PROCESSO Nº : 8.523-5/2010 INTERESSADO : CÂMARA MUNICIPAL DE ARENÁPOLIS ASSUNTO : CONSULTA RELATOR : CONSELHEIRO HUMBERTO MELO BOSAIPO PARECER Nº : 062/2010 Exmo. Sr. Conselheiro: Pelos autos, o Sr. Leonido Ferreira da Cruz, Presidente da Câmara Municipal de Arenápolis-MT, aduz consulta que inquire: PROJETO DE LEI sugerindo a criação e implantação de loteria municipal (concurso de pronósticos) como fonte de receita municipal. Consulta: Este tipo de Projeto de Lei tem amparo legal? Foram anexados ao processo: Ofício datado de 28/04/2010, formalizando a consulta, às fls. 02 e 03-; projeto das loterias municipais em todo o Estado de Mato Grosso, de fls. 04 a 06-; minuta de projeto de lei para a criação da loteria municipal no Município de Cuiabá-MT de fls. 07 a 12-; 1. Requisitos de Admissibilidade. Ressalta-se que os questionamentos foram elaborados por pessoa legítima e sobre matéria de competência deste Tribunal, porém, sob forma de caso concreto, contrariandose o disposto no art. 232, II, do Regimento Interno deste Tribunal (Resolução n 14, de 2 de outubro de 2007), bem como, o disciplinado art. 48 da Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso (Lei Complementar nº 269, de 22 de janeiro de 2007). Todavia, considerando o parágrafo único do supracitado art. 48 que prevê ao E-MT a possibilidade de conhecimento de consulta que verse sobre a interpretação ou aplicação da legislação em caso concreto, quando constatar-se relevante interesse público,
desde que a resposta seja, sempre, em tese propõe-se responder o questionamento em tese, conforme segue. Ademais, faz-se necessário evidenciar que as decisões em consultas aprovadas por maioria dos votos pelo Tribunal Pleno adquirem força normativa e vinculante, quando publicadas no Diário Oficial do Estado (art. 50 da Lei Complementar nº 269/2007). 2. Mérito. A princípio, informa-se que o caso concreto apresentado fundamenta-se na dúvida do consulente sobre a legalidade da sugestão de criação e implantação de loterias municipais concursos de pronósticos em todo o Estado de Mato Grosso, com o objetivo de aumentar a receita municipal. Em consulta aos sites da Câmara Municipal de Cuiabá e da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, não foi constatado nenhum projeto de lei alusivo à criação e implantação de loterias municipais no Estado. Assim sendo, verifica-se, a seguir, o que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 prescreve sobre esse tema: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XX - sistemas de consórcios e sorteios; Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição; Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I. Nesse sentido, o Decreto nº 3.048, de 6/05/1999, que aprova o Regulamento da Previdência Social e dá outras providências, conceitua: Art. 212. [...] 1º Consideram-se concurso de prognósticos todo e qualquer concurso de sorteio de números ou quaisquer outros símbolos, loterias e apostas de qualquer natureza no âmbito federal, estadual, do Distrito Federal ou municipal, promovidos por órgãos do Poder Público ou por sociedades comerciais ou civis. Cumpre informar que este Tribunal de Contas não possui prejulgado sobre o assunto, contudo, em sintonia com as normas supracitadas, o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais apresenta em sua jurisprudência a seguinte decisão: CONSULTA Nº: 460.448 NÚMERO NOVO: 460448 DATA SESSÃO: 26/08/1998 [...] EMENTA: MUNICÍPIO. INSTITUIÇÃO DE CONCURSOS DE NÚMEROS DE PROGNÓSTICOS, VINCULADOS A REFORÇO DA RECEITA DESTINADA À PREVIDÊNCIA SOCIAL. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO. LEGISLAÇÃO: CF/88, ART. 22, XX; DL 204/67, ARTS. 1º, 32. [...] ASSUNTO:CONSULTA Nº 460448, FORMULADA PELA PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO DAS NEVES, ACERCA DA INSTITUIÇÃO DE CONCURSOS DE NÚMEROS DE PROGNÓSTICOS, DE NATUREZA LOTÉRICA OU BINGO, PELOS MUNICÍPIOS [...] No mérito, cumpre-me esclarecer que a Constituição Federal dispõe em seu art. 22 que compete privativamente à União legislar sobre: (...) "XX sistemas de consórcios e sorteios;" Ainda sob a égide da Constituição anterior, que dispunha no mesmo sentido, a União, através do Decreto-Lei nº 204, de 27.02.67, regulamentou a matéria, dispondo em seu art. 1º que "a exploração de loteria, como derrogação excepcional das normas do Direito Penal, constitui serviço público exclusivo da União, não suscetível de concessão e só será permitida nos termos do presente Decreto-Lei." Dispôs, ainda, o citado Decreto-Lei em seu art. 32 que seriam mantidas as loterias estaduais existentes na vigência do Decreto, não sendo mais permitida a criação de outras loterias estaduais.
Como o referido Diploma Legal continua em vigor, respondo ao consulente, que não têm os Municípios competência para instituir concursos de prognósticos, que constituem serviços públicos exclusivos da União. Nesse contexto, o Tribunal Regional Federal da Terceira Região deliberou: AGRAVO NA SUSPENSÃO DE SEGURANÇA N 1911/SP Reg. Nº 96.03.085681-9) Relator: Juiz OLIVEIRA LIMA EMENTA AGRAVO. SUSPENSÃO DE EXECUÇÃO DE LIMINAR. CONCURSOS DE PROGNÓSTICOS DE ÂMBITO MUNICIPAL. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO. INEXISTÊNCIA DE GRAVE LESÃO À ECONOMIA MUNICIPAL. I Descabe discutir no juízo de suspensão de segurança, quer o mérito do pedido, quer a juridicidade da liminar atacada, mas somente, a possibilidade de a decisão hostilizada ocasionar risco de grave lesão à ordem, à segurança e à economia públicas. II É da competência privativa da União legislar sobre sistemas de consórcios e sorteios (art. 22, XX, da Constituição Federal). III A exploração de loteria constitui um serviço da União, executado pelo Conselho Superior das Caixas Econômicas Federais, através da Loteria Federal, com colaboração das Caixas Econômicas Federais (Decreto n.º 204/67, Artigos 1 e 2). IV Não tem como prosperar a alegação de grave lesão à economia, não se constituindo os jogos de loteria fonte de renda das pessoas de direito público interno municipais. V Agravo improvido juízo: Em semelhança, o Tribunal Regional Federal da Quarta Região emitiu o seguinte Acórdão Classe: AG - AGRAVO DE INSTRUMENTO Processo: 96.04.08090-3 UF: RS Data da Decisão: 06/11/1997 Orgão Julgador: TERCEIRA TURMA Relator AMIR JOSÉ FINOCCHIARO SARTI Ementa: RASPADINHA. LEGALIDADE. EXPLORAÇÃO PELO MUNICÍPIO. INTERESSE PÚBLICO. SUSPENSÃO DE LIMINAR. As loterias municipais, aí compreendidos todos os concursos de prognósticos, sorteios, apostas, raspadinhas, etc, são ilegais, pois a exploração de loterias é serviço exclusivo da União e, excepcionalmente, dos Estados. Em caso de competência legislativa concorrente, a lei municipal cede à autoridade maior da lei federal. A competência municipal para cuidar da saúde não vai ao ponto de autorizar a prática de atividades ilegais.
O interesse público na saúde não é maior, num Estado de Direito, que o interesse público na preservação da ordem jurídica: a pretexto de promover a saúde pública não se pode cometer ilegalidades. Acórdão Classe: AMS - APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA Processo: 2001.04.01.065107-3 UF: PR Data da Decisão: 27/08/2002 Orgão Julgador: TERCEIRA TURMA Relatora MARGA INGE BARTH TESSLER Ementa: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. DESERÇÃO. INOCORRÊNCIA. MUNICÍPIO. LEGISLAÇÃO SOBRE CONCURSO DE PROGNÓSTICOS. COMPETÊNCIA. 1. O apelo não pode ser considerado deserto, em virtude da dispensa do 1º do art. 511 do CPC, redação dada pela Lei nº 9.756/98. 2. Mantida a sentença que julgou procedente o pedido e concedeu a segurança para impedir a prática de atos com base em legislação municipal sobre concursos de prognósticos, pois a competência para legislar sobre a matéria é exclusiva da União, nos moldes do art. 22, XX, da Constituição. 3. Os recursos a serem captados pela Previdência Social são matéria de competência privativa da União, nos termos do art.. 195, 4º e art. 154, I, ambos da Constituição. 4. Apelação e remessa oficial improvidas. Por fim, após reiteradas decisões sobre a matéria em pauta, o Supremo Tribunal Federal aprovou súmula com efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal (art. 103-A da Constituição Federal), como segue: Súmula Vinculante 2 É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias. Data de Aprovação Sessão Plenária de 30/05/2007 Dessa maneira, em resposta ao consulente, infere-se que qualquer iniciativa dos entes municipais de legislar sobre concursos de prognósticos sorteios de números ou quaisquer outros símbolos, loterias e apostas de qualquer natureza sofre de vício insanável de inconstitucionalidade, haja vista ser este um assunto de competência exclusiva da União. O fato do art. 195, III, da Constituição Federal, prever que os recursos para a Seguridade Social podem advir de contribuições sociais incidentes sobre receitas de concursos
de prognósticos não permite a interpretação de que os municípios estão autorizados a legislar sobre sistemas de sorteios ou concursos de prognósticos. Enfim, considerando-se não haver prejulgado sobre o tema neste Tribunal, ao julgar o presente processo e em comungando este Egrégio Tribunal Pleno deste entendimento, sugere-se a seguinte ementa (art. 234, 1º, da Resolução n 14/2007): Resolução de Consulta nº. Receita. Arrecadação. Concurso de prognósticos. Competência exclusiva da União. Compete privativamente à União legislar sobre concursos de prognósticos (sorteios de números ou quaisquer outros símbolos, loterias e apostas de qualquer natureza), sendo vedado aos municípios legislar sobre esse tema. É o parecer que se submete à apreciação superior. Cuiabá-MT, 30 de maio de 2010. Renato Marçal de Mendonça Bruna Henriques de Jesus Zimmer Ronaldo Ribeiro de Oliveira Técnico Instrutivo e de Controle Consultora de Estudos e Normas Secretário-Chefe da Consultoria Técnica