EDUCAÇÃO EM OUTROS ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM: ENTRELAÇANDO SABERES



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Transcrição:

EDUCAÇÃO EM OUTROS ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM: ENTRELAÇANDO SABERES Ana Margarete Gomes da Silva Profª. Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia UNEB Campus XI. anamag_@hotmail.com 1 INTRODUÇÃO O avanço tecnológico oriundo das Revoluções Industriais tem provocado mudanças paradigmáticas na sociedade contemporânea, redimensionando os conceitos de tempo e espaço, através da fluidez do capital e da informação. Uma das expressões desse fenômeno se refletiu no ambiente escolar, particularmente no Brasil e em toda a América Latina. No caso do Brasil, quando sua industrialização começou a se consolidar a partir do pós-guerra, as reformas educacionais passaram a ser referendadas para atender as demandas do capital, impostas pelos países hegemônicos. Não tendo sido fruto de evolução científica endógena, a tecnologia que viabilizara o avanço econômico do país era produzida no exterior e não poderia ser reproduzida internamente, salvo num esforço de redirecionamento da nossa produção cultural, numa espécie de revolução científica e educacional. O processo de industrialização brasileiro foi se consubstanciando gradualmente numa acomodação ao novo papel que a reorganização da economia mundial impunha à economia nacional. O sistema de educação é a principal instituição pública organizada para transformar os jovens em trabalhadores adultos e é exatamente por isso que as escolas estão submetidas a forças conflitantes quanto a seus objetivos e papel. A educação pública reproduz as relações hierárquicas desiguais da família nuclear e do local de trabalho e paradoxalmente oferece oportunidades de mobilidade social e teoricamente de expansão dos direitos democráticos, atuando assim no contexto do conflito social. A escola é uma instituição histórica, não existe desde sempre nem nada garante a sua perenide; foi e é funcional, mas o que é realmente imprescindível é a educação. O estudo dos processos educativos verificados fora da escola pode contribuir para a sua melhoria. O processo educativo global do indivíduo e os efeitos produzidos pela escola não podem ser entendidos independentemente dos fatores e intervenções educacionais não escolares, haja vista que ambos interferem continuamente na ação escolar às vezes para reforçá-las, como também para contradizê-la. 1

O presente artigo pretende refletir sobre a importância da educação não formal para a formação sócio-política dos sujeitos expropriados da escola formal por não se reconhecerem nesses espaços. Apriori abordaremos os conceitos de educação formal, informal e não formal. A educação formal pode ser resumida como aquela que está presente no ensino escolar institucionalizado, cronologicamente gradual e hierarquicamente estruturado, e a informal como aquela na qual qualquer pessoa adquire e acumula conhecimentos, através de experiência diária em casa, no trabalho e no lazer. A educação não-formal, porém, define-se como qualquer tentativa educacional organizada e sistemática que, normalmente, se realiza fora dos quadros do sistema formal de ensino. Os dois últimos, como outros ambientes educacionais, que não devem ser vistos necessariamente como opostos ou alternativos à escola, mas como funcionalmente complementares a ela. Em seguida, contextualizaremos o surgimento dessas propostas pedagógicas, atrelando-as às demandas econômicas, sociais e tecnológicas, que por um lado, gera necessidades educacionais e, por outro, suscita inéditas possibilidades pedagógicas não escolares que buscam satisfazer essas necessidades, a exemplo do crescente aumento da demanda de educação em face da incorporação de setores sociais historicamente excluídos dos sistemas educacionais oficiais, bem como as transformações no mundo do trabalho que exige uma mão de obra especializada versátil e criativa. 2 COMPREENDENDO O DIÁLOGO ENTRE A EDUCAÇÃO INFORMAL, FORMAL E NÃO FORMAL O vertiginoso avanço tecnológico vivido nas últimas décadas tem redimensionado os referenciais que as pessoas possuem das dimensões tempo e espaço. A tecnologia fez redimensionar os conceitos de tempo, espaço e velocidade, de tal forma que as informações passam a circular no tempo e no espaço com grande mobilidade. O espaço geográfico, a partir das Revoluções Industriais, tem cada vez mais se transformado em meio técnico-científico-informacional, o capital cada vez mais volátil, cria a necessidade de implantação de reformas educacionais, que passam a ser referendadas para atender as demandas do capital, impostas pelos países hegemônicos. 2

O sistema de educação é a principal instituição pública organizada para transformar os jovens em trabalhadores adultos e é exatamente por isso que as escolas estão submetidas a forças conflitantes quanto a seus objetivos e papel. A educação pública reproduz as relações hierárquicas desiguais da família nuclear e do local de trabalho e paradoxalmente oferece oportunidades de mobilidade social e teoricamente de expansão dos direitos democráticos, atuando assim no contexto dos conflitos sociais. Desde o século XVIII que o enciclopedista Montesquieu (1951), reconheceu a existência de três tipos de educação distintos: a de nossos pais, a de nossos mestres e a do mundo. Fazendo alusão aos nossos dias, segundo Montesquieu, a primeira, trata-se da educação informal, aquela que nos é dada através da família e antecede a própria escola formal, através dos veículos de comunicação dos mais diversos, etc. Ainda fazendo uma transposição para os dias de hoje, poderíamos entender, que a educação de mundo, seria a educação não formal, que é um tipo de educação, que não é calcada na influência da família, ou seja, não se origina dela, nem tão pouco de sua influência com outras escalas geográficas e, sobretudo, da escola formal institucionalizada. A educação não escolar sempre existiu, porém, a partir da revolução Industrial e conseqüentemente do surgimento da escola institucionalizada, a mesma se constituiu como referência pedagógica e a única que poderia promover formação e mobilidade social. O acesso de todos e todas á escola, bem como sua permanência, e, sobretudo a qualidade do ensino, se tornaram o objetivo primordial de todas as políticas pública deste campo de atuação nos séculos XIX e XX. Para tanto, a educação não formal, dentro desse contexto foi praticamente negada, através da supervalorização da escola formal; o que entendemos ter sido um equivoco, haja vista, que o processo global do indivíduo(educação informal), bem como o conhecimento mediado pela escola formal, não podem ser entendidos isoladamente dos fatores e intervenções de outros de espaços de aprendizagem, que não seja a escola formal., uma vez que ambos se relacionam e interferem sobremaneira na ação escolar, tanto para reforça-la, quanto para negá-la ou contradizê-la. Conforme escreveu J.Dewey (1918, p.10, apud Trilla). Costumamos superestimar o valor da instrução escolar diante da que recebemos o curso ordinário da vida. Contudo, não devemos corrigir esse exagero menosprezando a instrução escolar, e sim examinando aquela educação ampla e 3

mais eficiente propiciada pelo curso ordinário da vida, para iluminar os melhores procedimentos de ensino dentro dos muros da escola. Diante do exposto, entendemos que a educação não formal não surgiu para contrapor ou negar a escola formal, nem tampouco surgiu de forma espontânea ou ingênua, a mesma surgiu através das lutas sociais, decorrida de demandas econômicos e tecnológicos, que geram novas necessidades educacionais e que ao mesmo tempo abrem novas necessidades pedagógicas em outros espaços de formação, fora do âmbito da escola formal que buscam satisfazer as necessidades daqueles sujeitos excluídos da escola formalizada por não se reconhecer na mesma. É notório o crescimento da demanda educação através da inserção de setores sociais tradicionalmente excluídos dos sistemas educacionais convencionais, impostas pela transformação no mundo do trabalho que obrigam operacionalizar novas formas de capacitação profissional; bem como a ampliação do tempo livre, através das conquistas trabalhistas dos operários, refletindo na diminuição da jornada de trabalho e a necessidade premente da criação de novos espaços educativos que complemente a necessidades dos sujeitos que se encontram fora da escola formal numa sociedade cada vez mais urbana carecendo assim novas instituições e meios educacionais capazes de assumir determinadas funções, que outrora eram assumidas pela família através da informalidade. Já a educação formal é muito recente na história humana, do ponto de vista formal mesmo. Segundo Trilla (2008 p. 32), O caráter formal da educação decorre essencialmente de um conjunto de mecanismos de certificação que formaliza a seleção (e a exclusão) de pessoas diante de um mercado de profissões estabelecido, que só começou a se configurar há cerca de 250 anos. Diante do exposto, fica evidenciada a origem da escola, atrelada as demandas do capital. O sistema de educação é a principal instituição pública organizada para transformar os jovens em trabalhadores adultos, mas as escolas estão submetidas a forças conflitantes quanto a suas metas e atuação. A educação pública reproduz as relações hierárquicas desiguais da família nuclear e do local de trabalho e ainda oferece oportunidades de mobilidade social e de expansão dos direitos democráticos. 4

Segundo Carnoy (1993), a escola, como todas as instituições da sociedade capitalista, atua no contexto no conflito social. A escola é moldada pela natureza desse conflito e o que a escola faz ajuda a moldar o conflito. Para tanto, enquanto as escolas reproduzem as relações capitalistas de classe, dentro desse mesmo processo reprodutivo surgem oposições ao desenvolvimento capitalista. Na medida em que o Estado ajuda os patrões a aumentar seus lucros, precisa legitimar-se oferecendo benefícios à classe trabalhadora. O mesmo, no dizer do mencionado autor, dissemina uma ideologia contraditória que procura desenvolver, ao mesmo tempo, a fé no capitalismo e na democracia. A educação pública é tanto um subsídio aos empregadores, quanto um modo dos trabalhadores obterem mobilidade social; treina os jovens para serem bons trabalhadores e bons democratas, reproduzindo uma força de trabalho estruturada por classes, que se ajuste a uma divisão do trabalho historicamente definida, mas ao mesmo tempo inculcando as aspirações relativas à natureza do trabalho numa sociedade democrática. Diante do exposto, compreendemos que a educação não formal representa uma outra perspectiva de ensino, que rompe com o modelo hegemônico que fundamenta os princípios estruturantes da educação formal presente no tipo de escola que está posta. 3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ATRELADA ÀS DEMANDAS ECONÔMICAS Até a década de 80 no Brasil, a educação não- formal não era muito disseminada. Todas as atenções eram voltadas para a educação formal, desenvolvidas nos aparelhos escolares institucionalizados. Nesse contexto, quando se falava em educação não-formal era como extensão da escola formal, desenvolvida em espaços exteriores às unidades escolares. Somente nos anos 70, Coombs e Ahmed definiram-na como uma atividade educacional organizada e sistemática, levada a efeito fora do marco de referência do sistema formal, visando propiciar tipos selecionados de aprendizagem a subgrupos particulares da população, sejam estes adultos ou crianças (COOMBS E AHMED 1975, p. 170) na maioria das vezes, segundo o mesmo autor, tratavam-se de programas ou campanhas de alfabetização de adultos cujos objetivos transcendiam a mera compreensão da leitura e escrita e se inscreviam 5

no universo da participação sociopolítica das camadas populares, objetivando integrá-las no contexto urbano industrial. Porém, o grande destaque da educação não-formal, foi a partir dos anos 90, decorrente das mudanças econômicas e tecnológicas, na sociedade e conseqüentemente no mundo do trabalho. Passou-se a valorizar os processos de aprendizagens em grupos e dar grande destaque aos valores culturais que articulam as ações dos indivíduos, bem como se passou a falar de uma nova cultura organizacional que exigisse a aprendizagem de habilidades extra-escolares. Um dos supostos básicos da educação não formal é o de que a aprendizagem se dá por meio da prática social. É a experiência das pessoas em trabalhos coletivos que gera um aprendizado. As ações interativas entre os indivíduos são fundamentais para a aquisição de novos saberes, e essas ações ocorrem essencialmente no campo da comunicação oral, carregadas todo um conjunto de representações e tradições culturais que as expressões orais contêm. Vale ressaltar que a educação não-formal tem sempre um caráter coletivo, passa por um processo de ação grupal, é vivida como práxis completa de um grupo, ainda que o resultado seja absolvido e refletido individualmente. Os conteúdos tendem, segundo Trilla (1985, p.27), ao contrário do sistema formal, a ser selecionados e adaptados considerando necessidades autóctones e imediatas das áreas de atuação. Seriam, assim, mais contextualizados, funcionais, de caráter menos abstrato e intelectualista Segundo Petrus (2003) ao dizer que a educação não é um problema a ser tratado apenas por pedagogos, uma vez que se torna cada vez mais evidente que tratar desses problemas é referir-se à política, à saúde, ao ócio. Á economia, ao trabalho, à produção, à socialização. Mas é um engano pensar que o erro estaria em dar uma solução exclusivamente pedagógica a um problema cuja essência é político-social (PETRUS, 2003, p.53). O mesmo autor vai mais além afirmando que: (...) A educação é global, é social e acontece ao longo de toda a vida. Se o objetivo da educação é capacitar para viver em sociedade e se comunicar, é preciso admitir que, em algumas ocasiões, a escola adota certa atitude de reserva frente aos conflitos e problema sociais dos alunos. (PETRUS, 2003, p. 60) Diante deste quadro, o espaço da escola, ou seja, aquele espaço tradicional e oficial de ensino vem sendo alvo de inúmeros questionamentos e reflexões a respeito do seu histórico 6

papel de centralidade na promoção da educação para a sociedade. Atualmente a própria concepção de educação está sendo ampliada no sentido do reconhecimento da importância dos espaços não-formais na promoção do letramento cultural e científico da sociedade. Podemos considerar que a educação escolar, formal, oficialmente legitimada como possibilidade de acesso ao conhecimento estruturado ao longo da história, deve ser abordada enquanto uma das formas de educação, havendo assim, outras formas caracterizadas conforme o grau de sistematização e os métodos desenvolvidos para a construção de saberes. Observamos que em alguns casos a educação não-formal pode buscar suprir déficits educacionais deixados pela escola em contextos sociais em que esta não conseguiu abarcar as necessidades de seu público, ou até mesmo onde não conseguiu se fixar. Entretanto, esse repasse é desenvolvido em espaços alternativos e com metodologias e seqüências cronológicas diferenciadas, com conteúdos curriculares flexíveis, adaptados segundo a realidade do grupo social a ser atendido. Em outros, a aprendizagem se dá por meio da prática social. Segundo Gohn, é a experiência das pessoas em trabalhos coletivos que gera aprendizado, nas palavras da autora: A produção de conhecimento não pela absorção de conteúdos previamente sistematizados, objetivando serem apreendidos, mas o conhecimento é gerado por meio da vivência de certas situações-problemas. As ações interativas entre os indivíduos são fundamentalmente para a aquisição de novos saberes e essas ações ocorrem fundamentalmente no plano da comunicação verbal, oral, carregadas de todo conjunto de representações e tradições culturais que as expressões orais contêm. (GONH, 1997 p.102). Para Gohn a importância que a educação não-formal tem adquirido nos últimos anos deve-se não apenas à aquisição pura e simples de conhecimentos, de forma mais prática e, muitas vezes mais eficiente, que os conhecimentos adquiridos por meio da educação formal, atualmente em crise. No entanto, caso se tome como referência apenas esse aspecto corre-se o risco fazer uma análise reducionista e utilitarista. Para a autora: A maior importância da educação não-formal está na possibilidade de criação de conhecimentos novos. O agir comunicativo dos indivíduos voltado ao entendimento dos fatos e fenômenos sociais do cotidiano, baseia-se em convicções prático-morais, elaboradas a partir das experiências anteriores, segundo as tradições culturais e as condições histórico-sociais de um certo tempo e lugar. O conjunto desses elementos fornece o amálgama para a geração de soluções novas, construídas face aos problemas que o dia-a-dia coloca nas ações dos homens e mulheres. (GONH, 1997 p.04). 7

Portanto, a reflexão da autora permite compreender que ao se estudar a educação não-formal desenvolvida junto aos grupos sociais organizados, devemos atentar para as questões das metodologias e modos de funcionamento por serem aquelas um dos aspectos mais relevantes do processo de aprendizagem, além da importância de se buscar captar os conteúdos motivacionais e ideológicos presentes nas relações desses grupos com o próprio processo de ensino/aprendizagem. Assim, pretendemos desvendar e trazer à tona os elementos que possibilitam fazer uma leitura dessas práticas sob o ponto de vista das práticas educacionais que não se estabelecem como sinônimos de transmissão de conhecimento ou como transmissão de pacotes curriculares formais, mas que podem ser criadores de concepções de mundo a partir do vivido em atos e reflexões atingidos dentro de determinados espaços e tempos marcados pela sociabilidade, enquanto interações humanas planejadas e ocorrendo de modos específicos, por isso não-formais. 4 REFERÊNCIAS CARNOY, Martin. Escola e Trabalho no Estado Capitalista. (2ª ed.) São Paulo: Cortez,1993. COOMBS, P. H. Como Planificar La Educación No Formal. Buenos Aires: Guadalupe, 1976. GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2008. GOHN, Maria da Glória. Educação Não-Formal no Brasil: anos 90. Cidadania/Textos n.10.p. 1-138, novembro, 1997. PETRUS, A. Novos âmbitos em educação social. In: ROMANS, M,; PETRUS, A.; TRILLA, J. Profissão: educador social. Porto alegre: Artemed, 2003. 8

TRILLA, Jaume. Educação formal e não-formal: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2008. XAVIER, Maria Elizabete Sampaio Prado. Capitalismo escola no Brasil: a constituição do liberalismo em ideologia educacional e as reformas do ensino. Campinas, SP: Papirus, 1990. 9