GEOREFERENCIAMENTO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NA REGIÃO DO ECOMUSEU DO CERRADO - GO



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Transcrição:

GEOREFERENCIAMENTO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NA REGIÃO DO ECOMUSEU DO CERRADO - GO José Imaña-Encinas 1, Ricardo Campos da Nóbrega 2, Eraldo Aparecido Trondoli Matricardi 3 1 Prof. PhD, Universidade de Brasília, Departamento de Engenharia Florestal, Brasília, DF. Brasil - e-mail: imana@unb.br 2 Eng. Florestal, Mestre, Universidade de Brasília, Depto. de Engenharia Florestal 3 Prof. PhD, Universidade de Brasília, Depto. de Engenharia Florestal Recebido em: 04/05/2012 Aprovado em: 15/06/2012 Publicado em: 30/06/2012 RESUMO O EcoMuseu do Cerrado localizado no Estado de Goiás se estende em uma superfície de 8.066 km 2. Sete municípios goianos fazem parte do EcoMuseu. Pela definição do Ministério do Meio Ambiente 4.444 km 2 se inserem nas áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade nacional. A rede hidrográfica do EcoMuseu está composta por sete bacias hidrográficas. O presente estudo identificou as duas bacias hidrográficas do rio Peixe e do rio das Almas para receberem tratamento especial de gestão, uma vez que nelas ainda existe um alto percentual de área com vegetação natural pouco ou quase nada explorada. Utilizando-se de técnicas de geoprocessamento identificou-se o uso atual do solo assim como a pressão antrópica existente nessas bacias hidrográficas. As duas bacias, a do rio Peixe o do rio das Almas, localizam-se no município de Pirenópolis. PALAVRAS-CHAVE: Sensoriamento remoto, unidades de conservação, bacias hidrográficas. GEOREFERENCING OF PRIORITY AREAS FOR BIODIVERSITY CONSERVATION IN THE REGION OF ECOMUSEUM THE CERRADO - GO ABSTRACT The Cerrado Ecomuseum of the State of Goiás encompasses an area of 8,066 km 2. Seven municipalities of the State of Goias are part of these Ecomuseum. According to the definition of the Brazilian Ministry of the Environment (MMA), 4,444 km 2 fall into the priority areas for biodiversity conservation. The hydrologic network within the Cerrado Ecomuseum is composed by seven watersheds. Based on our results, we observed that two watersheds (the Peixe and Alma Rivers) should be object of special management program, since they still have high percentage of very pristine areas. We mapped the current land and analyzed the anthropogenic pressure within these two watersheds using geoprocessing techniques. These two watersheds are located within the municipality of Pirenópolis. KEYWORDS: Remote sensing, protected areas, watersheds. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p. 2142-2012

INTRODUÇÃO A conservação da natureza trata da proteção e do uso sustentável dos recursos naturais, visando manter o seu equilíbrio ecológico natural, perpetuando os seus serviços ambientais, econômicos e sociais. O conceito de conservação está voltado conseqüentemente ao manejo racional e sustentável dos recursos naturais que inclui necessariamente a manutenção da biodiversidade e a distribuição eqüitativa dos seus benefícios. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei n 9.985 de 18/07/2000) classifica as unidades de conservação em áreas de proteção integral e áreas de uso sustentável. Proteção integral implica na manutenção dos ecossistemas sem alterações causadas pelo homem, admitindo-se o manejo indireto dos seus atributos naturais. Deduz-se que o objetivo fundamental das unidades de proteção integral é a de preservar a natureza. Nas áreas de uso sustentável, a exploração do meio ambiente é permitida quando existir garantia de perenidade dos recursos naturais renováveis, dos seus processos ecológicos, da biodiversidade e dos atributos inerentes. O uso dos recursos naturais, dentre eles os florestais, deverá ser efetuado de forma socialmente justa e economicamente viável, compatibilizando a conservação da natureza com o manejo racional sustentado dos seus recursos naturais. No bioma Cerrado, que ocupa uma área próxima de 2 milhões de km 2, a superfície real sob proteção é de 81.891 km 2, representando 3,9% do total da área do bioma (BRASIL, 2002). Este valor percentual, se comparado com áreas protegidas de biomas de outros países ainda é baixo, uma vez que o patamar recomendado mundialmente deve ser de 6% (SANTOS & CÂMARA, 2002). Para alcançar esse patamar, aproximadamente 43.000 km 2 deveriam ser ainda transformados em unidades de conservação. De acordo com ARRUDA (1999), 67% da área do Cerrado encontram-se modificada, principalmente através de atividades agrícolas e urbanísticas. No trabalho desenvolvido no Distrito Federal pela UNESCO (2000), constatou-se que, no ano de 1998, as áreas de Cerrado stricto sensu e das matas de galeria ficaram reduzidas a 10% do seu estado original. Deduz-se que no bioma Cerrado ainda possam existir cerca de 500 mil km 2 cobertos com vegetação natural. KLINK & MACHADO (2005) informam que 2,2% da superfície do bioma está na categoria de unidades de proteção integral e 1,9% em uso sustentável, correspondendo aproximadamente a um total de 6.000 km 2. O EcoMuseu do Cerrado, implantado em 1997, pretende contribuir na conservação ambiental do seus recursos naturais, resgatando, valorizando e mostrando características que se acumularam ao longo de três séculos de ocupação humana. O EcoMuseu do Cerrado cobre uma superfície de 8.066 km 2 no Estado de Goiás, tendo a sua divisa leste encostada com o Distrito Federal (Figura 1). A sua superfície abrange a totalidade dos territórios compreendidos pelos municípios: Pirenópolis, Corumbá de Goiás, Cocalzinho de Goiás, Abadiânia, Alexânia, Santo Antônio do Descoberto e Águas Lindas de Goiás. Situa-se na região central do Estado de Goiás, entre os paralelos de 15 21 a 16 21 sul e meridianos de 48 04 a 49 14 oeste (NÓBREGA & IMAÑA-ENCINAS, 2006). Na re gião do EcoMuseu se produz o divisor natural de águas de duas grandes bacias hidrográficas: para o sul a do rio do Paraná, e para o norte a do rio Tocantins. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p. 2143-2012

FIGURA 1. Localização do EcoMuseu do Cerrado. Fonte: Nóbrega e Imaña Encinas, 2006 Atualmente 0,3% da área do EcoMuseu está contemplada na categoria de proteção integral através do Parque Estadual dos Pireneus (26 km 2 ), vizinho à cidade de Pirenópolis. Em uso sustentável e circundando esse parque, encontra-se a APA dos Pireneus, cobrindo 223 km 2 correspondendo a 2,7% da área do EcoMuseu (SEPLAN - GO, 1995). Estas áreas localizam-se nos limites adjacentes dos municípios de Pirenópolis, Cocalzinho e Corumbá de Goiás, região central da área do EcoMuseu. Existem ainda sete unidades de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN s), das quais cinco encontram-se no município de Pirenópolis, e uma nos municípios de Santo Antônio do Descoberto e Cocalzinho de Goiás respectivamente (NÓBREGA e IMAÑA-ENCINAS, 2006). O presente trabalho pretende delimitar através do geoprocessamento as superfícies identificadas pelo Ministério de Meio Ambiente (BRASIL, 1999) como áreas prioritárias para a conservação da diversidade biológica, a fim de dar subsídios para uma possível criação de unidades de conservação na região do EcoMuseu do Cerrado. MATERIAL E MÉTODOS A partir de técnicas de geoprocessamento foram identificadas e delimitadas as áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade, definidas pelo Ministério do Meio Ambiente (BRASIL,1999), como alvos de interpretação do uso do solo dentro da região do EcoMuseu do Cerrado. Para os trabalhos cartográficos foi definida a escala de 1:250.000 utilizando as cartas topográficas MIR 393, SD-22-Z-D e MIR 409, SE-22-X-B, que foram digitalizadas e transferidas para o meio digital. Delas foram extraídas informações relativas a altimetria, redes hidrográficas, sistema viário, e a malha urbana. Além dessas cartas, foram utilizados mapas de vegetação, geopolítico, solos e geológico, produzidos pela SEPLAN GO (1995). Duas imagens foram processadas, correspondendo as das órbitas-ponto 221_071 e 222_071 do satélite Landsat TM5, adquiridas em 01/09/2008 e 08/09/2008, respectivamente. Para a correção geométrica, foram coletados 76 pontos de controle em uma imagem, e 83 para a outra imagem. Um conjunto de 23 ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p. 2144-2012

pontos ficou localizado em zonas de superposição das imagens. O método utilizado para a correção geométrica foi o da interpolação do vizinho mais próximo, conforme descrição sugerida por MENESES (1995). O Datum horizontal utilizado no georeferenciamento foi o South America 69, constante da base cartográfica das folhas utilizadas. O erro médio acumulado no georeferenciamento foi de 11,30 m para uma e 12,14 m para outra imagem. Uma vez georeferenciadas, as imagens foram realçadas pelo método de ampliação linear de contraste (MENESES, 1995). A composição colorida foi o RGB 4/5/3. O mosaico das imagens foi obtido pelo software ENVI. Realizada o mosaico das imagens, procedeu-se a localização e recorte da área abrangente do EcoMuseu, criando-se assim as correspondente sub-cenas de interpretação, por município e bacia hidrográfica. Para a delimitação das bacias hidrográficas, tomaram-se como critério os rios principais da região. A rede hidrográfica constante das cartas topográficas foi atualizada com a imagem de satélite, considerando no SIG a informação das curvas de nível, também extraída da cartografia. Dessa maneira realizou-se a delimitação da conformação das correspondentes bacias hidrográficas. Para o presente trabalho, foram definidas três classes de cobertura de solo: a primeira composta pelas Matas de Galeria, Florestas Deciduais, Veredas e Cerradão, agrupadas em uma classe denominada Florestas. A segunda classe foi o Cerrado sensu stricto, incluindo os Campos Limpos e Sujos. A terceira correspondeu às áreas antropizadas, agrupando as áreas urbanas e as ocupadas com atividades agropecuárias. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com o censo demográfico de 2009 (IBGE, 2010) a região do EcoMuseu tem uma população de 281.350 habitantes. Quase metade (45,1%) dessa população mora no município de Águas Lindas de Goiás, resultando numa densidade de 559 habitantes por km 2 e apresentando o maior grau de antropização, 70% de sua superfície (Tabela 1). A construção da cidade de Brasília e seu acelerado processo de desenvolvimento, criando cidades no seu entorno, influenciaram diretamente a situação ambiental dos municípios Águas Lindas de Goiás e Santo Antônio do Descoberto, localizados na região leste, fazendo limite com o Distrito Federal. Os municípios de Pirenópolis e Cocalzinho de Goiás localizados nas regiões norte e oeste do EcoMuseu, os mais afastados do Distrito Federal, apresentaram 7,4% e 5,4% da população respectivamente, correspondendo a uma densidade populacional de 9,7 e 9,1 habitantes por km 2. Estes índices, considerados baixos pela demografia, permitiram possivelmente influenciar para que a superfície destes dois municípios se mantenha com uma maior extensão de cobertura vegetal natural e um menor grau de antropismo comparativamente, porém equivalente a 54% do seu território (Tabela 1). TABELA 1. Classificação das áreas do EcoMuseu do Cerrado por município (Diversidade ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p. 2145-2012

Biológica, nível 1 = extremamente alta, nível 2 = muito alta, nível 3 = alta). Município Diversidade Total Floresta Cerrado Antropizado Biológica km 2 km 2 % km 2 % km 2 % km 2 nível % Abadiânia 1.049 175 17 215 21 659 63 992 1 e 2 95 Águas Lindas de Goiás 189 12 6 46 24 131 70 189 3 100 Alexânia 849 141 17 203 24 505 59. 183 2 22 Cocalzinho de Goiás 1.789 321 18 378 21 1.090 61 219 3 12 Corumbá de Goiás 1.068 183 17 267 25 618 58 460 2 43 Pirenópolis 2.186 569 26 438 20 1.180 54 1.907 1 e 2 87 Sto. Antônio Descoberto 936 158 17 291 31 486 52 494 3 53 Total 8.066 1.559 19 1.838 23 4.669 58 4.444 55 Na superposição das áreas dos municípios com a classificação de áreas prioritárias de conservação da biodiversidade definidas pelo Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 1999), 55% do total da área do EcoMuseu do Cerrado ou seja 4.444 Km 2 (Tabela 1) ficaram inseridas em áreas que deveriam estar rigorosamente administradas sob sistemas de preservação ambiental. Nos municípios do EcoMuseu, ocorrem, majoritariamente, as áreas de níveis de conservação 2 e 3, muito alta e alta respectivamente. As áreas localizadas nos níveis 2 e 3 identificam regiões onde existiram mudanças bruscas de sua paisagem natural e perda substancial de sua diversidade biológica, em conseqüência de diversas ações antrópicas da agricultura, pecuária e mineração. A vegetação típica da região do EcoMuseu do Cerrado se caracteriza pelas fitofisionomias de Cerradão, Cerrado sensu stricto, Campo Sujo, Campo Limpo, Matas Ciliares, Florestas Deciduais e Veredas. A flora vascular nas diversas fitofisionomias do bioma cerrado, segundo MENDONÇA et al. (1998), está composta por 6.062 espécies. Possivelmente, na área de estudo, esses números estão reduzidos a 50 ou 60%. Em referência aos níveis de reconhecimento da diversidade biológica (Figura 2), dos 4.444 Km 2 inseridos na região do EcoMuseu do Cerrado só a região norte do município de Pirenópolis, correspondendo a 1.058 km 2 é que se insere nas áreas prioritárias de conservação da biodiversidade em nível 1, equivalente a extremamente alta. Pela definição do Ministério do Meio Ambiente ( BRASIL, 1999) a área correspondente precisa de ter cuidados especiais e pertinentes políticas públicas que permitam a sua total conservação e preservação sustentável. Em essa área pode ser consequentemente estruturada uma correspondente unidade de conservação da biodiversidade natural tanto de proteção integral como de uso sustentável. Áreas prioritárias de nível 3 ocorrem nos municípios: Águas Lindas de Goiás, Cocalzinho de Goiás e Santo Antônio do Descoberto, correspondendo a 902 km 2. No nível prioritário 2, estão inseridas áreas dos municípios Abadânia, Alexânia, Corumbá de Goiás e a região sul do município de Pirenópolis. Estas áreas perfazem um total de 2.484 km 2. Localizados na região norte do município de Pirenópolis, 1,053 km 2 e outros 5 km 2 no sul do município de Abadânia (Figura 2), ficaram inseridos no nível 1 das áreas prioritárias para a conservação. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p. 2146-2012

FIGURA 2. Municípios componentes do EcoMuseu do Cerrado (Estado de Goiás) e as áreas prioritárias de conservação da biodiversidade. Fonte da imagem: resultado deste trabalho Observando especificamente os valores percentuais de cada uma das áreas, torna-se imperiosa a necessidade de estabelecer políticas públicas que permitam a conservação in situ das diversas fitofisionomias naturais ainda existentes. Nesse sentido recomenda-se identificar áreas potenciais na região norte e noroeste do município de Pirenópolis, onde poderiam ser criadas possíveis unidades de conservação que permitissem apoiar plenamente o projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira, no âmbito do Programa Nacional da Diversidade Biológica (BRASIL, 1999). A partir da inspeção visual das imagens do satélite, foi possível observar que a região oeste do EcoMuseu, no município de Pirenópolis, é a mais acidentada, o que pode ter sido um obstáculo para o desmatamento na região, implicando em maiores remanescentes de vegetação natural. A rede hidrográfica do EcoMuseu se distribui em sete bacias hidrográficas, composta pelos tributários: rio Das Almas, rio Corumbá, rio Areias, rio Descoberto e rio Alagado (Figura 3) que desembocam suas águas na grande bacia do rio Paraná. Na região norte do EcoMuseu se formam as bacias hidrográficas do rio Peixe e do rio Verde afluentes da grande bacia hidrográfica do rio Tocantins. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p. 2147-2012

FIGURA 3. Localização e delimitação das bacias hidrográficas e áreas prioritárias de conservação da biodiversidade na área do EcoMuseu do Cerrado, Goiás Fonte da imagem: resultado deste trabalho Em termos da classificação da área do EcoMuseu em função da rede hidrológica, as bacias hidrográficas dos rios Verde e Corumbá se mostraram como as mais comprometidas pela ação antrópica, principalmente por ações de uma agricultura intensiva e criação extensiva de gado. As que apresentaram maior cobertura florestal foram as bacias do rio das Almas e do rio do Peixe (Tabela 2) ambas localizadas no município de Pirenópolis. Nesta última bacia hidrográfica, a cobertura vegetal natural cobre 50% (22% de florestas e 28% de cerrado) de sua superfície, apresentando ainda um dos menores valores porcentuais de área antropizada (50%). Pela distribuição populacional, situação das áreas em relação ao Programa Nacional de Diversidade Biológica do MMA, e da cobertura de uso do solo por bacia hidrográfica, as bacias dos rios Peixe e das Almas se destacam notoriamente para ser alvo de estudos mais aprofundados visando à sua preservação ambiental. Ambas as bacias hidrográficas estão localizadas no município de Pirenópolis. Analisando a fragmentação da vegetação arbórea, as duas bacias hidrográficas, poderiam gerar uma consistente e coerente malha de vegetação florestal interligada entre si que poderiam atuar como corredores ecológicos e de biodiversidade. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p. 2148-2012

TABELA 2. Cobertura de uso do solo por sub-bacia hidrográfica. Bacia hidrográfica Total Floresta Cerrado Antropizada Prioridade (*) km 2 km 2 % km 2 % km 2 % km 2 % Rio Alagado 242 44 18 92 38 106 44 91 38 Rio Areias 1.474 210 14 393 27 836 57 361 24 Rio Corumbá 2.555 440 17 565 22 1.552 61 1.862 72 Rio das Almas 1.115 333 29 165 14 652 58 982 88 Rio Descoberto 467 80 17 129 28 258 55 314 67 Rio do Peixe 885 195 22 249 28 440 50 648 73 Rio Verde 1.328 257 19 245 18 825 62 186 14 Totais 8.066 1.559 19 1.838 23 4.669 58 4.444 55 * Área prioritária para conservação da biodiversidade Pelo exposto, verificou-se que as bacias hidrográficas do rio Peixe e do rio das Almas apresentam potencialmente eficientes regiões que poderiam ser alvo de estudos para a criação de áreas de proteção ambiental permanente. Nesse sentido se recomenda efetuar correspondentes estudos detalhados de diagnóstico ambiental e correspondente gestão de recursos naturais, como subsídios para uma possível criação de uma APA em uma dessas bacias hidrográficas. A bacia do Rio Peixe compreende 885 km 2 que representa 11% da área total do EcoMuseu, e a do rio das Almas 1.115 km 2 abrangendo 14% da superfície total. CONCLUSÕES Um total de 55% da superfície do EcoMuseu do Cerrado esta inserida nas áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade. O elevado grau de antropismo torna de extrema importância efetuar ações para a preservação dos recursos biológicos da área do EcoMuseu. Das sete sub-bacias hidrográficas existentes na área do EcoMuseu, recomenda-se considerar as sub-bacias do rio do Peixe ou do rio das Almas, no município de Pirenópolis - GO, para uma possível criação de uma Área de Proteção Ambiental (APA) podendo assim atender as recomendações do Programa Nacional de Diversidade Biológica do País. REFERÊNCIAS ARRUDA, M. B. Gestão integrada de ecossistemas: a escala da conservação da biodiversidade expandida. Brasília: IBAMA. 11p. 1999. BRASIL- MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Biodiversidade brasileira. Brasília. 404 p. 2002. BRASIL - MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Ações prioritárias para a conservação da biodiversidade do Cerrado e Pantanal. Brasília. 26p. 1999. IBGE. Censo demográfico do estado de Goiás, 2009. In: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=go> acesso em agosto 2010. KLINK, C.A.; MACHADO, R.B. A conservação do cerrado brasileiro. Megadiversidade, v.1, n.1, p.147-155. 2005. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p. 2149-2012

MENDONÇA, R.C., J.M. FELFILI, B.M. WALTER, M.C. SILVA JÚNIOR, A.V. REZENDE, T.S. FILGUEIRAS & P.E. NOGUEIRA. Flora vascular do cerrado. In: Sano, S.M. & S.P. Almeida (ed). Cerrado: ambiente e flora. pp.289-556. EMBRAPA-CPAC, Planaltina. 1998. MENESES, P.R. Introdução ao processamento de imagens digitais de satélites e sensoriamento remoto. Brasília: Ed. Universidade de Brasília. 67p (Série Textos Universitários). 1995. NÓBREGA, R.C. & J. IMAÑA ENCINAS. Uso atual do Projeto Ecomuseu do Cerrado. Rev. Árvore 30(1):117-122. 2006. SANTOS, T.C.C. & J.B.D. CÂMARA (ORG.). Geo Brasil 2002, perspectivas do meio ambiente no Brasil. Brasília. 447p. 2002. SEPLAN GO. Zoneamento ecológico-econômico da área do entorno do Distrito Federal. Goiânia: Secretaria de Planejamento e Coordenação. 216p. 1995. UNESCO. Vegetação no Distrito Federal, tempo e espaço. Brasília. 74p. 2000. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.8, N.14; p. 2150-2012