Professor Me. Diego Figueiredo Dias POLÍTICAS MACROECONÔMICAS



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Transcrição:

Professor Me. Diego Figueiredo Dias POLÍTICAS MACROECONÔMICAS PÓS-graduação esp. em administração pública MARINGÁ-pr 2012

Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo Coordenação de Marketing: Bruno Jorge Coordenação Comercial: Helder Machado Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha Coordenação de Curso: Silvio Silvestre Barczsz Assessores Pedagógicos: Marcelo Cristian Vieira e Lucélia Leite de Morais Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Jaime de Marchi Junior, Luiz Fernando Rokubuiti e Thayla Daiany Guimarães Cripaldi Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Gabriela Fonseca Tofanelo, Janaína Bicudo Kikuchi, Jaquelina Kutsunugi e Maria Fernanda Canova Vasconcelos Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a distância: C397 Políticas macroeconômicas / Diego Figueiredo Dias. Maringá - PR, 2012. 68 p. Pós-graduação Administração Pública- EaD. 1. Políticas macroeconômicas. 2. Politíca cambial. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed.351 CIP - NBR 12899 - AACR/2 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM. Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - ead@cesumar.br - www.ead.cesumar.br

POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Professor Me. Diego Figueiredo Dias

APRESENTAÇÃO DO REITOR Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Cesumar Centro Universitário de Maringá assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Professor Wilson de Matos Silva Reitor POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância 5

Caro aluno, ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de Educação a Distância do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se fazer um competente profissional e, assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da realidade social em que está inserido. Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o seu processo de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação, determinadas pelo Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que, independente da distância geográfica que você esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento. Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente, você construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada especialmente no ambiente virtual de aprendizagem AVA no qual disponibilizamos, além do material produzido em linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu processo de formação, têm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competências necessárias para que você se aproprie do conhecimento de forma colaborativa. Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos fóruns, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma comunidade mais universal e igualitária. Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem! Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR 6 POLITÍCAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância

APRESENTAÇÃO Livro: POLÍTICAS MACROECONÔMICAS 1 Professor Me. Diego Figueiredo Dias Olá, caro(a) acadêmico(a) de pós-graduação! É um prazer tê-lo(a) conosco na Comunidade do Conhecimento. Sou o Professor Diego Figueiredo Dias, atuo como docente de graduação e pós-graduação desde que me formei em Economia, área em que também conclui meu mestrado. Gostaria de parabenizá-lo(a) pela escolha da pós-graduação por dois motivos: primeiro, pela necessidade que temos de nos qualificar a cada dia para esse competitivo mercado de trabalho e, segundo, pela área escolhida ser a administração pública, visto que temos que, cada vez mais, melhorar a eficiência aplicada à administração dos recursos públicos, sejam eles financeiros ou materiais. Trabalharemos nesta disciplina um tema muito importante para quem atua ou pretende atuar nessa área. Estamos falando das POLÍTICAS MACROECONÔMICAS. Você já sabe do que se trata? São as intervenções do governo nos âmbitos fiscal, monetário, comercial, cambial e de formação de rendas, com a finalidade de promover o bem-estar da população no que diz respeito à criação de empregos, estabilidade da moeda, crescimento do Produto Interno Bruto e distribuição de renda. Então, o que veremos neste livro? Na Unidade I, discutiremos as funções econômicas do setor público, ou seja, como o governo deve intervir para que alcance o bem-estar coletivo. As funções econômicas do governo são alocativa, distributiva e estabilizadora. Na Unidade II, veremos quais são as principais políticas macroeconômicas utilizadas, portanto, discutiremos a Política Fiscal e a Monetária, bem como sua aplicação no Brasil. Na Unidade III, apresentaremos a política cambial, ou seja, a atuação do governo no setor externo da economia. Portanto, ao concluir este livro, você deverá estar apto a: Definir as funções econômicas do setor público. Identificar as políticas que estão sendo aplicadas na prática. 1 Este material tem por base o livro ECONOMIA: Fundamentos e Aplicações, de autoria do professor Judas Tadeu Grassi Mendes, lançado pela Editora Prentice Hall, com segunda edição em 2009. Além do livro Fundamentos de Economia, de Marco Antonio Sandoval de Vasconcelos e Manuel Henriquez Garcia, da editora Saraiva com lançamento da terceira edição em 2009. Como complemento para dados atuais, fora utilizado o Relatório Anual do Banco Central do Brasil, disponível em <http://www.bcb.gov.br>. POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância 7

Discutir a real efetividade de cada política, para cada momento que a economia estiver passando. Me coloco à disposição pelo e-mail <diegofigueiredo@yahoo.com.br> para o que precisar, sejam dúvidas, comentários ou sugestões. Um grande abraço e bons estudos!!!

SUMÁRIO UNIDADE I FUNÇÕES ECONÔMICAS DO SETOR PÚBLICO PANORAMA ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA 14 POLÍTICAS ECONÔMICAS 24 UNIDADE II AS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Política fiscal: receita e gastos públicos 33 Política monetária: demanda e oferta de moeda 40 EFEITOS DA POLÍTICA MONETÁRIA SOBRE A ECONOMIA 49 UNIDADE III POLÍTICA CAMBIAL: A ATUAÇÃO DO GOVERNO SOBRE O SETOR EXTERNO DA ECONOMIA INSTRUMENTOS DE POLÍTICA CAMBIAL 57 Efeitos da política cambial sobre a economia 63 CONCLUSÃO 67 REFERÊNCIAS 68

UNIDADE I FUNÇÕES ECONÔMICAS DO SETOR PÚBLICO Professor Me. Diego Figueiredo Dias Objetivos de Aprendizagem Demonstrar as responsabilidades do Estado enquanto executor de políticas. Analisar quais são as variáveis passíveis de manipulação pelo governo por meio das políticas. Verificar quais instrumentos o governo utiliza para cumprir os objetivos de políticas macroeconômicas. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: Panorama atual da economia brasileira Distribuição de Renda: a injustiça brasileira O Consumo Agregado Privado Investimento Público Investimento Agregado Privado Consumo do Setor Público A análise do Produto Interno Bruto Exportações Políticas Econômicas Objetivos das Políticas Econômicas Estabilidade Econômica Crescimento da Produção: mais renda e emprego Melhora da Distribuição de Renda Equilíbrio nas Contas Externas Dilemas de política econômica: inter-relações e conflitos de objetivos Instrumentos de política macroeconômica

INTRODUÇÃO Fonte: shutterstock.com A palavra economia é muito antiga e significa basicamente administração do lar, ou seja, organização de recursos. Mas a economia enquanto ciência, somente pode ser considerada a partir de 1776 com o lançamento da obra de Adam Smith denominada A riqueza das nações. Sem dúvida, é até hoje uma das mais importantes obras na área econômica. Smith organizou os pensamentos econômicos que, até então, eram fragmentados, esparsos, e, neste livro, escreveu sobre as funções do Estado e como as empresas e os países deveriam fazer para terem sucesso econômico. De acordo com Smith, o Estado deveria apenas fazer valer o direito sobre a propriedade privada e garantir a segurança pública. Isso ficou denominado como Estado Liberal, isto é, aquele que não intervém em assuntos econômicos. Mas essa ideia durou apenas até a década de 1930, pois, com a grande depressão advinda da crise de 1929, o Estado passou a intervir de forma veemente na economia para garantir emprego e renda à população. Em 1936, John Maynard Keynes, um dos mais notáveis economistas da história, escreveu a obra Teoria Geral dos Juros do Emprego e da Moeda. Nessa obra, Keynes destacava a importância de o governo manter a Demanda Agregada da economia sempre em alta. Como? Por meio de Investimentos públicos. Keynes acreditava que o Estado tinha mais funções do que simplesmente garantir a segurança e o direito à propriedade privada, o Estado deveria gerar emprego e renda. Ele pregava o poder multiplicador do Investimento, isto é, por meio deste se gera emprego, que gera renda e, enfim, consumo. O consumo aumenta, sendo necessário mais investimentos que geram mais emprego, renda e consumo novamente. Esse Estado de bem-estar Keynesiano durou até a década de 1970, pois, a partir dos anos 1980, os países estavam endividados e, portanto, entraram em um processo de desestatização (privatizações) que fora agravado na década de 1990. O setor privado passou a ditar as regras do jogo novamente e esse período é conhecido como Neoliberalismo, ou seja, o novo liberal. POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância 13

Atualmente, podemos dizer que o governo possui algumas funções econômicas, isto é, existem justificativas para a existência do governo. Que são: a) Função alocativa, por meio da qual a ação do governo visa corrigir falhas da economia de mercado no uso dos recursos econômicos (fatores de produção), como é o caso de algumas externalidades. Um bom exemplo de externalidade é a poluição, em que dificilmente as empresas desejarão incorporar os custos de não poluição, a não ser que haja imposição governamental. b) Função distributiva, que consiste em arrecadar impostos e contribuições dos mais ricos ou das regiões mais desenvolvidas e transferi-los para os mais pobres e regiões mais carentes. c) Função estabilizadora, por meio da qual o governo procura atingir um de seus objetivos 2, que é a estabilização econômica, ou seja, a estabilidade dos preços, uma das condições necessárias para que os investimentos aumentem e, com eles, o crescimento econômico, o emprego e a renda nacional. Sem dúvida, o Plano Real é um bom exemplo dessa função exercida pelo governo brasileiro. As políticas macroeconômicas existem para que o governo cumpra suas funções econômicas. PANORAMA ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA Fonte: shutterstock.com De acordo com dados oficiais divulgados pelo governo brasileiro, o PIB 3 (Produto Interno Bruto) total brasileiro cresceu 2,7% em 2011 (comparado a 2010) e alcançou R$ 4,143 trilhões, enquanto em 1980 era equivalente a R$ 1,5 trilhão, o que significa que, ao longo de todo esse período, o PIB global do Brasil aumentou mais de 170%. Nesse mesmo período, a população brasileira cresceu em torno de 62%, o que indica que o PIB per capita (total do PIB divido pelo número de habitantes) teve um crescimento real, mostrando melhora do poder aquisitivo médio real da sociedade brasileira como um todo. Devido aos sérios problemas inflacionários que a economia brasileira sofreu, de 1980 a 1993, o PIB per capita 2 Veremos adiante que o governo possui outros objetivos, como crescimento econômico, distribuição de renda e diminuição do desemprego. 3 O PIB é uma medida utilizada como convenção por todos os países e, simplificando, trata-se da soma de todas as riquezas produzidas por um país durante um ano, ou seja, todo o valor que fora agregado aos fatores produtivos durante aquele ano de atividade. 14 POLITÍCAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância

não teve nenhum crescimento sustentado, mantendo-se em um nível em torno de R$ 12 mil ao ano (a preços de 2009). Em 1990, a renda per capita estava abaixo daquela de 1980. Nos últimos 30 anos, houve queda do PIB per capita em doze anos, ou seja, a expansão do Produto Interno Bruto foi inferior à taxa de crescimento populacional. Em dólares, o PIB per capita, que era cerca de US$ 1.000,00 no início da década de 60, chegou aos US$ 2.000,00 em 1973 (último ano do período do milagre econômico ), e aos aproximadamente US$ 3.700,00 em 2000, e em torno de US$ 11.000,00 em 2011. É claro que essa medida em dólares depende da cotação da época. O dólar na média, em 2011, estava mais desvalorizado frente ao Real do que no ano 2000. O PIB per capita é uma medida bastante imprecisa do nível de vida em qualquer país, porque mede quase que somente as atividades que foram remuneradas em dinheiro, não considerando custos como a poluição nem retratando mudanças na distribuição do produto entre os indivíduos da sociedade. A comparação do PIB brasileiro com o de outros países permite apenas saber que, por exemplo, somos ricos em relação a países como os da África, onde a grande maioria tem renda per capita inferior a US$ 500,00 por ano, mas somos pobres em relação a países como os Estados Unidos ou a Alemanha. Apesar de o Brasil estar entre os países com maiores taxas de crescimento do PIB, ao longo dos últimos 40 anos, a renda de todos os brasileiros não cresceu na mesma proporção. Distribuição de Renda: a injustiça brasileira Fonte: shutterstock.com Não obstante a renda per capita brasileira ainda ser baixa, apesar de crescente nos últimos anos, um dos maiores problemas estruturais do país diz respeito à péssima e perversa distribuição da renda por habitante. O quadro vem melhorando nos últimos anos, mas ainda está muito aquém dos países desenvolvidos. Apesar de o Brasil estar configurado como uma das grandes economias em termos de PIB, em aspectos qualitativos ainda temos muito a melhorar. POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância 15

distribuição de renda melhorou 10% na última década O instituto usou como base para a análise o índice de Gini, um indicador que mede o grau de desigualdade na população de um país. Esse índice varia de zero a um. Quanto mais próximo de zero, melhor distribuída é a renda entre a população. Segundo a publicação do Ipea, entre 2003 e 2009, o índice de Gini do Brasil passou de 0,548 para 0,496. Os gastos do governo com educação e saúde foram essenciais nessa queda. Se não fossem levados em conta no cálculo do índice, a redução teria sido praticamente a metade (5,5%). Apesar de programas assistenciais como o Bolsa Família terem sido significativos para aumentar a renda da faixa mais pobre da população, foram os investimentos em saúde e educação os responsáveis por boa parte da redução do índice de Gini, diz o Ipea na divulgação do estudo. O técnico do Ipea responsável pelo estudo, Fernando Geiger, diz que isto acontece porque o volume dos investimentos em saúde e educação é muito maior do que o dos recursos de programas como o Bolsa Família. Por outro lado, os programas assistenciais são importantes por serem mais focados, ajudando a aumentar a renda dos 40% mais pobres. Impostos A análise do Ipea mostra que as políticas sociais voltadas à melhoria de serviços ajudam a compensar o efeito que alguns impostos têm sobre a renda da população mais pobre. Segundo Gaiger, dois terços dos impostos pagos pela população incidem sobre o consumo e afetam todas as faixas de renda da mesma forma. São os chamados tributos indiretos, como o ICMS, o PIS/COFINS e o IPI. De acordo com o técnico do Ipea, a população mais pobre gasta 30% da sua renda com esse tipo de imposto, enquanto os ricos destinam apenas 12% do orçamento. O sistema tributário é organizado desta forma porque os indiretos, sobre o consumo, são mais fáceis de serem cobrados, explica. Disponível em: < http://exame.abril.com.br/economia/brasil/noticias/distribuicao-de-renda-melhorou-10-na-ultima -decada>. Acesso em: 31 maio 2012. Análise do Produto Interno Bruto Para analisarmos a economia como um todo, devemos abordar as principais variáveis que afetam a riqueza de um país, ou seja, as variáveis que afetam o PIB. Portanto, nesta seção serão abordadas as principais variáveis: demanda agregada (Da), renda (Y), consumo (C), investimento (I), taxa de juro (r), gastos de governo (G), exportação (E), importação (M) e poupança (S). Tendo em vista que o principal objeto da macroeconomia é a determinação do nível de atividade econômica no país, para que se possa estimar o Produto Interno Bruto, a renda gerada por esse produto e também o emprego, é fundamental excluir dos gastos (ou dispêndios) globais, o montante do valor gasto com as importações, pois eles não geram renda tampouco emprego aqui no Brasil. Em suma, serão enfocados os componentes da demanda agregada ou do dispêndio nacional, que é igual a C + g + I + (E - M), a fim de se destinar à renda nacional o Produto Interno Bruto e o nível de emprego no país. Agora que já sabemos que a demanda agregada determina o produto, isto é, a quantidade 16 POLITÍCAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância

total de bens e serviços produzidos em um país em um determinado ano, é fundamental analisar cada uma das variáveis ou fatores que influenciam a demanda agregada. Assim, vamos analisar os fatores determinantes do produto. Em particular, serão analisadas as relações entre os fatores que influenciam o consumo privado, tais como renda, taxa de juros, crédito, número de prestações, riqueza. É do consumo que se tira também a relação entre poupança, renda e a taxa de juros. O Consumo Agregado Privado O consumo privado é o principal e o mais estável componente da demanda agregada, representando, em média, dois terços ou mais da Despesa Interna Bruta da economia brasileira, ou seja, do Produto Interno Bruto do país. Entre todos os fatores determinantes do nível de consumo, o nível de renda é, sem dúvida, o de maior importância. O consumo agregado (C) é uma função da renda disponível (Yd), chamada função-consumo, cuja notação geral é dada por: C = f (Yd). Isso significa dizer que: por renda disponível Yd, entende-se aquela renda (salários, juros, aluguéis, lucros) que está à disposição do consumidor, ou seja, é a renda bruta Y deduzida dos impostos (T). Portanto, Yd = Y - T. Assim, quanto maior o imposto, menor a renda disponível, conforme veremos no comentário sobre política fiscal mais adiante. O consumo das famílias depende da renda que elas têm. Essa relação é positiva, ou seja, à medida que a renda aumenta, o consumo também tende a elevar-se. Por outro lado, se a renda for reduzida, o nível do consumo fatalmente cairá. Em outras palavras, quanto maior for a renda, maior tende a ser o consumo. Admite-se que, para baixos níveis de renda, as despesas de consumo tendem a ser elevadas. Todavia, à medida que a renda se eleva, as despesas de consumo também se elevam em valor absoluto, embora passem a significar menor percentagem da renda. Em outras palavras, nas economias menos desenvolvidas, as famílias gastam proporcionalmente mais em consumo do que nas nações desenvolvidas. Como o consumo aumenta menos proporcionalmente que a renda, quanto mais aumenta a renda da sociedade, maior é a proporção dessa renda que é poupada. Em outras palavras, pode-se dizer que o consumo cresce a taxas decrescentes com a renda, enquanto a poupança cresce a taxas crescentes. Além da renda, o consumo também é influenciado ou afetado por outras variáveis, como a taxa de juros, o valor das prestações mensais, o número de prestações, do crédito e da riqueza. A taxa de juros é uma importante variável na decisão do consumo, em especial, para os bens e serviços de consumo durável (automóveis, eletrodomésticos de um modo geral), que normalmente têm um valor maior e, portanto, dependem de financiamento. Como bens financiáveis, os juros têm uma direta influência sobre o valor das prestações. Assim, quanto maior o juro, maior o valor das prestações, o que, em consequência, afeta negativamente a decisão do consumo. Ademais, a taxa de juros tem uma influência direta sobre a poupança, ou seja, as pessoas estarão tanto mais dispostas a aplicar recursos financeiros em poupança quanto maior for a taxa de juros (que é a remuneração da sua aplicação financeira). Essa é a famosa Lei Psicológica Fundamental, conforme foi dita por Keynes, segundo a qual os indivíduos consomem mais conforme a renda aumenta, mas não na mesma proporção, uma vez que a poupança POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância 17

tende também a aumentar. Ora, poupar mais significa consumir menos, pois poupança é uma renúncia ao consumo hoje para consumir mais no futuro. Desse modo, quanto maior a taxa de juros, mais as pessoas desejarão poupar hoje, ou seja, o consumo presente diminui. Pode-se, assim, concluir o seguinte: quanto maior a renda e menor a taxa de juros, maior o consumo. Fonte: shutterstock.com A taxa de juros evidentemente tem muito a ver com a oferta monetária e, também, com a demanda por moeda. Um aumento da oferta monetária, isto é, da quantidade de moeda em circulação na economia, provoca uma queda nos juros e consequente aumento do consumo de bens duráveis, em especial. Além do seu efeito sobre o consumo, na verdade, a taxa de juros tem impactos diferenciados sobre os agentes econômicos, dependendo da situação desses agentes: se eles forem do setor privado (seja na situação de aplicadores, ou de devedores) ou se esses agentes forem do setor público. Para os aplicadores privados, ou seja, aqueles que têm recursos financeiros aplicados em poupança, CDBs e fundos de investimentos (cujos rendimentos se baseiam nas taxas de juros), o aumento dos juros faz com que suas rendas aumentem (portanto, podem vir a consumir mais depois). Para os devedores (ou seja, pessoas que têm dívidas), o aumento dos juros faz com que suas rendas diminuam, pois elas terão que destinar mais gastos aos juros. Consequentemente, terão menos recursos para gastar. Para o setor público, que, de um modo geral, tem déficit público (ou seja, gasta mais do que arrecada) e, portanto, necessita financiar-se no mercado financeiro, é ruim. A escola monetária, na maioria das vezes associada à Universidade de Chicago, defende que o aumento de dinheiro em circulação provoca a elevação dos preços, ou seja, a expansão da moeda está atrelada à inflação. Na verdade, os monetaristas se preocupam muito com a expansão monetária para financiar os déficits públicos. 18 POLITÍCAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância

O aumento de juros tende a aumentar ainda mais os gastos públicos e a própria dívida pública. Com relação às prestações, tanto o valor como o número delas têm uma influência sobre o consumo. Quanto maior o número de prestações (e, portanto, menor é o valor mensal delas), maiores as possibilidades de consumo de bens duráveis (que são financiáveis), pois os consumidores, em especial os de baixa/ média renda, passam a ter condições financeiras de pagamento parcelado, apesar de as prestações se alongarem por dois ou mais anos. Essa variável (número de prestações) teve uma decisiva influência sobre o grande aumento de consumo de bens eletrodomésticos no Brasil no período 1996-1997. Nessa época, o importante para os consumidores era o fato de poder assumir as prestações, apesar de estarem pagando, ao final, duas ou mais vezes do que o valor à vista, em função das elevadas taxas de juros. Em outras palavras, os juros altos pesavam menos do que a possibilidade de assumir o pagamento parcelado. O nível de riqueza das famílias influencia, também, as decisões de consumo. As pessoas que já têm ativos (como casa, automóvel, plano previdenciário e alguma poupança) estarão mais propensas a gastar maior parte de suas rendas atuais em consumo do que aquelas que ainda não tenham nenhum desses ativos, mesmo que o nível de renda de ambas seja igual. Em outras palavras, dado o nível de renda das pessoas, tende a consumir mais quem possui mais riquezas, pois elas têm menos preocupações com o futuro. Outro elemento determinante do consumo é a existência de crédito ao consumidor. Quanto mais desenvolvido um sistema financeiro que tenha crédito abundante, maior é o potencial de demanda por bens de consumo duráveis. Ao incluirmos a taxa de juros, a riqueza e o crédito como variáveis que influenciam o consumo, estamos nos referindo às aplicações financeiras, aos empréstimos e, portanto, ao sistema financeiro, ou seja, existindo um sistema financeiro desenvolvido, as regras deste podem estimular ou dificultar o consumo. O estoque total de crédito concedido pelo sistema financeiro com recursos livres e direcionados totalizou R$1.706 bilhões em dezembro de 2010, elevando-se 20,6% no ano, ante expansões anuais de 15,2% em 2009 e de 31,1% em 2008, contribuindo para que a relação crédito/pib atingisse 46,4%, ante 44,4% em 2009 e 40,5% em 2008. A participação dos bancos públicos no crédito total situou-se em 41,8% ao final de 2010, enquanto que a participação relativa a instituições privadas nacionais e estrangeiras atingiu 40,8% e 17,4%, respectivamente. O volume de crédito disponível em um país serve como um dos vários indicadores da capacidade de crescimento da economia. Quanto mais empréstimos as pessoas e empresas tomam, mais recursos podem ser direcionados para consumo ou para investimentos, contribuindo para o aumento do nível de atividade. Sem dúvida, o pequeno volume de empréstimos é um obstáculo ao crescimento. POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância 19

Consumo do Setor Público Fonte: shutterstock.com O governo, assim entendidas as administrações públicas de um modo geral, incluindo as esferas federal, estaduais e municipais e respectivas empresas estatais, também tem influência sobre o consumo final de bens e serviços. É claro que as variáveis mencionadas (como renda, juros, prestações, riqueza e crédito) não são as que explicam o nível de consumo do setor público. Cabe ressaltar que esse tipo de consumo representa uma parcela muito significativa do Produto Interno Bruto brasileiro. Por exemplo, o consumo final das administrações públicas está ao redor de 20% do PIB do país, ao passo que, conforme já foi mencionado, o consumo agregado privado (das famílias) absorveu a parcela em torno de 60%. Assim, pode-se dizer que, nesse período, como boa parte da população não tinha reais condições para um consumo tão elevado, acabaram atrasando as prestações, e o resultado foi o elevado grau de inadimplência verificado no período 1997-1998. O consumo global (privado e público) correspondeu a aproximadamente 80% do Produto Interno Bruto do Brasil. Esse elevado percentual do setor público no PIB decorre da forte intervenção do Estado na economia brasileira, a partir da década de 30 até meados da década de 80. Em 1984, havia no Brasil 317 empresas estatais, sendo que 62% delas estavam ligadas ao setor produtivo, e o restante era de administração descentralizada, com funções típicas de governo. Nessa época, nove enormes empresas controlavam mais de três quartos do orçamento das estatais. A partir do final da década de 80, deu-se início a uma mudança bastante radical da presença do governo no setor produtivo, com a criação do Programa Nacional de Desestatização (leia-se: privatização). Com o processo de privatização, pretendeu-se reduzir e limitar o papel do governo como estado-empresário. Investimento Agregado Privado Se a grande parte da produção de bens e serviços se destina ao consumo final (privado e governamental), outra parcela vai formar o que se chama de acumulação, ou seja, é composta por produtos ligados ao 20 POLITÍCAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância

processo de formação de capital de um país. Na realidade, a acumulação diz respeito aos investimentos em bens de capital, os quais representam os acréscimos líquidos na capacidade nacional de produção. Os investimentos destinam-se à aquisição de bens de capital, que compreendem o conjunto das riquezas acumuladas pela sociedade, destinadas à geração de novas riquezas. Nesse conjunto de riqueza, incluem-se: máquinas, equipamentos, ferramentas de trabalho, construções, edificações, equipamentos de transporte e equipamentos de infraestrutura econômica e social. A função de investimento, na versão de Keynes, é indubitavelmente um dos fundamentos da procura agregada. A tomada de decisão do empresário em investir, como será visto a seguir, é resultante da comparação entre a taxa de retorno do investimento e a taxa de juros de mercado. O investimento pode ser definido como o acréscimo ao capital real da sociedade. Assim, como a poupança, ele resulta de uma abstenção do consumo imediato em relação à renda gerada no período, ou seja, estruturalmente o investimento (I) é igual à poupança (S), uma vez que eles são apenas aspectos diferentes de uma mesma realidade. Embora a poupança resulte do comportamento coletivo dos consumidores individuais, e o investimento resulte do comportamento coletivo dos empresários e do governo, os dois se equivalem, porque qualquer um deles é igual ao excedente da renda sobre o consumo. As igualdades estruturais e as equações fundamentais do sistema keynesiano são: RENDA (Y) = VALOR DA PRODUÇÃO CORRENTE (VPC) VPC = BENS DE CONSUMO (C) + BENS DE INVESTIMENTO (I) INVESTIMENTO = PARCELA DA PRODUÇÃO DESTINADA À AMPLIAÇÃO DO ESTOQUE DE CAPITAL POUPANÇA (S) = EXCESSO DA RENDA EM RELAÇÃO AO CONSUMO Ou seja: Y = C + I S = Y C Y = C + S I = S Fundamentalmente, o setor privado só realiza novas inversões (investimentos) se houver favoráveis expectativas de lucros. A taxa de retorno esperado do novo investimento (a qual Keynes deu a denominação de eficiência marginal do capital) é a base das decisões empresariais. Quando a eficiência marginal do capital for maior do que a taxa de juro, o novo investimento deve ser realizado. Caso contrário, o montante que seria aplicado na inversão prevista renderá muito mais se for aplicado à taxa de juros corrente. Portanto, o investimento privado (I) é uma função inversa (relação negativa) da taxa de juros (r), ou seja: I = f (r). Em outras palavras, uma queda da taxa de juros estimula os empresários a investir mais e vice-versa. Assim, quanto mais baixa a taxa de juros, maior o volume de recursos que o setor privado POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância 21

destinará para investimentos. A taxa de juros, na análise keynesiana, resulta do confronto da procura da moeda correspondente ao motivo de especulação e da oferta da moeda, isto é, ela é determinada no mercado monetário, que será objeto de análise mais adiante. Na realidade, o investimento depende também de outros fatores dinâmicos como o nível de risco (leia-se expectativas sobre as condições futuras da economia), o avanço tecnológico, ou seja, o ritmo das inovações tecnológicas, principalmente sobre os processos produtivos, o crescimento da demanda (via expansão populacional ou via aumento de renda), a política governamental, a evolução do comércio exterior, a descoberta de novos produtos e até mesmo a estabilidade política da nação. Na prática, os bancos definem as taxas de juros com base na taxa básica (SELIC), acrescida de um Spread, que é a diferença entre a taxa básica e a taxa cobrada pelos produtos como cheque especial, cartão de crédito, crédito pessoal. E você se pergunta por que o Spread é tão alto? Se a taxa básica está em torno de 10% ao ano e alguns produtos bancários chegam a cobrar 200% ao ano. A composição do Spread é altamente influenciada por um fator chamado INADIMPLÊNCIA, ou seja, os bancos cobram nos juros o RISCO que eles correm ao emprestar ao público. Os banqueiros dizem: No Brasil, os juros são altos, pois a inadimplência é alta! Porém, eu prefiro dizer que: No Brasil, a inadimplência é alta, pois os juros são absurdos! E você? Concorda comigo ou com os banqueiros? Para maior conhecimento, leia o artigo no link que segue: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-spread-bancario--e-o-papel-do-governo-,862852,0.htm>. Entre esses fatores, cabe uma observação sobre o risco ou as expectativas sobre o futuro dessa igualdade que só ocorre em situação de equilíbrio. Ressalta-se que os recursos para realizar o investimento provêm da poupança (do governo, das empresas, das famílias e do resto do mundo). Muitas vezes, a demanda para investimento (intenção de investir) está acima dos recursos disponíveis. Neste caso, ocorre o desequilíbrio econômico do país. Quanto maior o otimismo com relação ao futuro (pensando-se em economia estável e regras de jogo definidas), mais estimulados estarão os empresários a investir, pois o investimento é um tipo de aplicação de longa duração, necessitando, portanto, de um horizonte temporal de longo prazo. Nesse caso, a redução de risco provoca um efeito positivo nos investimentos, deslocando a curva de investimento para a direita. Desse modo, dada a taxa de juros, quanto menor o risco, maior o investimento. Para o Brasil, é necessário e importante que os dois fatores atuem na mesma direção, ou seja, menor risco e juros mais baixos, pois assim o volume investido pelos empresários será maior. 22 POLITÍCAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância

O investimento privado depende da taxa de juros e do risco. O investimento privado ou formação bruta de capital fixo das empresas e famílias estão ao redor de 20% do Produto Interno Bruto brasileiro. Essa taxa de investimento (relação entre a formação bruta de capital fixo e o Produto Interno Bruto), no Brasil, já esteve bem acima desse patamar na década de 70. Contudo, devido aos vários problemas da economia brasileira na década de 80 (como dívida externa, inflação descontrolada, frequentes mudanças nas políticas monetária e cambial), surgiu um ambiente econômico de incertezas, de tal modo que os investimentos se retraíram. Vale ressaltar, contudo, que, para que a economia brasileira gere em torno de 1,7 milhão de novos empregos demandados anualmente, a taxa de crescimento do PIB deve se situar próximo a 7% ao ano, mas, para tanto, a taxa anual de investimento global (privado e público) deve se situar no patamar de 25% do PIB. É importante lembrar que o investimento afeta o nível de produto, porque ele é um elemento da demanda agregada. Quanto maior for o investimento ou o dispêndio em máquinas, equipamentos, edificações e construções, ou seja, em bens de capital, maior será o produto da economia (o PIB), além de gerar mais empregos e, portanto, maior renda para a coletividade. Investimento Público Fonte: shutterstock.com Além do setor privado, o governo também faz investimentos. As obras públicas como construções de rodovias, ferrovias, aeroportos, açudes, barragens, silos e armazéns, edificações, como escolas, hospitais e também as aquisições de máquinas e equipamentos são bons exemplos de dispêndios do setor público na formação bruta de capital fixo do país. Na década de 70, devido à maior presença do Estado na economia, o percentual do investimento público estava ao redor de 4% do PIB. Atualmente, esse percentual é inferior a 3% se forem considerados os investimentos das Estatais, mas se for levado em consideração apenas a Administração Federal direta não chega a 1%. As compras do governo, que constituem o terceiro componente da demanda agregada, têm um efeito de alto poder sobre o nível de renda. Os gastos do governo (G) são tratados como exógenos, isto é, como uma variável que pode afetar, mas não é afetada por outras variáveis no modelo. POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância 23

Exportações Um país exporta bens e serviços nacionais (E) e importa bens e serviços estrangeiros (M). Conforme foi citado, as exportações fazem parte do Produto Interno Bruto, gerando internamente renda e dispêndio, enquanto as importações transferem renda para o exterior e não fazem parte do PIB. A diferença entre as exportações e as importações representa a demanda externa líquida ou exportações líquidas. Desse modo, um aumento nas exportações líquidas X (onde X = E - M) aumenta a demanda de bens e serviços nacionais (demanda agregada), uma vez que, conforme já vimos, Da = C + G + I + X. Fonte: shutterstock.com A expansão das exportações representa uma poderosa alavanca para o fortalecimento e expansão da demanda agregada (ou seja, da produção interna). Em uma economia aberta (comércio com o exterior), as exportações fazem com que a demanda por produtos brasileiros se expanda, e, assim, a produção de bens e serviços produzidos no Brasil aumenta, gerando, em consequência, mais emprego e mais renda no território nacional. Por incrível que pareça, muitas pessoas não percebem esse efeito multiplicador das exportações sobre a economia brasileira, chegando, inclusive, à críticas do tipo: É um absurdo que o Brasil exporte, quando há fome aqui dentro. É fundamental que se tenha em mente que, quando o Brasil exporta alguma mercadoria, o efeito é semelhante a vender aqui dentro, sob o ponto de vista de geração de renda e de emprego, sem contar que, ao exportar, estamos trazendo divisas internacionais para o país, que delas necessita para pagar as importações e outros compromissos financeiros, em especial, para bancar o déficit na balança de serviços (isto é, pagar juros da dívida externa, remessa de lucros para o estrangeiro, pagamentos de fretes internacionais entre outros). Em 2011, o Brasil exportou mais de US$ 250 bilhões, recorde até então. POLÍTICAS ECONÔMICAS Como vimos, o principal objeto da macroeconomia é o estudo sobre os elementos que determinam o nível de produção de bens e serviços (PIB), da renda nacional, do emprego e dos preços de um país. Essas variáveis, na visão keynesiana, dependem do nível e de variações na demanda agregada, a qual é a soma dos fluxos de dispêndios em bens e serviços de consumo (privado e público), em investimento (privado e público) e exportações (ou seja, o que os estrangeiros compram de produtos brasileiros). 24 POLITÍCAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância

Quanto maior a demanda agregada por parte dos cerca de 200 milhões de brasileiros, das administrações públicas (governo), das empresas (que investem) e dos estrangeiros que compram produtos brasileiros, maior o nível de produção de bens e serviços no Brasil, maior o nível de emprego e maior o nível de renda nacional. Como para Keynes a demanda agregada influencia a produção, o controle do nível da demanda agregada é exercido pelas autoridades governamentais, ou seja, pelo governo. Essa intervenção do governo na economia é denominada política econômica, a qual é um ramo da economia dita normativa e que faz parte da política pública. Objetivos das Políticas Econômicas Ao fazer as suas intervenções na economia, cujas consequências afetam a todos (consumidores, empresários, trabalhadores), o governo tem evidentemente algum objetivo. Basicamente, pode-se citar quatro objetivos da intervenção governamental, ou seja, objetivos da política econômica: estabilidade dos preços, crescimento econômico (aumento de renda e de emprego), melhor distribuição da riqueza (renda) e equilíbrio nas contas externas. A prioridade do governo nesses objetivos se altera ao longo dos anos, de acordo com cada governo. Por exemplo, no início dos anos 1980, o ajuste externo era mais prioritário para o governo do que a estabilidade ou o crescimento. Desde 1986, com o Plano Cruzado e os demais planos econômicos (Bresser, Verão, Collor I e Collor II, até chegar ao Plano Real), a prioridade número 1 passou a ser a estabilização econômica. Para o governo Lula, que se iniciou em janeiro/2003, os objetivos de política econômica mudam um pouco em relação ao governo anterior, em que a estabilidade vinha em primeiríssimo lugar. É claro que a estabilidade continua sendo importante, mas o governo atual deveria fazer um grande esforço para o país crescer mais e com melhor distribuição dessa riqueza. Quanto à repartição da riqueza, é um objetivo de longo prazo, uma vez que ele depende fundamentalmente da educação, a qual, infelizmente, não tem recebido a devida atenção por parte das administrações públicas. De um modo geral, as decisões no plano macroeconômico visam melhorar a qualidade de vida das pessoas. Entre os problemas macroeconômicos que um país pode enfrentar estão: inflação (ou seja, aumento generalizado dos preços de bens e serviços), recessão ou baixo crescimento da economia, desemprego elevado, distribuição desigual de renda, variação cambial (o real em relação ao dólar pode variar muito, em um determinado período), problemas no balanço de pagamentos (que registra o resumo contábil das transações econômicas do Brasil, por exemplo, com o resto do mundo), em que o país tem dificuldades em pagar suas contas externas, taxas de juros elevados no mercado interno entre outros. Com o objetivo de resolver ou pelo menos minimizar esses tipos de problemas econômicos, os governos fazem quase que diariamente intervenções na vida das pessoas e das empresas, via decisões políticas com interesse econômico. São basicamente quatro os objetivos de políticas econômicas: estabilidade dos preços (leia-se: inflação baixa); crescimento econômico, ou seja, crescimento da produção (de modo a garantir aumento de renda e de emprego); melhor repartição da riqueza (em particular da renda pessoal e regional); e equilíbrio nas contas externas (ou seja, que o país possa pagar seus compromissos financeiros com os demais países). POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância 25

Estabilidade Econômica Embora a estabilização econômica tenha um sentido mais abrangente, podemos entendê-la como sinônimo de estabilidade de preços, isto é, a busca por manter a inflação em nível baixo (em geral, abaixo de 6% ao ano, para um país como o Brasil, já pode ser considerado um objetivo alcançado, enquanto para os EUA esse nível é em torno de 2,5% ao ano). Taxas elevadas de inflação trazem distorções para a sociedade: piora a distribuição de renda (porque os mais pobres não conseguem, com o mesmo sucesso dos mais ricos, fazer aplicações de seu dinheiro no mercado financeiro), as aplicações financeiras passam a ter prazos menores (desestimulando os investimentos das empresas e dificultando a aquisição de moradias, por exemplo) entre outros. Crescimento da Produção: mais renda e emprego Fonte: shutterstock.com O crescimento econômico de um país (principalmente no caso do Brasil, que tem um elevado crescimento populacional) é, provavelmente, o mais importante objetivo de política econômica, uma vez que significa maior quantidade de bens e serviços disponíveis para a sociedade. Se a produção cresce a uma taxa superior à da população, diz-se que a produção por pessoa (a renda per capita) está aumentando. Aliás, este é talvez o único caminho para melhorar o nível de renda de um país. Como produção tem tudo a ver com emprego (inclui-se aqui não só a mão de obra, mas também outros fatores, como o emprego de recursos naturais e capital), a expansão da produção leva a geração de maior nível de emprego. Melhora da Distribuição de Renda Este objetivo, apesar de sua importância, praticamente nunca foi o principal em nenhum dos governos brasileiros. A péssima distribuição de renda no Brasil está, assim, a merecer que, um dia, seja objeto de preocupação dos nossos governantes. O controle da inflação no país, nos últimos anos (leia-se: Plano Real), até ajudou a melhorar esse problema (como já foi citado, em 1993, os 10% mais pobres, 26 POLITÍCAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância

que detinham apenas 0,7% da renda agregada, viram sua participação aumentar para 1,1% em 2001), mas a solução para uma melhor distribuição de renda depende basicamente da melhoria na educação, especialmente nos níveis de ensino fundamental e médio. Para tanto, os ensinos fundamental e médio deveriam ser gratuitos, de qualidade e oferecer escolas com tempo integral, como ocorre em todos os países desenvolvidos. Equilíbrio nas Contas Externas No balanço de pagamentos, faz-se o registro contábil das transações comerciais e financeiras de um país com os demais países do mundo. Os três principais componentes do balanço de pagamentos (BP) são: a balança comercial (que registra a diferença entre exportações e importações de mercadorias), a balança de serviços (que registra as transações de serviços e de renda, tais como pagamentos de juros, turismo, fretes, remessas de dividendos e de lucros entre outros) e os movimentos de capital (investimentos estrangeiros e ingressos de capital financeiro), além das transferências unilaterais, que, na verdade, se constituem em um quarto componente do BP. O equilíbrio nas contas externas, em especial nas transações correntes (que é o balanço entre a conta comercial e a de serviços), para um país como o Brasil, é necessário principalmente por duas razões: primeiramente, porque a moeda nacional (o real, no caso do Brasil) não é aceita mundialmente (e, portanto, não pode ser usada para pagamentos de compromissos com os demais países) e, segundo, porque o Brasil não pode imprimir dólares legalmente. Se um país tem déficit nas transações correntes, ele necessariamente dependerá do ingresso de dólares no país, seja via investimentos diretos de outro país no Brasil ou via capital especulativo. Caso contrário, essa necessidade de dólares para cobrir o déficit (o que significa que estão saindo mais dólares do que entrando) só seria possível se eles viessem das reservas em dólares que o país tem. Isso só é admissível no curto prazo, e não no longo prazo, pois o volume das reservas é limitado. Superávits permanentes podem também resultar em problemas para um país, porque o ingresso excessivo de dólares pode obrigar o Banco Central a ter que emitir moeda nacional (reais, no caso do Brasil) para fazer a conversão dos dólares por reais, uma vez que os dólares não têm livre circulação no país. Ocorre que quanto maior o volume de dinheiro (em reais) em circulação na economia, maior é a possibilidade de inflação. Nos últimos anos, os indicadores da área externa foram muito favoráveis, apesar de decrescentes quando comparamos os últimos dois triênios. O saldo na balança comercial foi altamente elevado no triênio 2006-2008, alcançando o patamar de US$ 111 bilhões, e no triênio de 2009-2011 chegando a US$ 75,2 bilhões. Conflitos existentes Cabe destacar a existência de conflitos entre esses quatro objetivos, ou seja, quando o governo intervém na economia para resolver um determinado problema, pode trazer consequências negativas sob o ponto de vista de outro objetivo. Por exemplo, se o governo aumenta a taxa de juros para conter a inflação (isto POLÍTICAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância 27

é, atingir o objetivo de estabilidade dos preços), essa elevação dos juros pode desestimular o consumo e o investimento privado, retraindo a demanda agregada e, assim, podendo provocar até recessão e desemprego. São objetivos da política econômica a estabilidade de preços, o crescimento, a melhor distribuição da riqueza e o equilíbrio nas contas externas. Sem nenhuma dúvida, a partir de 1986, quando foi lançado o primeiro plano de estabilização econômica (o Plano Cruzado em fevereiro de 1986), até o final do governo Fernando Henrique Cardoso, em dezembro de 2002, a prioridade foi o combate à inflação, em que principalmente a política monetária foi utilizada como instrumento de estabilidade dos preços. Acreditava-se que nos governos posteriores o foco se alterasse um pouco, passando a ser: crescimento econômico (visando à geração de emprego) com estabilidade monetária e inclusão social (leia-se: preocupação com a repartição), mas infelizmente isso não ocorreu, pois a prioridade continuou sendo a estabilidade apesar de certo crescimento ter sido atingido, principalmente em 2010 chegando a mais de 7%. Dilemas de política econômica: inter-relações e conflitos de objetivos O crescimento econômico pode facilitar a solução de problemas relativos à pobreza, pois os conflitos sociais sobre a divisão do bolo produtivo podem ser abrandados quando ele aumenta. Nesse sentido, poder-se-ia aumentar a renda dos pobres sem diminuir a dos ricos. Entretanto, no Brasil e em outros países em desenvolvimento, as metas de crescimento e equidade distributiva têm-se mostrado conflitantes, fundamentalmente devido ao fator educacional, com a maioria da mão de obra com baixa qualificação e, portanto, com baixos rendimentos. Outro conflito gerado por políticas econômicas pode ser observado entre as metas de redução de desemprego (crescimento econômico) e a estabilidade de preços. É fato que, quando o desemprego diminui e a economia aproxima-se da plena utilização de recursos, passam a ocorrer pressões por aumentos de preços, principalmente nos setores fornecedores de insumos básicos (aço, embalagens, matérias-primas), o que explica o frequente controle do crescimento do consumo pelas autoridades para não provocar inflação. Por outro lado, observa-se que, em uma situação recessiva (desemprego elevado), as taxas de inflação tendem a ceder, uma vez que as empresas estarão mais voltadas a desovar seus estoques acumulados e os sindicatos de trabalhadores não estarão tão preocupados em obter salários mais elevados, mas sim com a manutenção do emprego. Essa tendência é uma relação inversa entre inflação e desemprego. Esse dilema é denominado, na literatura econômica, trade-off entre inflação e desemprego, que é um reflexo de uma tendência cíclica da economia, alternando períodos de maior prosperidade com outros mais recessivos. Outro exemplo bastante claro desses dilemas de política econômica ocorreu no Plano Real, a partir de 1994: a meta de redução da inflação e de estabilização de preços foi plenamente atingida (de taxas de inflação de cerca de 50% mensais passou-se a taxas em torno de 5% a 6% ao ano). Entre os instrumentos utilizados, recorreu-se à valorização da moeda nacional perante o dólar, o que promoveu um aumento 28 POLITÍCAS MACROECONÔMICAS Educação a Distância