FICHA BIBLIOGRÁFICA Título: Perfil da Mulher Metalúrgica do ABC Autoria: Subseção DIEESE/Metalúrgicos do ABC Equipe técnica responsável: Fausto Augusto Junior; Zeíra Mara Camargo de Santana; Warley Batista Soares; Silvana Martins de Miranda Nascimento; José Luiz Lei Resumo: Estudo sobre o perfil da mulher metalúrgica no ABC realizado a partir de informações de 2008 do Registro Anual de Informações Sociais (RAIS). Palavras-chave: Mulheres, Gênero, Perfil dos Metalúrgicos. Diretório: M:\Mulheres\Perfil da Mulher Metalúrgica do ABC.doc Março / 2010
SUMÁRIO Introdução 03 As Mulheres no Brasil 04 O Perfil da Mulher Metalúrgica do ABC 06 Comentários Finais 19 2
INTRODUÇÃO Na base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em 2008, o contingente de trabalhadoras somava 13,7 mil mulheres, ou seja, 14,1% do total de metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Distribuídas em todos os subsetores do complexo metal-mecânico, as trabalhadoras metalúrgicas ocupam as mais diferentes posições dentro da empresa e são normalmente mais jovens e mais escolarizadas do que os homens. Porém, em que pese os avanços conquistados a duras penas pelas metalúrgicas, em muitas empresas ainda assiste-se a diferenciações de salários entre homens e mulheres que realizam as mesmas tarefas e a participação feminina nos cargos de gerência e direção é extremamente reduzida. Nas diferentes crises por que passou o setor, também, se verificou que a trabalhadora metalúrgica sofreu mais com o desemprego e a dificuldade de se recolocar no mercado de trabalho do que o metalúrgico homem. É por tudo isso, que é intenso o debate sobre a necessidade de políticas concretas que garantam a igualdade de condições e oportunidades da mulher no mercado de trabalho, na política e na sociedade em geral. Conhecer as características destas trabalhadoras contribui para a melhor compreensão das especificidades e dos problemas que vivem as metalúrgicas, bem como ajuda a subsidiar o atual debate sobre a participação feminina no setor e na política do Sindicato. Para tanto, a Subseção DIEESE do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC apresenta o perfil da mulher metalúrgica no ABC realizado a partir de informações de 2008 do Registro Anual de Informações Sociais (RAIS) com o qual espera colaborar com os debates a serem realizados no 2º Congresso da Mulher Metalúrgica. 3
AS MULHERES NO BRASIL A população feminina no Brasil soma mais de 97,5 milhões de pessoas, ou 51% do total da população brasileira, e supera o contingente de homens, hoje em 92,4 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Nas últimas décadas, aconteceram várias mudanças importantes que envolveram as mulheres. Uma delas foi o aumento de sua participação nas decisões políticas do país: em 2008, já somavam 51,7% do eleitorado. Uma segunda mudança diz respeito ao crescimento da inserção das mulheres no mercado de trabalho. Do total de mulheres em idade ativa para o trabalho, 52% estão inseridas no mercado; em 1990, esse número era de 44%. Vários fatores podem explicar este movimento crescente de ingresso ou manutenção da mulher no mercado de trabalho: a urbanização das cidades, o processo de industrialização e as mudanças na produção, a posição da mulher no grupo familiar, a necessidade de prover o sustento do lar, a redução do número de filhos, entre outros. Para as mulheres, a atividade profissional fora de casa tornou-se tão importante quanto às atividades voltadas para o lar e para os filhos. Um terço delas são chefes de família. No entanto, a maioria ainda ocupa funções de maior vulnerabilidade, sejam como trabalhadoras para o consumo próprio e de sua família, sejam como trabalhadoras domésticas, condição em que a grande parcela não possui carteira de trabalho assinada. Por muitos anos, esta função sempre esteve associada a baixa qualificação, extensas jornadas e limitadas garantias trabalhistas, como detalha estudo do DIEESE de março de 2010. Dos cerca de 92,4 milhões de ocupados no Brasil, formais ou informais, 42% são mulheres. Já dos 40,4 milhões de trabalhadores formais, as mulheres somam 16,7 milhões, ou seja, 41%, contudo recebem apenas 36% do total de salários do país. Entre os trabalhadores formais, a mulher possui maior presença no setor de Serviços (35%), seguida pela Administração Pública (30%) e Comércio (18%). A indústria detém somente 13% deste contingente feminino. O nível de escolaridade dos trabalhadores no país tem se elevado continuamente para ambos os gêneros, mas na comparação com os homens, as mulheres estão colocadas em patamares mais elevados. Cerca de 32% possui mais de 11 anos de estudo, contra os homens, que somam 28%. Nota-se que há efetiva associação entre a escolarização e a participação das mulheres no mercado de trabalho. 4
A superioridade do nível de escolarização das mulheres não tem implicação com a renda. As diferenças salariais permanecem. Na indústria, por exemplo, as mulheres recebem em média 30% menos que os homens. Em relação aos indicadores de desemprego, a mulher se encontra em pior situação quando comparada ao sexo masculino. Em janeiro deste ano, a taxa de desemprego para a mulher ficou em 14,1% contra 9,9% dos homens. Nota-se que no campo do trabalho diversos obstáculos ainda precisam ser superados, tais como a diferença de renda, os níveis de desemprego e os acessos aos cargos de chefia, mas os indicadores mostram avanços relevantes, o que coloca a necessidade de continuidade das políticas de promoção da igualdade e do trabalho decente. 5
O PERFIL DA MULHER METALÚRGICA DO ABC Emprego Em outubro de 2008, os metalúrgicos do ABC somavam 105 mil trabalhadores. Desse total, 14,7 mil eram mulheres. Com a crise internacional, o emprego da metalúrgica sofreu uma queda e chegou a 13,3 mil em jul/2009. A grande maioria da categoria (homens e mulheres) pertence ao setor automotivo, sendo 31,0% os trabalhadores nas montadoras e 25,5% nas autopeças. Outros 22,5% trabalham em indústrias da metalurgia geral, 11,4% nas indústrias de máquinas e equipamentos e apenas 7% nas indústrias de informática, aparelhos ópticos, eletrônicos e elétricos. Atualmente a participação das mulheres na base do SMABC está em 14,1%. Do total de 97,4 mil trabalhadores, 13,7 mil são empregos femininos, como demonstra o gráfico a seguir. GRÁFICO 1 6
Analisando o gráfico abaixo pode-se observar que, apesar do emprego da mulher metalúrgica ter permanecido em queda até 2002, a partir de 2003 ele começa a crescer e nos últimos 7 anos um total de 3,1 mil novos postos de trabalho foram criados. Os efeitos da crise internacional no emprego das metalúrgicas podem ser vistos no gráfico, com a queda de 14,2 para 13,4 mil empregos. GRÁFICO 2 Nas montadoras, subsetor de atividade que mais emprega trabalhadores na base, somente 7,4% são empregos de trabalhadoras. Na análise individual dos segmentos, são as indústrias de materiais elétricos, informática e eletroeletrônicos que mais contratam mulheres, quando comparado com o total de postos de trabalho masculinos destes segmentos. No subsetor de Informática e Aparelhos Ópticos é o que tem a maior participação de mulheres em suas linhas, 33,3%, seguido pelo subsetor Máquinas e Materiais Elétricos com 26,9%, como demonstra o gráfico seguinte. 7
GRÁFICO 3 Do total dos postos de trabalho feminino da categoria, quase 1/3 (29,4%) estão no setor de autopeças e outros 24,9% na metalurgia. As montadoras contam com apenas 15%, pouco mais de 2,2 mil pessoas. GRÁFICO 4 8
Do total do emprego masculino, 56,9% estão em montadoras e autopeças, que possuem os maiores rendimentos da categoria implicando em um peso relevante no total da massa salarial do Grande ABC. GRÁFICO 5 Na comparação do total do gênero por município da base do SMABC, nota-se que Diadema possui a maior participação relativa de mulheres da categoria (18,4% ou 5,5 mil), seguido pelo município de Ribeirão Pires. A participação relativa de trabalhadoras mulheres no município de Rio Grande da Serra é a mesma de São Bernardo do Campo, no entanto, em números absolutos o município de São Bernardo do Campo supera todos os outros: possui 7,6 mil metalúrgicas. 9
GRÁFICO 6 Por tempo de casa, nota-se que nas montadoras 59,3% das mulheres tem mais de 5 anos de registro em carteira. Nas demais empresas da base, observa-se um grande movimento de contratações mais recentes, uma vez que a grande maioria das mulheres (52,3%) tem até 3 anos de emprego. Além de representar o aumento do número de trabalhadoras na base, o que é positivo, este indicador também reflete a rotatividade dos segmentos. GRÁFICO 7 10
Quando se fala em áreas de atividade profissional, nota-se que, no geral, as mulheres tem mais presença em postos de trabalho nas áreas administrativas. Nas montadoras, 62,3% são mensalistas. Nos outros subsetores da base, 51,3% das mulheres estão em funções ligadas diretamente à produção. Observa-se também a participação reduzida da mulher nos cargos de gerência e direção: somente 6,8% das mulheres exercem cargos de chefias nas montadoras contra 4,4% nos outros segmentos da base. GRÁFICO 8 11
Distribuição etária Quando o assunto é idade, nota-se que as mulheres trabalhadoras são cada vez mais jovens: 71,6% das mulheres na base do SMABC tem até 39 anos, ou 38,4% tem até 29 anos. Ao contrário dos homens da categoria que possui 39,7% do total do emprego masculino com mais de 40 anos de idade. GRÁFICO 9 Escolaridade Nos últimos 12 anos a escolarização das mulheres avançou muito entre todos os trabalhadores da categoria. Nas montadoras, em 1996, cerca de 38,2% tinham cursado só o ensino fundamental, sendo que destas 25,4% se quer o haviam concluído, e apenas 16,6% possuíam o ensino médio completo. A realidade de 2008 é completamente diferente: 67,8% trabalhadoras tem, completo ou incompleto, o nível superior e 0,2% possuem mestrado e doutorado. 12
GRÁFICO 10 Ao comparar a escolarização entre os gêneros nas montadoras, nota-se que a maioria das mulheres está no nível superior (67,8%), enquanto entre os homens a concentração está no nível médio (49,5%). Isto pode ser explicado pelo fato das mulheres ocuparem preferencialmente as funções administrativas das montadoras enquanto os homens majoritariamente estão na produção. GRÁFICO 11 13
O nível de escolarização das mulheres cresceu em todos os setores da metalurgia. Em 1996, um total de 41,6% das mulheres não tinha o ensino fundamental. Em 2008, 52,7% já concluíram o ensino médio e 20,7% tem o ensino superior completo ou incompleto. GRÁFICO 12 14
Nas empresas da base, excluídas as montadoras, a escolarização de homens e mulheres é semelhante, o que reforça a tese de que quando as funções entre homens e mulheres se equiparam passam a ter a mesma escolaridade. GRÁFICO 13 15
Remuneração As mulheres metalúrgicas do ABC são melhor remuneradas quando comparadas com as metalúrgicas do Estado de São Paulo e do Brasil, apesar de possuírem rendimentos 33,2% menor que o dos homens da base. TABELA 1 Fonte: MTE/RAIS 2008 Elaboração: Subseção DIEESE/Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Como pode ser observado pelas Tabelas 2 e 3, no ABC as mulheres recebem em média R$ 2.326,00, ou 53,4% a mais do que recebe uma metalúrgica no Brasil e 29,7% superior aos rendimentos da metalúrgica no Estado de São Paulo. Na base, as mulheres contribuem mensalmente com R$ 32,2 milhões em salários. No ano, este valor atinge R$ 418,1 milhões que são destinados, em grande parcela, ao consumo local. 16
TABELA 2 Fonte: MTE/RAIS 2008 Elaboração: Subseção DIEESE/Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Tabela 3 17
Desde 2002, o emprego da mulher metalúrgica na base cresceu 3,1 mil postos, o que representa um incremento de R$ 11 milhões na economia. No período de 1994 a 2002, as quase 6 mil demissões de metalúrgicas provocaram a redução de R$ 7 milhões em salários no Grande ABC. TABELA 4 18
COMENTÁRIOS FINAIS O presente estudo elaborado por esta Subseção do DIEESE se propôs a apresentar o perfil das trabalhadoras na base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e contribuir para o debate entre as delegadas ao 2º Congresso das Metalúrgicas, a ser realizado entre 25 e 27 deste mês de março. Apesar de ainda observarmos grandes diferenças quando comparamos os gêneros, dentre elas a questão da remuneração inferior da mulher metalúrgica em relação ao homem, os avanços para este contingente de trabalhadores é visível. Os dados atuais demonstram que a mulher metalúrgica do ABC tem um grau de escolarização bem elevado, até mesmo quando são comparadas com o restante de trabalhadoras no país. E igualmente positivos são os indicadores que atualmente colocam as mulheres em áreas que até a última década eram dominadas exclusivamente por homens, já que os dados apontam para o aumento da participação das mulheres em áreas técnicas, de engenharia, entre outras. Apesar das diferenças salariais, em todos os segmentos da metalurgia no ABC as remunerações das mulheres são superiores às das trabalhadoras metalúrgicas do país, o que torna importante a continuidade dos debates acerca do Contrato Coletivo Nacional, pauta antiga deste Sindicato e da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT. Em termos de representação na economia regional, as metalúrgicas do ABC atualmente contribuem com cerca de R$ 32,2 milhões em salários a cada mês, fundamental para o fortalecimento de setores como comércio e serviços locais. 19
DIREÇÃO SINDICAL Sérgio Aparecido Nobre (Presidente) Rafael Marques da Silva Junior (Vice-Presidente) Wagner Firmino de Santana (Secretário Geral) Teonílio Monteiro da Costa (Secretário Administrativo e Financeiro) Carlos Alberto Gonçalves (Diretor Executivo) Francisco Duarte de Lima (Diretor Executivo) José David Lima Carvalho (Diretor Executivo - Coordenação) Moisés Selerges Junior (Diretor Executivo - Coordenação) José Paulo da Silva Nogueira (Secretário de Organização) José Mourão da Silva (Diretor Conselho da Executiva) Juarez Barros da Silva (Diretor Conselho da Executiva) Daniel Bispo Calazans (Diretor Conselho da Executiva) José Carlos de Souza (Diretor Conselho da Executiva) Mauro Soares (Diretor Conselho da Executiva) Andréa Ferreira de Sousa (Diretora Conselho da Executiva) Claudionor Vieira do Nascimento (Diretor Conselho da Executiva) José Inácio de Araújo (Diretor Conselho da Executiva) Nelsi Rodrigues da Silva (Diretor Conselho da Executiva) Marcelo Donizete Bernardo (Diretor Conselho da Executiva) Ronaldo Souza (Diretor Conselho da Executiva) Paulo Aparecido Silva Cayres (Diretor Conselho Fiscal) Cícera Michelle da Silva (Diretora Conselho Fiscal) Walter de Souza Filho (Diretor Conselho Fiscal) Raimundo Domingos Silva (Diretor Conselho Fiscal) Ana Nice Martins de Carvalho (Diretora Conselho Fiscal) Amarildo Sesário de Araújo (Diretor Conselho Fiscal)