saúde 42% Dizem que a saúde não tem preço e só para ricos O nosso estudo Rendimento mensal

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Rendimento mensal NÃO CHEGA PARA DESPESAS Em Portugal, 40% dos agregados vivem com menos de 1000 euros líquidos por mês. saúde só para ricos Em 2014, metade das famílias não conseguiu pagar tratamentos necessários do ponto de vista médico. Perante as dificuldades, houve quem pedisse empréstimos e deixasse de comprar bens essenciais Dizem que a saúde não tem preço e que é a prioridade das prioridades. É certo, mas tem custos, e custos que muitas famílias portuguesas não conseguem suportar. Vejamos. No ano passado, por falta de dinheiro, 50% dos portugueses falharam cuidados de saúde considerados essenciais do ponto de vista médico. E ninguém escapou às dificuldades: um terço eram crianças, que ficaram sem tratamentos, consultas ou medicamentos aconselhados pelo médico. Segundo o nosso estudo sobre o impacto dos custos não reembolsáveis na carteira das famílias, os tratamentos dentários e oftalmológicos, as consultas e os medicamentos estão no topo dos gastos que, em 2014, foram sendo adiados ou postos de lado. Também as urgências tiveram de deixar de sê-lo quando não havia como pagá-las: 10% dos portugueses, incluindo crianças, não foram ao serviço de urgência por falta de dinheiro. Pedimos a Pedro Pita Barros para comentar os resultados do nosso estudo. O professor e investigador na área da economia da saúde considera que o recurso a pagamentos diretos [no âmbito do Serviço Nacional de Saúde] pretende limitar uma utilização excessiva em caso de gratuitidade absoluta. Ainda que justificável, o princípio não pode servir para vedar o acesso dos portugueses à saúde. Dirão os defensores das taxas moderadoras que os mais carenciados estão isentos. Mas estes copagamentos disfarçados são penalizadores para a maioria dos portugueses, que viram os seus rendimentos diminuir drasticamente nos últimos anos. Para conhecer o impacto dos custos não reembolsáveis, ou seja, daquelas despesas que saem do bolso do paciente, entre janeiro e fevereiro de 2015, enviámos > O nosso estudo Ouvimos 1763 famílias Entre janeiro e fevereiro de 2015, enviámos um questionário a uma amostra da população dos 25 aos 74 anos, proporcional à residente em Portugal Continental quanto a sexo, idade e regiões. Os dados recolhidos foram ponderados de forma a manter a proporcionalidade para estas variáveis e para o nível educacional. Estudámos o impacto dos gastos com cuidados de saúde essenciais. Recebemos respostas válidas relativas à experiência de 1763 famílias. Os resultados espelham as opiniões dos inquiridos. Os valores indicados referem- -se a despesas não reembolsáveis e não incluem prémios de seguros. 42% 12 testesaúde 118

35 milhões de dias de trabalho perdidos DEVIDO A PROBLEMAS DE SAÚDE, MUITOS DOS QUAIS PAGOS PELA SEGURANÇA SOCIAL 1480 por família Tratamentos que ficam por fazer EM DESPESAS DE SAÚDE NÃO REEMBOLSADAS (1824 EUROS, QUANDO TÊM DOENTES CRÓNICOS) 50% dos inquiridos DEIXAM DE FAZER TRATAMENTOS POR FALTA DE DINHEIRO 28% 15% 10% 9% 8% 7% 6% 6% Outras consultas Medicamentos Reabilitação física Cuidados auditivos Ortopedia Psiquiatria e psicologia Doenças crónicas 118 testesaúde 13

Esticar o orçamento Em 2014, as famílias deixaram de poder pagar contas da eletricidade e comprar comida com regularidade ou abdicaram do conforto do lar devido a encargos com a saúde. 413 65% Medicamentos Quantos agregados gastaram em saúde e que montante? Empréstimos para cuidados de saúde 1398 564 64% 1065 Cirurgia geral 196 51% Outras consultas 435 47% 450 23% Tratamento de doenças crónicas 568 528 512 Ortopedia Reabilitação física A que renunciaram as famílias? Roupa 32% Lazer e hobbies (restaurantes, eventos culturais, etc.) 31% Viagens e férias 29% Obras e reparações necessárias em casa 27% Compra ou reparação de grandes eletrodomésticos 22% Climatização da casa 21% Comida 19% Transporte próprio (carro ou mota) 19% Atividades educacionais (escola, universidade dos filhos, etc.) 12% Manuel Vilas Boas Porta-voz do Movimento dos Utentes dos Serviços de Saúde Apesar do aumento da percentagem de utentes isentos de taxas moderadoras, os custos subiram, devido a uma distribuição desigual de profissionais de saúde pelo território, à diminuição de consultas nos cuidados de saúde primários, ao encerramento de unidades e extensões, à diminuição da oferta na rede de transportes e à eliminação da gratuitidade nos transportes de doentes não urgentes. > um questionário a uma amostra representativa da população entre os 25 e os 74 anos. Não foram considerados os pagamentos de prémios de seguros nem tratamentos de estética e beleza. Mas foram incluídas as cirurgias plásticas reconstrutivas prescritas pelo médico. Depois de ouvirmos 1763 famílias, concluímos que a dificuldade em pagar despesas de saúde afeta mais as que têm rendimentos mensais abaixo dos 1500 euros, os agregados numerosos ou monoparentais e os que incluem membros que sofrem de doença crónica. Saúde com impacto na família Ao todo, em 2014, as famílias gastaram uma média de 1480 euros em cuidados de saúde que nunca lhes serão reembolsados. O valor sobe para 1824 euros em agregados com doentes crónicos. A este gasto, junta-se o prémio do seguro de saúde, contratado por 20% dos inquiridos, que dizem pagá-lo do próprio bolso: em média, custa-lhes 506 euros anuais. Feitas as contas, as despesas anuais não reembolsáveis representam 19% do rendimento líquido disponível. No caso dos agregados com doentes crónicos, a proporção sobe para 25 por cento. Isto num país em que cerca de 40% das famílias vivem com menos de 1000 euros líquidos por mês. Tratamentos com empréstimo Quando todas as soluções caseiras se esgotam, há quem se endivide por causa da saúde: uma em cinco famílias já pediu dinheiro emprestado. A maior parte destes apelos é feito junto de um familiar (63% dos casos); seguem-se os amigos (16%) e o banco (9 por cento). As histórias das pessoas que a TESTE SAÚDE entrevistou comprovam os números. Se não fosse o apoio financeiro da minha mãe, estaria sem dentes, contou Isabel Sanches, de Sernancelhe. Esta mãe solteira, com 43 anos e uma filha de 8 anos, tem um problema dentário grave, ao qual o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não consegue dar resposta. Pedro Pita Barros reconhece que, para boca e dentes, o SNS tem estado 14 testesaúde 118

Peso das despesas tradicionalmente afastado. E, neste momento, o alargamento da cobertura do SNS será mais fácil de realizar com recurso a acordos com prestadores privados do que construindo de raiz essa oferta. O setor privado foi o que absorveu mais créditos. As razões, apontadas pela grande maioria dos inquiridos, eram claras: o serviço ou tratamento não estava disponível nas unidades de saúde públicas ou o tempo de espera era muito longo. O professor Pita Barros sugere que se analise a situação: Se o recurso à medicina privada se deveu à falta de solução no setor público, há que melhorar a resposta do setor público ou encontrar mecanismos de proteção para as fragilidades financeiras dos doentes. No entanto, se o recurso à medicina privada for uma opção havendo uma resposta pública, então, os custos devem ficar com os doentes. O argumento tem lógica, desde que a oferta do serviço público surja em tempo útil e não obrigue o utente a esperar meses pelo tratamento, agravando o seu problema de saúde. Entre a saúde e o supermercado Os inquiridos também reportaram problemas de saúde dos filhos menores, que necessitavam de cuidados médicos: em 15% das situações, eram muito sérios e, em 70%, importantes. O impacto no bem-estar dos mais pequenos quando adiam, atrasam ou falham tratamentos não se fica pelas consequências médicas. As atividades escolares, por exemplo, > O NOSSO SEGURO Negociámos com a MGEN um seguro de saúde para os nossos associados. São aceites consumidores de todas as idades, sem limites para a adesão ou permanência e sem excluir doenças diagnosticadas à data da subscrição. Não é preciso preencher questionários médicos nem fazer exames. www.deco.proteste.pt/seguro-saude Preço da saúde Portugueses equilibram as contas "O seguro pago pela empresa alivia" Cecília Rezende, Lisboa Aposentada há 20 anos, esta ex-professora universitária desconta cerca de 70 euros por mês para a ADSE. Só com a reforma, seria muito difícil pagar todas as despesas de saúde. Em 2014, teve de comprar a prestações um aparelho auditivo de 6400 euros, comparticipado em 1200 euros. Além da reduzida audição, tem problemas nas articulações, que a fazem recorrer às termas: são 500 euros por ano que saem do seu bolso, para não falar de medicamentos sem comparticipação, lentes e óculos e um problema gástrico que a obrigou a comprar uma cama articulada de 450 euros. Ao todo, no ano passado, cerca de um terço do rendimento foi para gastos de saúde não reembolsáveis. Raquel e André Monteiro, Carcavelos Casados há 16 anos, com seis filhos entre os 5 e os 15 anos e a caminho do sétimo, Raquel e André têm um seguro de saúde pago pela entidade patronal. Depois das comparticipações, temos de comprar medicamentos, pagar consultas e taxas moderadoras. Há sempre custos de oftalmologia, dentista, dermatologia, alergias e a mais pequena vai ter de ser operada aos ouvidos. Há muito que as viagens e os restaurantes saíram das suas rotinas e que a utilização do automóvel da família passou a ser mínima. O almoço também vai feito de casa, para cortar em faturas de restaurante. "Pago o aparelho auditivo a crédito" ORÇAMENTO FAMILIAR Despesas não reembolsadas representam 19% do rendimento líquido anual. 118 testesaúde 15

Seguro de saúde 506 EUROS POR ANO Preço médio pago pelos 20% de inquiridos com esta despesa a seu cargo. Um quinto dos inquiridos cortou em alimentos para pagar tratamentos de saúde CONSUMIDORES EXIGEM Saúde para todos > saem muito prejudicadas em 42% dos casos. As necessidades básicas das famílias também são afetadas. Um quinto dos agregados teve de cortar em bens alimentares e em climatização por causa dos gastos com a saúde. Um quarto viu-se obrigado a abdicar do conforto no lar e de obras ou mobiliário. O estilo de vida também não passou incólume. Em 2014, 29% dos inquiridos renunciaram a viagens e férias e 31% abdicaram com regularidade de atividades de lazer e culturais. Feitas as contas, mais de metade indicou que Mazelas na família Desistir, adiar ou não aceder a tratamentos e serviços de saúde essenciais traz consequências para o agregado familiar a vários níveis 33% Adultos Saúde 25% 26% Ambiente familiar 19% 32% 34% Vida profissional/escolar 42% Vida social 32% Crianças os gastos com a saúde tiveram grande impacto no quotidiano. Mas há grupos ainda mais vulneráveis. É o caso dos agregados com rendimento mensal até 1500 euros, das famílias com membros portadores de uma doença crónica e das famílias numerosas ou monoparentais. Refletem bem estas conclusões os desafios que Sara Cabral, divorciada de 39 anos, residente em Lisboa, tem de enfrentar. Doente de lúpus e com uma filha de 8 anos a seu cargo, é obrigada a pagar as faturas do dermatologista, dentista e outros cuidados necessários à sua condição de saúde, que provoca problemas de pele, dentários e queda de cabelo. 35 milhões de dias perdidos O impacto no trabalho é inevitável. No último ano, cerca de um terço dos inquiridos faltou ao emprego, em média, 20 dias por causa de problemas de saúde. Extrapolando os números para a população geral ativa, representa qualquer coisa como 35 milhões de dias de trabalho perdidos. O nosso estudo prova que o absentismo é muito superior entre os que não conseguem suportar as despesas de saúde, pois, em termos médicos, veem atrasada a sua recuperação. A conclusão parece óbvia, mas esconde uma realidade intrigante: aquilo que o Estado poupa em serviços de saúde acaba por pagar depois em subsídios de doença através da Segurança Social, com prejuízo para a produtividade e economia do País. É urgente repensar o sistema, para garantir que a saúde é para quem precisa e não só para quem a pode pagar. Olhos e dentes por tratar A crise afeta os portugueses em várias frentes. Este ano, publicámos estudos sobre o impacto no meio laboral e na gestão do orçamento familiar. Agora, chegámos à conclusão de que, em 2014, muitos portugueses, incluindo crianças, ficaram sem cuidados de saúde, por não poderem pagá-los. As especialidades de estomatologia e de oftalmologia falham no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, no setor privado, envolvem custos elevados. Mas, se as falhas são mais visíveis nestas áreas, não lhes são exclusivas. O Estado tem a obrigação de cumprir a lei, que o responsabiliza por satisfazer as necessidades dos utentes nos tempos máximos de resposta garantidos, evitando sobrecarregá-los com custos que não deveriam suportar. Mesmo que possuam um seguro de saúde, muitas vezes, critérios abusivos de exclusão conduzem à desproteção. Risco de não prevenir O SNS alargou a isenção de taxas moderadoras a mais grupos de cidadãos, apregoado argumento de um acesso mais justo. Mas muitos portugueses em dificuldades continuam de fora. Esquecidos foram ainda os doentes crónicos, que só não pagam os atos relacionados com a sua doença. Além disso, é evidente o desinvestimento na prevenção, por via de uma diminuição da oferta nos cuidados de saúde primários, o que poderá levar a um aumento de custos associados aos tratamentos. Se não investirmos para prevenir, teremos de pagar talvez até mais para curar. 16 testesaúde 118