Prova de Cultura Geral

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Provas Especialmente Adequadas Destinadas a Avaliar a Capacidade para a Frequência dos Cursos Superiores do Instituto Politécnico de Leiria dos Maiores de 23 Anos Prova de Cultura Geral Instruções gerais 1. A prova é constituída por quatro grupos de questões, sendo o grupo 1 de resposta obrigatória. Dos restantes três, deverá responder apenas a dois deles. 2. A duração da prova é de 2 horas, estando prevista uma tolerância de 30 minutos. 3. Só pode utilizar, para elaboração das suas respostas e para efetuar os rascunhos, as folhas distribuídas pelo docente vigilante. 4. Não utilize qualquer tipo de corretor. Se necessário, risque ou peça uma troca de folha. 5. Não é autorizada a utilização de quaisquer ferramentas de natureza eletrónica (telemóvel, pda, computador portátil, leitores/gravadores digitais de qualquer natureza ou outros não especificados). 6. Deverá disponibilizar ao docente vigilante, sempre que solicitado, um documento válido de identificação (bilhete de identidade, cartão do cidadão, carta de condução ou passaporte). Leiria, 12 de abril de 2014

Grupo 1 Resposta obrigatória A revolução circular No século XVI, o astrónomo Nicolau Copérnico fez uma grande descoberta: o Sol, não a Terra, era o centro do universo conhecido. Na época, muitos denunciaram a visão de Copérnico como heresia contra a doutrina cristã estabelecida; eventualmente, a revolução copernicana abriu caminho para uma nova visão científica do mundo e aumentou a prosperidade humana. Hoje, o mundo precisa de uma mudança de paradigma semelhante. Mas desta vez é o modelo económico vigente que deve ser transformado. Em 2030, a classe média mundial totalizará quase cinco mil milhões de pessoas, que vão esperar o mesmo tipo de oportunidades e comodidades a que os mais ricos têm acesso há muito tempo. Isto implicará uma pressão crescente sobre o meio ambiente e uma redução substancial dos recursos em todo o mundo. O problema é que o mundo mantém, há muito tempo, um foco míope na produção e consumo de bens da forma mais barata possível. O resultado é uma economia linear baseada na utilização, eliminação e substituição rápida de bens. Manter o modelo actual exigiria recursos ilimitados, de fácil acesso e espaço infinito para os resíduos - algo que é, claramente, impossível. [ ] Para encontrar uma alternativa sustentável há que olhar para a natureza, onde nada é desperdiçado. [ ] Assim como os ecossistemas reutilizam tudo num ciclo eficiente e com objectivos determinados, um sistema económico "circular" garantiria que os produtos eram projectados para fazer parte de uma rede de valor, dentro da qual a reutilização e renovação de produtos, componentes e materiais assegurava a exploração contínua dos recursos. [ ] Como todas as grandes transições na História da humanidade, a mudança de uma economia linear para uma economia circular será tumultuosa. Contará com pioneiros e opositores, vitórias e derrotas. Mas, se as empresas, governos e consumidores fizerem cada um a sua parte, a Revolução Circular vai colocar a economia mundial num caminho de crescimento sustentável a longo prazo e, daqui a 500 anos, as pessoas vão olhar para trás e vê-la como uma revolução de proporções copernicanas. Fonte: Van, Houten F. (2014). A revolução circular, Jornal de Negócios. Disponível em: http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/economistas/detalhe/2014_02_20_project_syndicate.html, acedido a 13 março 2014. 2

Número de planetas ANO Gráfico adaptado de: http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/gfn/page/footprint_basics_overview, acedido a 13 março 2014. 1ª questão: Leia o texto, analise o gráfico, e responda de forma clara e concisa às seguintes questões: 1. Que questões fundamentais de natureza ambiental, económica e social estão subjacentes à proposta de revolução apresentada pelo autor? 2. A Pegada Ecológica analisa, habitualmente, o consumo de recursos e a produção de resíduos, de uma determinada população ao longo de um ano. A partir da observação do gráfico, descreva a evolução da pegada ecológica, entre os anos 60 do século XX e a atualidade. 3. Em sua opinião, parece-lhe possível, na sociedade atual, produzir um cenário de redução rápida da pegada ecológica? 3

Grupo 2, Grupo 3, Grupo 4 Destes grupos, escolha apenas dois para responder Grupo 2 Sobre determinação social da saúde Wilkinson e Pickett (2009) afirmam que estamos no "fim de uma era". Ou seja, estaremos no limite daquilo que o desenvolvimento económico pode fazer por nós: contrariamente ao que tem sido feito em anos anteriores, agora o problema das pessoas que habitam os países ricos não é o de comer mais, mas sim o de comer menos. Aqueles autores demonstram que, conjugando esperança média de vida e rendimento nacional bruto per capita num mesmo gráfico, fica evidente que, entre "os países mais pobres, a esperança de vida aumenta rapidamente durante as fases iniciais do desenvolvimento económico", mas depois, e começando entre os países de rendimento intermédio, o índice de melhoria abranda. À medida que os padrões de vida sobem e os países enriquecem cada vez mais, a relação entre o crescimento económico e a esperança média de vida enfraquece. Assim sendo, o facto dos países ricos ficarem mais ricos não se traduz, comparativamente, em maior esperança média de vida das suas populações. O que é interessante é que isto não quer dizer que a esperança média de vida não continue a aumentar: o que acontece é que um país tão rico como os Estados Unidos da América, não funciona, necessariamente, melhor que a Grécia ou a Nova Zelândia, embora a riqueza do primeiro duplique as dos segundos. Assim, Wilkinson e Pickett (2009: 28) demonstram que "as melhorias adicionais nos padrões médios de vida contribuem cada vez menos para a boa saúde". Estes mesmos autores são perentórios em afirmar que, se é verdade que encontraram um nivelamento das esperanças de vida, na sua relação com a riqueza das nações, também é verdade que a qualidade de vida das pessoas possui outras componentes. O que os autores pretendem dizer é que, quer se analise a saúde, a felicidade ou outros indicadores de bem-estar, o resultado é sempre um quadro consistente: nos países mais pobres faz todo o sentido a melhoria dos padrões materiais de vida. Estas condições refletem-se em melhorias substanciais em indicadores objetivos de bem-estar, como seja a esperança média de vida, mas também em indicadores subjetivos, como seja a felicidade. Contudo, à medida que se igualam os padrões de desenvolvimento, as subidas adicionais de rendimento são cada vez menos importantes. Quando temos fome, um pão faz toda a diferença: quando estamos saciados, muitos mais pães são irrelevantes. Assim sendo, são as doenças associadas à pobreza, aquelas que mais mortes causam: as causas infeciosas e as doenças transmissíveis são as principais causas de morte nos países mais pobres. Ao contrário, nos países mais ricos, as doenças não transmissíveis são as mais comuns, sendo que as doenças infeciosas são mais comuns em idades mais jovens e em países mais pobres, onde matam mais precocemente. As doenças não transmissíveis são mais comuns em países mais ricos, onde matam as pessoas em idades mais avançadas. Monteiro, B. (2014). A determinação social da Saúde. In Leandro, E. e Monteiro, B. (Orgs.). A saúde no prisma da sociologia: olhares plurais. Viseu: Psicosoma. 4

2ª questão: De acordo com os epidemiologistas Wilkinson e Pickett, os cidadãos de sociedades mais desiguais terão maiores probabilidades de ir parar à cadeia, de terem doenças mentais, serem obesos, serem assassinados, terem maior mortalidade infantil, entre outras. Em sua opinião podemos apontar a redistribuição de riqueza como a resolução para o problema? 5

Grupo 3 Joana Vasconcelos, Trafaria-Praia, Pavilhão de Portugal na XXV Bienal de Veneza, maio 2013 O mercado internacional da arte fez-se de uma multiplicação de bienais e feiras. Até recentemente, a consciencialização de um mundo global, a par de uma afirmação de geografias pós-coloniais, não existia, pelo que essa multiplicação de bienais e feiras assentou numa circulação dos mesmos nomes (comissários e artistas ocidentais ou, melhor, de países do G8, os que dominam o mundo), que rodavam de evento para evento. Na última década, o sistema da arte efetuou a crítica de si mesmo e começou a olhar para as periferias artísticas de modo mais ativo, adotando alguns dos seus artistas, sejam modernos, sejam contemporâneos. A afirmação de artistas portugueses à escala internacional (ou melhor, europeia, porque é da Europa que ainda se trata) ocorre neste contexto e Joana Vasconcelos é um dos poucos exemplos a citar. Para além desta tendência geral, há uma tendência particular na qual o trabalho de Joana Vasconcelos se inscreve: a revalorização do craft. [ ] Outra tendência particular na qual o trabalho da Joana encontra eco é a da combinação do sentido poético das obras com uma perspetiva política. As obras da Joana têm uma mensagem sem serem panfletárias e seduzem o olhar pela sua aparência, pela iconografia que citam e pelo seu poder de maravilhamento. [ ] Hoje, quando alguém adquire uma obra sua, dado o preço relativamente elevado, é porque a quer ter ou, no caso dos museus, a quer mostrar, e isso só acontece quando há paixão e não por qualquer outro motivo, inclusivamente financeiro. A razão pela qual as suas obras estão mais em coleções privadas, deve-se ao facto de os museus terem verbas baixas para aquisições, enquanto que os privados não têm restrições [ ] A Joana não é mal-amada em Portugal, pelo contrário, a Joana é da(o)s pouca(o)s artistas com visibilidade no seu país. O que acontece é que, sempre que um artista alcança o terceiro estádio de reconhecimento, o do público (primeiro os pares; depois o sistema da arte, ou seja, os museus/diretores/comissários, críticos, galerias e colecionadores; e, finalmente, o público), seja em Portugal ou no mundo, seja hoje ou no passado, o sistema da arte dominante rejeita-o porque deixa de conseguir gerir a sua carreira e, assim, deixa de fixar o seu valor. Cunha, S.S. (2012, junho,16). A Joana é uma incansável trabalhadora. Entrevista a Miguel Amado, Revista Visão. 6

3ª questão: Leia atentamente o texto acima e, depois de observar também a imagem que o acompanha, elabore um pequeno ensaio sobre esta artista que, além de ter representado Portugal na XXV Bienal de Veneza, teve em 2013 duas importantes exposições individuais: uma no Palácio de Versalhes (França) e outra no Palácio Nacional da Ajuda. Relacione em particular as características individuais da obra plástica de Joana Vasconcelos com o seu valor de mercado, apontando as razões que, no seu entender, podem justificar essa relação. 7

Grupo 4 José Tolentino Mendonça, Poeta, sacerdote, professor, ensaísta [...] A diminuição das diferenças entre pobres e ricos. Veio-me ao pensamento esta entrevista de Sophia de Mello Breyner ao contactar estes dias com as conclusões do estudo sobre (i)literacia social, promovida pela Universidade Católica Portuguesa e o Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano, conclusões suficientemente inquietantes para nos tirar o sono. Aquilo que se constata é que quanto mais elevado é o nível de instrução dos inquiridos mais a consideração da importância da justiça ou da solidariedade vai progressivamente baixando. [ ] Os dados falam por si: quando interrogadas sobre a importância de ajudar os outros, 86,5% das pessoas com o 1.º ciclo respondem afirmativamente; mas esta percentagem baixa para 76,2% quando possuem o secundário; passa para 59,2% entre os detentores de bacharelato; e atinge o valor mais baixo, 53,1%, no universo dos licenciados, mestres ou doutorados. Esta mesma questão, cruzada com os níveis de rendimento, mostra que 86,4% das pessoas que ganham até 500 euros considera muito importante ajudar os outros, percentagem que vai diminuindo à medida que os rendimentos aumentam e que atinge o indicador mais diminuto 46,7% - entre os que ganham mais de 4 mil euros por mês. No que respeita, por exemplo, à relevância dada ao lutar por uma causa justa conclui-se também que os portugueses com mais instrução são os que mais a desconsideram. Impõe-se por isso perguntar: será admissível que a formação e o estatuto social nos tornem mais insensíveis à desigualdade e ao sofrimento e nos desresponsabilizem pelo bem comum? Mendonça, J. T. (2014). O resto é indiferente que coisa são as nuvens, Revista/Expresso, 25 janeiro, p. 6. 8

. 4ª questão: Leia o excerto da crónica de J. Tolentino Mendonça (considere se entender conveniente - a informação transmitida pela imagem que o antecede) e comente, num texto livre, o sentido atual de (i)literacia social, focando a importância da estatística e das percentagens, bem como o peso da linguagem técnica, em questões como os valores sociais aí referidos: desigualdade, sofrimento, responsabilidade. 9