O APOSTILISMO: 50 anos de Brasil



Documentos relacionados
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO.

Pedagogia Estácio FAMAP

INTEGRAÇÃO DE MÍDIAS E A RECONSTRUÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

O INVISÍVEL NA EDUCAÇÃO

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

difusão de idéias A formação do professor como ponto

Iniciando nossa conversa

LABORATÓRIO DE ESTUDOS DO TEXTO: UMA ABORDAGEM EXTENSIONISTA

COMUNICADO À COMUNIDADE ACADÊMICA DO PROGRAMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL - IFMA

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS


Programa de Gestão Estratégica da chapa 1

PUBLICO ESCOLAR QUE VISITA OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE MANAUS DURANTE A SEMANA DO MEIO AMBIENTE

ATIVIDADES DESENVOVLIDAS PELO LABORATÓRIO DE ENSINO DE MATEMÁTICA LEM- FOZ

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO INICIAL DOS GRADUANDOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

O vídeo nos processos de ensino e aprendizagem

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

O ENSINO DA ESTATÍSTICA NA PLANILHA ELETRÔNICA (EXCEL)

Tecnologia sociais entrevista com Larissa Barros (RTS)

PROCESSO Nº 790/12 PROTOCOLO Nº PARECER CES/CEE Nº 24/12 APROVADO EM 12/06/2012

IV EDIPE Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino 2011

A REGULAMENTAÇÃO DA EAD E O REFLEXO NA OFERTA DE CURSOS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Novas Tecnologias Aplicadas à Educação O Paradigma Pedagógico da Informática Educativa Parte III. Prof. Hugo Souza

DIRETRIZES DAS POLÍTICAS INSTITUCIONAIS DA PUC-CAMPINAS. Aprovadas na 382ª Reunião do CONSUN de 16/12/2004

definido, cujas características são condições para a expressão prática da actividade profissional (GIMENO SACRISTAN, 1995, p. 66).

A ÁLGEBRA NO ENSINO FUNDAMENTAL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE INTERVENÇÃO

ENSINO SUPERIOR: PRIORIDADES, METAS, ESTRATÉGIAS E AÇÕES

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E MOVIMENTOS SOCIAIS - PRÁTICAS EDUCATIVAS NOS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

A INCLUSÃO DOS DIREITOS HUMANOS NAS TURMAS DO EJA POR MEIO DAS NOVAS TECNOLOGIAS

Transcrição aula inaugural Professor Irineu Mario Colombo, reitor do Instituto Federal do Paraná Fevereiro de 2013

Maria Clarisse Vieira (UnB) Maria Emília Gonzaga de Souza (UnB) Denise Mota Pereira da Silva (UnB)

Política monetária e senhoriagem: depósitos compulsórios na economia brasileira recente

Investimento a serviço da transformação social

Universidade Federal de Roraima Centro de Educação CEDUC Curso de Pedagogia Laboratório de Informática

Direito a inclusão digital Nelson Joaquim

Carta Aberta aos Estudantes e Trabalhadores dos Cursos de Graduação a Distância em Serviço Social no Brasil

11. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

VII E P A E M Encontro Paraense de Educação Matemática Cultura e Educação Matemática na Amazônia

QUANTO VALE O MEU DINHEIRO? EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O CONSUMO.

As contribuições do PRORROGAÇÃO na formação continuada dos professores da Rede Municipal de Educação de Goiânia.

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO

DITADURA, EDUCAÇÃO E DISCIPLINA: REFLEXÕES SOBRE O LIVRO DIDÁTICO DE EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA

INVESTIGANDO O OLHAR DOS PROFESSORES EM RELAÇÃO AS PESQUISAS EM CIÊNCIAS

A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM COMO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO E INCLUSÃO

A IMPORTÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA OS CURSOS PRÉ-VESTIBULARES

EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA E AS NOVAS ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO MÉDIO

Desafios para a gestão escolar com o uso de novas tecnologias Mariluci Alves Martino

MATRIZ CURRICULAR. NÚCLEO TEMÁTICO I CONCEPÇÃO E METODOLOGIA DE ESTUDOS EM EaD CÓD DISCIPLINAS E EMENTAS CARGA HORÁRIA

A INFORMÁTICA E O ENSINO DA MATEMÁTICA

DESAFIOS DE UMA PRÁTICA INOVADORA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: REFLEXÃO SOBRE O CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA COM ÊNFASE EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A experiência da Engenharia Clínica no Brasil

Profª. Maria Ivone Grilo

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE

ITINERÁRIOS DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

LICENCIATURA EM MATEMÁTICA. IFSP Campus São Paulo AS ATIVIDADES ACADÊMICO-CIENTÍFICO-CULTURAIS

PROBLEMA É IMPLEMENTAR LEGISLAÇÃO

Administração de Pessoas

O USO DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS COMO FERRAMENTA DIDÁTICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

RESULTADOS E EFEITOS DO PRODOCÊNCIA PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DO INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS RESUMO

LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA E AS REFORMAS CAMPOS E CAPANEMA

PEDAGOGO E A PROFISSÃO DO MOMENTO

ROCHA, Ronai Pires da. Ensino de Filosofia e Currículo. Petrópolis: Vozes, 2008.

7 etapas para construir um Projeto Integrado de Negócios Sustentáveis de sucesso

FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN INTERVENÇÃO EDUCATIVA INSTITUCIONAL PROJETO PSICOPEDAGÓGICO

O USO DO TANGRAM EM SALA DE AULA: DA EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO MÉDIO

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

INTRODUÇÃO. Entendemos por risco a probabilidade de ocorrer um dano como resultado à exposição de um agente químico, físico o biológico.

Educação Continuada em Enfermagem

RELAÇÕES INTERDISCIPLINARES ENTRE EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

CONSTRUÇÃO DE QUADRINHOS ATRELADOS A EPISÓDIOS HISTÓRICOS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA RESUMO

5 Considerações finais

TECNOLOGIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

O ESTADO DA ARTE DO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA DA UFRN A PARTIR DAS DISSERTAÇÕES E PERFIL DOS EGRESSOS

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A FORMAÇÃO DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS NATURAIS

SOFTWARE EDUCACIONAL: RECURSO PEDAGÓGICO PARA MELHORAR A APRENDIZAGEM NA DISCIPLINA DE MATEMÁTICA

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

O CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA UFBA; DA CRÍTICA A FORMAÇÃO À FORMAÇÃO CRÍTICA

INDAGAR E REFLECTIR PARA MELHORAR. Elisabete Paula Coelho Cardoso Escola de Engenharia - Universidade do Minho elisabete@dsi.uminho.

Fundamentos para uma prática pedagógica: convite de casamento

COMPETITIVIDADE EM PECUÁRIA DE CORTE

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

O ENSINO DA DANÇA E DO RITMO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM RELATO DE EXPERIENCIA NA REDE ESTADUAL

Apresentação. Cultura, Poder e Decisão na Empresa Familiar no Brasil

Métodos de ensino-aprendizagem aplicados às aulas de ciências: Um olhar sobre a didática.

O JOGO COMO INSTRUMENTO FACILITADOR NO ENSINO DA MATEMÁTICA

UMA PROPOSTA DE ATIVIDADE DE MODELAGEM MATEMÁTICA PARA O DESENVOLVIMENTO DE CONTEÚDOS MATEMÁTICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL I

Informações do Questionário. Programa Autoavaliação Institucional - UFSM Questionário Segmento Egresso

INTRODUÇÃO O atual modelo econômico e social tem gerado enormes desequilíbrios ambientais. O

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

SUPERVISOR DARLAN B. OLIVEIRA

CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: UM OLHAR SOBRE O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO RAFAELA DA COSTA GOMES

POR QUE FAZER ENGENHARIA FÍSICA NO BRASIL? QUEM ESTÁ CURSANDO ENGENHARIA FÍSICA NA UFSCAR?

ACESSIBILIDADE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EXPERIÊNCIA COM UM ALUNO CEGO DO CURSO DE GEOGRAFIA, A DISTÂNCIA

Educação. em territórios de alta. vulnerabilidade

Boletim Econômico Edição nº 86 outubro de Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico

Revista Especial de Educação Física Edição Digital v. 3, n. 1, novembro 2006.

Transcrição:

O APOSTILISMO: 50 anos de Brasil Cassiano Zeferino de Carvalho Neto A partir da década de 60, do século XX, o aumento da demanda por vagas nas universidades públicas gerou o início de uma vigorosa ação preparatória para os vestibulares e viria a ser realizada, principalmente, pelos cursinhos. O problema central dos cursinhos era, e de certa forma continua sendo, ampliar, aprofundar e tratar um notável conjunto de informações, num período de tempo muito reduzido em relação à duração média da Educação Básica. Levando em conta que, em geral, o currículo do ensino médio é desenvolvido ao longo de três anos letivos e que o período de preparo nos cursinhos varia entre nove, seis e três meses em programas extensivos, semi- extensivos e intensivos, respectivamente, como compatibilizar então esses intervalos de tempo tão díspares? Como compactar três anos em seis meses, ou menos, buscando dar conta da missão de preparar o aluno para enfrentar um exame vestibular? Uma das saídas para este desafio foi encontrada com a construção de uma tecnologia, desenvolvida no início do século XX, chamada de Apostilismo. Mas, o que é mesmo uma Apostila? A post illa: nota breve, ou complemento, à margem de um texto qualquer; notas resumidas de lições e aulas professadas nos estabelecimentos de ensino. A origem da palavra Apostila estrutura-se, portanto, em: illa dedução, conclusão, inferência e em post após, depois. Poderíamos dizer: aquilo que foi escrito, registrado, posteriormente a um fato ou processo.

Relendo o significado de Apostila vemos que sua estrutura se fundamenta numa organização da informação de modo a enfatizar notas finais e conclusões acerca de teorias e seus desdobramentos, de caráter geral ou específico. Historicamente a técnica do apostilismo, por condensar e registrar estritamente o necessário ao ensino-aprendizagem, permitiu a produção de um material de apoio às aulas capaz de responder ao problema de limitação de tempo, apresentado anteriormente. Associese a isso a organização em módulos, aulas ou temas de modo a uniformizar ações e garantir o cumprimento do programa nas unidades de um mesmo cursinho, ou escola conveniada, espalhados fisicamente numa mesma cidade, estado, ou país. Se, por um lado, a técnica do apostilismo vinha para resolver um problema logístico e definia uma metodologia, isto é, um caminho próprio, por outro podemos questionar o impacto educacional que esta concepção potencializava. De fato, o modelo educacional inaugurado pelo apostilismo propiciava a gestão de processos de ensino-aprendizagem calcados na decoréba ou, quando muito, alicerçados numa lógica interna precisa, mas totalmente desvinculada das vivências pessoais do estudante e, ainda menos, de seu cotidiano cultural. Não havia, portanto, dentro da perspectiva fornecida pelo apostilismo, a dimensão de metodologias que permitissem ao estudante a formação de noções ou a construção de conceitos de modo contextualizado: não havia vivência, enfim. O que se objetivava era essencialmente a informação pronta, compactada, otimizada e... Inquestionável. Decorrentemente, nesta concepção educacional se eliminava a reflexão ativa, o fazer e o criar, partindo-se diretamente para o post, isto é, a inferência final, o resumo da teoria, abandonando-se por completo os processos que deram origem às construções dos conjuntos de conhecimentos das áreas e componentes estudados.

Analisando a origem da palavra e o conceito que o Apostilismo emprestou à produção de publicações dirigidas a atender às necessidades iniciais dos cursinhos, podemos refletir acerca de implicações que estes produtos e sua utilização em ensino-aprendizagem tiveram no curso da Educação em nosso país. O aspecto que diretamente diz respeito às escolas se traduz por desdobramentos de ordem conceptual e estrutural, com conseqüências muito sérias para a Educação e os modelos gerados e operacionalizados nas últimas décadas. Ocorre que ao longo do processo descrito e que se intensifica a partir da década de 60, começa a se criar um dogma que passa então a ser aceito, inicialmente sem questionamento, e que chamaremos de dogma do vestibular. Por dogma do vestibular queremos dizer da criação implícita de um critério de qualidade de ensino o qual, em linhas gerais, estabelece que: A boa escola é aquela que põe o aluno da Faculdade, sem que o mesmo tenha que fazer o cursinho. Esta crença foi se sedimentando de tal modo no imaginário da sociedade que as escolas passaram a idealizar suas ações visando atingir tal objetivo magnânimo. Mesmo quando os projetos pedagógicos procuravam se fundamentar numa dimensão humanista da formação do estudante chegava o ponto no qual a febre do vestibular se manifestava e com ela a angústia das escolas, das famílias e dos próprios estudantes, visto que era chegada a hora de enfrentar, enfim, se preparar para o exame vestibular. Enquanto isso, e falamos dentro de uma perspectiva histórica e, portanto, dinâmica, as escolas tendiam a se ajustar às expectativas sociais mencionadas, criando para si, enquanto instituições, um conflito fundamental. Uma vez que não sabiam ao certo como responder àqueles novos desafios, havia a poderosa expectativa gerada pelo dogma do vestibular. Em meio às incertezas e desconhecimento ainda das possíveis soluções aos problemas enfrentados, oscilavam não-harmonicamente e geravam uma crise de identidade institucional: afinal, o que somos e para que existimos enquanto escola? Quais são nossos papéis sociais? Informar ou formar? Enfim, o que fazer, por onde e como seguir?

Aulas práticas que envolviam atividades e vivências iam dia-a-dia desaparecendo sendo substituídas simplesmente por aulas unicamente expositivas. O modelo professoraluno-lousa-giz se fortaleceria como nunca, afinal era barato, simples e exigia uma logística primária. Mais alunos, maior demanda por vagas, maior faturamento, mais escolas, necessidade de mais professores, a maior parte deles ainda estudantes ou não graduados, e o início de um velocíssimo processo de simplificações metodológicas: a era do professor-alunolousa-giz se institucionalizava rápida e irrefletidamente. Mas o modelo não estava completo: para atender às expectativas e necessidades dos novos tempos eram necessárias publicações que expressassem e consolidassem os novos paradigmas. Foi então, por essa época, que o livro didático começou a ser escrito no formato de apostila. Nasceria, a partir daí, um gigantesco mercado editorial que, desde as décadas de 60 e 70, continua crescendo a cada ano no país e hoje conta com a participação de grandes empresas nacionais e internacionais. As inúmeras publicações foram sendo cada vez mais aprimoradas e as antigas apostilas dos cursinhos se transformaram em magníficos livros didáticos. Como as vivências diretas não eram viabilizadas, pelas razões expostas, e dar aula era dar aula diante dos alunos tendo por fundo o quadro-negro, os livros procuravam emprestar um colorido especial às matérias. Mas, isso não se deu de um salto. Durante muitos e muitos anos o livro didático era sem ilustração, árido, dando conta dos conteúdos que deveriam ser ensinados aos alunos. Será somente a partir da década de 1990 que os livros começam a ganhar farta ilustração colorida, afinal a crítica por uma educação não tão formalizadora e propedêutica começava a ganhar dimensão no país, ainda que de modo muito discreto. Se for certo que boas publicações agregam valor efetivo aos processos educacionais é certo também que a educação deveria buscar superá-las na dimensão das vivências que, essencialmente, foram as fontes culturais que ao longo do tempo geraram e continuam produzindo conhecimento. As escolas estão, em nosso entender, no momento de uma transição do modelo do apostilismo para algo que não sabemos ao certo o que será, mas que

parece romper com os paradigmas que embalaram e deram substrato a 50 anos de educação no Brasil. Referência Bibliográfica CARVALHO NETO, C. Z. & MELO, M. T. E agora, Professor?. IFCE: São Paulo, 2004. Cassiano Zeferino de Carvalho Neto tem Pós-doutorado em andamento no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA); Doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento (EGC/UFSC); Mestrado em Educação Científica e Tecnológica (ECT/UFSC); Especialidade em Qualidade na Educação Básica (INEAM/OEA/USA) e Licenciatura em Pedagogia, com complementação em Física (PUCSP). Fundador da Laborciencia Editora, do Instituto para a Formação Continuada em Educação (IFCE) e do Instituto Galileo Galilei para a Educação (IGGE). Artigo originalmente publicado na Revista Direcional Educador, setembro/2006.