PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=129>.



Documentos relacionados
Inclusão de bagaço de cana de açúcar na alimentação de cabras lactantes: desempenho produtivo

TRATAMENTO QUÍMICO DE RESÍDUOS AGRÍCOLAS COM SOLUÇÃO DE URÉIA NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO ANIMAL 1. HISTÓRICO E IMPORTANCIA DOS ESTUDOS COM NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO:

Introdução. Leandro Sâmia Lopes (1), Adauto Ferreira Barcelos (2), Paulo César de Aguiar Paiva (3) (1) Bolsista BIC FAPEMIG/EPAMIG;

Influência do Espaçamento de Plantio de Milho na Produtividade de Silagem.

Valor nutritivo da cana-de-açúcar hidrolisada com hidróxido de sódio ou óxido de cálcio

Quadro 1 Ganho de peso de novilhos (g / cab / d) em pastejo de forrageiras de acordo com a época do ano

Diferimento de pastagens para animais desmamados

ARTIGO 230 TRATAMENTOS QUÍMICOS NA MELHORIA DO VALOR NUTRITIVO DE VOLUMOSOS. Chemical treatments in improving the nutritional value of bulky

ALIMENTAÇÃO DE CORDEIROS LACTENTES

ARTIGO TÉCNICO Minerthal Pró-águas Suplementação protéica energética no período das águas

Valor nutritivo do bagaço de cana-de-açúcar amonizado com quatro doses de uréia

CULTIVARES DE MILHO PARA SILAGEM

ÍNDICE MITSUISAL A SUA NOVA OPÇÃO COM QUALIDADE

ABSORÇÃO DE MICRONUTRIENTES APÓS APLICAÇÃO DE BIOSSÓLIDO NO DESENVOLVIMENTO INICIAL DE EUCALIPTO

USO DE CONCENTRADOS PARA VACAS LEITEIRAS

ESTRATÉGIAS DE MANEJO E SUPLEMENTAÇÃO DO PASTO SOBRE CARACTERÍSTICAS DO DOSSEL E DESEMPENHO BIOECONOMICO DE BOVINOS EM RECRIA NA SECA

EFEITO DA UTILIZAÇÃO DE PRÓBIÓTICOS EM DIETAS PARA BOVINOS NELORE TERMINADOS EM CONFINAMENTO INTRODUÇÃO

Ações da UNEMAT no município de Alta Floresta. Prof. Dr. Luiz Fernando Caldeira Ribeiro Departamento de Agronomia

Avaliação agronômica de variedades de cana-de-açúcar, cultivadas na região de Bambuí em Minas Gerais

DESEMPENHO PRODUTIVO DE MIRTILEIRO (Vaccinium corymbosum) EM FUNÇÃO DO USO DE TORTA DE MAMONA

Utilização de dietas de alto concentrado em confinamentos

EFEITO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA SOBRE O RENDIMENTO DE FORRAGEM E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE PASPALUM ATRATUM BRA

MODELOS NUTRICIONAIS ALTERNATIVOS PARA OTIMIZAÇÃO DE RENDA NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE

Metabolismo de Lipídios PEDRO LEONARDO DE PAULA REZENDE

Introdução. Conceitos aplicados a alimentação animal. Produção animal. Marinaldo Divino Ribeiro. Nutrição. Alimento. Alimento. Nutriente.

SILAGEM DE MILHO DE ALTA QUALIDADE

Estudo da Viabilidade Técnica e Econômica do Calcário Britado na Substituição Parcial do Agregado Miúdo para Produção de Argamassas de Cimento

CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS E COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DE CASCAS E SEMENTES DE MAMÃO RESUMO

Introdução. Material e Métodos

Água: Qual a sua importância para ganho de peso em gado de corte?

DESSECAÇÃO DE BRAQUIÁRIA COM GLYPHOSATE SOB DIFERENTES VOLUMES DE CALDA RESUMO

Relatório Final do Experimento

O uso de concentrado para vacas leiteiras Contribuindo para eficiência da produção

Suplementação de Bovinos de Corte a Pasto. Carlos Eduardo Santos Médico Veterinário CRMV SP 4082 carlos-e.santos@dsm.com

Valor nutritivo das plantas forrageiras

EFICIENCIA DE SISTEMAS DE APLICAÇÃO DE VINHAÇA VISANDO ECONOMIA E CONSCIENCIA AMBIENTAL

V Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí V Jornada Científica 19 a 24 de novembro de 2012

COMPOSIÇÃO QUÍMICA, VALOR DE ph E TEMPERATURA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR IN NATURA E HIDROLISADO COM CAL (CaO) CONSERVADOS EM MINI SILOS

Como estimar peso vivo de novilhas quando a balança não está disponível? Métodos indiretos: fita torácica e hipômetro

VIII Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG- campus Bambuí VIII Jornada Científica

PRODUTIVIDADE DO FEIJOEIRO COMUM EM FUNÇÃO DA SATURAÇÃO POR BASES DO SOLO E DA GESSAGEM. Acadêmico PVIC/UEG do Curso de Agronomia, UnU Ipameri - UEG.

Ponto de Corte do Milho para Silagem

Manejos da Cobertura do Solo e da Adubação Nitrogenada na Cultura do Milho para Silagem em Sistema de Integração Lavoura Pecuária

NUTRIÇÃO DE GATOS. DUTRA, Lara S. 1 ; CENTENARO, Vanessa B. 2 ; ARALDI, Daniele Furian 3. Palavras-chave: Nutrição. Gatos. Alimentação.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

ARTIGO 287 UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇUCAR NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES 1. Use of bagasse of cane sugar in feed ruminantes 1

Custo Unitário do Nutriente (CUN) = A (B 100 x C 100),

7 Considerações finais

PROGRAMA DE SUPLEMENTAÇÃO DE LUZ ARTIFICIAL PARA BEZERROS EM ALEITAMENTO

III PRODUÇÃO DE COMPOSTO ORGÂNICO A PARTIR DE FOLHAS DE CAJUEIRO E MANGUEIRA

PRODUÇÃO, UTILIZAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DO FENO

MANEJO DE BOVINOS DE CORTE Confinamento. Prof : Ricardo Alexandre Silva Pessoa

sistemas automatizados para alimentação: futuro na nutrição de precisão

Avaliação da qualidade do solo sob diferentes arranjos estruturais do eucalipto no sistema de integração lavoura-pecuária-floresta

SUPLEMENTAÇÃO DE REBANHOS DE CRIA E RECRIA DE BOVINOS DE CORTE EM PASTEJO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA BOVINOS LEITEIROS

DECANTAÇÃO DO RESÍDUO DA LAVAGEM DE BATATAS DA LINHA DE BATATAS-FRITAS

INFLUÊNCIA DO USO DE ÁGUA RESIDUÁRIA E DOSES DE FÓSFORO NA ÁREA FOLIAR DO PINHÃO MANSO

Universidade Federal de Uberlândia

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Processamento de milho e sorgo um foco para reconstituição

Qualidade da silagem de milho em função do teor de matéria seca na ocasião da colheita

CANA DE AÇÚCAR TRATADA OU NÃO COM ÓXIDO DE CÁLCIO NA ALIMENTAÇÃO DE FÊMEAS BOVINAS LEITEIRAS

FORMULÁRIO PARA CADASTRO DE PROJETO DE PESQUISA E EXTENSÃO

Palavras-Chave: Tratamento de resíduos sólidos orgânicos; adubo orgânico, sustentabilidade.

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado*

AÇÕES RESPONSÁVEIS PELA QUEDA DA QUALIDADE DE LEITE NO CAMPO. Cristiane de Sousa Lima 1, Alessandra Sayegh Arreguy Silva 2, Dayana de Jesus Lodi 3

Referências Bibliográficas

Milho: Produção, Armazenamento e sua utilização na elaboração de ração para Aves

TIJOLOS CRUS COM SOLO ESTABILIZADO

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS ATRAVÉS DE HERBICIDAS EM CONDIÇÕES DE SAFRINHA

Linha completa de suplementos minerais e proteinados da Guabi.

Aluna do curso de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias - UFGD, Dourados-MS, Brasil, Bolsista PIBIC/CNPq. debora_manarelli@msn.com.

TAXA DE LOTAÇÃO EM PASTAGEM DE TIFTON 85 SOB MANEJO DE IRRIGAÇÃO E SEQUEIRO NO PERÍODO DA SECA*

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DA RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA DEGRADADA POR EFLUENTE INDUSTRIAL

Dosagem de Concreto INTRODUÇÃO OBJETIVO. Materiais Naturais e Artificiais

A necessidade do profissional em projetos de recuperação de áreas degradadas

AVALIAÇÃO DOS ÍNDICES ZOOTÉCNICOS DE MÉDIAS PROPRIEDADES LEITEIRAS

Suplementação de Bovinos de corte

bovinos de corte A resposta para o X da sua questão está aqui.

PARÂMETROS DO VALOR NUTRITIVO DE NOVE VARIEDADES DE CANA-DE-AÇÚCAR CULTIVADAS SOB IRRIGAÇÃO

RECIRCULAÇÃO DE EFLUENTE AERÓBIO NITRIFICADO EM REATOR UASB VISANDO A REMOÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA

MANEJO NUTRICIONAL DE BOVINOS DE CORTE

Desenvolvimento e Avaliação Sensorial de Produtos Alimentícios Elaborados com Farinha de Puba em Substituição a Farinha de Trigo

Dietas Caseiras para Cães e Gatos

INFLUÊNCIA DA GELATINA NA EFICÁCIA PROTEICA DA CASEÍNA EM RATOS WISTAR

8 Cálculo da Opção de Conversão

AVALIAÇÃO DA AGITAÇÃO E DA AERAÇÃO NA PRODUÇÃO DE β- GALACTOSIDASE POR Kluyveromyces marxianus CBS 6556 A PARTIR DE SORO DE QUEIJO

MODELAGEM MATEMÁTICA NA ANÁLISE DE SISTEMAS DE CRIAÇÃO DE FRANGO DE CORTE RESUMO

PRODUÇÃO DE MUDAS PRÉ BROTADAS (MPB) DE CANA-DE-AÇUCAR EM DIFERENTE ESTRATÉGIAS DE IRRIGAÇÃO

Características da Carne de Frango

USO DE AMÔNIA ANIDRA E DE URÉIA PARA MELHORAR O VALOR ALIMENTÍCIO DE FORRAGENS CONSERVADAS

PLANTIO DE MILHO COM BRAQUIÁRIA. INTEGRAÇÃO LAVOURA PECUÁRIA - ILP

AVALIAÇÃO DO ph EM CULTIVO DE MICROALGA Chlorella vulgaris

RESUMO O objetivo do trabalho foi avaliar a influência da densidade de árvores de Eucalyptus

Aptidão climática do capim-búffel ¹. Palavras-chaves: Cenchrus ciliaris, exigência climática de capim-búffel, pecuária sustentável

OS GANHOS REAIS COM A SUPLEMENTAÇÃO NO PÓS-DESMAMA DE BEZERROS

DEGRADABILIDADE IN SITU DAS SILAGENS DE VARIEDADES DE CANA-DE-AÇÚCAR COM ADITIVOS

Transcrição:

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=129>. Diferentes níveis de uréia adicionados à cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) no momento de sua hidrólise alcalina Joemar Amaro Garcia dos Reis 1 ; Wagner dos Reis 2 ; Vicente de Paulo Macedo 2, Murilo Marques de Sousa 1 1 Aluno de Graduação em Zootecnia Escola Superior de Agronomia de Paraguaçu Paulista (ESAPP) 2 Prof. Dr. do Departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agronomia e Zootecnia de Paraguaçu Paulista - ESAPP Paraguaçu Paulista, São Paulo, Brasil. RESUMO O experimento foi desenvolvido objetivando avaliar o efeito de níveis crescentes de uréia adicionados à cana-de-açúcar hidrolisada no momento da hidrólise (0,5; 0,7; 0,9 e 1,1% na matéria natural) sobre as características relacionadas ao seu valor nutritivo. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com cinco repetições. Decorrido aproximadamente 12 horas após o preparo do material, foram feitas amostragens individualizadas em todos os tratamentos para a realização da análise bromatológica. O tratamento da cana-de-açúcar com uréia

juntamente com a hidrólise proporcionou melhoria no valor nutritivo da cana-de-açúcar, comprovada pela elevação do teor de proteína bruta e pela redução do conteúdo de fibra em detergente neutro. Palavras chave: cana + uréia, cana hidrolisada, cana-de-açúcar, cal micropulverizada. 1. INTRODUÇÃO Um dos grandes problemas enfrentado pelos pecuaristas no período de entressafra é a escassez de forragens com a conseqüente falta de volumosos adequados em quantidade e qualidade, afetando o sistema de produção animal (AMARAL NETO et al., 2000). Isto tem estimulado os pesquisadores a estudarem as diferentes alternativas alimentares que supram esses problemas e minimizem o custo da alimentação (PINTO et al., 2003). Dentro deste contexto, a cana-deaçúcar (Saccharum officinarum L.) tem sido disseminada por todo território nacional pelo fácil cultivo e grande produção de massa verde, facilitando a utilização na alimentação de bovinos na época da estação seca (MOREIRA, 1983). De acordo com VILELA et al. (2003), a cana-de-açúcar é insuperável em termos de produção de matéria seca e energia/ha, em um único corte. Nas condições de Brasil Central, a produção de cana integral fresca/ha/corte pode variar entre 60 e 120 toneladas, por um período de até cinco anos, tendo sua maior produção no primeiro ano. Contudo, suas limitações nutricionais devem ser consideradas, visto que os baixos teores de proteína (com aminoácidos sulfurados limitantes), lipídios e minerais, especialmente o fósforo, a baixa digestibilidade da fibra, a ausência de amido e a presença de carboidratos de rápida fermentação resultam em menor

consumo de MS (DEMARCCHI, 2001). No entanto, estudos comprovam que, apesar das limitações nutricionais, o uso racional da cana-de-açúcar pode ser benéfico (MAGALHÃES et al., 2004). Sendo que o primeiro nutriente da cana-de-açúcar a ser corrigido é o nitrogênio, por ser um elemento essencial para o uso do seu alto potencial energético. A forma mais simples e barata de atender essa exigência é com a uréia mais uma fonte de enxofre. Ao alcançar o rúmen, a uréia libera amônia, que, combinada com os produtos da digestão do açúcar (os ácidos graxos voláteis), irão formar a proteína microbiana. Este tipo de suplementação é conhecido como Sistema Cana + Uréia (Embrapa Gado de Leite, 2002). CARVALHO et al. (2006), encontraram um aumento nos valores de proteína bruta adicionando diferentes níveis de uréia ao bagaço de cana, sendo 0,0; 2,5; 5,0 e 7,5% na matéria seca (MS), encontrando os seguintes resultados respectivamente 3,78; 6,85; 9,91; 12,98. Diversas pesquisas têm indicado que o tratamento de volumosos de baixa qualidade, utilizando-se fontes de amônia, pode melhorar a qualidade desses produtos, elevando significativamente seu valor nutritivo e, conseqüentemente, seu consumo e aproveitamento pelos animais (REIS; RODRIGUES; PEREIRA, 2001; GRANZIN; DRYDEN, 2003). As forragens, em geral, apresentam estrutura complexa em sua parede celular, composta, principalmente, das frações de celulose, hemicelulose e lignina (GARCIA e PIRES, 1998). A associação da lignina com as outras duas frações é responsável pela baixa digestibilidade de muitas forragens. Nos últimos anos, têm-se utilizado diversos tipos de tratamentos químicos, físicos e biológicos visando melhorar as características de volumosos para que possam ser melhor aproveitados pelos ruminantes (GOBBI et al., 2005).

Tanto a cana-de-açúcar in natura quanto o bagaço de cana são essencialmente materiais de alto teor lignocelulósico. Portanto, a viabilidade de sua utilização requer o desenvolvimento de métodos de tratamento que promovam o rompimento da estrutura da fração fibrosa, para torná-la mais digestível (BURGI, 1985). Os agentes alcalinizantes como o hidróxido de sódio (NaOH), o hidróxido de cálcio (Ca (OH) 2 ), a amônia anidra (NH 3 ) e mais recentemente o óxido de cálcio (CaO) são utilizados para melhorar os coeficientes de digestibilidade das palhas e/ou resíduos agrícolas, como por exemplo o bagaço de cana-de-açúcar (OLIVEIRA et al., 2002). A cal virgem micro pulverizada não é um agente químico perigoso e que necessita de intensos cuidados no preparo (GALATI et al., 2005). O objetivo deste trabalho foi o de avaliar o efeito de diferentes níveis de uréia adicionados à cana-de-açúcar hidrolisada no momento da hidrólise sobre as características relacionadas ao seu valor nutritivo. 2. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi conduzido na E.T.E. Dr. Luiz César Couto, localizado no município de Quatá, sendo que a análise bromatológica foi realizada no Laboratório de Nutrição Animal da Escola Superior de Agronomia de Paraguaçu Paulista - ESAPP. Para realização do ensaio foi utilizada a variedade de canade-açúcar RB 72.454. Esta foi cortada utilizando trator acoplado à picadeira JF 92. A cana-de-açúcar picada foi lançada dentro de uma carreta, para posteriormente realizado o preparo do material. Para isto, pesou-se aproximadamente 30 kg de cana para cada tratamento, totalizando 120 kg.

Após a pesagem da cana-de-açúcar picada foi adicionada 1% de cal hidratada micropulverizada para realização da hidrólise e neste momento também foram adicionadas os níveis de uréia equivalente a cada tratamento. O material preparado foi colocado em vasos até o momento das análises, permanecendo estes abertos para evitar a fermentação. Avaliaram-se quatro níveis de uréia adicionados à cana-deaçúcar no momento de sua hidrólise: T1= cana-de-açúcar hidrolisada + 0,5% de uréia; T2= cana-de-açúcar hidrolisada + 0,7% de uréia; T3= cana-de-açúcar hidrolisada + 0,9% de uréia e T4= cana-deaçúcar hidrolisada + 1,1% de uréia. Decorrido aproximadamente 12 horas do preparo do material, foram feitas amostragens individualizadas em todos os tratamentos para a determinação dos teores de MS, PB, FDN, FDA e NDT segundo metodologia descrita por SILVA (1991) e os valores de ph segundo TOSI (1973). O ensaio seguiu um delineamento experimental inteiramente casualizado com cinco repetições. Os dados obtidos foram analisados segundo o modelo: Yij=m+Nsi+eij. Onde: Yij=observação referente a cada tratamento, m=constante geral, Nsi=efeito tratamento (nível de uréia) i, eij=erro aleatório associado a cada variável. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As médias e os coeficientes de variação (CV%) para matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), nutrientes digestíveis totais (NDT) e ph da cana-de-açúcar hidrolisada encontram-se descritos na tabela 1.

Os teores de MS apresentaram resultado linear (P<0,05). Isso pode ter ocorrido devido à utilização da água na diluição da uréia e da cal para a realização da hidrólise, sendo que, a proporção utilizada foi de 1 kg de cal hidratada em 8 litros de água para cada 100 kg da cana-de-açúcar. Mas os valores obtidos estão de acordo com THIAGO & VIEIRA (2005) que relatam que a cana no momento do corte apresenta o teor de matéria seca variando de 25 a 30%. Entretanto CÂNDIDO et al., (1999) observaram a redução nos teores de matéria seca de materiais amonizados, ocorrendo isso devido ao elevado poder higroscópico da uréia, fazendo com que o material absorva umidade do ambiente. Tabela 1 - Médias estimadas e Coeficiente de variação (CV%) para matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), nutrientes digestíveis totais (NDT) e ph em função dos níveis de uréia, no tratamento da canade-açúcar da variedade RB72.454. TRATAMENTOS Efeito significativo Variáveis 0,5 0,7 0,9 1,1 c.v.(%) MS (%) 25,49 27,31 27,50 27,43 2,07 1 PB (%) 4,23 5,39 6,51 9,02 5,05 1 F.D.N.(%) 55,31 54,22 55,60 56,14 2,33 n.s. F.D.A.(%) 37,96 38,27 40,42 39,26 3,00 3 N.D.T.(%) 67,58 68,32 67,39 67,02 1,29 n.s. ph 7,11 7,20 7,30 7,09 1,40 2 Não significativo (ns); P>0,05 1=Efeito linear significativo (P<0,05); 2=Efeito quadrático significativo P(<0,05); 3=Efeito cúbico significativo (P<0,05) Verifica-se que a adição de uréia resultou em um aumento linear nos teores de PB (P<0,05) à medida que se elevaram seus níveis. O mesmo verificado por CARVALHO et al. (2006) com a inclusão das doses de uréia ao bagaço de cana. Esse aumento pode ser explicado pela adição de N não protéico (NNP) em doses crescentes e, portanto, na determinação do N total esses valores são computados como PB.

De acordo com SOUZA et al. (2002), o N é retido por meio de uma reação da amônia com água, contida nos materiais, ou uma reação de amonólise entre a amônia e um éster, produzindo amida. Aumento nos teores de PB pela amonização com uréia, tem sido observado por vários autores como PIRES (2000) e REIS et al. (2001). Estes dados vêm confirmar as informações de OLIVEIRA (2005), afirmando que esta tecnologia (hidrólise) pode ser utilizada conjuntamente com adição de uréia e outros tipos de aditivos na alimentação dos animais, melhorando assim o resultado final. Na tabela 2, observa-se os valores de MS, PB, FDN, FDA, NDT e ph da cana-de-açúcar in natura. Tabela 2-Valores de MS, PB, FDN, FDA, NDT e ph da cana-de-açúcar in natura. MS PB FDN FDA NDT ph Cana in natura 21,69 3,28 63,15 42,82 63,15 5,90 Fonte: Adaptado de Amaral Neto et al., (2000). Na tabela 3 encontram-se os valores de MS, PB, FDN, FDA, NDT e ph da cana-de-açúcar hidrolisada. Tabela 3-Valores de MS, PB, FDN, FDA, NDT e ph da cana-de-açúcar hidrolisada. MS PB FDN FDA NDT ph Cana hidrolisada 29,93 3,16 58,62 39,74 65,34 7,63 Com relação aos valores de FDN e ph, observa-se nas tabelas 2 e 3 que o processo de hidrólise contribuiu para uma melhoria nos valores de FDN quando se compara a cana in natura com hidrolisada, caracterizando um melhor aproveitamento das fibras

pelo animal, enquanto que o valor de ph encontra-se próximo aos citados por THIAGO & VIEIRA (2005). Não houve efeito significativo (P>0,05) para valores de FDN entre os tratamentos, observando-se o mesmo comportamento para valores de NDT, em razão do mesmo ser estimado a partir desta avaliação (FDN). Neste caso ocorreu influência da cal, que foi utilizada na mesma proporção em todos os tratamentos. Os produtos alcalinos agem sobre a fração fibrosa dos volumosos promovendo uma ruptura das pontes de hidrogênio, levando a uma expansão das moléculas de celulose que se tornam mais susceptíveis à ação das enzimas celulolíticas. Provocam ainda, a solubilização da hemicelulose em função do rompimento das ligações do tipo éster da hemicelulose com a lignina (REIS et al., 1993; NEIVA et al., 1998). Esta afirmação, vem confirmar os efeitos da cal sobre a cana. Os valores de FDN encontrados no presente trabalho apresentam média de 55,31 %. Como o FDN está associado a ingestão de MS, estes valores encontrados demonstram estar relacionados a um volumoso de boa qualidade, estando de acordo com KEPLIN (1996). Constatou-se um resultado cúbico (P<0,05) para valores de FDA. Observou-se diferença nos teores de FDA, quando se compara in natura com a cana hidrolisada, com melhoria da digestibilidade do material. GOBBI et al. (2005) utilizando diferentes níveis de uréia no feno de Brachiaria decumbens, observaram redução no teor de FDA de forma linear negativa, registrando valor médio de 5% no nível mais elevado em relação à testemunha. Os valores de ph mostraram um resultado quadrático (P<0,05). Resultado igual ao encontrado por ZANINE et al. (2006) onde os valores de ph foram influenciados de forma quadrática pelos níveis de uréia.

Na tabela 4 encontram-se as equações de regressão para a composição química da cana-de-açúcar hidrolisada com adição de uréia. Tabela 4 Equações de regressão para a composição química da cana-de-açúcar hidrolisada com adição de uréia. Variáveis Equações R 2 MS Y=26,9335 + 0,6018X 0,65 PB Y=6,2885 + 1,5498X 0.96 FDA Y=39,4386 + 2,3600X - 0,3664X 2-0,8563X 3 1,00 ph Y=7,2718 + 0,0041X - 0,0754X 2 0,81 4. CONCLUSÃO O tratamento da cana-de-açúcar com uréia juntamente com a hidrólise proporciona melhoria no valor nutritivo da cana-de-açúcar, comprovada pela elevação do teor de proteína bruta e pela redução do conteúdo de fibra em detergente neutro. Além disso, com a aplicação da uréia no momento da hidrólise, diminui a mão de obra, uma vez que a incorporação dos produtos será feita simultaneamente. Os teores de ph encontrados estão próximos do valor ideal, indicando que o processo de hidrólise associado à adição de uréia não provocou alteração negativa neste parâmetro. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL NETO, J.; OLIVEIRA, M. D. S.; LANÇANOVA, J. A. C.; BETTI, V.; VIEIRA, P. F. Composição químicobromatológica da silagem de cana-de-açúcar sob diferentes tratamentos. In: REUNIÃO ANUAL DA

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 37, 2000, Viçosa. Anais... Viçosa: Sociedade Brasileira de Zootecnia/ Gnosis, 1998. CD-ROM. BURGI, R. Produção do bagaço de cana-de-açúcar (Saccharum sp L.) auto-hidrolisado e avaliação para ruminantes.1985. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal e Pastagens) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba. CARVALHO, G. G. P.; PIRES, A. J. V.; VELOSO, C. M.; MAGALHÃES, A. F.; FREIRE, M. A. L.; SILVA, F. F.; SILVA, R. R; CARVALHO, B. M. A. Valor nutritivo do bagaço de cana-de-açúcar amonizado com quatro doses de uréia. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.41, n.1, p.125-132, jan. 2006. DEMARCCHI, J. O uso da cana-de-açúcar como recurso forrageiro. In: SIMPÓSIO DE MANEJO DE PASTAGENS, 18., 2001, Piracicaba. Anais... Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2001. p.84. EMBRAPA GADO DE LEITE. Cana com uréia. Alternativa para enfrentar o período seco. Juiz de Fora, 2002. Disponível em: <http://www.cnpgl.embrapa.br/jornaleite/%20aprendendo.php>. Acesso em 12. Set.2007 GALATI, R. L. et al. Cana hidrolisada. 2005, Disponível em: <http://www.baldebranco.com.br/>. Acesso em: 12 set. 2007. GARCIA, R. ; PIRES, A.J.V. Tratamento de volumosos de baixa qualidade para utilização na alimentação de ruminantes. In: CONGRESSO NACIONAL DOS ESTUDANTES DE ZOOTECNIA, 1998, Viçosa. Anais... Viçosa: AMEZ, 1998. p. 33-60. GOBBI, K. F.; GARCIA, R.; GARCEZ NETO, A. F.; PEREIRA, O. G.; BERNARDINO, F. S.; ROCHA, F. S. Composição química e digestibilidade in vitro do feno de Brachiaria decumbens Stapf. tratado com uréia. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.34, n.3, p.720-725, 2005. GRANZIN, B. C.; DRYDEN, G. M. Effects of alkalis, oxidants and urea on the nutritive value of rhodes grass (Chloris gayana cv. Callide). Animal Feed Science and Technology, Amsterdam. v.103, n.1/4, p.113-122, 2003. KEPLIN, L. A. S. Silagem de milho de alta qualidade. In: I Congresso Internacional, VI Congresso Nacional, XIV Congresso Estadual de

Zootecnia, 1996, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: PUCRS, 1996. p. 125. MAGALHÃES, A.L.R.; CAMPOS, J.M.S.; VALADARES FILHO, S.C. et al. Cana-de-açúcar em substituição à silagem de milho em dietas para vacas em lactação: desempenho e viabilidade econômica. Revista Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.33, n.5, p.1292-1302, 2004. MOREIRA, H. A.. Cana-de-açúcar na alimentação de bovinos. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 9, n.108, p.14-16, dez. 1983. NEIVA, J. N. M.; GARCIA, R.; VALADARES FILHO, S. C. et al. Consumo e digestibilidade aparente de matéria seca e nutrientes em dietas à base de silagens e rolão de milho amonizados. Revista Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.27, n.3, p.453-460, 1998. OLIVEIRA, M.D.S. Cana Hidrolisada: Produtividade de carne e leite com baixo custo. 2004. Disponível em <http://www.hidrocana.com.br>. Acesso em 13.set.2007. OLIVEIRA, M. D. S.; QUEIROZ, M. A. A.; CALDEIRÃO, E.; BETT, V.; RIBEIRO, G.M. Efeito da hidrólise com NaOH sobre a digestibilidade in vitro da matéria seca da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.). Ars Veterinária, v. 18, n. 2, p. 167-173, 2002. PINTO, A. P.; PEREIRA, E. S.; MIZUBUTI, I. Y. Características nutricionais e formas de utilização da cana-de-açúcar na alimentação de ruminantes. 2003. p. 73-84. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal)- Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2003. PIRES, A.J.V. Bagaço de cana-de-açúcar tratado com amônia anidra e, ou, sulfeto de sódio para novilhas em crescimento. 2000. 65p. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2000. REIS, R. A.; RODRIGUES, L. R. A.; PEREIRA, J. R. A. Composição química e digestibilidade de fenos tratados com amônia anidra ou uréia. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.30, n.3, p.666-673, 2001. REIS, R. A.; RODRIGUES, L. R. A.; PEREIRA, J. R. A.; BONJARDIM, S. R. Amonização de resíduos de culturas de inverno. Revista da

Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.22, n.5, p.787-793, 1993. REIS, R.A.; RODRIGUES, R.L.A.; RESENDE, K.T.; PEREIRA, J.R.A.; RUGGIERI, A.C. Avaliação de fontes de amônia para o tratamento de fenos de gramíneas tropicais. I. Constituintes da parede celular, poder tampão e atividade ureática. Revista Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.30, p.674-681, 2001. SILVA, D.J. Análise de alimentos (Métodos Químicos e Biológicos). UFV, Imprensa Universitária, 166 p, 1991. SOUZA, A.L.; GARCIA, R.; PEREIRA, O.G.; CECON, P. R.; PIRES, A.J.V.; LOURES, D.R.S. Valor nutritivo da casca de café tratada com amônia anidra. Revista Ceres, v.26, p.669-681, 2002. THIAGO, L.R.L.S.; VIEIRA, J.M. Cana-de-Açúcar uma alternativa de alimento para a seca. Disponível em <www.udr.org.br>. Acesso em 12. Set.2007. TOSI, H. Ensilagem de gramíneas tropicais sob diferentes tratamentos. 1973. 107 p. (Tese Doutorado) - Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 1973. VILELA, M. S.; FERREIRA, M.A.; VÉRAS, A.S.C.; SANTOS, M.V.F.; FARIAS, I.; MELO, A;A;S.; RAMALHO, R.P. e ARAÚJO, P.R.B. Avaliação de diferentes suplementos para vacas mestiças em lactação alimentadas com cana-de-açúcar: desempenho e digestibilidade. Revista Sociedade Brasileira de Zootecnia. Viçosa, v.32, n.3, 2003. ZANINE, A. M.; SANTOS E. M.; FERREIRA, D.J.; PEREIRA O. G. Efeito da amonização sobre o desenvolvimento de mofos e leveduras e valor nutricional do bagaço de cana-de-açúcar. Revista de Biologia e Ciências da Terra. Campina Grande, v.6, n.2, 2006.