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Transcrição:

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO UL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE ARTES VISUAIS Professor Dr. Isaac A. Camargo AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM: www.artevisualensino.com.br

Ensino da Fotografia: Percursos, Projetos e Processos Pedagógicos. 1 Professor. Dr. Isaac A. Camargo www.artevisualensino.com.br

Este material é fruto do percurso pedagógico que venho realizando na Fotografia e uma tentativa de delinear os procedimentos didáticos nesse contexto.

O conceito de Ensino pressupõe o de Aprendizagem. Dai se conclui que esta é uma via de mão dupla: de um lado estão aqueles que organizam os métodos, técnicas e procedimentos com vistas à mediação deste processo; de outro, o estudante, aquele que o realiza.

Ao longo de minha carreira docente, iniciada em 1974 em Ribeirão Preto e em 1976 na Universidade Estadual de Londrina, junto aos cursos de Arte e Comunicação, a Fotografia foi a disciplina na qual atuei por mais tempo. Fosse na graduação ou na pósgraduação. Posso então que, nestes 40 anos de atividade docente, a fotografia esteve presente na maioria deles.

A partir deste relato, considero ter uma larga experiência no ensino de fotografia. As duas publicações que realizei na área resultaram de minhas atividades docentes: Métodos e Técnicas para o Ensino da Fotografia e Reflexões Sobre o Pensamento Fotográfico,

Em Métodos e Técnicas para o Ensino da Fotografia, avaliei o percurso em torno dos aspectos pedagógicos e, especialmente, didáticos para este campo de conhecimento.

Método é algo de caráter geral e Técnica uma abordagem mais específica. Esta é a base pedagógica do material aqui proposto.

Ambos: Métodos e Técnicas, dependem dos conhecimentos, de domínios e habilidades docentes, sem estes, aqueles não se realizam. O que move o ensino em qualquer área são os Conteúdos, as informações, conhecimentos e procedimentos necessários para compreender e exercer atividades num determinado campo do saber.

Portanto, vamos tratar do Ensino da Fotografia mediante a apresentação dos conteúdos que destacamos ao longo de nossa atividade docente.

Conteúdos do campo específico da Fotografia.

Como em todas as áreas, o conhecimento sobre a Fotografia não surgiu espontaneamente, foi se desenvolvendo e acumulando por meio das descobertas, buscas, pesquisas e investigações. Na medida em que se desenvolveu, também se especializou.

Neste sentido podemos abordá-lo sob dois aspectos: Teóricos e Técnicos.

Sob o aspecto Teórico podemos abordar este campo de conhecimento a partir de sua História, ou seja, as ocorrências que se manifestaram com o passar do tempo e que fizeram com que a Fotografia surgisse e se desenvolvesse.

Sob este mesmo aspecto, podemos também discorrer à respeito de seus princípios técnicos, pressupostos conceituais, premissas filosóficas e estéticas entre outras possibilidades que tenham por meta discutir a fotografia conceitualmente e nas suas relações com a sociedade e outros campos de conhecimento, seja no contexto expressivo, documental, informativo ou comunicativo.

Sob o segundo aspecto podemos abordar a fotografia por meio do seu desenvolvimento Técnico, ou seja, por meio das condicionantes óticas, mecânicas, tecnológicas que determinaram a constituição de seus aparelhos, sistemas de registro e suportes que possibilitaram sua configuração, veiculação e distribuição.

No segundo texto: Reflexões sobre o Pensamento Fotográfico, a proposta foi falar à respeito das motivações e condicionantes que nos levam a discutir o que chamamos de Práxis e Discurso Fotográfico: de um lado o fazer e de outro o pensar. Ao meu ver um e outro são vasos comunicantes, são uma unidade onde variam as abordagens.

Neste sentido, o Ensino da Fotografia deve ser abordado sob estes dois aspectos: o Teórico e o Técnico. Ambos devem ser ponderados na escolha e organização dos conteúdos necessários a este campo de ensino já que os modos como os abordamos se modificam em função do tipo de formação que se espera promover.

Por exemplo: a formação do artista é diferente do documentarista que, por sua vez, é diferente do historiador, do antropólogo, do publicitário, do educador e assim por diante. Neste caso os objetivos e processos também são diferentes entre si. Embora todos tem em comum um domínio: o Técnico.

A metodologia desenvolvida nestes anos todos tomou como base o aspecto Técnico já que ela é o ponto comum, a constante, entre as diferentes variáveis decorrentes dos campos nos quais a fotografia atua. Mesmo que, eventualmente, obliterada pela automação que sempre tentou se apropriar do ato fotográfico, a técnica é o fator essencial para sua realização.

A técnica determina boa parte da aparência das fotografias pois os componentes óticos ou mecânicos do aparelho fotográfico, deixam suas marcas e rastros nas imagens que registram. Em consequência disso tanto a poética quanto a estética são determinadas por tais aspectos. Sem eles, a Fotografia seria mero espelho

Por outro lado, o aspecto Teórico admite as abordagens Conceituais, inclusive das premissas e pressupostos básicos para sua compreensão, análise e desenvolvimento. Admite que a fotografia não apenas registra, mas interpreta, interfere, altera, reitera, completa, complica, explicita, significa e ressignifica tudo aquilo que se coloca diante da câmera... ou diante de nós

Ao mesmo tempo deve-se ponderar que as escolhas dos modos de significar ou ressignificar resultam das combinatórias realizadas, volitiva ou intuitivamente, pelo autor entre o meio, o assunto, a câmera e o que ele quer ou espera alcançar. A fotografia não é um mero registro mas sim um modo de interagir e construir sentido, de Significar: um ato Semiótico.

A partir destas informações preliminares, podemos explanar à respeito das proposições pedagógicas que desenvolvemos no Ensino da Fotografia.

Tudo tem uma história e toda história tem seu começo.

Os conteúdos históricos são os primeiros a nos orientar para compreender a fotografia e um dos motivos que nos levam a pensar sobre a fotografia. Devemos rever o percurso de seu invento e as características marcantes do processo por meio do qual ela surgiu e se consolidou para melhor compreender sua essência.

Conceitualmente, entendemos a fotografia como uma manifestação discursiva amparada na práxis fotográfica, na qual a captação, manipulação e ordenamento das substâncias expressivas: Luminosidade, Espacialidade e Temporalidade, realizada por meio de aparelhos, técnicas e procedimentos, determinam os sentidos e significação das imagens nos contextos sociais dos quais resultam ou são inseridas.

Portanto, a base teórica desta proposta pedagógica se constitui no que consolidamos no Pensamento Fotográfico ou seja: o modo de abordar os procedimentos que determinam a concepção, produção e significação das imagens fotográficas, independente dos usos para os quais se destinam na sociedade.

Esta abordagem pedagógica parte do aspecto Técnico como base de conhecimento e o princípio técnico da imagem fotográfica é o fenômeno ESTENOPÉICO

ESTENOPO é o nome grego de furo, orifício. É a condição ótica primária e estruturante da imagem fotográfica.

A luz, ao passar por um orifício, transfere as informações luminosas que estão diante dele, para o lado oposto e, no caso da fotografia, para uma superfície no interior de uma câmara, um compartimento fechado que depois foi transformado num aparelho e chamado de Câmera.

Esta superfície, originariamente um suporte para desenho, passa a ser preparada com produtos sensíveis, depois incorpora sensores para captar as informações luminosas emanadas do ambiente. Portanto o estenopo é o ponto de partida do Ensino Fotográfico.

Compreender o fenômeno estenopéico é essencial para entender a configuração da imagem fotográfica já que ele é uma de suas principais determinantes. A luz ao passar por um orifício tem a propriedade de transferir as informações refletidas do ambiente para o lado oposto ao furo possibilitando sua visibilidade e depois seu registro.

O Fenômeno Estenopéico e o surgimento da Fotografia

A imagem estenopéica obtida por meio de um orifício tem a aparência e semelhança das imagens constituídas por nossos olhos Os olhos humanos funcionam estereo e estenopeicamente na constituição das imagens

Aristóteles e Euclides, na antiga grécia, acreditavam que eram os olhos que projetavam as imagens e não os raios luminosos que nos atingiam. Alhazen, um estudioso árabe, na Idade Média, corrigiu esta concepção e estabeleceu os parâmetros para os estudos da ótica, o que facilitou a construção das Câmaras Escuras, as precursoras das câmeras fotográficas.

Representações dos séculos XVII, XVIII de aplicação do efeito estenopéico em Câmaras Escuras

Sugestão da projeção de uma imagem por meio de um estenopo

Sabe-se, então, que uma imagem pode ser transferida do ambiente para o interior de uma Câmara Escura por meio da luz, entretanto para que isto ocorra, há necessidade de uma fonte de iluminação eficiente, sem isso é impossível ver as coisas e, tampouco, fazer com que as câmeras captem informações luminosas.

Um exemplo contemporâneo é Abelardo Morell é um fotógrafo que opera o sistema original da Camara Obscura, instala plástico preto na janela de um quarto com vista para o exterior, isolando o compartimento da luz, faz um orifício neste plástico e reproduz no interior do ambiente o que se passa no exterior. A partir daí grava uma imagem em câmara convencional, analógica ou digital.

Com isto Morell consegue instalar no ambiente interno as imagens externas e faz com que a projeção interfira e dialogue com os objetos, mobília e aspectos arquitetônicos do lugar produzindo uma sensação de estranhamento e encantamento. Neste caso preserva o fenômeno estenopéico no contexto da Arte Contemporânea numa espécie de Instalação particular.

Tomando por referência o conceito original do termo: Fotografia. Sabemos que FOTO é o conceito grego que significa luz, GRAFIA é o termo que se refere à desenho, registro, logo, FOTO-GRAFIA é a retenção de uma imagem por meio da luz. Neste sentido pode-se dizer que o segundo aspecto essencial para a concepção da fotografia é o seu Registro.

Como sabemos, o princípio estenopéico já era conhecido desde a antiguidade e, como vimos, no Renascimento indicava-se o uso de câmaras escuras para facilitar o desenho. Entretanto foi só no século XIX que se tornou possível gravar imagens exclusivamente por meio da luz, sem a intervenção da mão humana.

Tal conquista só foi possível por meio da descoberta de que certos materiais eram sensíveis à radiação luminosa e, além disso, eram capazes de reter a luz como a prata, por exemplo, desde que submetidos a um processamento químico. Tal propriedade tornou possível a gravação de uma imagem por meio da incidência direta da luz sobre um suporte sensível.

E só no momento em que a luz é capaz de produzir um registro imagético do meio, através de um aparelho ótico, é que se pode dizer que a Fotografia, de fato, surgiu. Inicialmente por meio de processos químicos e, contemporaneamente, por meio de processos digitais. Tanto um processo quanto outro preservam a essência do conceito fotográfico.

Primeira fotografia, produzida por Joseph Nicephore-Niepce, em 1826, por meio da exposição de uma chapa de metal, preparada como betume e exposta por várias horas

Reprodução da primeira imagem feita pelo centro de pesquisas da Kodak em Harrow, Inglaterra, 1952

Imagem da primeira fotografia, Harry Ransom Humanities Research Center, Austin, EEUU

Verso da moldura que contém a primeira fotografia

Nicephore-Niepce, 1827

Nicephore-Niepce, 1835

A precariedade destas imagens colocaram a Fotografia nascente em xeque e, muitos críticos apostavam no seu desaparecimento. Entretanto, vislumbrando a possibilidade de fazer com que se tornasse algo mais próximo daquilo que víamos ou do que os artistas conseguiam realizar, estimulou alguns inventores a investirem no projeto.

Pode-se dizer que o mesmo aconteceu com as primeiras imagens digitais, a precariedade manifesta por estas imagens motivou a descrença no desenvolvimento de sua qualidade técnica em comparação à fotografia analógica que já demonstrava, no processo químico, um excelente nível de qualidade imagética.

Russel Kirsch, primeira fotografia digital, 1957

O engenheiro Russel Kirsch, fotografa seu filho Walden Kirsch aos três meses, em 1957. Esta é a primeira fotografia digital da história.

No passado, a primeira associação favorável ao invento aconteceu entre Nicephore-Niepce e Jacques Mandé- Daguerre, resultou no invento do Daguerreótipo, pequenas placas de metal com imagens positivas de pequeno formato que se tornou moda no século XIX

Daguerreótipos

O Daguerreótipo já possuía melhor qualidade na interpretação das qualidades sensíveis do mundo natural e, neste sentido, trouxe mais credibilidade para a consolidação da fotografia como meio de produção de imagens e registro.

É interessante notar que a busca que resultou no surgimento da fotografia não tinha como meta o seu invento, o que se pretendia era o desenvolvimento de um processo mais eficiente e rápido para a reprodução de imagens, naquela época de gravuras, ou seja, um sistema de reprodução gráfica mais adequado.

Nestas duas imagens de Nicephore-Niepce, temos, à esquerda, a gravura trabalhada em seu resultado final e, à direita, a imagem tomada originariamente e que serviu de base para a gravura definitiva

Por incrível que isto possa parecer hoje em dia, a fotografia surge como um efeito colateral à busca de um processo gráfico mais eficiente. A maioria daqueles que participaram da invenção da fotografia estavam envolvidos em processos gráficos e não na busca deum sistema de reprodução do mundo natural, isto já era muito bem feito pelos artistas

A dificuldade de reproduzir imagens fez com que a fotografia buscasse apoio no contexto da Arte. Havia um interesse muito grande dos primeiros fotógrafos em qualificar a fotografia como arte e não como um meio de documentação ou de registro do visível, para o qual ela não servia incialmente. Isso possibilitou o surgimento de sua primeira tendência estética: o Pictorialismo.

Robert Demachy, um dos artistas fotógrafos se utiliza da reprodução fotográfica para dar um tom mais naturalista às suas imagens

Robert Demachy

Robert Demachy, 1896

Oscar Gustav Rejlander, Dois caminhos da vida, 1857, mostra uma visão alegórica de inspiração clássica.

Rejlander se inspirou na obra de Thomas Couture s The Romans during the Decadence, típica da estética novecentista.

Oscar Gustav Rejlander, Tempos difíceis, 1860

Na medida em que os sistemas de reprodução de imagens fotográficas se desenvolveram, por meio da ótica e da química, foi possível construir imagens com maior reciprocidade com o mundo visível, como também foi possível desenvolver os processos fotomecânicos no contexto da imprensa em busca de aplicações gráficas.

Podemos dizer que a Fotografia trilhou dois caminhos funcionais distintos: Um que possibilitou a realização de registros do mundo natural, suas ocorrências e a documentação de fatos e eventos assumindo uma importância sem precedentes para a sociedade mediante seu uso em sistemas de registro e comunicação.

Outro que apostou na Fotografia como meio de expressão e investiu em sua poética mantendo-a no cntexto da Arte e mantendo suas manifestações em diálogo contínuo com os diferentes estatutos da Arte, mediante as variações estéticas às quais também se submeteu. Entender estes dois caminhos é importante para a definição de um projeto pedagógico.

Na medida em que a Fotografia se consolidou como um invento capaz de reproduzir imagens semelhantes ao mundo natural, passou a exercer uma função importante na construção da memória humana e, ao mesmo tempo na manutenção de um sistema de registro eficiente para a documentação social.

Neste caso, produzir registros de caráter documental, como os retratos por exemplo, passam a ser uma de suas opções práticas instaurando o fotodocumentarismo, contribuindo para a construção e preservação da memória social. Este é um dos recortes pedagógicos possíveis.

Pode-se dizer que as primeiras fotografias de caráter documental foram reforçadas pelos conflitos bélicos: um foi a guerra da Criméia (1853-56), na região da Ucrânia envolvendo, de um lado a Rússia e de outro a França, Inglaterra, Sardenha e Turquia; outro foi a guerra civil americana (1861-65), um conflito entre os estados do sul contra os estados do norte.

Criméia, Roger Fenton, 1855

Criméia, Roger Fenton, 1856

Guerra Civil Cmericana Timothy O Sullivan, 1863

Guerra Civil Americana, Timothy O Sullivan.

As imagens de Fenton, são menos agressivas, mostram as tropas e acampamentos, mas não resultados de batalhas, as de Sullivan, são mais explícitas e tocam a violência da batalha.

É interessante lembrar que, as imagens tomadas pela fotografia, para serem publicadas nos jornais da época, dependiam de suas reproduções em gravuras, ou seja, nenhuma delas foi publicada por meios foto-mecânicos, apenas por interpretações de gravuristas que, nem sempre, se mantinham fiéias aos dados originais

Morgan's men raiding Salem, IN on July 10, 1863 from "Frank Leslie's Illustrated Newspaper"

Com relação ao processo digital, vale a pena tocar um pouco mais nesse assunto para nos situar também em relação a este invento.

O primeiro protótipo de câmera digital foi construído nos laboratórios da Kodak por Steve Sasson, em 1975.

Em 1986 a Kodak desenvolve um sensor capaz de registrar 1 megapixel e produzir imagens compatíveis com registros razoáveis, mas não prioriza este projeto.

Comercialmente a primeira câmera lançada foi a MAVICA da Sony. Abreviatura de Magnetic Video Camera, na década de 80 do século passado. A Sony utilizou a tecnologia de Vídeo que já dominava e construiu, não uma câmera fotográfica digital, mas uma câmera de vídeo estático. Por isso não obteve sucesso com esta primeira tentativa.

Mais tarde relançaram as Mavicas realmente digitais que utilizavam floppy disc de 1,44 MBe e arquivos em Jpeg

Várias outras empresas se dedicaram a projetos digitais, especialmente aquelas que não possuiam tradição na fotografia analógica como a Apple com a Quiktake 100 em 1994, a Casio com a QV-11 em 1995 e a primeira versão da Cyber Shot da Sony em 1996.

Entram também nessa corrida as fabricantes tradicionais de câmeras fotográficas, especialmente as maiores do Japão: a Nikon e a Canon. As Européias Leica, Hasselblad e Rollei, a Kodak americana retoma seus projetos anteriores e outras tantas empresas investem nesse universo que, em poucos anos, domina o mercado da fotografia, inclusive incluindo-as nos aparelhos telefônicos portáteis.