2011- O contributo do QREN para a competitividade e a coesão da região centro Intervenção do senhor Reitor, Prof. Doutor Manuel Assunção Centro Cultural da Gafanha da Nazaré Rua Prior Guerra 14 de Dezembro de 2011 A esta mesa, permitam-me a imagem, sentam-se autarquias locais, empresas e universidades. E esta disposição representa, bem, o caminho cujo trilho se vem acentuando na região e que é, como os resultados demonstram, um caminho promissor. A melhoria da qualidade de vida e a competitividade dos territórios das cidades, das regiões, dos países é hoje indissociável da criação de conhecimento, da sua disseminação e da sua valorização social e económica. Contudo, estes são processos dinâmicos, permanentemente questionados, que se desenvolvem de forma contínua num ambiente de grande pressão concorrencial: uma característica potenciada ainda mais pela globalização que esbate barreiras e cria um mundo cada vez mais interligado, a todos os níveis. É neste âmbito que as universidades são atores indispensáveis e decisivos, com um papel específico a desempenhar, como tem sido enfatizado, designadamente nas tomadas de posição da European University Association, nos comunicados da Comissão Europeia e nos programas de estímulo à inovação, à investigação e à qualificação. 1
A importância do contributo das universidades radica, desde logo, na capacidade de formação das pessoas: formação de nível superior, qualificando-as não só para as atividades produtivas de hoje, em resposta às necessidades do presente, mas, tão ou mais importante, qualificando e redirecionando pessoas capazes de projetar futuros, de fazer a diferença, de trabalhar em contextos variados e em mudança, de criar valor, de criar emprego. Mas as universidades são, também, parte essencial da cadeia de inovação, atuando em diferentes fases desta cadeia. São os principais produtores do conhecimento através da investigação; transferem conhecimento e tecnologia; prestam serviços avançados; incubam empresas. E atuam ainda como verdadeiros agentes para o desenvolvimento regional, quer através de parcerias com autarquias, empresas e outras instituições, quer através de uma reflexão conjunta sobre a região, ou sobre um sector específico, assumindo-se como uma entidade implicada membro da região e não apenas como consultor ou mero prestador de serviços. O cumprimento da missão de cooperação com o meio envolvente, de apoio à inovação e à criação de riqueza pressupõe também, como estruturante, o ganhar hábitos de trabalho em conjunto. É crucial constituir, alargar, consolidar redes. As Universidades têm que ter cada vez mais incorporada na sua matriz identitária essa capacidade de trabalho com a região. As Universidades da região centro Aveiro, Beira Interior e Coimbra são disto um bom exemplo: na escolha de muitas das formações que ministram, no 2
estímulo à criação de empresas, na relação com outras instituições, nas associações que entre elas próprias estabeleceram, por exemplo para o fomento do empreendedorismo. Naturalmente, e posso aqui falar em nome dos meus colegas daquelas Universidades, queremos incrementar esta colaboração, designadamente através de co-promoção de projetos, do reforço da transferência de conhecimento e tecnologia e da multiplicação de outras iniciativas. Todavia, para cumprir esta missão ao nível que é exigido hoje em dia, face à competição nacional e internacional, é imprescindível que as instituições de ensino superior disponham dos melhores docentes-investigadores e de infra-estruturas e equipamentos que permitam fazer a diferença. Fazer a diferença conferindo vantagem competitiva, sendo únicos; fazer a diferença sendo reprodutivos, isto é, permitindo um efeito em cascata ao nível da qualidade da investigação produzida, incluindo investigação aplicada; as quais, por sua vez, reforçarão a capacidade de atrair os melhores e de captar novos projetos, investimentos e parcerias. Era, assim, urgente criar as condições para que as universidades dessem um salto, não só quantitativo mas, acima de tudo, qualitativo, neste domínio. E o Mais Centro, através das diferentes linhas de financiamento, veio abrir perdoem-me o lugar comum - uma janela de oportunidade que não existia, certamente, desde o Programa Ciência, que já tem bem mais de 20 anos. É, aliás, de sublinhar, esta característica do Mais Centro: o de ser um programa abrangente, compreendendo um conjunto coerente de intervenções; 3
as quais permitem desenvolver novos saberes e potenciar a sua utilização e difusão. O apoio a novas linhas de investigação, por exemplo, dinamiza o emprego científico e reforça a capacidade já existente, através da atração de investigadores de elevada qualidade. Este é um domínio em que Portugal apresenta notáveis indicadores (nomeadamente em volume de produção científica e no seu impacto, no número de investigadores entre os trabalhadores ativos, na criação de patentes); mas que requer uma atenção continuada. As pessoas mais qualificadas têm hoje uma valia tal e uma mobilidade acrescida que torna muito exigente mantê-las numa região com estas características. O que não deixa, contudo, de ser possível, como temos vindo a demonstrar ao longo do tempo. E faz-se não só, ou não principalmente, através de remunerações; faz-se muito através de condições, em termos de equipas e de equipamentos, para desenvolver investigação ao mais alto nível. Este é um tempo em que tudo isto tem ainda mais sentido. Esta ligação permite-me enfatizar o apoio às infraestruturas científicas e tecnológicas proporcionado pelo Mais Centro. Permitam-me que particulariza aqui um pouco da realidade que mais conheço: a da Universidade de Aveiro. A nossa atividade em Ciência e Tecnologia, desde logo na área da electrónica e telecomunicações, dos materiais, e em muitas outras, é comparável ao que de melhor se faz no mundo, como tem sido comprovado nas avaliações internacionais das unidades de investigação e noutros indicadores. Mas tal requer, como referi a par do elemento 4
humano equipamentos de ponta e condições físicas para os acolher e utilizar. A intervenção do Programa Mais Centro permitiu ganhar novos espaços de investigação, requalificar e reorganizar outros tantos, evitar, aqui e ali, a obsolescência de máquinas e métodos, e, principalmente, dotar-nos de equipamentos de patamar superior. As parcerias para a regeneração urbana e as redes urbanas para a competitividade e a inovação são outras apostas estratégicas do Mais Centro, investindo na qualificação do território urbano e nas dinâmicas de desenvolvimento, portanto na melhoria da qualidade de vida da generalidade da população. As universidades associaram-se, também, a estas preocupações. A divulgação científica, outra das áreas intervencionadas pelo programa merece, ela própria, um justo destaque. É, sem dúvida, uma das ações com maior potencial multiplicador, estimulando a curiosidade pela ciência, pela descoberta, pelo que é novo nos mais variados domínios do saber. Elemento que reforçará a própria capacidade de compreender o mundo em que vivemos, e a convicção em adquirir mais e melhor formação, contribuindo assim para uma população mais qualificada e mais interventiva e para a, permanentemente essencial, renovação dos cientistas e dos empreendedores de base tecnológica. Gostaria de realçar o incentivo conferido pelo Mais Centro à criação de parques de ciência e tecnologia: eles traduzem uma visão de futuro, partilhada pelo financiador, por autarquias, por empresas e 5
pelas universidades. Esta visão, que queremos construir em conjunto, é a de uma sociedade com uma maior proximidade, poderia dizer cumplicidade, entre estes parceiros, com missões distintas mas de uma grande complementaridade intrínseca, pretendendo alcançar um bem comum: o de contribuir para afirmar a região centro como uma das mais inovadoras e competitivas. Materiais, Energia, Telecomunicações, Informática, Mar, Saúde, são áreas estratégicas para a região e para o país, fundamentais para o bem-estar das pessoas e para o dinamismo da economia; e são áreas em que as universidades alcançaram um elevadíssimo nível de qualidade. São, portanto elementos centrais para a afirmação destes Parques. É o caso, por exemplo, do INOVIDA, na Beira Interior, que contempla a criação da UBIMEDICAL, uma estrutura com a missão de criar um conjunto de serviços partilhados, orientados quer para a melhoria da qualidade de vida das populações, quer para a promoção e criação de empresas no sector da saúde, quer, ainda, para transferência de tecnologia para o mercado (fornecedores, clientes e prestadores de serviços). E terá uma influência directa na geração de emprego qualificado, uma vez que é seu objectivo o acréscimo da formação de estudantes e profissionais, os quais possibilitem o progresso da excelência técnica, assistencial e investigadora na área da saúde pública. Mas estes Parques representam, pelo seu conceito, um dos grandes desafios colocados às próprias regiões e aos seus elementos: a de contribuir para definir qual o papel que compete a cada um. Quais as relações entre os diferentes integrantes da parceria? Como tirar partido da atividade das universidades? Como 6
participar no desenvolvimento estratégico das próprias universidades? Estes desenvolvimentos são de grande importância para a própria atratividade destas três universidades; atratividade que é fundamental numa perspetiva de longo prazo e de sustentabilidade; à semelhança do mote usado pela European University Association, já mencionada, numa das suas convenções strong Universities for a strong Europe pretendemos Universidades mais fortes para uma região centro e para um país mais fortes. São uma das componentes de crescimento da própria região e da sua afirmação no todo nacional; aspeto de que julgamos ser justo salientar a CCDRC vem tendo o melhor entendimento estratégico. Toda esta abordagem estimula colaborações de geometria flexível, as mais adequadas para uma resposta mais eficaz, envolvendo diferentes atores, com objetivos distintos e estratégias próprias. É especialmente importante o funcionamento em rede, e repito-me, em complementaridade, envolvendo a partilha racional de recursos. Apraz-me, aqui, registar que a própria Comissão Diretiva do programa Mais Centro se assumiu muito como parceiro, colaborador, facilitador e não apenas como financiador ou gestor dos financiamentos. Aproveito pois para testemunhar o meu apreço pela abertura, sempre manifestada por todas as pessoas que compõe esta estrutura, e em particular pela sua direção, para um diálogo intenso e profícuo, na busca comum das melhores soluções. 7
Este processo, complexo e inovador, não é isento de problemas, mas o balanço global é francamente positivo. O aspeto de que também nos aprendemos a conhecer melhor e a entrecruzar os nossos caminhos não é, nesse balanço, menor. Havendo espaço para a melhoria, julgo que poderemos assim contar uns com os outros para o ocupar, nomeadamente ao nível da agilização dos processos formais inerentes a este tipo de programas e financiamentos. Não gostaria de terminar sem um olhar adicional para o futuro: estamos conscientes de nos situarmos numa fase muito inicial de um processo que se estende no tempo. Ainda no seio deste quadro de apoio, e atenta a conjuntura que atravessamos, é imperioso proceder a uma alocação seletiva dos recursos financeiros disponíveis; a redução das contrapartidas nacionais requeridas permitiria, sem dúvida, contribuir para maximizar o proveito associado a estes investimentos estratégicos. De igual modo é vital a preparação dos programas que se avizinham, num novo quadro: a estratégia Horizon 2020 que elenca como prioridade um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo. Para esse desígnio é preciso manter o nível de mobilização já alcançado, tirar partido da experiência adquirida e contribuir para um desenho adequado de novos programas. Um exemplo bem sucedido, como é reconhecido, foi o trabalho conjunto entre a Universidade de Aveiro e as autarquias locais, digo CIRA, no âmbito do Programa Territorial de Desenvolvimento, em que o nosso contributo foi o de um par, com perspetiva própria e diferente. O 8
confronto de perspetivas encerra, inevitavelmente, momentos de tensão e dificuldades, logo superados pelo sentido de interesse comum e pela empatia criada, permitindo alcançar melhores resultados. A concretização dos investimentos já programados e em execução é, como referi, o ponto de partida. Cabe a cada um de nós garantir que eles vão contribuir para qualificar, de modo sustentado e coeso, a Região Centro. 9