DIAGNÓSTICO DA COLETA E DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DE SÃO CARLOS - SP



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Transcrição:

DIAGNÓSTICO DA COLETA E DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DE SÃO CARLOS - SP Bernardo Arantes do Nascimento Teixeira (1) Engenheiro Civil, Doutor em Hidráulica e Saneamento, Professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos (DECiv/UFSCar). Benedito Osvaldo de Souza Aluno do curso de Graduação em Engenharia Civil (ênfase em Engenharia Urbana) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Técnico do Laboratório de Geotecnia da Escola de Engenharia de São Carlos/USP. Viviana Maria Zanta Baldochi Engenheira Civil, Doutora em Hidráulica e Saneamento, Consultora Autônoma FOTO Endereço (1) : Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luís, km 235 - São Carlos - SP - CEP: 13565-905 - Brasil - Tel: (016) 274-8262 - Fax: (016) 274-8259 - e-mail: bernardo@power.ufscar.br. RESUMO No presente trabalho, foi feito um levantamento de dados sobre a situação da coleta e destinação final dos resíduos de construção civil (entulhos) em São Carlos, uma cidade com cerca de 180.000 habitantes no interior do Estado de São Paulo. O levantamento incluiu a localização dos lançamentos e sua classificação segundo metodologia adaptada de SILVEIRA (1993). Além da localização geográfica dos lançamentos, foram feitas estimativas sobre as quantidades de resíduos geradas, a partir das licenças para construção e reforma, levantadas junto à Prefeitura Municipal. Os resultados indicaram uma geração de entulhos da ordem de 120 t/dia, correspondendo a 0,24 t/hab.ano. Foram identificados 20 locais mais significativos de lançamento, predominando as áreas grandes, com depósitos recentes, em quantidades médias e grandes, e com potencial impactante médio. Destes locais, apenas 2 eram autorizados pela Prefeitura. Mesmo nestes, foram constatados problemas como presença de matéria orgânica, restos de podas e animais mortos, obstrução da pista de rolamento e do sistema de drenagem, assoreamento de corpos d água, erosão, lançamento em áreas verdes e de lazer, poluição visual e maus odores. Foram também identificadas 7 empresas que fazem a coleta e a disposição dos entulhos por meio de caçambas estacionárias, atividade ainda não regulamentada na cidade. Concluiu-se que a situação é bastante crítica, carecendo de um gerenciamento e uma regulamentação que minimizem os impactos decorrentes. Uma imediata recuperação dos locais com depósitos menores é recomendada, enquanto os maiores demandarão estudos mais específicos. Ao lado da regulamentação, sugere-se atividades educativas que possam minimizar a geração dos entulhos e promover sua reciclagem. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos, Entulhos, Destinação Final. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1650

INTRODUÇÃO Sabe-se que a urbanização é um processo mundial que avança rapidamente, estimando-se que, no caso do Brasil, 75% da população já viva nos centros urbanos. Esse processo, aliado ao próprio crescimento demográfico, implica num aumento da produção de bens para atendimento às necessidades das pessoas (entre elas, a de moradia), trazendo também, como contrapartida, a geração de uma quantidade de resíduos cada vez maior. Dentre os resíduos urbanos mais significativos, destacam-se aqueles definidos como Resíduos Sólidos (RS), os quais apresentam diferentes composições e, em função disto, diferentes classificações (ABNT, 1987). Um dos RS urbanos mais comuns é o chamado entulho, aqui definido como o conjunto de resíduos da indústria da construção civil, e oriundo de demolições ou sobras de construções. Apresenta como características particulares a predominância de materiais inertes e passíveis de reaproveitamento, além de condições diferenciadas de geração, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final. Outra característica própria é a de que, freqüentemente, o gerador é o responsável e muitas vezes o executor das etapas de coleta, transporte e deposição, o que acarreta, caso não haja orientação e fiscalização adequadas, procedimentos incorretos para o ambiente e para a própria população. Na maioria das cidades brasileiras não há regras nem estruturas adequadas para lidar com o tais resíduos, gerando o seu descarte de forma desordenada e em locais inapropriados, como logradouros públicos, terrenos baldios, encostas, cursos d água etc. No presente trabalho, são apresentadas e avaliadas informações sobre as etapas de coleta, transporte e disposição final de entulhos na cidade de São Carlos/SP, tendo sido desenvolvido como Trabalho de Graduação Integrado (T.G.I), por aluno da ênfase em Engenharia Urbana, do curso de graduação em Engenharia Civil da UFSCar (SOUZA, 1997). A cidade de São Carlos situa-se na região central do estado de São Paulo, a 230 km da capital, estimando-se sua população atual em cerca de 180.000 habitantes (158.139 habitantes, conforme o censo de 1991 do IBGE), sendo considerada de porte médio. Sua economia abrange principalmente atividades agropecuárias (cana, laranja, reflorestamento, pecuária leiteira) e industriais (setores metalúrgico, alimentício, têxtil, alta tecnologia). Nos últimos anos, São Carlos tem sido um polo atrativo para populações não só regionais, como de outras partes do país. Como conseqüência, apresentou um crescimento urbano acelerado, caracterizando-se por uma rápida verticalização da região central e por uma expansão periférica sem qualquer planejamento. A intensificação da atividade de construção civil para suprir a demanda existente, com o conseqüente aumento da produção de entulho, aliada à falta de um controle rigoroso do manuseio destes resíduos, tem gerado uma série de interferências prejudiciais ao meio urbano, as quais se refletem na degradação ambiental e na perda da qualidade de vida da população. Diagnosticar a ocorrência de tais interferências é essencial para que a situação atual seja melhor conhecida, e medidas adequadas possam ser estudadas e implementadas, a partir de ações do poder público e da própria sociedade, devidamente alertada para os efeitos decorrentes da falta de uma gestão adequada para os resíduos que ela produz. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1651

OBJETIVOS O presente trabalho teve como objetivo diagnosticar a situação da coleta e destinação dos resíduos da construção civil na cidade de São Carlos (SP), identificando, localizando e classificando os pontos de lançamento, bem como verificando os principais problemas decorrentes e propondo medidas e ações para diminuir os impactos sobre a comunidade e o ambiente. METODOLOGIA A realização do presente trabalho compreendeu três etapas, desenvolvidas de acordo com os seguintes procedimentos: a) revisão de Literatura e identificação das variáveis de interesse: a partir de consulta e sistematização da bibliografia relativa ao tema, baseada em artigos, teses e documentos legais, foram definidos os dados relevantes a serem coletados para a consecução dos objetivos do trabalho. Como produtos finais desta etapa, foram elaborados roteiros tanto para a identificação e caracterização dos pontos de lançamento, como para a coleta de informações junto a Prefeitura Municipal, Câmara de Vereadores e empresas coletoras e transportadoras de entulho; b) levantamento de dados em campo: a partir de um roteiro definido, a cidade foi percorrida a fim de que os pontos de lançamento fossem devidamente registrados; ao mesmo tempo foram feitos contatos com o poder público (Prefeitura e Câmara) e com as empresas já mencionadas, buscando-se obter as informações desejadas; c) sistematização e análise dos dados e elaboração das conclusões e recomendações: os dados obtidos na etapa anterior foram organizados, gerando tabelas e gráficos, bem como um mapa de localização dos pontos de lançamento devidamente classificados; a partir da análise destes resultados, foram elaboradas conclusões, as quais deram origem a algumas recomendações para procedimentos a curto, médio e longo prazo. A estimativa de geração de entulho em São Carlos, bem como a classificação dos pontos de lançamento, foi adaptada da metodologia apresentada por SILVEIRA (1993). A quantificação do entulho gerado baseou-se nas áreas de obras licenciadas na cidade, para o que foi feita uma pesquisa diretamente nos registros de licenças para construção e reformas existente no setor responsável da administração municipal, levantando-se os valores correspondente ao anos de 1993 a 1996 (parcial). Segundo aquele autor, os dados obtidos por tal metodologia são representativos, pois a maior parte das obras licenciadas é de médio e grande portes, com maior geração de resíduos. O autor levantou para a cidade de Campinas o valor de 0,16 t/m 2 como sendo a relação massa descartada/área licenciada. Adaptando-se tal valor para São Carlos (e considerando que as condições de fiscalização são bastante precárias, ou seja, as obras clandestinas são mais freqüentes), foi adotado um coeficiente médio de geração de 0,20 t/m 2, a fim de se estimar a quantidade de entulho descartado na cidade. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1652

A classificação dos pontos de lançamento, por sua vez, levou em conta quatro parâmetros: a) área ocupada pelo lançamento: classificada em pequena ( < 0,1 ha), média ( 0,1 a 0,5 ha) e grande (> 0,5 ha); b) idade do lançamento: classificada em antiga ou nova, a partir da observação visual do crescimento de vegetação, terraplanagem, presença de matéria em decomposição etc.; c) quantidade de resíduo lançado: classificada, a partir da contagem do número de pilhas com altura média de 1,5 m, em pequena ( < 10 pilhas), média (10 a 40) ou grande (> 40); d) potencial impactante: classificado em baixo, médio e alto em função da intensidade de ocupação humana e da proximidade de corpos d água e de vegetação nativa. A combinação desses parâmetros permitiu o enquadramento dos pontos de lançamento numa das três classes a seguir, bastando que duas das condições mais desfavoráveis fossem atendidas:? Classe A: dimensões grandes, resíduos novos, grande quantidade, alto potencial impactante;? Classe B: dimensões médias, resíduos com idades variadas, média quantidade, médio potencial impactante;? Classe C: dimensões pequenas, resíduos antigos, pequena quantidade, baixo potencial impactante. Os pontos de lançamento, devidamente classificados segundo o critério apresentado, foram então localizados em planta na escala 1:20.000, permitindo avaliar a distribuição espacial dos principais pontos. RESULTADOS Com relação às quantidades de entulho gerados em São Carlos, foi feita pesquisa direta no livro de licenças para construções e reformas, da Divisão de Fiscalização de Obras Particulares (DFOP), ligada ao Departamento de Obras Viárias (DOV) da Prefeitura Municipal de São Carlos (PMSC). Os dados obtidos referem-se às áreas licenciadas nos anos de 1993 a 1996 (parcial) e os valores são apresentados na Tabela 1. Nesta mesma tabela é mostrado o somatório das áreas licenciadas em cada ano, podendo observar-se um acréscimo entre 1993 e 1994 e outro entre 1995 e 1996. O valor médio referente aos quatro anos pesquisados foi de aproximadamente 214.000 m 2. O totais de cada ano e este valor médio são mostrados na Figura 1. Adotando-se uma relação de 0,2 t/m 2 conforme descrito na metodologia, pôde-se calcular a geração de entulho para cada ano, bem como obteve-se um valor médio correspondente aos quatro anos estudados de 117 t/dia em massa, conforme Tabela 2. A obtenção deste valor de forma indireta, a partir das áreas licenciadas e da adoção de um índice de geração de entulho por área pode ter acarretado alguma distorção. Entretanto, se for calculada a geração de entulho por habitante (0,24 t/hab.ano), têm-se valores próximos aos de alguns dados de 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1653

literatura (Santo André/SP - 0,21 t/hab.ano; Alemanha - 0,23 t/hab.ano), conforme pode-se observar na Tabela 3. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1654

Tabela 1 - Áreas licenciadas para construção e reformas em S. Carlos. 1993 1994 1995 1996 JANEIRO 13301 51038 21734 76744 FEVEREIRO 18823 14265 5315 31913 MARÇO 8693 40368 14021 7581 ABRIL 17430 13461 6651 25298 MAIO 11528 73485 24222 6684 JUNHO 10431 8231 10815 7380 JULHO 12516 9506 21920 10423 AGOSTO 10255 19517 4909 19343 SETEMBRO 24218 9308 12255 10364 OUTUBRO 7588 8477 8825 22999 NOVEMBRO 26787 10343 14242 18931 DEZEMBRO 30783 9779 9975 3619 TOTAIS 192.353 267.778 154.884 241.279 Valores em m 2 300000 área licenciada (m2) 250000 200000 150000 100000 50000 1993 1994 1995 1996 média 0 Figura 1 - Valores anuais e média de áreas licenciadas para construção e reforma no quadriênio 1993-1996. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1655

Tabela 2 - Estimativa de massa de entulho gerada em São Carlos. ANO ÁREA MASSA MASSA (m 2 ) (toneladas/ano) (toneladas/dia) 1993 192.353 38.470 105,4 1994 267.778 53.555 146,7 1995 154.884 30.977 84,9 1996 241.279 48.256 132,2 MÉDIA 214.073 42.814 117,3 Tabela 3 - Dados de produção de entulhos para diversas localidades. LOCALIDADE TAXA DE PRODUÇÃO (ton/habitantes/ano) Osaka, Japão - 1990 0,45 Massachusetts, EUA - 1986 0,17 a 0,83 República Federal da Alemanha - 1982 0,23 Santo André, SP - 1988/89 0,21 São Paulo, SP - 1992 0,10 Belo Horizonte, MG - 1992 0,09 (Fonte: Pinto e Lima apud CUNHA, 1994 ) O valor médio obtido, que corresponde a um volume aproximado de 157 m 3, considerando-se uma densidade média do entulho de 1,34 ton/m 3, é da mesma ordem de grandeza do lixo domiciliar coletado na cidade (atualmente por volta de 120 ton/dia), mostrando que a quantidade de entulho é significativa. Com relação à coleta e transporte do entulho, foram identificadas sete empresas prestadoras deste tipo de serviço, através de caçambas estacionárias (embora apenas seis cadastradas na Prefeitura). Em quatro delas foram obtidos os dados solicitados (número de caçambas, caminhões, funcionários, volumes coletados, valores das viagens), alguns deles de forma estimada. Obteve-se como resultado um valor em torno de 290 t/dia de entulho coletado, ainda maior do que o obtido anteriormente. Deve-se ressaltar ainda que as empresas de coleta operam com apenas 2 ou 3 funcionários, e que a atividade das mesmas ainda não é regulamentada por lei municipal. Uma constatação importante refere-se ao posicionamento das caçambas na via pública, tendose observado vários problemas: falta de sinalização adequada, colocação inclinada em relação ao meio -fio (diminuição da pista de rolamento e interrupção do escoamento de águas pluviais), estacionamento em locais proibidos (vias de maior fluxo, esquinas, áreas de estacionamento 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1656

pago etc.), interrupção da passagem de pedestres, colocação de caçambas fora de uso em locais públicos. Quanto aos pontos de lançamento do entulho, foram identificados 20 locais mais significativos, na maioria localizados em margem de córregos e na região periférica da cidade, os quais são mostrados na Figura 2 (adaptada do mapa em escala 1:20.000). Figura 2- Localização dos pontos de lançamento de resíduos. Com relação aos parâmetros de classificação, observou-se que predominara: - as áreas grandes (40%, contra 25% de áreas pequenas e 35% médias), Fig. 3; - os depósitos recentes (75%); - as quantidades médias e grandes (45% cada uma, contra 10% de quantidades pequenas), Figura 4; 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1657

- e o potencial impactante médio (60%, contra 30% de alto potencial e 10% de baixo), Figura 5 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1658

40% 25% pequena média grande 35% Figura 3 - Número de depósitos quanto as dimensões das áreas. 10% 45% pequena média grande 45% Figura 4 - Número de depósitos quanto às quantidade de resíduos. 30% 10% baixo médio alto 60% Figura 5 - Número de depósitos quanto ao potencial impactante. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1659

Como classificação final, obtiveram-se os seguintes valores, conforme apresentado na Figura 6: Classe A - 35% ; Classe B - 40% ; e Classe C - 25%. 40% 35% classe A 25% classe B classe C Figura 6 - Classificação final dos depósitos por Classes (A,B e C). Pode-se constatar que 60% dos pontos de lançamento já apresentam estágios mais avançados de degradação (A e B), exigindo soluções mais complexas. Por outro lado, em 40% dos pontos haveria condições mais favoráveis para uma medidas mais imediatas. Observou-se que em 30% dos pontos havia placas proibindo o lançamento de entulhos. Mesmo em locais autorizados (apenas 2, ambos em condições inadequadas), foram constatados problemas, como presença de matéria orgânica, restos de podas e animais mortos (60% dos pontos), obstrução da pista de rolamento e do sistema de drenagem, assoreamento de corpos d água, erosão, lançamento em áreas verdes e de lazer, poluição visual e maus odores. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A principal conclusão do levantamento efetuado é a de que a coleta, o transporte e a deposição dos resíduos de construção civil em São Carlos encontram-se numa situação caótica, em que se associam a falta de consciência da população (que além de aceitar a situação, em muitos casos contribui para agravá-la), os interesses privados das empresas coletoras (cujo critério de lançamento final é o do menor custo) e o descaso do poder público (tanto o Executivo, não orientando ou fiscalizando, quanto o Legislativo, não regulamentando). Como conseqüência, têm-se impactos ambientais significativos como decorrência da falta de um gerenciamento adequado desse tipo de resíduo. Como recomendação geral, deve-se, num prazo médio, implantar o referido gerenciamento, incluído num contexto mais amplo do gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos. Em termos específicos, pode-se recomendar que, num curto prazo, sejam eliminados e recuperados os depósitos Classe C, de solução mais imediata, evitando que os mesmos atinjam 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1660

estágios mais avançados de degradação do meio. Da mesma forma, deveriam ser regulamentadas as atividades das empresas coletoras, disciplinando-as. É imprescindível também que locais adequados de disposição sejam imediatamente definidos, fiscalizando-se e punindo a utilização de outros pontos. Os pontos Classe A e B, que possivelmente demandarão medidas mais complexas, também deverão ser objeto de atenção imediata em termos de se estudar as melhores soluções para cada caso, contemplando-se desde já a interrupção em sua utilização como ponto de lançamento. A questão dos resíduos da construção civil não deve, entretanto, ser vista apenas sob o ângulo da disposição final. Medidas que minimizem a geração do entulho, combatendo o desperdício, ou que promovam a separação dos diferentes tipos de materiais, visando a reciclagem, devem ser buscadas. Um melhor conhecimento das diversas etapas do ciclo de vida dos produtos empregados na construção civil, associado a atividades de educação e a uma legislação adequada e efetiva poderão contribuir para que os atuais problemas relacionados ao entulho venham a ser minimizados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT) NBR 10.004 - Resíduos Sólidos - Classificação. Rio de Janeiro, 1987 2. CUNHA, M. A. Disposição de entulhos na cidade de São Paulo: caracterização dos problemas geotécnicos-ambientais e proposta de solução. Seminários, Escola de Engenharia de S. Carlos/USP. São Carlos, 1994 3. SILVEIRA, G.T.R. Metodologia de caracterização dos resíduos sólidos como base para uma gestão ambiental. Estudo de caso: entulhos da construção civil em Campinas/SP. Dissertação de Mestrado. Universidade de Campinas, Campinas, 1993. 4. SOUZA, B.O. Diagnóstico da destinação final de entulho na cidade de São Carlos/SP. Trabalho de Graduação Integrado. Universidade Federal de São Carlos, S. Carlos, 1997. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1661