Interdisciplinar: Revista Eletrônica da UNIVAR http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X Ano de publicação: 2015 N.:13 Vol.1 Págs.136-141 MATRICIAMENTO EM SAÚDE MENTAL: REVISÃO DE LITERATURA Alisséia Guimarães Lemes 1, Ana Carolina Barros Prado 2, Janaína Montalvão Ferreira 3, Fernanda Costa Nunes 4 e Vagner Ferreira do Nascimento 5 RESUMO: Objetivou-se descrever sobre a importância do matriciamento em saúde mental na ESF. Trata-se de uma revisão de literatura, baseada na consulta extraídos da internet: SCIELO e Bireme, ano de 2000 a 2013. A pesquisa realizada demonstrou que a ESF constitui uma estratégia adequada para trabalhar a saúde mental, pois, suas equipes apresentam-se engajadas no dia-a-dia da comunidade, com a perspectiva de melhorar as condições de vida da população, incorporando ações de promoção e educação para a saúde. Considera-se que com o matriciamento a grande demanda de casos de doenças mentais leves seria acompanhada na ESF encaminhando apenas os casos mais graves, desafogando o atendimento no CAPS. PALAVRA CHAVE: Apoio Social; Atenção Primária a Saúde; Matriciamento; Saúde Mental. ABSTRAT: This study aimed to describe the importance of specialist orientation in mental health in the FHS. This is a literature review based on extracted from the internet query: SCIELO and Bireme year 2000-2013.The survey showed that the ESF is an appropriate strategy for working the mental health because his teams are shown engaged in day-today community, with the prospect of improving the population's living conditions, incorporating promotion actions and health education. It is considered that with the matricial the high demand of cases of mild mental illness would be accompanied in the FHS forwarding only the most severe cases, relieving the service in CAPS. KEY WORD: Social support; Primary Health Care; matricial; Mental health. 1 Enfermeira. Mestranda, docente da Universidade Federal de Mato Grosso UFMT/CUA em Barra do Garças MT. Departamento em Enfermagem. Especialista em Saúde Pública e Saúde Mental com Abordagem Psicossocial. Coordenadora do Projeto de Extensão e Pesquisa em Saúde Mental da UFMT/CUA.E-mail: alisseia@hotmail.com 2 Enfermeira especialista em Saúde Mental com Abordagem Psicossocial CEEN Goiânia-GO. Atua no CAPS II Terezinha Melo de Sousa de Caldas Novas - GO. E-mail: carolzinha_barros00@hotmail.com 3 Assistente Social especialista em Saúde Mental com Abordagem Psicossocial CEEN Goiânia-GO. Atua no CAPS Gislaine Gado, Luiz Eduardo Magalhaes - BA. E-mail: janaina.monalvao@hotmail.com 4 Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia-GO. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás, Goiânia- GO. E-mail: ferdsom@hotmail.com 5 Enfermeiro. Doutorando e docente da Universidade do Estado de Mato Grosso UNEMAT/CUTS. Departamento de Enfermagem. E-mail: vagnerschon@hotmail.com 1 INTRODUÇÃO O pensar e fazer saúde mental vem passando por modificações, tendo seu ápice no inicio da década de 70, quando ocorrem movimentos a favor da mudança dos modelos dos serviços e protagonismos dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos de gestão e produção de tecnologias do cuidado, com principal destaque a Reforma Sanitária (MAZINA, 2012 p. 51; VASCONCELOS et al., 2012, p.166; CAMPOS, DOMINITTI, 2007, p.401). A Reforma Sanitária antecedeu e influenciou a Reforma Psiquiátrica, a VIII Conferência de Saúde de 1986, que marca o ápice desse movimento, que entre várias discussões aprovou o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), fato que fortaleceu mesmo que indiretamente as reivindicações por uma nova atenção em saúde mental (MAZINA, 2012 p. 52). Em 1987 surge o primeiro CAPS no Brasil, na cidade de São Paulo. Em 1989 a Secretaria de Saúde de Santos (SP) inicia intervenções de desintitucionalização em hospital psiquiátrico, implanta o Núcleo de Apoio Psicossocial funcionando 24 horas (VASCONCELOS et al., 2012, p. 172; CAMPOS, DOMINITTI, 2007, p. 401). A Organização Mundial de Saúde (OMS) apontou a importância da integração de ações de saúde mental na atenção primária, reconhecendo que a saúde mental é parte dos cuidados primários de saúde, com ênfase nas novas formas de cuidar, de forma Holística e Humanizada. Assim, a partir de 2001 o Ministério da Saúde promove eventos como Oficinas de trabalho, seminários, para iniciar a discussão da inclusão da saúde mental na Atenção Básica (VASCONCELOS et al., p.167). 136
A realidade das equipes de Atenção Básica demonstra que, cotidianamente, elas lidam com problemas de saúde mental. Por sua proximidade e vínculo com famílias e comunidades, as equipes de Atenção Básica são um recurso estratégico para o enfrentamento de agravos vinculados ao uso de álcool, drogas e diversas formas de sofrimento psíquico. Existe um componente de sofrimento subjetivo associado a toda e qualquer doença, às vezes atuando como entrave à adesão a práticas preventivas ou de vida mais saudáveis (BEZERRA, DIMENSTEIN, 2008, p.636). O modelo de integração da saúde mental na atenção primária, chamado de Matriciamento, ou apoio Matricial, formulado por Gastão Wagner Campos, tem sido implantado em diversos municípios e está sendo norteador nesse processo. Pauta-se em duas ou mais equipes produzir saúde num processo de construção compartilhada, criando proposta de intervenção pedagógica (BRASIL, 2011, p.13). O Apoio Matricial (AM) ou Matriciamento em saúde mental se estrutura com o objetivo de promover a interlocução entre os serviços especializados de saúde mental, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) e a atenção primária, numa atuação conjunta com as Equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) (VASCONCELOS et al., 2012, p. 167). Em busca de levantar uma discussão, sobre a importância do matriciamento na saúde mental em conjunto com a ESF, especificamente sobre a lógica de organização de processos de trabalho, propõe-se uma análise sobre a estratégia de apoio matricial e seus constantes desdobramentos. Diante disso, o objetivo deste artigo é discutir o papel do matriciamento no atendimento em saúde mental na ESF. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um artigo de revisão de literatura, baseado no levantamento de artigos em revistas científicas, livros didáticos, dissertações, teses extraídas da internet: SciELO - Scientific Electronic Library Online e BVS - Biblioteca Virtual em Saúde, publicados entre os anos de 2000 a 2013 em português. As palavras chaves utilizadas para a busca foram: Atenção Primária a Saúde; Apoio Matricial; Matriciamento; Saúde Mental. Foram identificados 66 textos encontrados entre artigos, apontamentos e textos do Ministério da Saúde. Deste total foram selecionados 23 artigos que abordavam o contexto da Saúde Mental na ESF e a descrição do Matriciamento em Saúde mental, que é o objeto de estudo dessa pesquisa. Após leitura e analise dos artigos selecionados classificou-se a partir de duas categorias: Saúde Mental na ESF e Matriciamento em Saúde Mental. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Saúde mental na estratégia de saúde da família A Atenção Básica (AB) caracteriza-se por um conjunto de ações, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde (BRASIL, 2006, p.10; POÇO, AMARAL, 2005, p.26; BRASIL, 2002, p.84). A Estratégia de Saúde da Família (ESF) foi criada em 1994 pelo Ministério da Saúde (MS) como programa que propõe uma nova dinâmica para a estruturação dos serviços de saúde na atenção básica, bem como para a sua relação com a comunidade e entre os diversos níveis de complexidade assistencial. Sendo assim, a ESF assume o compromisso de prestar uma assistência baseado nos princípios do SUS de universalidade, equidade e integralidade (CAMPOS, DOMITTI, 2007, p.401; SARACENO, 2001; ROSA, LOBATE, 2003, p.230). Na ESF, uma equipe multidisciplinar de saúde assume novas formas de trabalhar, sendo, responsável pelo cuidado de um número fixo de famílias adscritos no território. Considerando-se que cada equipe atende, em média, 1.200 famílias, e pensando-se em Saúde Mental de uma forma ampla, é provável que, neste universo, existam muitas pessoas que necessitem de suporte em Saúde Mental (POÇO e AMARAL, 2005, p.26). A Saúde Mental é uma temática bastante complexa e pouco desenvolvida pelas equipes da ESF junto às famílias, devido à falta de treinamento e/ou conhecimento específico dos profissionais sobre o assunto (ROSA, LOBATE, 2003, p.233). A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que não existe definição "oficial" de saúde mental, num geral, resume na competência de um indivíduo de apreciar a vida e buscar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. Admite-se, entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência de transtornos mentais (BRASIL, 2011, p.60). Um trabalho de Saúde Mental na comunidade visando à promoção, prevenção e ao tratamento dos casos identificados, precisa se apoiarem num conjunto de ações que visem o melhoramento ou a manutenção da saúde da população (SARACENO, 2001). A ESF constitui uma estratégia ideal para trabalhar a saúde mental, pois, suas equipes apresentam-se engajadas no dia-a-dia da comunidade, com a perspectiva de melhorar as condições de vida da população, incorporando ações de promoção e educação para a saúde (ROSA, LOBATE, 2003, p.230). Cabem às equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS) realizarem o acolhimento dos pacientes com doença mental, assim como o diagnóstico e tratamento, considerando que na UBS o perfil do profissional é trabalhar com uma grande diversidade de casos (POÇO, AMARAL, 2005, p.26). O cuidado operado no cotidiano da ESF se revela nas medidas prescritivas, procedimentos de controle e intervenções programáticas do processo saúde-doença, tais práticas, incorporam ainda uma 137
resistência para o atendimento de pessoas com problemas mentais (PINTO et al., p.655). Este fato pode estar vinculado à falta de capacitação e especialização na parte de saúde mental de toda a equipe inserida (BRASIL, 2002, p.27). Apesar de toda mudança no contexto de atendimento em Saúde Mental advinda do processo da Reforma Psiquiátrica é notável ainda uma falta de aproximação entre ações voltadas, por exemplo, à Hipertensão, Diabetes, Hanseníase, e as ações de saúde mental, tanto no planejamento dos programas e políticas quanto na execução da assistência (SILVEIRA, 2012, p.2378). Entende-se que o Matriciamento em saúde mental na Atenção Primária a Saúde (APS), como exemplo na ESF, pode reorganizar a rede de serviços, favorecer o acesso e viabilizar o trânsito dos trabalhadores de saúde mental, anteriormente aprisionados aos CAPS, em razão dos diversos níveis de complexidade do sistema de saúde (BRASIL, 2011, p.82). O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) apresenta-se como serviço de saúde ordenador das ações de saúde mental nas redes assistenciais. Atualmente, as necessidades e demandas da população requisitam uma articulação efetiva do cuidado em saúde mental no território (SOUZA, 2000, p.25; CAÇAPAVA, CALVERO, 2008, p.578; NUNES, JUCA, VALENTIM, 2007, p.2380). A grande demanda de casos, que poderiam ser acompanhados no nível primário de assistência, sobrecarrega os CAPS e compromete o acesso e o atendimento das pessoas com transtornos mentais mais graves, seja mediante a realização de visitas domiciliares, seja pela busca ativa de pacientes em crise (PINTO et al., 2012, p.656; FIGUEIREDO, CAMPOS, 2009, p.130; BRASIL, 2004, p17; SILVA et al., 2010, p.3). 3.2 Matriciamento em Saúde Mental O processo de matriciamento ou Apoio Matricial em saúde mental ocorre na integração das equipes de saúde da família e atenção psicossocial para acompanhamento das pessoas com problemas psíquicos leves (PINTO et al., 2012, p.654). O matriciamento em saúde mental trata-se de um conjunto de concepções e modelos (Ações psicossociais na ESF) para a organização da atenção à saúde no SUS (PINTO et al., 2012, p.656). O AM, formulado por Gastão Wagner Campos tem redefinido em todo o território brasileiro um novo tipo de cuidado (equipe de referência e equipe de apoio matricial) colaborativo entre a saúde mental e a atenção primária. O que altera a cultura de organização hierárquica dos sistemas de saúde, passando a estabelecer uma transferência de responsabilidade no encaminhamento, possibilitando uma conversação entre os vários níveis de serviço de saúde, já que na maioria dos casos esse diálogo ocorre de maneira precária e burocrática, gerando assim uma resolubilidade maior (BRASIL, 2011, p.13). O Matriciamento é um novo modo de gerar saúde em que duas ou mais equipes, interagem num método de construção compartilhada (atendimento dos pacientes com doença mental entre equipe de ESF e equipe CAPS e ou equipe do NASF) criando uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica (BRASIL, 2011, p.13). A nova sugestão integradora visa modificar a lógica tradicional dos sistemas de saúde: encaminhamentos, referências e contra-referência, protocolos e centros de regulação. Os efeitos burocráticos e pouco dinâmicos dessa lógica tradicional podem vir a ser atenuados por ações horizontais que integrem os componentes e seus saberes nos diferentes níveis assistenciais (BRASIL, 2011, p.13). O apoio matricial é diferente do atendimento realizado por um especialista dentro de uma unidade de atenção primária tradicional (BRASIL, 2011, p.14). Ele pode ser entendido com base no que aponta Figueiredo e Campos um suporte técnico especializado que é ofertado a uma equipe interdisciplinar em saúde a fim de ampliar seu campo de atuação e qualificar suas ações (FIGUEIREDO, CAMPOS, 2009, p.130; QUINDERÉ et al., 2013, p.2165). Esse modelo entende o processo saúdeenfermidade-intervenção como ferramenta pertencente a todo campo de saúde, e não a uma exclusiva especialidade. Por isso, os profissionais matriciadores em saúde mental na atenção primária podem ser psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, assistentes sociais, enfermeiros de saúde mental (BRASIL, 2011, p.15; TRAVASSOS, MARTINS, 2004; PINHEIRO et al., 2002, p. 698). O apoio matricial em saúde mental opera práticas inovadoras e focos de atuação multidisciplinar. Nos fluxos assistenciais, a melhora da articulação entre os serviços foi dinamizada entre o CAPS e a ESF (SANTOS, SOARES, CAMPOS, 2007, p.778). A interconsulta é percebida como principal instrumento do apoio matricial na atenção primária por ser uma prática interdisciplinar para a construção do modelo integral do cuidado (BRASIL, 2011, p.25). Esse encontro (interdisciplinaridade) de profissionais de distintas áreas, saberes e visões permite que se estruture uma compreensão integral do processo de saúde e doença, ampliando e estruturando a abordagem psicossocial e a construção de projetos terapêuticos, além de facilitar a troca de conhecimentos, sendo assim, um instrumento potente de educação permanente (BRASIL, 2011, p.25). Desenvolver uma atenção integral à saúde, adotando o campo psicossocial como enfoque nas ações assistenciais e de promoção exige uma composição gerencial, clínica, ética e política que priorize a intersubjetividade, a participação e a articulação intersetorial (PINTO et al., 2012, p.659). Os profissionais que envolvem o atendimento devem ter uma atitude receptiva para poder sentir melhor as necessidades da pessoa. É preciso que o profissional saiba ouvir, ver e tocar com o coração, além das mãos, assim consegue-se resgatar a identidade e a valorização das pessoas com doenças 138
mentais e compreender as fases da doença, as mudanças do novo para o individuo e sua família (ALMEIDA et al., 2014, p. 110). Sendo assim, nos programas do MS são propostas como tarefas do Apoio Matricial: a discussão de caso, a capacitação, a consulta conjunta, a participação em reunião de equipe na rede básica, a visita domiciliar, a disponibilização de contato telefônico para emergências. O Apoio Matricial tal qual se encontra nessas propostas, propõe produzir um novo arranjo organizacional, que visa fornecer um suporte técnico às ações básicas (BRASIL, 2004, p.80). As discussões de casos de saúde mental nas UBS realizadas através das reuniões entre a equipe Matriciadora (do CAPS ou do NASF) e a equipe Matriciada (ESF) proporcionam aos trabalhadores a ampliação do escopo de compreensão sobre os transtornos mentais e, consequentemente, a identificação de casos não percebidos anteriormente e não acolhidos de maneira adequada. Neste contexto, os casos passam a ser revelados e acompanhados pelas equipes de saúde, podendo implementar os cuidados básicos de saúde até então negligenciados (SILVA et al., 2010, p.2). Reforçando os conceitos de discussão em grupo, onde, os momentos de capacitações ou conversação entre as equipes suscitam tensões, possibilidades e caminhos, por meio do trabalho dialógico, desconstruindo a lógica do trabalho centrado no procedimento; da prática específica de cada profissional, individual e centrada na doença. O mesmo estudo descreveu que esse encontro é o momento de reflexão e construção coletiva, onde a co-gestão índica o estabelecimento de compromissos com trabalhadores e usuários, e entre a própria equipe, seja na atenção básica ou especializada, seja na ação individual ou coletiva (VASCONCELOS et al., 2012, p.169). A literatura elaborada pelo MS - Guia prático de Matriciamento em Saúde Mental - aponta a importância de se definir e delimitar com clareza as tarefas e os responsáveis por cada equipe/profissional. E que a discussão dos casos seja realizada sob a ótica biopsicossocial que incorpore diferentes dimensões dos problemas e contribuição de distintos saberes (BRASIL, 2006, p.24). A implementação do Apoio Matricial possibilitará aos pacientes serem acompanhados na própria ESF. Favorecerá ainda de sobre maneira, o acesso à assistência, pois, um dos determinantes básicos da acessibilidade aos serviços de saúde é territorialidade e a facilidade de deslocamento geográfico, por viabilizar a participação mais assídua dos usuários às consultas (TRAVASSOS, MARTINS, 2004; PINHEIRO et al., 2002, p.134). Com atendimento das pessoas com doenças mentais realizados na ESF, a equipe de saúde passa a ter o conhecimento da situação e evita os encaminhamentos desnecessários. O acompanhamento na ESF ajuda a manter e fortalecer o vínculo dos profissionais com as famílias facilitando a abordagem dos casos (QUINDERÉ et al., 2013, p.2161), as equipes passam a ser mais seguras, porque, após a implementação do AM detém o conhecimento e assim podem prestar uma melhor assistência e resposta às demandas dos pacientes mentais somados a ampliação da capacidade de acesso na dimensão sócio organizativa (TRAVASSOS, MARTINS, 2004, p.197). O Matriciamento proporciona como atividades a realização de visita domiciliar conjunta entre a equipe de saúde básica e a equipe de apoio especializado em saúde mental, de modo a favorecer o acesso da população com problemas de deslocamento aos serviços de saúde mental (QUINDERÉ et al., 2013, p.2161). O trabalho entre equipes (CAPS / NASF e ESF) aumenta a corresponsabilidade dos casos, apontam para uma acessibilidade no atendimento ao paciente com doença mental, acolhendo-o de forma holística e humanizada. Assim, não se restringem apenas ao uso do serviço em si, mas prolongam-se pela continuidade do cuidado, pela resposta dada à demanda dos usuários e pela resolubilidade da assistência prestada (CAMPOS, DOMITTI, 2007, p.404). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A estratégia do AM de articular saúde mental à atenção básica, visando uma atenção integral e menos fragmentada, está visivelmente ligada ao conhecimento dos profissionais da ESF a respeito do assunto. É de suma importância à colaboração no atendimento em Saúde Mental de todos os profissionais da equipe de referência e contra referência. A ideia central do AM é a articulação entre a atenção básica e os serviços especializados. Trata-se de uma estratégia dialógica entre as equipes, onde os profissionais podem trocar experiências, discutir textos, refletir sobre os processos de trabalho, com o intuito de melhorar o atendimento oferecido aos pacientes com transtorno mental na ESF. Assim, a Atenção primária a saúde seria responsável por acompanhar as demandas de casos de doenças mentais leves e moderadas encaminhando apenas os casos mais graves, desafogando os CAPS. A proposta de matriciamento é uma ferramenta que deve ser pactuada como uma ação que requer participação dos sujeitos envolvidos na atenção à saúde mental, estabelecendo sobre o que, para que e como intervir. Existe uma necessidade de que se preste atenção integral (a todos os usuários) que, só poderá ser alcançada através de troca de saberes e práticas e de profundas alterações nas estruturas de poder estabelecidas, instituindo uma lógica do trabalho interdisciplinar, por meio de uma rede interligada de serviços de saúde. A pesquisa realizada na literatura demonstrou a necessidade de ampliar a discussão em torno da questão do apoio matricial em saúde mental como uma possibilidade de fortalecer o cuidado no território, considerando, assim, a realidade de cada localidade, e avaliando se essa estratégia irá alcançar os objetivos a que se propõe. Compreende-se que o Matriciamento pode ser também um mecanismo de 139
combate ao preconceito contra o paciente com transtorno mental. O estudo apresentou limitações com base na busca de artigos pesquisados, uma vez que até os dias de hoje a saúde mental tem sido abordado de forma menos quantitativa em relação aos demais assuntos relacionados à saúde. Por fim, muito ainda tem que ser feito para que os CAPSs e NASFs implementem o Matriciamento, visando o esclarecimento a equipe multidisciplinar de que a pessoa com transtorno mental leve e moderado pode e deve ser acompanhada em unidades básicas de saúde, desmitificando a ideia de que o louco deve ser retirado do meio social. Essa ação reafirma a reintegração das pessoas com transtorno mental na sociedade utilizando os instrumentos que a sociedade oferece, evitando discriminação e preconceito a pessoa com algum tipo de transtorno mental. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M. F. I.; BARBOSA, A. C.; LEMES, A. G.; ALMEIDA, K. C. S.; MELO, T. L. Depressão do idoso: o papel da assistência de enfermagem na recuperação dos pacientes depressivos, 2014. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da UNIVAR N.:11 Vol.:1 Págs.107 11. Disponível em <http://revista.univar.edu.br>. Acessado em 10 de fevereiro de 2015. BEZERRA, E.; DIMENSTEIN, M. Os CAPS e o trabalho em rede: tecendo o apoio matricial na atenção básica. Psicologia: ciência e profissão, 2008; V. 28, n. 3, p. 632-645. BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Profissionalização de auxiliares de enfermagem: cadernos do aluno saúde mental. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2002. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Brasília-DF 2004. Ministério da Saúde. Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva. Guia prático de matriciamento em saúde mental / Dulce Helena Chiaverini (Organizadora) Brasília, DF, 2011. Ministério da Saúde. Saúde Mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Anexo: Saúde Mental e Atenção Básica: o Vínculo e o Diálogo necessários. Brasília/DF. 2004. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. (Série A: Normas e manuais técnicos, 4). CAÇAPAVA, J. R.; COLVERO, L. A. Estratégias de atendimento em saúde mental nas unidades básicas de saúde. Revista Gaúcha Enfermagem, 2008; 29(4): 573-80. CAMPOS, G. W. S.; DOMITTI, A. C. Apoio matricial e equipe de referencia: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Caderno de saúde Pública, 2007; v. 23, n. 2. FIGUEIREDO, M. D.; CAMPOS, R. O. Saúde mental na atenção básica à saúde de Campinas, SP: uma rede ou um emaranhado?. Ciência& Saúde Coletiva, 2009; 14(1): 129-138. [capturado dez. 2013]. Disponível em URL: http://www.scielo.br/pdf/csc/v14n1/a18v14n1.pdf. MAZINA, I. V. Participação social em saúde no Brasil: O campo da saúde mental e suas instituições participativas. Caderno Brasileiro Saúde Mental, 2012 janeiro/junho 4; 8: 51-6. NUNES, M.; JUCA, V. J.; VALENTIM, C. P. B. Ações de saúde mental no Programa Saúde da Família: confluências e dissonâncias das práticas com os princípios das reformas psiquiátrica e sanitária. Cad. Saúde Pública, 2007; 23(10):2375-84. PINHEIRO, R. S.; VIACAVA, F.; TRAVASSOS, C.; BRITO, A. S. Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no Brasil. Ciência Saúde Coletiva, 2002; 7(4): 687-707. PINTO, A. G.; JORGE, M. S. B.; VASCONCELOS, M. G. F.; SAMPAIO, J. J. C.; LIMA, G. P.; BASTOS, V. C. et al. Apoio matricial como dispositivo do cuidado em saúde mental na atenção primária: olhares múltiplos e dispositivos para resolubilidade. Ciência e Saúde Coletiva, 2012; 17(3): 653-660 [capturado 10 de jan. 2014]. Disponível em URL: http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n3/v17n3a11.pdf. POÇO, J. L. C.; AMARAL, A. M. M. A inserção da saúde mental na atenção primária à saúde em um sistema de referência e contra-referência: o caso da unidade básica de saúde Padre Roberto. Rev. Atenção Primária à Saúde, 2005; 8: 25-37. QUINDERÉ, P. H. D.; JORGE, M. S. B.; NOGUEIRA, M. S. L.; COSTA, L. F. A.; VASCONCELOS, M. G. F. Acessibilidade e resolubilidade da assistência em saúde mental: a experiência do apoio matricial. Ciência & Saúde Coletiva, 2013; 18(7): 2157-66. ROSA, W. A. G.; LABATE, R. C. A contribuição da saúde mental para o desenvolvimento do PSF. Rev. Bras. Enfermagem, 2003; 56: 230-5. SANTOS, V. C.; SOARES, C. B.; CAMPOS, C. M. S. A relação entre trabalho-saúde de enfermeiros do PSF no município de São Paulo. Revista Esc. Enfermagem USP, 2007; 41(Esp.): 777-81. 140
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