras, como o Premio Nacional de Ensayo, em 1982, e o Premio de la Cultura de la Comunidad de Madrid, em 2013. Vê-se, então, que Fernando Savater realiza de forma apaixonada a tarefa do filósofo: problematizar o mundo e a si mesmo, articulando a ação acadêmica com a ação social mais ampla, sem se deixar encastelar na universidade. Como ativista, não se recusa a propor e a enfrentar polêmicas e o faz com suas armas próprias: aquelas do pensamento. 26 27

ANOTAÇÕES 28 29

ANOTAÇÕES 30 31

R D