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das demais previsões relativas ao estágio previstas no Projeto Pedagógico do Curso, no Regimento Interno e na Legislação.

Transcrição:

AULA 6 8. Direito do Comércio Internacional. A OMC. O Acordo-Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT). Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SBS). Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT). Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio (TRIMS). Salve, salve meus amigos. Vamo que vamo... Hoje iniciaremos uma parte do DIP muito especial que tem despencado em concursos e, particularmente, é uma parte do DIP que, como diria o mineirinho, eu gosto demais da conta sô! Portanto, sem maiores delongas, vamos ao que interessa, pois a jornada dessa quinzena é longa. Surgimento do Sistema Multilateral de Comércio O Direito Internacional Econômico (também conhecido como Direito Internacional do Comércio quando restringido às regulamentações feitas pelo Sistema GATT/OMC) pode ser entendido como uma subdivisão do DIP que cuida de questões relativas ao comércio, finanças, etc. (veremos melhor esse conceito em nossa última aula). Neste capítulo em especial, será abordada o terceiro pilar de Bretton Woods que buscava tratar organização do comércio internacional e da sua liberalização. Podemos dizer que o sistema multilateral de comércio teve origem no final da segunda guerra mundial, quando os países vencedores do confronto bélico se reuniram em Bretton Woods para instituírem órgãos reguladores da economia internacional devastada pela guerra. Ao final do encontro, os aliados consentiram em criar três instituições para reconstruir a economia mundial: um fundo monetário que pudesse resguardar as economias nacionais contra as crises cambiais (FMI); um

banco que financiasse a reconstrução europeia e o desenvolvimento (Banco Mundial - BIRD); e, uma organização internacional do comércio que regulamentasse os fluxos comerciais por meio da criação da Organização Internacional do Comércio (OIC). Todavia, a OIC de 1947 não deu certo em razão de a maioria republicana do congresso americano ter impedido sua aprovação. Os EUA temiam que a liberalização comercial por meio dessa organização colocasse em risco o emprego dos seus trabalhadores, pois eles ainda ressentiam os efeitos da quebra da Bolsa de Nova Iorque e a crise que assolou o país na década de 30. Com a não concretização da OIC, o GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) entrou em vigor por meio de um protocolo provisório assinado em 30 de Outubro de 1946, que se tornou efetivo em 1 de Janeiro de 1948. As partes contratantes aceitaram aplicar provisoriamente o GATT até que a OIC fosse criada e definitivamente pusesse sua administração sobre o sistema que estava sendo criado. E que "provisório" meus amigos!! O GATT/1947 durou mais 47 anos e, apesar de não ser uma organização com personalidade jurídica, foi o instrumento jurídico internacional que auxiliou a liberalização internacional do comércio entre as suas partes contratantes por quase cinco décadas! Suas principais previsões eram: Artigo Objetivo Estender, imediata e incondicionalmente, ao produto similar, originário do território de cada uma das outras Artigo I - Cláusula da Nação Mais Favorecida Artigo II - Lista de concessões tarifárias partes contratantes qualquer vantagem, favor, imunidade ou privilégio concedido por uma parte contratante em relação a um produto originário de ou destinado a qualquer outro país. É o artigo que dá fundamento às tarifas máximas negociadas. Cada parte contratante não concederá

tratamento menos favorável do que o previsto na lista correspondente. Artigo III - Tratamento nacional no tocante a tributação e regulamentação internas Não discriminar produto importado como forma de proteger a produção nacional, seja por meio de tributação interna diferenciada, leis ou regulamentos. As mercadorias (compreendidas as bagagens) assim como os navios e outros meios de transporte serão considerados Artigo V - Liberdade de trânsito em trânsito através do território de uma Parte Contratante, quando a passagem através desse território não constitua senão uma fração de uma viagem completa, iniciada e terminada fora das fronteiras da Parte Contratante em cujo território se efetua. Dumping ocorre quando uma parte contratante introduz produtos no comércio de outro país por valor abaixo do Artigo VI - Direitos antidumping normal. Esse dumping é condenado se causa ou ameaça causar dano material a uma indústria estabelecida no território de uma Parte Contratante ou retarda, sensivelmente o estabelecimento de uma indústria nacional. As partes contratantes reconhecem a aplicabilidade de alguns princípios na determinação do valor da mercadoria Artigo VII - Valoração aduaneira para fins alfandegários/tarifação. O primeiro, e mais importante, é o de se utilizar o valor real da mercadoria importada ou de uma mercadoria similar, não usando o valor do produto de origem nacional ou sobre valores arbitrários ou fictícios. Todos os emolumentos e encargos de qualquer natureza, salvo os direitos de importação e de exportação e as taxas Artigo VIII - Emolumentos e formalidades referentes à importação e à exportação Artigo IX - Marcas de origem mencionadas no artigo III, percebidas pelas Partes Contratantes na importação ou na exportação serão limitadas ao custo aproximado dos serviços prestados e não deverão constituir uma proteção indireta dos produtos nacionais ou das taxas de caráter fiscal sobre a importação ou sobre a exportação. No que diz respeito às condições relativas às marcas, cada Parte Contratante concederá aos produtos do território

das outras Partes Contratantes um tratamento não menos favorável que o concedido aos produtos similares de qualquer terceiro país. Trata da necessidade de publicação de quaisquer Artigo X - Publicação e aplicação dos regulamentos relativos ao comércio regulamentos relativos ao comércio (publicidade) e deverá ser posta em vigor antes de ter sido publicada oficialmente (anterioridade). Permite também direito de petição aos tribunais administrativos e judiciários para sua revisão. Trata do processo de "tarificação" (transformar cota em Artigo XI - Eliminação geral das restrições quantitativas Artigo XII - Restrições destinadas a proteger o equilíbrio da balança de pagamentos Artigo XIII - Aplicação não discriminatória das restrições quantitativas tarifas, que são mais transparentes) ao estabelecer que nenhuma parte contratante instituirá ou manterá para a importação ou exportação proibições ou restrições a não ser direitos alfandegários (impostos/taxas). Não obstante o artigo XI, toda parte contratante, observados requisitos legais, pode restringir o volume ou o valor das mercadorias importadas, a fim de salvaguardar sua posição financeira exterior e o equilíbrio de sua balança de pagamentos. Restrições quantitativas permitidas no GATT não podem ser discriminatórias entre as partes contratantes. Se uma parte contratante concede ou mantém um subsídio qualquer, inclusive qualquer forma de proteção das rendas ou sustentação dos preços que tenha diretamente ou indiretamente por efeito aumentar as Artigo XVI - Subsídios Artigo XVII - Empreendimentos comerciais do estado Artigo XVIII - Ajuda do exportações de um produto qualquer do território da referida parte contratante ou de reduzir as importações do mesmo no seu território, dará conhecimento, por escrito, às partes contratantes, não somente sobre a importância e da natureza desse subsídio, mas também as circunstâncias que tornam o subsídio necessário. As partes contratantes se comprometem a fazer com que as empresas estatais não discriminem os produtos importados (fornecedores estrangeiros) ao comprar ou vender. Trata da possibilidade de se adotarem barreiras

estado em favor de desenvolvimento econômico comerciais na intenção de proteger a indústria nascente (economia que esteja nas primeiras fases de seu desenvolvimento). Permite a imposição de salvaguardas quando um produto Artigo XIX - Medidas de emergência para os casos de importação de produtos especiais for importado no território de referida parte contratante em quantidade por tal forma acrescida e em tais condições que traga ou ameace trazer um prejuízo sério aos produtores nacionais de produtos similares ou diretamente concorrentes. São barreiras excepcionalmente permitidas para os casos de: (a) proteção da moralidade pública; (b) proteção da saúde e da vida das pessoas e dos animais e à preservação dos vegetais; (c) relacionadas à exportação e a importação do ouro e da prata; (d) necessárias a assegurar a aplicação das leis que não sejam incompatíveis com o GATT, tais como manutenção de Artigo XX - Exceções gerais monopólios de patentes, marcas, direito autoral; (e) artigos fabricados nas prisões; (f) para proteger tesouros nacionais de valor artístico, histórico ou arqueológico; (g) para proteger recursos naturais esgotáveis, se tais medidas forem aplicadas conjuntamente com restrições à produção ou ao consumo nacionais; (h) adotadas em razão de tratado; (i) para evitar exportação de matériasprimas nacionais essenciais às indústrias transformadoras nacionais. O GATT não deve ser interpretado como impondo a uma parte contratante a obrigação de fornecer informações Artigo XXI - Exceções relativas à segurança cuja divulgação seja, a seu critério, contrária aos interesses essenciais de sua segurança; ou, impedindo uma parte contratante de tomar todas as medidas que achar necessárias à proteção dos interesses essenciais de sua segurança. Uma parte deve examinar o requerimento formulado por Artigo XXII - Consultas Artigo XXIII - Proteção de concessões e vantagens outra a respeito de questões relativas à aplicação do GATT. Trata do procedimento de solução de controvérsias no GATT que, na prática, não tinha suas decisões cumpridas

pelas partes contratantes em razão de todas as partes, inclusive o perdedor, terem que aceitar as recomendações. O GATT permitia o estabelecimento de uniões aduaneiras Artigo XXIV - Uniões Aduaneiras e Zonas de Livre Comércio ou áreas de livre comércio (blocos regionais) como forma de aumentar a liberdade do comércio. Para tanto, os direitos aplicados aos países não membros não devem ser maiores do que os anteriores ao estabelecimento dessa união. O principal propósito do GATT não era aplicar preferências tarifárias (veremos adiante as exceções à NMF como o art. XXIV), mas sim estender (multilateralizar) para todas as partes contratantes as desgravações tarfiárias que fossem concedidas. Percebam meus caros, que se o objetivo principal do GATT fosse fomentar as preferências comerciais (discriminatórias) e os blocos regionais, a regra da Nação Mais Favorecida não seria o princípio básico da OMC, mas sim uma exceção, concordam? Portanto, incentivar os acordos regionais e suas preferências não são o foco da OMC, mas seu foco é multilateralizar as preferências para todos os membros, por meio da não discriminação. OBS: Isso não siginifica que o regionalismo seja incompatível com a OMC; pelo contrário, ele é amplamente tolerado e previsto por meio de diversos dispositivos dos acordos encampados pela OMC, conforme vimos na aula sobre MERCOSUL e Direito da Integração. O GATT também não tinha o condão de monitorar trocas internacionais, pois o GATT carecia de estrutura institucional para tanto. A monitoração das trocas só apareceu efetivamente com a criação da OMC (com o órgão de revisão de políticas comerciais).

Além da simples desgravação tarifária, o GATT/1947 contemplou diversas questões como regulamentação de acordos sobre antidumping, subsídios, salvaguardas, regras de origem, valoração aduaneira, etc. A Rodada Uruguai, que foi a última da era do GATT/1947, cristalizou para todos os seus membros, diversos dos acordos que já existiam há anos. Vejamos o que dispuseram as rodadas do GATT Rodadas do GATT As regras do GATT/1947 foram se desenvolvendo por meio de uma série 8 rodadas multilaterais de comércio que, nos primórdios, alcançavam apenas desgravações tarifárias em mercadorias. Mais tarde, outras rodadas passaram a encampar outras áreas como antidumping e barreiras não-tarifárias. A última rodada da era GATT, que durou de 1986 a 1994, denominada Rodada Uruguai (disparada a mais importante de todas!!), culminou com a criação da OMC em 1995 e só então nesta data, passou a existir uma organização mundial do comércio, de alcance multilateral, e com personalidade jurídica, para tratar de assuntos relativos à liberalização do comércio internacional. Confiram o quadro que resume as rodadas e os temas negociados em cada rodada: Rodadas multilaterais de negociação Ano Lugar Temas abordados Partes 1947 Genebra Tarifas 23 1949 Annecy Tarifas 13 1951 Torquay Tarifas 38 1956 Genebra Tarifas 26 1960-1961 Genebra(Rodada Dillon) Tarifas 26

1964-1967 Genebra(Rodada Kennedy) Tarifas e medidas antidumping 62 Tarifas, barreiras não-tarifárias, e outros acordos: 1973-1979 Genebra(Rodada Tóquio) - Primeiras negociações em barreiras não tarifárias; 102 - Criação de códigos plurilaterais; e - Criação da Cláusula de Habilitação Tarifas, barreiras não-tarifárias, regras, 1986-1994 Genebra(Rodada Uruguai) serviços, propriedade intelectual, solução de controvérsias, têxteis, 123 agricultura, criação da OMC, etc. Como vocês podem perceber, com o final da 8 a (e última) rodada do GATT/ 1947, diversos temas ligados ao comércio foram contemplados, destacando-se 13 acordos ligados ao comércio de bens (barreiras não-tarifárias, agricultura, medidas sanitárias e fitossanitárias, práticas desleais de comércio, etc), comércio de serviços (GATS), aspectos do comércio relacionados com propriedade intelectual (TRIPS), medidas de investimentos relacionadas ao comércio (TRIMS), regras para operacionalizar o sistema de solução de controvérsias, mecanismo de revisão de políticas comerciais. Além disso, foi definitivamente criada a OMC (Organização Mundial do Comércio), entidade com personalidade jurídica de direito internacional. Além desses diversos acordos temáticos, essa Rodada criou o GATT/1994, texto que incorporou o GATT/1947 com todas as alterações ocorridas entre 1947 e 1994, além das decisões tomadas pelas partes contratantes no período e os memorandos de entendimento, para interpretar pontos do acordo que suscitavam dúvidas de interpretação. Gravem isso meus amigos: O GATT/1994 não extinguiu o GATT/1947, mas sim o incorporou! Portanto, apesar de o GATT/ 1947 ter desaparecido na forma em que ele existia àquela época, suas regras ainda existem por força dessa incorporação, quando da criação da OMC.

Por outro lado, não foram contemplados em suas regras temas como direito da concorrência, direito ambiental, desenvolvimento sustentável, direitos sociais do trabalho/laboral, direito humanitário. Percebam meus amigos que temas como "dumping social", selos verdes, créditos de carbono, nada disso faz parte da OMC, ok? Na verdade, quando a Rodada Doha alcançar seu êxito (veremos adiante que essa é uma Rodada já da era OMC), esses temas poderão ser incluídos na pauta para negociações futuras. Tudo certo até aqui? Belezura? Seguimos então. Criação da OMC Vimos então que com o final da Rodada Uruguai em 1994, a Organização Mundial do Comércio foi definitivamente criada. Segundo o preâmbulo descrito no Acordo OMC (que é o acordo que institui a organização, aborda suas funções, estrutura e objetivos), as partes contratantes atestam os objetivos que pretendem alcançar por meio do sistema multilateral do comércio: a) Aumentar os padrões de vida; b) Assegurar o pleno emprego; c) Assegurar um grande e progressivo volume de crescimento de ingressos reais e da demanda efetiva; e; d) Expandir a produção do comércio em bens e serviços, enquanto permite o uso ótimo dos recursos naturais em observância aos objetivos do desenvolvimento sustentável. O acordo também reconhece a necessidade de esforços positivos que assegurem aos países em desenvolvimento, e especialmente aos menos

desenvolvidos, uma parcela no crescimento do comércio internacional comensurado com seu desenvolvimento econômico. Como vocês já viram na aula sobre Direito dos Tratados (aqui fica clara a necessidade de DIP ser matéria preliminar para qualquer prova que trabalhe com Comércio Internacional), o preâmbulo faz parte do tratado e possui valor jurídico. Nessa medida, o preâmbulo do Acordo da OMC destaca que, as partes no presente acordo: Reconhecendo que suas relações na esfera da atividade comercial e econômica devem tender a elevar os níveis de vida, a alcançar o pleno emprego e um volume considerável e em constante aumento de ingressos reais e demanda efetiva e a acrescentar a produção e o comércio de bens e serviços, permitindo ao mesmo tempo a utilização ótima dos recursos mundiais em conformidade com o objetivo de um desenvolvimento sustentável e procurando proteger e preservar o meio ambiente e incrementar os meios para fazê-lo, de maneira compatível com suas respectivas necessidades e interesses segundo os diferentes níveis de desenvolvimento econômico, Reconhecendo ademais que é necessário realizar esforços positivos para que os países em desenvolvimento, e especialmente os menos desenvolvidos, obtenham uma parte do incremento do comércio internacional que corresponda às necessidades de seu desenvolvimento econômico, Desejosos em contribuir para o alcance desses objetivos mediante a celebração de acordos destinados a obter, sobre a base da reciprocidade e de mútuas vantagens, a redução substancial das tarifas aduaneiras e dos demais obstáculos ao

comércio, assim como a eliminação do tratamento discriminatório nas relações comerciais internacionais (...) Esses objetivos da OMC não são completamente diferentes dos contidos no preâmbulo do GATT/1947. Apesar das semelhantes intenções, percebam meus amigos que muitos desses objetivos se relacionam com liberalização do comércio e OMC. No entanto, é importante destacar que não consta expressamente, em nenhum deles, a liberalização do comércio entre as partes contratantes como objetivo. Portanto, mesmo que não conste expressamente esse objetivo, é possível inferir que as substanciais reduções tarifárias e outras barreiras comerciais prescritas para eliminação do tratamento discriminatório no comércio internacional, vão ao encontro da ideia de livre comércio, tudo isso porque o liberalismo econômico é subjacente a todos os acordos encampados pela OMC. Quanto às diferenças entre o GATT/ 1947 e a OMC, cabe destacar que a OMC revela três novas dimensões e objetivos que não eram preocupações quando da pactuação do GATT/ 1947: a) Expansão da produção e comércio de bens e serviços levando em consideração a extensão dos temas da OMC; b) Aparece novas preocupações como a busca pelo desenvolvimento sustentável, proteção e preservação do ambiente e incremento dos meios de alcançar essa tarefa; (Importante: não são temas regulamentados nos acordos, mas apenas preocupações). c) A ideia de "desenvolvimento" como forma a ajudar os países em desenvolvimento e especialmente os menos desenvolvidos a participarem do comércio internacional, bem como tirar proveito desse comércio, progredindo economicamente.

Outra informação relevante é que muitos acreditam que a OMC é uma organização vinculada à ONU. Está errado! Gravem isso meus amigos. A OMC é organização distinta, com personalidade jurídica própria, segundo artigo VIII do acordo que instituiu a OMC. Isso não a impede de cooperar com outras organizações internacionais (art. V), tampouco de manter coerência com a elaboração das políticas econômicas mundiais, cooperando adequadamente com o FMI e Banco Mundial (art. III). Como se não bastasse, a OMC surgiu décadas depois da ONU, com adesão inicial de 123 membros (e não somente países como ocorre na ONU); não há, portanto, nenhuma disposição sobre a OMC na Carta de São Francisco. As disposições nela existentes sobre comércio internacional são tomadas pela UNCTAD e essa entidade é que possui vinculação com a ONU. Vale ressaltar que a OMC é uma organização composta por membros, sejam Estados ou territórios aduaneiros com política comercial autônoma. Nessa medida, só essas entidades que fizeram o trâmite de acessão à organização podem demandar e serem demandadas na OMC, não havendo possibilidade de investidores privados figurarem como partes numa controvérsia. Funções da OMC Seguindo em frente meus amigos, para o alcance dos objetivos encampados pela OMC, emergem as funções delineadas para a organização: a) Administrar os acordos comerciais entre seus membros; b) Servir como fórum para negociações comerciais;

c) Solucionar controvérsias comerciais pertinentes aos acordos negociados; d) Revisar a política comercial de seus membros; e) Cooperar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. O Artigo III do Acordo da OMC esclarece as funções da organização. Gravem essas funções! a) A OMC facilitará a aplicação, administração e funcionamento do presente Acordo e dos Acordos Comerciais Multilaterais e favorecerá a consecução de seus objetivos, e constituirá também o marco para a aplicação, administração e funcionamento dos Acordos Comerciais Plurilaterais. b) A OMC será o foro para as negociações entre seus Membros acerca de suas relações comerciais multilaterais em assuntos tratados no marco dos acordos incluídos nos Anexos do presente Acordo. A OMC poderá também servir de foro para outras negociações entre seus Membros acerca de suas relações comerciais multilaterais, e de marco para a aplicação dos resultados dessas negociações, conforme a Conferência Ministerial decida; c) A OMC administrará o Entendimento relativo às normas e procedimentos pelos que se rege a solução de controvérsias (Entendimento sobre Solução de Controvérsias ou ESC) que figura no Anexo 2 do presente Acordo; d) A OMC administrará o Mecanismo de Exame das Políticas Comerciais (MEPC) estabelecido no Anexo 3 do presente Acordo;

e) Com o fim de alcançar uma maior coerência na formulação das políticas econômicas em escala mundial, a OMC cooperará, segundo proceda, com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e seus organismos conexos (Banco Mundial). Portanto, como vocês podem perceber, a OMC é uma instituição que se traduz num fórum permanente para negociações comerciais entre seus membros. Essas negociações podem já estar abrangidas por algum acordo multilateral ou simplesmente lançar para discussão um novo tema que futuramente será disciplinado pelos acordos OMC. Por exemplo, diplomatas e representantes do Departamento de Defesa Comercial da SECEX/MDIC vão a Genebra participar das reuniões no Comitê de Regras em Defesa Comercial. Isso porque existe um mandato negociador para se tente avançar nesses temas, obrigando os membros a negociarem periodicamente (ainda que não obtenham êxito). Além do mais, a OMC passa a ser um fórum para solução de controvérsias entre seus membros sobre qualquer aspecto dos acordos encampados pela OMC que esteja sendo desrespeitado. Quando os seus membros não alcançarem uma solução mutuamente aceitável, uma controvérsia pode ter início. No entanto, ela não fica ao livre talante das partes, mas sim, observa um rito procedimental previsto no ESC, Anexo 2 do Acordo OMC. Aliás, vocês devem lembrar das manchetes do ano de 2010 sobre o caso dos subsídios ao algodão americano. O Brasil ganhou a questão e estava em fase implementação da decisão, levando-a até o fim para fazer valer o direito conquistado pelo país. Além de dirimir as controvérsias, o caráter permanente da instituição também permite que a OMC alcance transparência dos membros que integram a organização na medida em que ela fiscaliza periodicamente as políticas comerciais mediante argüição pelos seus parceiros comerciais, garantindo transparência nas restrições ao comércio aplicadas. Esse expediente foi acordado pelas partes contratantes por

volta da metade da Rodada Uruguai, numa mini-ministerial realizada em Montreal no ano de 1988 (Mid-Term Review), que pretendia esboçar alguns acertos realizados até então em assuntos em que já existia claro consenso. Esses acordos, então, poderiam, desde cedo, entrarem em vigor (Early Harvest), ainda que fosse sob uma base provisória. Essa monitoração é feita, por exemplo, por meio do envio de questionários para cada um dos membros periodicamente, em que todos questionam determinados programas e políticas adotados pelo membro que esta sendo sabatinado pelos seus pares. Ao final, a OMC divulga um relatório, compilando as informações apresentadas. Via de regra, os países com maior peso no comércio internacional ("the Quad" - EUA, Japão, CE, China) são questionados de 2 em 2 anos; os próximos 16 países em termos de participação no comércio mundial (dentre os quais inclui o Brasil) são questionados de 4 em 4 anos; os demais são questionados com periodicidade de 6 em 6 anos, podendo os países de menor desenvolvimento relativo terem esse prazo dilatado. Por fim, cabe destacar o princípio da coerência da OMC com outras organizações internacionais como o FMI e Banco Mundial. Essa coerência é essencial na medida em que os membros da OMC observam, quando das suas negociações, o desenho de padrões regulatórios em conjunto com as políticas econômicas. Isso não significa que a OMC fornecerá recursos para os seus membros, a exemplo do que FMI e Banco Mundial fazem. Vamos conhecer agora a estrutura dessa organização. Estrutura da OMC Estudados os seus objetivos e funções, fica fácil visualizar a estrutura da OMC arquitetada para atender a esses propósitos. Os membros da OMC estabeleceram

uma estrutura de trabalho de modo a monitorar a implementação e desenvolvimento dos acordos abarcados pela organização. Sua estrutura básica é arquitetada da seguinte forma: Conferência Ministerial - A Conferência Ministerial é o órgão de máxima autoridade na tomada de decisão na OMC. Ela é composta pelas representações de todos os membros da OMC e deve se reunir, pelo menos, a cada dois anos, resultando numa declaração final. Ela tem poderes para tomar decisões sob quaisquer temas atinentes aos acordos multilaterais de comércio, em conformidade com os procedimentos de tomada de decisão contidos no Acordo OMC. As Conferências sucederam as rodadas do GATT e, até o momento, ocorreram seis delas. Conferência Ministerial de Cingapura (1 a sessão) - A primeira Conferência Ministerial da OMC ocorreu em Dezembro de 1996. Na ocasião os ministros 1 Órgão de Solução de Controvérsias 2 Órgão de Revisão de Políticas Comerciais

adotaram a Declaração Ministerial de Cingapura, na qual reforçaram o compromisso de levar em consideração as regras da OMC em suas relações comerciais. Isso porque, no antigo sistema GATT, conforme será demonstrado adiante, as regras de Direito Internacional acordadas eram facilmente despidas de sua eficácia, por exemplo, quando da adoção de uma recomendação do painel em seu sistema de solução de controvérsias. Nessa Conferência, os ministros decidiram ainda iniciar a exploração de outros quatro tópicos, denominados então de "Temas de Cingapura": a) Comércio e Investimentos; b) Comércio e Política da Concorrência; c) Facilitação do Comércio; e d) Transparência em Compras Governamentais. Também foi adotado um compreensivo e integrado plano de ação da OMC para os países de menor desenvolvimento relativo (Least Developed Countries). Esse plano se tornou o alicerce para um esforço coordenado em facilitar a integração desses países menos desenvolvidos junto à economia mundial. Para levar adiante esse plano, no ano de 1997 a OMC teve colaboração de algumas entidades como a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento), Centro Internacional de Comércio, Banco Mundial, Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD) e assistência do Fundo Monetário Internacional, culminando no estabelecimento de programa integrado de assistência ao desenvolvimento. É importante também destacar a existência da Declaração Ministerial plurilateral em Comércio em Produtos da Tecnologia da Informação, como forma de expandir o comércio na área de Tecnologia da Informação (TI).

Conferência Ministerial de Genebra (2a sessão) - A segunda sessão ministerial ocorreu em Maio de 1998, na cidade sede da OMC, quando se comemorou os 50 anos de criação do sistema GATT. A ocasião serviu para reforçar a importância de um sistema multilateral de comércio baseado em regras, e também reafirmar os compromissos assumidos em Cingapura. Também teve destaque a adoção de uma Declaração na área de Comércio Eletrônico Global, a qual lançou base para discussões sobre questões relacionadas a esse nicho comercial, além de reiterar o compromisso de não impor direitos aduaneiros nas transações eletrônicas. Conferência Ministerial de Seattle (3a sessão) - Em Dezembro de 1999, a terceira ministerial sediada em Seattle (EUA) foi marcada por uma série de protestos, que impediram que os ministros alcançassem algum consenso ou adotassem decisões ou declarações. Contribuiu muito para o fracasso da reunião a rigidez demonstrada pelos EUA em temas sensíveis para os países em desenvolvimento: a inclusão dos temas ambiental e trabalhista na agenda de negociações. O consentimento e apoio do próprio presidente Bill Clinton à presença das ONG's, com a nítida finalidade promocional de campanha, acabou tendo efeito contrário. Pode se dizer que, nessa conferência, "atores" das Relações Internacionais influenciaram em grande medida para que o evento fracassasse. Conferência Ministerial de Doha (4a sessão) - A quarta Conferência Ministerial teve lugar em Doha (Rodada Doha), em Novembro de 2001. Após os atentados de 11 de Setembro nos EUA, houve um esforço para que o comércio internacional levasse adiante uma agenda mais ambiciosa, resultando na Agenda Doha do Desenvolvimento (Doha Development Agenda - DDA). Essa Rodada deveria ter sido lançada na conferência anterior e acabou ganhando a alcunha de "Rodada do Milênio".

Ela conteve uma agenda mais ampla que as rodadas anteriores, abrangendo negociações previstas pelas disposições dos Acordos OMC e seus anexos, além de reiterar tentativa de acordo em outros temas e questões que teriam seu prazo de negociação expirado, sem sequer alcançar seus objetivos. Foi destaque também a adoção da declaração relacionada ao Acordo TRIPS (Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights) e Saúde Pública que esclareceu o relacionamento entre a necessidade da proteção dos direitos da propriedade intelectual e o direito dos governos em proteger a saúde pública, de maneira que acordo não proibiria o governo dos membros da OMC de tomar medidas para proteger a saúde pública. Além disso, houve decisão relativa às preocupações relacionadas às dificuldades encontradas por alguns membros no contexto da implementação de diversas regras contidas no Acordo OMC e seus Anexos. Cabe registrar ainda a decisão que concedeu derrogação (waiver) do regime geral da Cláusula da Nação Mais Favorecida para que se mantivesse a parceria entabulada entre a União Europeia e os países do Caribe, África e Pacífico (EU-ACP Partnership Agreement). Essa decisão permitiu que os produtos oriundos dos países da África, Caribe e Pacífico continuassem a gozar de acesso preferencial aos mercados europeus até 31 de Dezembro de 2007, sem que esse tratamento fosse estendido automaticamente aos demais membros da OMC. Essa 4 a Conferência Ministerial determinou um mandato negociador, ou seja, que os membros da OMC, sob a supervisão do Conselho Geral, criassem Comitês de Negociações Comerciais sobre cada tema que fosse necessário. Essas negociações demandaram a criação de três novos grupos: a) Acesso a Mercados; b) Regras da OMC (antidumping, subsídios, acordos regionais de comércio); e, c) Facilitação do comércio.

Além desses, outros grupos já estabelecidos foram mantidos como: a) Agricultura: em sessões especiais do Comitê de Agricultura; b) Serviços: em sessões especiais do Conselho de Serviços; c) Indicações Geográficas (sistema multilateral de registro): em sessões especiais do Conselho de TRIPS, além de outros temas que envolvem Propriedade Intelectual encaminhadas para as reuniões regulares do Conselho de TRIPS; d) Entendimento de Solução de Controvérsias: em sessões especiais do órgão de Solução de Controvérsias; e) Meio Ambiente: em sessões especiais do Comitê de Meio Ambiente; e f) Negociações em questões de implementação: em órgãos relevantes de acordo com parágrafo 12 da Declaração Ministerial de Doha. Não se pode esquecer da considerável ênfase dedicada na questão do tratamento especial e diferenciado para os países em desenvolvimento, princípio integrante dos Acordos abarcados pela OMC e que norteia a agenda de trabalho da Rodada Doha. O parágrafo 44, inclusive, da Declaração de Doha estabelece que as provisões relativas ao tratamento especial e diferenciado devem ser revisadas pelo Comitê de Comércio e Desenvolvimento de modo a se tornarem mais precisas, efetivas e operacionais. Conferência Ministerial de Cancún (5a sessão) - Em Setembro de 2003, a conferência toma lugar em Cancún, cuja principal tarefa era avaliar os esforços quanto ao progresso da Agenda Doha; para tanto, adotaram um discurso no qual reafirmaram seus compromissos em completar as negociações da Agenda Doha. Por

outro lado, não houve consenso quanto ao modo de alcançar êxito em áreas sensíveis como agricultura, tampouco se avançou nos "Temas de Cingapura". Conferência Ministerial de Hong Kong (6 a sessão) - Em dezembro de 2005, aconteceu em Hong Kong, China, a sexta ministerial. Da mesma forma que a reunião de Cancún, sua tarefa era dirimir os impasses que ainda obstruíam o andamento da Agenda Doha iniciada em 2001. O encontro culminou com a adoção de uma Declaração Ministerial que reafirmou a decisão do Conselho Geral de 1 de Agosto de 2004. Essa decisão sobrepôs o impasse ocorrido em Cancún deixando de lado os "Temas de Cingapura", além do tema da Facilitação do Comércio; assim, poderia construir um programa de discussão e concentrar esforços para elevar as negociações pendentes a um novo patamar. A declaração também fez constar progressos em alguns temas: a) Prescreveu uma data limite para a eliminação de todos os subsídios à exportação na agricultura (tema até hoje sem desfecho!!); b) Acordo para que os países de menor desenvolvimento relativo tenham livre acesso aos mercados de algodão dos países desenvolvidos, isentos de direitos aduaneiros ou quotas; c) Um compromisso para conceder aos 32 países de menor desenvolvimento relativo acesso aos mercados dos países desenvolvidos livre de direitos aduaneiros ou quotas em pelo menos 97% das suas linhas tarifárias; d) Agenda para acesso a mercados em todas as modalidades em agricultura e acesso a mercados de produtos não-agrícolas (Non- Agricultural Market Access - NAMA); e,

e) Em serviços, acordo em texto pontuando positivamente o avanço das negociações. Diversos outros encontros ocorreram com o propósito de concluir a Agenda Doha. Ao final de Junho de 2006, houve um encontro em Genebra para tentar reduzir os subsídios à exportação agrícola (especialmente os programas da UE e dos EUA), e baixar as tarifas para produtos industrializados por parte dos países em desenvolvimento. Não obtendo sucesso, houve novo encontro em Potsdam em Junho de 2007, que igualmente não obteve êxito, porquanto subsistiu o impasse nos subsídios agrícolas e mercados industriais. A essa altura das negociações, a reunião passa a se realizar entre um grupo reduzido composto por EUA, União Europeia, Brasil e Índia (G-4). Em 21 de julho de 2008, as negociações começaram de novo na sede da OMC em Genebra sobre a rodada Doha, mas estagnou após nove dias de negociações sobre a recusa de compromisso sobre o mecanismo de salvaguarda especial. Conferência Ministerial de Genebra (7a sessão) - Após 4 anos sem uma Conferência Ministerial propriamente dita (fugindo à regra dos 2 anos abordada anteriormente), entre 30 de novembro e 2 de dezembro de 2009, em Genebra, foi prevista a sétima reunião ministerial regular. A decisão tomada pelos 153 membros da instituição no Conselho Geral da organização foi marcada para tratar do sistema multilateral de comércio e o atual contexto econômico global. O ponto crucial que levou ao agendamento de reunião do órgão máximo da organização foi deixar claro que o encontro não fosse confundido com uma reunião negociadora no marco da Rodada Doha. Além do mais, de antemão, os membros da organização não emitiriam uma declaração final da reunião ministerial, desde que uma forma alternativa registrasse o que aconteceu durante o evento.

OBS: De todas essas conferências ministeriais, dêem especial atenção à Rodada Doha. Ela é a mais importante, cuja a agenda ainda hoje está pendente de resolução. Continuemos os órgãos da OMC. Abaixo da Conferência Ministerial (que é o órgão máximo da organização) temos o Conselho Geral. Conselho Geral - O Conselho Geral é o segundo órgão na hierarquia de tomada de decisão na OMC. Diferente da Conferência Ministerial que se reúne ocasionalmente, geralmente a cada 2 anos, o Conselho Geral é uma representação permanente dos membros junto à OMC. Sua composição é, em regra, formada por representantes de todos os membros da OMC, na pessoa dos embaixadores ou representações em Genebra. O órgão também adota decisões em nome da Conferência Ministerial quando essa não está reunida. Como tem caráter permanente, o Conselho Geral acumula outras funções em que é demandado freqüentemente para atingir aqueles objetivos propostos pela OMC. São elas: a) Órgão de Revisão de Políticas Comerciais (ORPC), com um diferente presidente, realiza exames de política comercial conforme o determinado pela decisão em mecanismo de revisão de políticas comerciais; e, b) Órgão de Solução de Controvérsias (OSC), com um diferente presidente, administra as regras do Entendimento em Regras e Procedimentos que Governam a Solução de Controvérsias (ESC). Da mesma forma que o ORPC, o OSC é a representação de todos os membros da organização. Assim, tem autoridade para estabelecer painéis, adotar relatórios dos painéis e do Órgão de

Apelação, supervisionar a implementação dos regulamentos e recomendações, e autorizar a suspensão de concessões e outras obrigações sob o acordo para o qual as disputas possam ser dirimidas no ESC. Conforme será melhor esmiuçado adiante, o OSC, a requerimento de um membro ou mais, estabelece painéis de forma ad hoc, isto é, sem caráter permanente ou institucionalizado. Geralmente seu início se dá com o estabelecimento do termo de referência em que vai se acordar o exame da questão à luz das regras relevantes em seus respectivos acordos abarcados. Essas regras permitirão ao OSC obter suas conclusões e formular recomendações, além de balizar os limites para interpretação. O OSC também indica pessoas para servir ao Órgão de Apelação, instância recursal que também formula recomendações e as encaminha ao OSC. Uma vez acolhida a recomendação pelo OSC, essa passa a ser vinculante aos membros em disputa. Comitê de Negociações Comerciais - O Comitê de Negociações Comerciais foi criado pela Declaração Ministerial de Doha com o propósito de acompanhar a nova rodada de negociações, possuindo, inclusive, poderes para criar órgãos subsidiários, capazes de lidar individualmente com temas em pauta da Agenda Doha. Atuam, ainda, sob a autoridade do Conselho Geral. Conselhos e Órgãos Subsidiários - Há ainda outros três conselhos que, cada qual lidando com uma área diferente do comércio, reportam-se diretamente ao Conselho Geral. Como seus próprios nomes indicam, esses conselhos fragmentam-se nos temas cobertos pelas três subdivisões do anexo 1. Assim, são responsáveis,

respectivamente, pelo Comércio de Mercadorias (Anexo 1A); Serviços (Anexo 1B); e, Propriedade Intelectual (anexo 1C). a) O Conselho para o Comércio de Mercadorias (ou Conselho de Bens) supervisiona os temas relacionados aos acordos relativos ao comércio de mercadorias. Assim, o Conselho de Mercadorias se subdivide em 11 comitês de trabalho em assuntos específicos (e.g. agricultura, acesso a mercados, subsídios e medidas antidumping). Cabe reiterar que esses comitês são compostos por todos os membros. b) O Conselho para o Comércio de Serviços supervisiona os assuntos relativos ao Acordo GATS. Seu Conselho tem órgãos que lidam com serviços financeiros, regulamentações domésticas, regras do GATS e compromissos específicos. Entretanto, não possui um número fixo de órgãos subsidiários, podendo os órgãos serem extintos na medida em que exaurirem sua finalidade, e.g., Grupo de Negociação em Telecomunicações Básicas que foi dissolvido em Fevereiro de 1997. c) O Conselho para os Aspectos do Comércio Relacionados à Propriedade Intelectual (Conselho TRIPS) supervisiona temas relacionados ao Acordo TRIPS. Da mesma forma que o Conselho Geral, esses Conselhos são órgãos de caráter permanente, compostos por todos os membros da OMC, podendo ainda se subdividir. Seis outros órgãos se reportam ao Conselho Geral. Se sua abrangência temática for reduzida, tratam-se então de comitês. Mesmo assim, esses órgãos são representações de todos os membros da OMC. São exemplos de assuntos abordados por esses órgãos: comércio e desenvolvimento; meio ambiente; acordos regionais de comércio; e, questões administrativas da OMC.

Outros comitês criados na Conferência de Cingapura, são os de investimento e política da concorrência, transparência em compras governamentais, e facilitação do comércio. Além desses, dois órgãos subsidiários lidam com os acordos plurilaterais, ou seja, aqueles acordos que não fazem parte do "compromisso único" (single undertaking) e, portanto, não são obrigatoriamente assinados por todos os membros da OMC. Há, ainda, órgãos com foco em pontos específicos, reportando-se igualmente ao Conselho Geral. São chamados de Comitês, Grupos de Trabalho ou Partes a Trabalho: a) Comitê em Comércio e Desenvolvimento; b) Comitê em Comércio e Meio Ambiente; c) Comitê em Acordos Regionais do Comércio; d) Comitê em Restrições ao Balanço de Pagamentos; e) Comitê em Orçamento, Finanças e Administração; f) Partes a trabalho na Acessão de novos membros; g) Grupo de trabalho em Comércio, Dívida e Finanças; e h) Grupo de trabalho em Comércio e Transferência de Tecnologia. Passamos a seguir a análise das regras mais importantes da OMC. Cláusula da Nação Mais Favorecida (NMF)

A inclusão da cláusula relacionada a um tratamento não discriminatório nos acordos comerciais data do século XII, e o primeiro registro da frase "NMF" apareceu no final do século XVII. A aparição do conceito de não discriminação adveio do desejo de ligar tratados comerciais ao longo do tempo e entre Estados. Até a formação do GATT, cláusulas bilaterais e plurilaterais da NMF lidavam com formas condicionais de seu exercício, ou seja, concessões só eram estendidas aos demais caso houvesse a contrapartida adequada. No entanto, a onda do liberalismo que contagiou a Europa na segunda metade do século XIX acabou por difundir o uso da NMF sob uma base incondicional, surgindo assim a figura dos caronas nestas preferências (free rider). Nessa época, após o final da segunda Guerra mundial, os EUA experimentaram um considerável aumento na demanda por suas exportações pela Europa e assim modificaram sua política da "NMF condicional" praticada nos anos 20 para uma política de "NMF incondicional". Dessa forma, buscavam persuadir outros países a fazerem o mesmo em relação aos EUA, reduzindo a discriminação contra suas exportações. Portanto, a versão moderna da NMF, consagrada nas regras da OMC, é descendente direta das cláusulas NMF incondicionais previstas em tratados bilaterais firmados entre os EUA e seus parceiros comerciais. Sua definição encampada nos acordos da OMC consiste na ideia de que os membros dessa organização não podem, em regra, discriminar comercialmente seus pares. Em outras palavras, se um membro da OMC garante a algum país (seja ou não membro da OMC) uma vantagem comercial (ex. redução tarifária sobre determinado produto), esse membro deve estender essa benesse imediatamente e incondicionalmente para todos os membros da OMC. Essa é regra básica da não discriminação. Portanto, tenham ela bem fresca na cabeça de vocês, ok?

Os membros da OMC podem ser vistos como membros de um "clube". Dessa forma, devem garantir aos outros membros desse "clube" o melhor tratamento possível concedido a outro parceiro comercial, seja ou não membro do "clube". Imagine por exemplo que o Brasil tenha concedido por meio de um acordo bilateral com a Rússia (ainda não membro da OMC) uma redução tarifária de 20% para 5% no imposto de importação para o gás oriundo desse país. Nessa hipótese, caso a Bolívia deseje exportar o mesmo produto para o Brasil, a Bolívia - enquanto membro da OMC - poderá também aproveitar imediatamente, e sem observância de qualquer condição ou contraprestação, essa redução de imposto de importação. Na verdade, a Bolívia - e demais membros da OMC - pegarão "carona" nessa vantagem (free rider), pois farão jus a essa benesse sem que fizessem concessão alguma para gozar do benefício tarifário. Houve então a "multilateralização" da preferência concedida. Apesar da grande diminuição das barreiras tarifárias realizada, permanece sendo a pedra angular do GATT/ 1994 e um dos pilares da OMC. a NMF O parágrafo 1 do artigo I do GATT/ 1994 dispõe sobre o tratamento geral para despesas aduaneiras e encargos de qualquer tipo exigidos ou em conexão com a importação ou exportação ou exigidos para uma transferência internacional de pagamentos para importações ou exportações, e em respeito ao método de cobrança de tais despesas e encargos, e com respeito a todas as regras e formalidades em conexão com a exportação e importação, em relação a todos os temas referidos nos 2 e 4 do artigo III, qualquer vantagem, favor, privilégio ou imunidade garantida por uma parte contratante para qualquer produto originado ou destinado para qualquer outro país deve ser acordado imediatamente e incondicionalmente para o produto similar originado no país ou destinado para os territórios de todas as outras partes contratantes. A racionalidade por detrás da cláusula da NMF busca, em síntese:

a) Maximizar eficiência; b) Minimizar custos de transação (regras relacionadas para emissão de certificados de origem, exigências para embarque direto e outros procedimentos administrativos relevantes podem impor significantes custos para empresas e governo, mas, segundo a NMF, os países aplicarão as mesmas regras para as importações de todos os países); c) Promover mais liberalização recíproca entre as partes (beneficia particularmente os pequenos países em desenvolvimento); d) Minimiza custos de negociações comerciais (negocia-se um acordo multilateral ao invés de inúmeros acordos bilaterais). Importante: Sob a égide do princípio da não discriminação, também existe a cláusula do Tratamento Nacional, que consiste na proibição de um membro da OMC favorecer seus produtos domésticos em detrimento dos produtos importados originários dos membros uma vez que eles tenham entrado no seu mercado doméstico. Portanto, o princípio do Tratamento Nacional busca evitar uma discriminação de tratamento entre o produto nacional e o importado, ao passo que o princípio da nação mais favorecida evita a discriminação entre as concessões feitas a um país estendendo-as automaticamente aos demais membros da OMC. Então, para não errar... Nação Mais Favorecida - Evita discriminação entre produto importado de um país em relação ao produto similar de outros membros. Tratamento Nacional - Evita discriminação entre produto similar nacional de um país e o importado por esse país.

A respeito das normas da OMC, esses dois princípios são os mais requisitados pela ESAF. OMC. Vamos explicar agora um pouco sobre o processo de tomada de decisão na Tomada de decisões na OMC Outro aspecto importante que vocês devem ter em mente meus amigos diz respeito ao processo decisório na OMC. Conforme analisado em sua estrutura, vocês devem ter visto que as Conferências, Conselhos, Comitês, são sempre compostos por todos os membros da organização. Ora Professor, quer dizer que a OMC, apesar de possuir personalidade jurídica própria, tem como base de sustentação os membros que a integram? Exato. É assim com todas as organizações internacionais, por conta da sua personalidade jurídica derivada (lembram?) Nesse contexto, o processo decisório não poderia ser diferente senão baseado em consenso de seus membros. Uma decisão por consenso, sobre um assunto submetido à sua consideração, ocorrerá quando nenhum dos membros presentes à reunião se manifestar formalmente contrário à decisão a ser tomada. Se o consenso não puder ser alcançado, será permitida a votação. Nesse caso, o artigo IX do Acordo OMC estabelece que as reuniões da Conferência Ministerial e do Conselho Geral, serão realizadas contabilizando-se um voto para cada Estado membro (voto equitativo) e as decisões deverão ser tomadas pela maioria dos votantes, a não ser que o Acordo OMC, ou outro relevante Acordo Multilateral de Comércio, prescreva forma diferente:

a) % da maioria dos membros da OMC da Conferência Ministerial ou do Conselho Geral podem adotar uma interpretação do Acordo OMC e dos Acordos Multilaterais; b) em circunstâncias excepcionais, a Conferência Ministerial pode decidir derrogar (waive) um obrigação imposta no Acordo OMC ou qualquer Acordo Multilateral do Comércio por % dos seus Membros, se o consenso não for alcançado; Já as decisões sobre emendas às provisões dos Acordos Multilaterais de Comércio, dependendo da prescrição do acordo, serão tomadas: 1 a possibilidade - por consenso. (Art. X) 2 a possibilidade - se o consenso não puder ser alcançado, 2/3 dos Membros. Quanto às decisões sobre a acessão de novos membros (e.g., Rússia, Irã, Síria, ainda não fazem parte da OMC), essas deverão ser tomadas pela Conferência Ministerial, por maioria de 2/3 dos seus membros (Artigo XII). As regras sobre as finanças e o orçamento anual estimado, por sua vez, são aprovadas por maioria de 2/3 dos membros da OMC no Conselho Geral, desde que presente mais da metade dos membros da OMC. Como muitas vezes, o consenso numa organização com 153 membros e diversos temas abordados é deveras penoso de modo que, reuniões informais, realizadas em grupos menores, são vitais para que se alcance resultados concretos, bem como as Conferências Ministeriais não ocorram em vão. No entanto, devem ser realizadas com cautela uma vez que deve restar assegurada sua transparência, bem como oportunidade de manifestação de quaisquer membros interessados em contribuir, garantindo o caráter "inclusivo" desses encontros. Essas reuniões são informalmente conhecidas como green room, por conta das cores da sala de conferência do Diretor-Geral.