2 anos. A razão principal é garantir o correto desenvolvimento da visão e formação de redes neuronais no córtex visual, explica.

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Transcrição:

Tablets e crianças Como lidar com essa novidade cada vez mais frequente nas mãos dos pequenos? As editoras Ática e Scipione prepararam este guia com recomendações de especialistas para pais e professores. A facilidade de interação e a variedade de aplicativos tornam os tablets extremamente atraentes para as crianças e os jovens. Sons, vídeos, animações e jogos despertam o interesse até mesmo dos bebês. Não é raro ver situações nas quais o aparelho vira brinquedo e até babá. O tablet é uma ferramenta capaz de revolucionar a aprendizagem, mas é preciso ter cuidado com o uso desses acessórios, principalmente no caso das crianças. A Sociedade Americana de Pediatria, por exemplo, recomenda que os pais evitem expor os filhos de menos de 2 anos de idade a aparelhos eletrônicos de forma geral, incluindo TVs, DVDs, smartphones e tablets. De acordo com relatórios da associação, há indícios de que o uso intensivo desses equipamentos pode prejudicar o desenvolvimento da coordenação motora e da fala, além de, em certos momentos, substituir brincadeiras e a interação com a família. A especialista em neurocognição Elvira Souza Lima não recomenda o uso de tablets e outros aparelhos eletrônicos por crianças menores de

2 anos. A razão principal é garantir o correto desenvolvimento da visão e formação de redes neuronais no córtex visual, explica. Andréa Jotta, psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia e Informática da PUC-SP (NPPI), aponta que, desde que começam a explorar o mundo pelo tato, por volta de 1,5 ano de idade, as crianças podem começar a demonstrar interesse pelo tablet. Ela defende que o uso saudável da tecnologia é aquele que não exclui outro tipo de atividade. Como essa é uma tecnologia recente, ainda há muito o que estudar sobre a relação entre as crianças e ela, como explica Rodrigo Nejm, psicólogo e diretor de Prevenção da SaferNet Brasil, organização sem fins lucrativos que se dedica à defesa dos direitos humanos na internet: Ainda sabemos pouco sobre os efeitos que a superestimulação provocada pelo contato com várias mídias pode causar a longo prazo. Um dos riscos é o salto de etapas no processo de desenvolvimento. Novos modelos de tablets e opções de aplicativos infantis são lançados o tempo todo, e pais e educadores ficam divididos entre o entusiasmo e a preocupação. Elvira Souza Lima, Andréa Jotta e Rodrigo Nejm respondem, a seguir, perguntas que podem ajudar pais e professores a encontrar a melhor forma de uso dos tablets na infância, a escolher aplicativos e a evitar riscos.

Escolha quais orientações deseja consultar: Guia para pais Guia para professores

Guia para pais

Desenvolvimento cognitivo A consultora em educação e especialista em neurociência Elvira Souza Lima explica: Estamos diante de uma nova realidade que coloca a necessidade de educar para o uso da tecnologia. Não somente disponibilizar o equipamento, mas também ensinar a criança a utilizá-lo. Há, com certeza, um grande potencial educativo ainda não explorado no uso das novas tecnologias. Existe uma idade correta para dar um tablet para a criança? Certamente, a idade considerada mais correta hoje é após a criança completar 2 anos, embora muitos estendam esse limite até os 3 anos. A partir do acervo de pesquisas sobre o desenvolvimento do cérebro da criança pequena e também da visão, pesquisadores, profissionais da saúde e especialistas em cérebro têm aconselhado com firmeza que as crianças não devem ser expostas à tela luminosa de qualquer aparelho tecnológico, inclusive a televisão, antes de completarem 2 anos. O risco é não desenvolver a visão, que acontece na espécie humana nos dois primeiros anos de vida. Perspectiva e profundidade, por exemplo, são dois componentes importantes da visão desenvolvidos nesse período.

Desenvolvimento cognitivo Existe alguma relação entre a faixa etária da criança e o tempo que ela pode brincar com o tablet? Sim, existe. Quanto mais nova a criança é, menos tempo ela deverá ficar envolvida com o tablet. As recomendações em geral indicam, para crianças de 4 a 6 anos, o limite de trinta a sessenta minutos diários, a aumentar progressivamente, cerca de 15 minutos por cada ano a mais. Pode-se, por exemplo, programar duas sessões diárias, com intervalo de algumas horas entre elas. É importante destacar que brincar com o tablet não substitui outras formas de brincadeira, principalmente as que envolvem movimento do corpo no espaço e as que envolvem movimento e música integradamente. A criança precisa desenvolver o movimento, a perícia de movimentos específicos, a colocação e o deslocamento do corpo no espaço, o ritmo do movimento, a circularidade. O uso do tablet desenvolve o movimento dos dedos e polegares, não de todo o corpo. A criança deve ter o próprio tablet ou é mais aconselhável ela brincar no dos pais? É mais interessante para a criança (e para os pais também) que ela compartilhe o tablet com os pais ou com irmãos. A socialização no uso de aparelhos tecnológicos na vida familiar promove comportamentos de partilha e de tolerância, que são valores importantes para o convívio social. Aparatos individuais podem contribuir para o não desenvolvimento da empatia, e há várias pesquisas que apontam isso. Que tipo de aplicativo devo baixar para o meu filho? Como saber se ele é mesmo educativo? Aplicativos educativos são aqueles que requerem que a criança use a imaginação. São aqueles que promovem algum tipo de relação entre as informações (escritas ou em imagem) apresentadas, que não exponham simplesmente a informação. A grande vantagem do tablet é a possibilidade de interação, portanto a qualidade da interatividade proposta é fundamental. Muitos aplicativos disponíveis apenas repetem o que as crianças já aprendem na vida cotidiana, pelo convívio em seu contexto social.

Desenvolvimento cognitivo Como fazer o meu filho se interessar por livros (ou pelos estudos) se ele só gosta de ficar no tablet? A criança forma comportamentos culturais, como usar o tablet, a partir dos comportamentos que presencia em seu entorno. Uma criança que não vê adultos lendo livros, ou comentando e fazendo perguntas, tem menos chance de se formar como leitor ou de ter interesse pelos estudos. O papel dos pais e dos professores é muito grande nesse aspecto. O importante é ter clareza que usar preferencialmente o tablet é resultante da educação que a criança está recebendo. A tecnologia está presente no meio, o uso que se faz dela vem da decisão que os adultos tomam em relação a ela.

Desenvolvimento cognitivo Que competências e habilidades o uso dessas tecnologias ajudam a desenvolver que um livro tradicional não desenvolve? A contraposição entre a tecnologia e o livro tradicional pode levar a equívocos. Não é o tablet ou o livro que levam ao desenvolvimento, é o conteúdo. Equipamentos eletrônicos e livros são suportes. Vejamos um exemplo: um livro com uma narrativa sem imagens, como um romance, é mais propício ao desenvolvimento da imaginação do que um livro repleto de ilustrações. O mesmo acontecerá com a leitura da mesma história em um livro eletrônico. A diferença estará na luminosidade da tela, que é um dado diferente para o cérebro em relação à leitura em papel. Outro exemplo: um tablet, dependendo do aplicativo e do uso pedagógico que dele se faz, permite estabelecer relações entre dados e informações de uma forma dinâmica. O grande avanço da tecnologia são as várias formas de fazer bancos de dados e procedimentos que ficam à disposição da criança para o exercício de seu pensamento. Porém, os processos do pensamento são realizados no cérebro, e os conceitos são efetivados e guardados na memória de longa duração de cada criança individualmente. O tablet é a única coisa que faz meu filho ficar quieto quando estou em algum lugar público ou em uma reunião com amigos e família. É errado eu colocar o tablet na mão dele para ter um pouco de sossego? O uso de aparatos tecnológicos não forma comportamentos de interação e convívio social. Tal atitude tem implicações no desenvolvimento infantil, e brincar com o tablet não substitui, no cérebro, a percepção do outro, a formação das regras de convívio social e a empatia. Ouvir a voz humana e aprender a ler as expressões faciais são habilidades básicas para a vida toda. É o que apontam as inúmeras pesquisas do cérebro sobre a formação do ser social. Elvira Souza Lima é pesquisadora em desenvolvimento humano, com formação em neurociências, psicologia, antropologia e música. Trabalha com pesquisa aplicada às áreas de educação, mídia e cultura. Entre suas obras, estão A criança pequena e suas linguagens, Quando a criança não aprende a ler e a escrever e Neurociência e escrita. Maiores informações em http://elvirasouzalima.blogspot.com.br/

Comportamento e tecnologia Para a psicóloga Andréa Jotta, do Núcleo de Pesquisas de Psicologia e Informática da PUC-SP (NPPI), a utilização dos tablets é, no geral, positiva e incentiva novas formas de aprender. Afinal, a tecnologia é uma demanda humana. Tablets, assim como computadores, celulares e videogames, atendem a essa demanda e têm uma peculiaridade da qual não devemos esquecer: podem ser desligados. A partir de que idade as crianças conseguem manusear um tablet? Com a tecnologia touch screen, a interação é intuitiva e fácil. Crianças que têm entre 1,5 e 2 anos, e já exploram o mundo pelo tato, podem mostrar interesse em interagir com o tablet para jogar, assistir a animações, ver e ouvir histórias. Os bebês têm curiosidade por vídeos e animações, mas naturalmente não têm controle dos comandos. O tablet pode ser considerado um brinquedo? Do ponto de vista das crianças, sim, principalmente quando encontram um conteúdo divertido, produzido para elas. Ao mesmo tempo, é um acessório do mundo dos adultos e, da mesma forma como brincam de telefonar, imitando os adultos, as crianças interagem com o tablet. É preciso compreender esse ponto de vista infantil e lembrar que as crianças menores não têm maturidade para se responsabilizar pelo objeto, que é frágil e tem custo alto. O cuidado com o equipamento tem de ficar por conta dos adultos.

Comportamento e tecnologia Como escolher os aplicativos mais adequados para cada faixa etária? É preciso ler atentamente as informações fornecidas pelo desenvolvedor, conferir a indicação de faixa etária e fazer uma pesquisa na internet, consultando comentários de pais e usuários. É importante que os pais e professores verifiquem a adequação do conteúdo de jogos e animações aos interesses das crianças e confiram se há anúncios, muito comuns nos programas gratuitos. A escolha dos aplicativos é responsabilidade dos adultos. As crianças podem brincar com o tablet sempre que quiserem ou é preciso definir limites? O uso deve ser mediado pelos pais, que precisam determinar limites de utilização, oferecer alternativas de diversão e incentivar os pequenos a viver experiências diferentes. A criança apreende o mundo conforme o que é mostrado para ela e, quanto mais experiências vivencia, maior será sua capacidade de fazer escolhas no futuro. A definição do tempo de uso fica a critério dos pais, até porque depende de como cada família lida com a tecnologia. Como estabelecer esses limites sem atritos? Geralmente as crianças menores mantêm o interesse por um período curto e logo encontram outro foco de atenção. Já os mais velhos, em idade escolar, podem ficar muito tempo diante da tela, principalmente quando se envolvem em jogos. O melhor é combinar o tempo de uso permitido antes que a criança comece a jogar. Ou seja, os adultos definem se a brincadeira vai durar uma hora, dez minutos ou até o jantar ficar pronto, por exemplo. Os pais devem restringir o acesso a determinados aplicativos? Sim. A criança deve utilizar o tablet com a orientação dos adultos e só acessar os aplicativos escolhidos pelos pais e professores. As crianças podem manusear sozinhas o equipamento? Se o tablet está desconectado da internet, e os aplicativos instalados são indicados para a idade dela, não há problemas em deixá-la usar o aparelho

Comportamento e tecnologia sozinha. Mas se o tablet é dos pais ou está conectado à internet, é importante acompanhá-la. Quais os cuidados no que se refere ao acesso à internet? No caso de crianças não alfabetizadas, o recomendável é manter o equipamento desconectado da internet. A rede não é um mundo infantil, é uma área virtual pública. Os pais têm de limitar o acesso e educar os filhos para circular no mundo virtual como se preocupam com o trânsito deles no mundo real. Crianças maiores, já alfabetizadas, têm acesso às configurações do tablet e provavelmente vão querer utilizar redes sociais e aplicativos que precisam de conexão à rede. Nesse caso, é preciso ficar sempre por perto. Como orientar as crianças no uso da internet? É importante deixar os limites claros, explicar por que a criança não deve divulgar informações e fotos pessoais e os riscos da abordagem de estranhos, além de observar os sites que os filhos acessam, saber com quem interagem e conferir históricos de mensagens. É essencial manter aberto um canal de diálogo, para que a criança saiba que pode tirar dúvidas e confiar nas repostas que recebe. Como nas situações do cotidiano, a criança ganha autonomia conforme vai mostrando responsabilidade para lidar com as situações novas.

Comportamento e tecnologia A facilidade de ouvir histórias com narração e animações pode reduzir o interesse pela leitura e atrapalhar a alfabetização? O acesso a histórias mais diversas, a possibilidade de observar as letras e de ouvir os sons várias vezes, talvez muito mais vezes até do que a criança ouviria se dependesse da mediação de um adulto, pode até ajudar na alfabetização. O recomendável é escolher histórias e aplicativos adequados para cada faixa etária. A opção de assistir a animações e de acessar recursos de áudio diminui o interesse por livros impressos? A simbologia dos livros e o apelo à imaginação que a leitura proporciona é diferente da experiência com o tablet, e as expectativas das crianças também são diferentes. O incentivo de pais e professores e o contato com material escrito estimula o interesse pela leitura, independentemente do contato com outras mídias. Crianças pequenas gostam de usar os mesmos aplicativos muitas vezes. Essa repetição é prejudicial? Para crianças de até 6 ou 7 anos, a repetição é natural e dá uma sensação de segurança. Isso acontece quando elas assistem a filmes e desenhos animados, ouvem histórias e também quando brincam com o tablet. Como as crianças podem entender que os aplicativos e complementos são comprados e que há limites para essas compras? As crianças, e eu diria que até mesmo os adultos, precisam entender melhor essa relação de consumo com a diversão virtual e ter clareza sobre a compra de um produto que não tem características concretas. Uma boa maneira de ajudá-las a compreender esse processo é deixá-las brincar com jogos nos quais precisam passar por etapas e reunir itens para conseguir um objeto especial ou um acessório para seu personagem. É certo deixar a criança brincar com o tablet em restaurantes ou durante uma viagem para que ela fique quieta? Não há problemas em deixar a criança brincar com o equipamento por alguns minutos em um restaurante ou durante uma viagem, por exemplo,

Comportamento e tecnologia mas a família deve refletir sobre a frequência com que isso acontece e considerar esse período nos acordos familiares de tempo de uso do equipamento, propondo outras atividades depois. Os pais devem analisar também a necessidade de interagir com seus filhos em situações diferentes e de ensinar a eles referências de comportamento social em ambientes diversos. As crianças não podem deixar de se alimentar, de conversar ou de participar de outras atividades propostas só porque estão envolvidas demais com brincadeiras no tablet. Há problema em usar o tablet para distrair os bebês e evitar birra na hora das refeições? É possível até recorrer a esse recurso em um determinado momento crítico, mas o procedimento não pode virar rotina. Comer olhando para a tela do tablet ou mesmo da televisão não é recomendável porque tira a atenção da criança de si mesma, do ato de se alimentar, da identificação da vontade e da saciedade. Distraída, a criança mal percebe que está comendo e pode ingerir mais comida do que precisa. Essa atitude pode formar péssimos hábitos alimentares, com consequências graves no futuro. Andrea Jotta é psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia e Informática da PUC-SP (NPPI), um núcleo acadêmico que organiza cursos e realiza atendimento ao público, com serviços de orientação psicológica via e-mail. Mais informações no site www.pucsp.br/nppi.

Cuidados com a segurança Rodrigo Nejm, psicólogo e diretor da ONG SaferNet Brasil, alerta: O tablet não pode se tornar uma forma de manter os filhos ocupados, só para alívio dos pais. A diversidade de práticas sociais e de brincadeiras é fundamental para o desenvolvimento das crianças. Há tablets específicos para crianças? Existem alguns brinquedos que simulam o equipamento e trazem alguns jogos, mas não permitem baixar aplicativos. Há tablets com configurações mais simples e também um tipo de capa que pode ser colocada nos equipamentos para aumentar a resistência a impactos e proteger do contato com a umidade. Vírus podem afetar o tablet? Como se prevenir? Sim. Há vírus e programas oportunistas que podem roubar dados, senhas e contatos pessoais. As empresas que criam os sistemas operacionais para os tablets têm seus recursos de segurança específicos mas, ainda que conte com esse recurso, o usuário só deve baixar aplicativos de fontes seguras e evitar instalar conteúdos de origem desconhecida.

Cuidados com a segurança Como tornar o equipamento seguro para uso das crianças? Os pais podem configurar o tablet para aumentar a segurança e restringir o acesso das crianças a determinados aplicativos. Cada equipamento tem suas especificidades, e é essencial que os usuários leiam o manual de instruções e analisem as opções de configuração disponíveis para escolher a mais adequada. Dependendo do tablet, é possível, por exemplo, criar diferentes perfis de usuário, de forma que a criança só acesse aplicativos determinados pelos pais. Outra opção é proteger com senha os itens de uso dos adultos. Vale lembrar que é preciso fazer isso logo ao comprar o equipamento, porque, depois de algum tempo utilizando as ferramentas do tablet, pouca gente se lembra de investigar as configurações ou de ter esse tipo de precaução. Que cuidados os pais devem ter no que se refere ao acesso das crianças à internet? Pelo menos até os 8 anos de idade, não é recomendável permitir o acesso da criança à internet e, depois disso, a criança só deve estar conectada à rede quando estiver acompanhada dos pais ou professores. Ao explicitar essa preocupação, os adultos já demonstram que o uso da internet exige cuidados e com o tempo as crianças devem ser alertadas sobre os riscos envolvidos em trocas de arquivos e na divulgação de informações e imagens pessoais, por exemplo. Não se pode confundir a habilidade que muitas crianças demonstram no uso de ferramentas tecnológicas com uma suposta maturidade e capacidade efetiva de utilização dos recursos do equipamento.

Cuidados com a segurança Que precauções devem ser tomadas ao baixar aplicativos para as crianças? É imprescindível se informar sobre a adequação do conteúdo e ler com atenção os termos de uso do programa. Há aplicativos que, de forma oculta, gravam dados, contatos, imagens e senhas pessoais e o usuário que concorda com os termos sem ler não pode sequer reclamar depois. Vale conferir também se há uma forma de contato com o suporte técnico em um idioma acessível para garantir que se possa esclarecer eventuais dúvidas. Os aplicativos gratuitos são seguros? Eles exigem os mesmos cuidados já indicados, mas pedem ainda mais atenção. É importante considerar o preço que se paga por aplicativos aparentemente gratuitos, mas repletos de anúncios. Os pais e professores devem refletir como a publicidade embutida nesses itens pode afetar as crianças, que muitas vezes não sabem diferenciar a propaganda de outros conteúdos. Há opções como aplicativos educativos que não trazem publicidade, aplicativos gratuitos com publicidade e versões pagas desses programas, sem anúncios. A escolha cabe aos pais. E, sempre que a criança brincar com jogos ou programas com conteúdo publicitário, é importante tomar conhecimento disso e se certificar de que o tablet está desconectado da internet, já que muitos anúncios levam a sites de produtos não necessariamente adequados a crianças. Há riscos de permitir que a criança use aparelhos com GPS? Sim. É importante desligar esse recurso que é desnecessário para o uso infantil e pode ser perigoso. O GPS permite o rastreamento do usuário, ou seja, qualquer curioso pode ter acesso a informações da família e localizar a criança. Se a criança perder o tablet, é possível apagar os dados de forma remota? Há equipamentos que permitem fazer isso, mas é preciso acionar as opções adequadas nas configurações de segurança do aparelho. Uma das opções é estabelecer conexões do tablet com telefones e computadores

Cuidados com a segurança para apagar dados remotamente. Também é possível selecionar nas configurações uma opção que restrinja o acesso por meio de senhas e que elimine dados após um número determinado de tentativas erradas. Quem tem filhos pequenos deve tomar todos esses cuidados. Rodrigo Nejm é psicólogo, mestre em Gestão e Desenvolvimento Social pelo CIAGS/UFBA, pesquisador na área de psicologia, novas mídias, infância, adolescência e sociabilidades e Diretor de Prevenção da SaferNet Brasil, organização que oferece orientação sobre formas seguras de uso da internet. Maiores informações em www.canaldeajuda.org.br. créditos

Guia para professores

Desenvolvimento cognitivo A consultora em educação e especialista em neurociência Elvira Souza Lima explica: Estamos diante de uma nova realidade que coloca a necessidade de educar para o uso da tecnologia. Não somente disponibilizar o equipamento, mas também ensinar a criança a utilizá-lo. Há, com certeza, um grande potencial educativo ainda não explorado no uso das novas tecnologias. Existe uma idade correta para dar um tablet para a criança? Certamente, a idade considerada mais correta hoje é após a criança completar 2 anos, embora muitos estendam esse limite até os 3 anos. A partir do acervo de pesquisas sobre o desenvolvimento do cérebro da criança pequena e também da visão, pesquisadores, profissionais da saúde e especialistas em cérebro têm aconselhado com firmeza que as crianças não devem ser expostas à tela luminosa de qualquer aparelho tecnológico, inclusive a televisão, antes de completarem 2 anos. O risco é não desenvolver a visão, que acontece na espécie humana nos dois primeiros anos de vida. Perspectiva e profundidade, por exemplo, são dois componentes importantes da visão desenvolvidos nesse período. Existe alguma relação entre a faixa etária da criança e o tempo que ela pode brincar com o tablet? Sim, existe. Quanto mais nova a criança é, menos tempo ela deverá ficar envolvida com o tablet. As recomendações em geral indicam, para crianças de 4 a 6 anos, o limite de trinta a sessenta minutos diários, a aumentar progressivamente,

Desenvolvimento cognitivo cerca de 15 minutos por cada ano a mais. Pode-se, por exemplo, programar duas sessões diárias, com intervalo de algumas horas entre elas. É importante destacar que brincar com o tablet não substitui outras formas de brincadeira, principalmente as que envolvem movimento do corpo no espaço e as que envolvem movimento e música integradamente. A criança precisa desenvolver o movimento, a perícia de movimentos específicos, a colocação e deslocamento do corpo no espaço, o ritmo do movimento, a circularidade. O uso do tablet desenvolve o movimento dos dedos e polegares, não de todo o corpo. Que tipo de aplicativo devo baixar para o meu aluno? Como saber se ele é mesmo educativo? Aplicativos educativos são aqueles que requerem que a criança use a imaginação. São aqueles que promovem algum tipo de relação entre as informações (escritas ou em imagem) apresentadas, que não exponham simplesmente a informação. A grande vantagem do tablet é a possibilidade de interação, portanto a qualidade da interatividade proposta é fundamental. Muitos aplicativos disponíveis apenas repetem o que as crianças já aprendem na vida cotidiana, pelo convívio em seu contexto social. Ter contato com livros eletrônicos antes de começar a ler em papel pode prejudicar o desenvolvimento da competência leitora? Aprender a ler é um processo complexo para o cérebro, independentemente do suporte. O suporte eletrônico ou em papel são apenas bases para visualização do sistema linguístico. Para que se leia com compreensão, são necessárias atividades específicas para que o cérebro forme os circuitos de leitura. Comportamentos de leitura fazem parte desse processo e alguns deles são formados mais facilmente com o manuseio dos livros em papel. Aqui, novamente, há que se considerar a questão da luminosidade da tela e o tempo de leitura diário necessário para formar o leitor e o hábito de leitura. O que forma o leitor é o conteúdo do texto, a forma como a escola lida com a leitura e o papel que a leitura ocupa na vida cotidiana da família. Não é o suporte, primordialmente.

Desenvolvimento cognitivo Como fazer meus alunos se interessarem por livros (ou pelos estudos) se eles só gostam de ficar no tablet? A criança forma comportamentos culturais, como usar o tablet, a partir dos comportamentos que presencia em seu entorno. Uma criança que não vê adultos lendo livros, ou comentando e fazendo perguntas, tem menos chance de se formar como leitor ou de ter interesse pelos estudos. O papel dos pais e dos professores é muito grande nesse aspecto. O importante é ter clareza que usar preferencialmente o tablet é resultante da educação que a criança está recebendo. A tecnologia está presente no meio, o uso que se faz dela vem da decisão que os adultos tomam em relação a ela. O tablet pode servir como um instrumento que motiva o aluno, porém ele não é, em si mesmo, o conhecimento a ser adquirido. Esse é o grande desafio pedagógico. Por exemplo, o tablet pode ser um excelente instrumento participante do desenvolvimento de comportamentos investigativos ou na aprendizagem da escrita da língua materna ou, ainda, de uma língua estrangeira. Que competências e habilidades o uso dessas tecnologias ajudam a desenvolver que um livro tradicional não desenvolve? A contraposição entre a tecnologia e o livro tradicional pode levar a equívocos. Não é o tablet ou o livro que levam ao desenvolvimento, é o conteúdo. Equipamentos eletrônicos e livros são suportes. Vejamos um exemplo: um livro com uma narrativa sem imagens, como um romance, é mais propício ao desenvolvimento da imaginação do que um livro

Desenvolvimento cognitivo repleto de ilustrações. O mesmo acontecerá com a leitura da mesma história em um livro eletrônico. A diferença estará na luminosidade da tela, que é um dado diferente para o cérebro em relação à leitura em papel. Outro exemplo: um tablet, dependendo do aplicativo e do uso pedagógico que dele se faz, permite estabelecer relações entre dados e informações de uma forma dinâmica. O grande avanço da tecnologia são as várias formas de fazer bancos de dados e procedimentos que ficam à disposição do aluno para o exercício de seu pensamento. Porém, os processos do pensamento são realizados no cérebro, e os conceitos são efetivados e guardados na memória de longa duração de cada aluno individualmente. Como inserir esse tipo de tecnologia em sala de aula? Existe alguma disciplina ou ano escolar mais indicados para iniciar esse trabalho? O grande desafio para a pedagogia hoje, no mundo todo, é qualificar a tecnologia integrada ao processo de aprendizagem do aluno. A mera presença da tecnologia em sala de aula não significa muita coisa se ela não estiver inserida no currículo e na formação de estruturas do pensamento. Na perspectiva do desenvolvimento humano, podemos sugerir que a idade mais adequada para início seria a partir dos 7 anos, quando o cérebro já formou redes neuronais de atenção e está pronto para escrever, ou seja, lidar com sistemas simbólicos mais facilmente. Podemos sugerir, também, a partir das pesquisas e conhecimentos sobre o cérebro, que o tablet seja inserido em qualquer disciplina como um instrumento possível de desenvolver comportamentos investigativos, a imaginação e a criatividade na criança. São estes os aspectos apontados como eixos importantes para a educação do século XXI. Elvira Souza Lima é pesquisadora em desenvolvimento humano, com formação em neurociências, psicologia, antropologia e música. Trabalha com pesquisa aplicada às áreas de educação, mídia e cultura. Entre suas obras, estão A criança pequena e suas linguagens, Quando a criança não aprende a ler e a escrever e Neurociência e escrita. Maiores informações em http://elvirasouzalima.blogspot.com.br/

Comportamento e tecnologia Para a psicóloga Andréa Jotta, do Núcleo de Pesquisas de Psicologia e Informática da PUC-SP (NPPI), a utilização dos tablets é, no geral, positiva e incentiva novas formas de aprender. Afinal, a tecnologia é uma demanda humana. Tablets, assim como computadores, celulares e videogames, atendem a essa demanda e têm uma peculiaridade da qual não devemos esquecer: podem ser desligados. A partir de que idade as crianças conseguem manusear um tablet? Com a tecnologia touch screen, a interação é intuitiva e fácil. Crianças que têm entre 1,5 e 2 anos, e já exploram o mundo pelo tato, podem mostrar interesse em interagir com o tablet para jogar, assistir a animações, ver e ouvir histórias. Os bebês têm curiosidade por vídeos e animações, mas naturalmente não têm controle dos comandos. O tablet pode ser considerado um brinquedo? Do ponto de vista das crianças, sim, principalmente quando encontram um conteúdo divertido, produzido para elas. Ao mesmo tempo, é um acessório do mundo dos adultos e, da mesma forma como brincam de telefonar, imitando os adultos, as crianças interagem com o tablet. É preciso compreender esse ponto de vista infantil e lembrar que as crianças menores não têm maturidade para se responsabilizar pelo objeto, que é frágil e tem custo alto. O cuidado com o equipamento tem de ficar por conta dos adultos.

Comportamento e tecnologia Como escolher os aplicativos mais adequados para cada faixa etária? É preciso ler atentamente as informações fornecidas pelo desenvolvedor, conferir a indicação de faixa etária e fazer uma pesquisa na internet, consultando comentários de educadores, pais e usuários. É importante que os pais e professores verifiquem a adequação do conteúdo de jogos e animações aos interesses das crianças e confiram se há anúncios, muito comuns nos programas gratuitos. A escolha dos aplicativos é responsabilidade dos adultos. Os professores devem restringir o acesso a determinados aplicativos? Sim. A criança deve utilizar o tablet com a orientação dos adultos e só acessar os aplicativos escolhidos pelos pais e professores. As crianças podem manusear sozinhas o equipamento? Se o tablet está desconectado da internet, e os aplicativos instalados são indicados para a idade dela, não há problemas em deixá-la usar o aparelho sozinha. Mas se o tablet é da escola ou está conectado à internet, é importante acompanhá-la. Quais os cuidados no que se refere ao acesso à internet? No caso de crianças não alfabetizadas, o recomendável é manter o equipamento desconectado da internet. A rede não é um mundo infantil, é uma área virtual pública. Assim como os pais, os professores têm de limitar o acesso e educar os alunos para circular no mundo virtual como se preocupam com o trânsito deles no mundo real. Crianças maiores, já alfabetizadas, têm acesso às configurações do tablet e provavelmente vão querer utilizar redes sociais e aplicativos que precisam de conexão à rede. Nesse caso, é preciso ficar sempre por perto.

Comportamento e tecnologia A facilidade de ouvir histórias com narração e animações pode reduzir o interesse pela leitura e atrapalhar a alfabetização? O acesso a histórias mais diversas, a possibilidade de observar as letras e de ouvir os sons várias vezes, talvez muito mais vezes até do que a criança ouviria se dependesse da mediação de um adulto, pode até ajudar na alfabetização. O recomendável é escolher histórias e aplicativos adequados para cada faixa etária. A opção de assistir a animações e de acessar recursos de áudio diminui o interesse por livros impressos? A simbologia dos livros e o apelo à imaginação que a leitura proporciona é diferente da experiência com o tablet, e as expectativas das crianças também são diferentes. O incentivo de pais e professores e o contato com material escrito estimula o interesse das crianças pela leitura, independentemente do contato com outras mídias.

Comportamento e tecnologia Crianças pequenas gostam de usar os mesmos aplicativos muitas vezes. Essa repetição é prejudicial? Para crianças de até 6 ou 7 anos, a repetição é natural e dá uma sensação de segurança. Isso acontece quando elas assistem a filmes e desenhos animados, ouvem histórias e também quando brincam com o tablet. Como as crianças podem entender que os aplicativos e complementos são comprados e que há limites para essas compras? As crianças, e eu diria que até mesmo os adultos, precisam entender melhor essa relação de consumo com a diversão virtual e ter clareza sobre a compra de um produto que não tem características concretas. Uma boa maneira de ajudá-las a compreender esse processo é deixá-las brincar com jogos nos quais precisam passar por etapas e reunir itens para conseguir um objeto especial ou um acessório para seu personagem. Andrea Jotta é psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia e Informática da PUC-SP (NPPI), um núcleo acadêmico que organiza cursos e realiza atendimento ao público, com serviços de orientação psicológica via e-mail. Mais informações no site www.pucsp.br/nppi.

Cuidados com a segurança Rodrigo Nejm, psicólogo e diretor da ONG SaferNet Brasil, alerta: O tablet não pode se tornar uma forma de manter os filhos ocupados, só para alívio dos pais. A diversidade de práticas sociais e de brincadeiras é fundamental para o desenvolvimento das crianças. Há tablets específicos para crianças? Existem alguns brinquedos que simulam o equipamento e trazem alguns jogos, mas não permitem baixar aplicativos. Há tablets com configurações mais simples e também um tipo de capa que pode ser colocada nos equipamentos para aumentar a resistência a impactos e proteger do contato com a umidade. Vírus podem afetar o tablet? Como se prevenir? Sim. Há vírus e programas oportunistas que podem roubar dados, senhas e contatos pessoais. As empresas que criam os sistemas operacionais para os tablets têm seus recursos de segurança específicos mas, ainda que conte com esse recurso, o usuário só deve baixar aplicativos de fontes seguras e evitar instalar conteúdos de origem desconhecida.

Cuidados com a segurança Como tornar o equipamento seguro para uso das crianças? Os adultos podem configurar o tablet para aumentar a segurança e restringir o acesso das crianças a determinados aplicativos. Cada equipamento tem suas especificidades, e é essencial que os usuários leiam o manual de instruções e analisem as opções de configuração disponíveis para escolher a mais adequada. Dependendo do tablet, é possível, por exemplo, criar diferentes perfis de usuário, de forma que a criança só acesse aplicativos determinados pelos adultos. Outra opção é proteger com senha os itens de uso dos adultos. Vale lembrar que é preciso fazer isso logo ao comprar o equipamento, porque, depois de algum tempo utilizando as ferramentas do tablet, pouca gente se lembra de investigar as configurações ou de ter esse tipo de precaução. Que cuidados os adultos devem ter no que se refere ao acesso das crianças à internet? Pelo menos até os 8 anos de idade, não é recomendável permitir o acesso da criança à internet e, depois disso, a criança só deve estar conectada à rede quando estiver acompanhada dos pais ou professores. Ao explicitar essa preocupação, os adultos já demonstram que o uso da internet exige cuidados e com o tempo as crianças devem ser alertadas sobre os riscos envolvidos em trocas de arquivos e na divulgação de informações e imagens pessoais, por exemplo. Não se pode confundir a habilidade que muitas crianças demonstram no uso de ferramentas tecnológicas com uma suposta maturidade e capacidade efetiva de utilização dos recursos do equipamento.

Cuidados com a segurança Que precauções devem ser tomadas ao baixar aplicativos para as crianças? É imprescindível se informar sobre a adequação do conteúdo e ler com atenção os termos de uso do programa. Há aplicativos que, de forma oculta, gravam dados, contatos, imagens e senhas pessoais e o usuário que concorda com os termos sem ler não pode sequer reclamar depois. Vale conferir também se há uma forma de contato com o suporte técnico em um idioma acessível para garantir que se possa esclarecer eventuais dúvidas. Os aplicativos gratuitos são seguros? Eles exigem os mesmos cuidados já indicados, mas pedem ainda mais atenção. É importante considerar o preço que se paga por aplicativos aparentemente gratuitos, mas repletos de anúncios. Os pais e professores devem refletir como a publicidade embutida nesses itens pode afetar as crianças, que muitas vezes não sabem diferenciar a propaganda de outros conteúdos. Há opções como aplicativos educativos que não trazem publicidade, aplicativos gratuitos com publicidade e versões pagas desses programas, sem anúncios. A escolha cabe aos adultos. E, sempre que a criança brincar com jogos ou programas com conteúdo publicitário, é importante tomar conhecimento disso e se certificar de que o tablet está desconectado da internet, já que muitos anúncios levam a sites de produtos não necessariamente adequados a crianças. Há riscos de permitir que a criança use aparelhos com GPS? Sim. É importante desligar esse recurso que é desnecessário para o uso infantil e pode ser perigoso. O GPS permite o rastreamento do usuário, ou seja, qualquer curioso pode ter acesso a informações da família ou da escola e localizar a criança. Se a criança perder o tablet, é possível apagar os dados de forma remota? Há equipamentos que permitem fazer isso, mas é preciso acionar as opções adequadas nas configurações de segurança do aparelho. Uma das opções é estabelecer conexões do tablet com telefones e

Cuidados com a segurança computadores para apagar dados remotamente. Também é possível selecionar nas configurações uma opção que restrinja o acesso por meio de senhas e que elimine dados após um número determinado de tentativas erradas. Quem trabalha com crianças deve tomar todos esses cuidados. Rodrigo Nejm é psicólogo, mestre em Gestão e Desenvolvimento Social pelo CIAGS/UFBA, pesquisador na área de psicologia, novas mídias, infância, adolescência e sociabilidades e Diretor de Prevenção da SaferNet Brasil, organização que oferece orientação sobre formas seguras de uso da internet. Maiores informações em www.canaldeajuda.org.br. créditos

O uso do tablet na infância: um guia para pais e professores foi desenvolvido pelas editoras Ática e Scipione e não pode ser comercializado. Elaboração: Mônica Pina, Grazielle Veiga e Lavínia Fávero. Gerente editorial Editora Editora assistente Coordenadora de revisão Arte Coordenadora de arte Assistente de arte Projeto gráfico Ilustrações Fabricio Waltrick Lavínia Fávero Grazielle Veiga Ivany Picasso Batista Soraia Scarpa Thatiana Kalaes Soraia Scarpa Bruno Nunes To dos os di rei tos re ser va dos pelas Edi to ras Ática e Scipione, 2013 Av. Ota via no Al ves de Lima, 4400 CEP 02909-900 São Pau lo, SP Atendimento ao cliente: 4003-3061 www.atica.com.br / www.scipione.com.br