VII-001 - QUALIDADE SANITÁRIA DAS AREIAS DE PRAIAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

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Transcrição:

VII-001 - QUALIDADE SANITÁRIA DAS AREIAS DE PRAIAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO Carlos Augusto M. da Costa e Silva (1) Biólogo pela Faculdade Pedro II (1977). Especialista em Microbiologia e Pós-graduado (Lato sensu) em Auditoria e Perícia Ambiental. Responsável Técnico e Gerente da Divisão de Microbiologia da Gerência de Pesquisas Aplicadas da COMPANHIA MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA (COMLURB/Rio de Janeiro/RJ/Brasil) desde 1989. Cláudio de Poly Pastura Biólogo pela Faculdade Celso Lisboa (1985). Especialista em Controle de Vetores. Biólogo da Divisão de Microbiologia da Gerência de Pesquisas Aplicadas da COMPANHIA MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA (COMLURB/Rio de Janeiro/RJ/Brasil) desde 1995. Endereço (1) : Rua Joaquim Pinheiro, 381/906B - Jacarepaguá - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22743-660 - Brasil - Tel: (21) 392-1215 - e-mail: carloscamcs@uol.com.br RESUMO A qualidade sanitária de areia de praia vem sendo averiguada visando a obtenção de dados para auxiliar as operações de limpeza de praia. Objetiva também conhecer melhor esse ambiente do trabalhador e ainda avaliar as condições higiênicas das areias para fins de recreação. Desde setembro de 1998 estão sendo monitoradas 20 estações de coleta localizadas em 18 praias do Município do Rio de Janeiro (Brasil), abrangendo praias oceânicas e praias banhadas pela Baía de Guanabara. As amostras são analisadas para coliformes totais, coliformes fecais e ovos de helmintos. Até o momento (agosto de 2000) foram analisadas 149 amostras e os resultados mostram que as areias das praias oceânicas têm apresentado melhores condições sanitárias. PALAVRAS-CHAVE: Areia de Praia, Qualidade Sanitária, Coliformes e Ovos de Helmintos. INTRODUÇÃO O Município do Rio de Janeiro é dotado de uma extensa orla marítima. O clima favorável, as belezas naturais, o turismo, os eventos artísticos e culturais, as competições esportivas e iluminação da orla marítima são fatores que possibilitam o uso das praias durante todos os meses do ano, com picos de saturação nos dias de verão. A limpeza de praia é uma das atividade da Companhia Municipal de Limpeza Urbana que atua em 46 praias com extensão total em torno de 61.600 m e área aproximada de 3.514.400 m 2, utilizando em média diariamente 300 trabalhadores. As operações de limpeza de areia envolvem entre outras atividades a remoção de resíduos sólidos por varrição manual e mecanizada, o manejo de extravasamentos de águas poluídas para as areias (línguasnegras), a substituição de trechos de areia escurecida por areia clara e a verificação da viabilidade de retorno para a praia, das areias lançadas na orla por ocasião de ressacas ou retiradas de canais e outros trechos assoreados. As cestas coletoras, os containers e o controle de vetores urbanos também contribuem para a limpeza de praia. As praias estão entre as principais atividades de lazer e esporte da população e é na areia que ela passa grande parte do tempo. A poluição ambiental, especialmente os episódios relacionados com as praias do Rio de Janeiro, a conscientização crescente da população, a mídia, a presença de animais nas areias, a inexistência de padrões e critérios para enquadramento da qualidade sanitária das areias à exemplo do que há para as águas do mar e o pouco conhecimento que se tem a respeito desse assunto têm gerado discussões pouco fundamentadas e dúvidas com relação aos riscos das areias para saúde pública. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

A presença de cães nas areias das praias, que pode ser notada com frequência, representa alto risco para a saúde pública devido principalmente às fezes que podem veicular formas evolutivas de enteroparasitas humanos. Um outro fator de poluição e contaminação das areias é a grande quantidade de pombos, principalmente em Copacabana. Essas aves que normalmente chegam às praias a procura de alimentos naturais (insetos e larvas) ao encontrarem restos de comida acabam por fixar residência nas proximidades se multiplicando de forma desordenada. Os pombos são transmissores de doenças e suas fezes além de contaminarem as areias promovem a corrosão de fachadas e monumentos devido as suas características ácidas. Nesse contexto torna-se importante a análise sistemática das areias, o apoio técnico-científico às operações de limpeza e o levantamento de dados que possam auxiliar na avaliação de medidas operacionais bem como nos impactos causados ao ambiente. O conhecimento das condições de salubridade das areias também possibilita a adoção de medidas de proteção da saúde do trabalhador que atua nas atividades de limpeza de praias. MATERIAIS E MÉTODOS Amostragens O monitoramento abrange 18 praias sendo 12 oceânicas (Grumari, Prainha, Macumba, Recreio, Barra, Pepino, São Conrado, Leblon, Ipanema, Arpoador, Copacabana e Leme) e 6 banhadas pela Baía de Guanabara (Flamengo, Galeão na Ilha do Governador, Jardim Guanabara na Ilha do Governador, Ramos, Moreninha em Paquetá e José Bonifácio em Paquetá). As estações de coleta estão localizadas nas posições centrais das praias ou nos pontos de maior concentração de banhistas. Nas praias do Recreio e da Barra, devido à grande extensão, as estações de coleta foram duplicadas: Recreio 1 em frente ao Posto 10, Recreio 2 ao lado da reserva, Barra 1 em frente a Av. Ayrton Senna e Barra 2 em frente ao posto 7. As amostragens têm periodicidade trimestral e são realizadas nos trechos de maior permanência dos banhistas ou seja, na faixa de areia onde as barracas são armadas, onde as crianças brincam e por onde flui o comércio ambulante. No momento da coleta é demarcada uma área de 2m 2 (SANCHEZ et al., 1986) de onde são retiradas cinco sub-amostras de areia até a profundidade de 5 cm, para composição da amostra (em torno de 500g) que é encaminhada para análise. Análises A preparação das amostras para análise bacteriológica está baseada na metodologia estabelecida pela Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA, 1973). As densidades de coliformes totais e coliformes fecais (expressas em números mais prováveis - NMP/100g de amostra) são determinadas de acordo com o Standard Methods (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, 1992). Para a pesquisa de ovos de helmintos de enteroparasitas humanos, as amostras são analisadas empregando-se o método de hidratação de ovos com solução de Ruffer: NaOH 5 % alcoólica seguida de centrifugação (SILVA et al., 1991). Avaliação da qualidade sanitária Não há padrões sanitários para areia de praia (sejam microbiológicos ou parasitológicos), envolvendo limites quantitativos e/ou qualitativos, ou mesmo critérios oficiais regularmente estabelecidos. Os critérios que mais se aproximam são os utilizados para a avaliação de balneabilidade das praias (água do mar) estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA,1986). Esses critérios estabelecem que para recreação de contato primário as águas devem apresentar limites máximos de coliformes totais até 5.000 NMP/100mL e coliformes fecais até 1000 NMP/100mL. Na prática a qualidade microbiológica da água da praia tem sido medida primariamente pelos coliformes fecais. Uma grande vantagem da utilização dos coliformes como índice de poluição fecal é o fato de que seu número na água apresenta, com o tempo, decréscimo semelhante ao das bactérias patogênicas intestinais. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

Defini-se por recreação de contato primário, a atividade física exercida pelo homem na água como diversão (natação, mergulho e esqui aquático), onde há contato íntimo e prolongado da água com o corpo, incluindo o risco de ingestão de líquido. Não há dúvida que comparar a colimetria de areia com os padrões para água do mar é efetuar um paralelo rigoroso, uma vez que na água o contato íntimo é muito maior do que na areia. Entretanto, diversos banhistas especialmente as crianças, muitas vezes estabelecem com as areias um contato primário real. Também são fatores importantes e que devem ser considerados: as diferenças entre os meios água e areia em termos de homogeneidade e movimentação, os critérios diferenciados de amostragem, bem como a menor possibilidade de sobrevivência de indicadores microbianos de poluição na areia do que na água do mar (devido às temperaturas e exposição aos raios solares). Dessa forma o presente trabalho faz um exercício de comparação dos resultados de colimetria com os padrões para água de mar (balneabilidade). Além disso, a discussão dos resultados e a avaliação da qualidade sanitária da areia estão baseados nos seguintes aspectos: - Comparação entre os níveis de poluição (coliformes totais e fecais) e contaminação (ovos de helmintos) mostrados por praia e pelo conjunto de praias; - Distribuição percentual dos resultados por praia e separação por faixas que incluem os limites de balneabilidade; - Enquadramento das praias em relação a qualidade sanitária apresentada, considerando como qualidade satisfatória a areia que apresentou coliformes totais 5.000 NMP/100g, coliformes fecais 1.000 NMP/100g e ausência de ovos de helmintos. E como insatisfatória, aquela que apresentou coliformes totais > 5.000 NMP/100g, coliformes fecais > 1.000 NMP/100g e ocorrência de ovos de helmintos, bastando no caso dessa classificação que apenas um dos três resultados ocorra (excedeu o limite para coliformes ou ocorrência de ovos de helmintos) para que a qualidade da areia seja considerada insatisfatória. RESULTADOS Os resultados de coliformes totais estão apresentados na tabela 1 e figura 1 onde se observa que 125 amostras (83,9%) apresentaram resultados não superiores a 5.000 NMP/100g e que 101 amostras (67,8%) situaram-se abaixo de 1.000 NMP/100g. Do total de amostras analisadas 24 amostras (16,1%) apresentaram resultados superiores a 5.000 NMP/100g. As praias de Grumari, Prainha e Barra apresentaram as menores ocorrências com 100% das amostras abaixo de 1.000 NMP/100g, ao contrário das praias do Flamengo, Galeão, Jardim Guanabara e Moreninha que mostraram ocorrências superiores a 5.000 NMP/100g de respectivamente 50%, 37,5%, 37,5% e 33,2%. Os resultados de coliformes fecais constam da tabela 2 e figura 2 onde se observa 117 amostras (78,5%) com resultados não superiores a 1.000 NMP/100g e 91 amostras (61,1%) com resultados abaixo de 200 NMP/100g. Do total de amostras, 32 (21,5%) apresentaram resultados acima de 1.000 NMP/100g. Prainha e Barra foram as praias que apresentaram as menores ocorrências com 100% dos resultados abaixo de 200 NMP/100g, enquanto que as praias do Flamengo, Galeão e José Bonifácio mostraram as maiores ocorrências de resultados acima de 1.000 NMP/100g: 62,5%, 62,5% e 50% respectivamente. Das praias oceânicas Ipanema foi a que apresentou as maiores ocorrências com 50% dos resultados acima de 1.000 NMP/100g. As análise para ovos de helmintos mostraram resultados positivos em 3 amostras (2,0%), provenientes das praias Jardim Guanabara (Dipylidium caninum e Taenia sp), Galeão (Ancilostomidae e Taenia sp) e José Bonifácio (Ascaris lumbricoides). Essas ocorrências, que se deram apenas uma vez por praia, podem ser consideradas baixas do ponto de vista sanitário. Não foram observados ovos de helmintos enteroparasitas nas amostras provenientes das praias oceânicas. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

Tabela 1 - Distribuição quantitativa e percentual dos resultados de coliformes totais (NMP/100g) por faixa de ocorrência. totais <1.000 1.000 a 5.000 >5.000 a 20.000 >20.000 Estação de de ocorrência ocorrência ocorrência ocorrência coleta amostras amostras % amostras % amostras % amostras % Grumari 8 8 100,0 Prainha 8 8 100,0 Macumba 7 5 71,4 2 28,6 Recreio 1 7 5 71,4 1 14,3 1 14,3 Recreio 2 8 6 75,0 2 25,0 Barra 1 8 8 100,0 Barra 2 8 8 100,0 Pepino 8 7 87,5 1 12,5 S.Conrado 8 6 75,0 2 25,0 Leblon 8 5 62,5 2 25,0 1 12,5 Ipanema 8 4 50,0 2 25,0 2 25,0 Arpoador 7 5 71,4 2 28,6 Copacabana 7 4 57,1 2 28,6 1 14,3 Leme 7 5 71,4 1 14,3 1 14,3 Flamengo 8 2 25,0 2 25,0 1 12,5 3 37,5 Galeão 8 1 12,5 4 50,0 1 12,5 2 25,0 J.Guanabara 8 3 37,5 2 25,0 1 12,5 2 25,0 Ramos 8 5 62,5 1 12,5 1 12,5 1 12,5 Moreninha 6 4 66,6 1 16,6 1 16,6 J.Bonifácio 4 2 50,0 1 25,0 1 25,0 totais 149 101 67,8 24 16,1 7 4,7 17 11,4 Figura 1 - Distribuição percentual dos resultados de coliformes totais (NMP/100g) por faixa de ocorrência nas praias oceânicas e da baía. COLIFORMES TOTAIS 100,0 % 75,0 50,0 67,8 11,4 OCEÂNICAS BAIA 25,0 0,0 56,4 <1.000 1.000 a 5.000 16,1 6,7 4,7 11,4 3,4 9,4 6,7 1,3 4,7 NMP/100g >5.000 a 20.000 >20.000 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

Tabela 2 - Distribuição quantitativa e percentual dos resultados de coliformes fecais (NMP/100g) por faixa de ocorrência. totais <200 200 a 1.000 >1.000 a 4.000 >4.000 Estação de de ocorrência ocorrência ocorrência ocorrência coleta amostras amostras % amostras % amostras % amostras % Grumari 8 7 87,5 1 12,5 Prainha 8 8 100,0 Macumba 7 6 85,7 1 14,3 Recreio 1 7 4 57,1 1 14,3 1 14,3 1 14,3 Recreio 2 8 6 75,0 2 25,0 Barra 1 8 8 100,0 Barra 2 8 8 100,0 Pepino 8 5 62,5 3 37,5 S.Conrado 8 4 50,0 2 25,0 2 25,0 Leblon 8 5 62,5 3 37,5 Ipanema 8 3 37,5 1 12,5 3 37,5 1 12,5 Arpoador 7 3 42,8 2 28,6 2 28,6 Copacabana 7 5 71,4 1 14,3 1 14,3 Leme 7 5 71,4 1 14,3 1 14,3 Flamengo 8 2 25,0 1 12,5 2 25,0 3 37,5 Galeão 8 3 37,5 3 37,5 2 25,0 J.Guanabara 8 4 50,0 1 12,5 2 25,0 1 12,5 Ramos 8 3 37,5 3 37,5 2 25,0 Moreninha 6 3 50,0 1 16,6 1 16,6 1 16,6 J.Bonifácio 4 2 50,0 1 25,0 1 25,0 totais 149 91 61,1 26 17,4 18 12,1 14 9,4 Figura 2 - Distribuição percentual dos resultados de coliformes fecais (NMP/100g) por faixa de ocorrência nas praias oceânicas e da baía. COLIFORMES FECAIS 100,0 75,0 61,1 PRAIAS OCEÂNICAS PRAIAS DA BAIA % 50,0 9,4 25,0 0,0 51,7 17,4 6,0 12,1 9,4 11,4 7,4 5,4 4,7 4,0 <200 200 a 1.000 >1.000 a 4.000 >4.000 NMP/100g ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5

A tabela 3 mostra e resume o enquadramento das praias indicando os percentuais finais de qualidade sanitária. Tabela 3 - Qualidade sanitária das areias das praias. Estações de Qualidade sanitária % de ocorrência Estações de Qualidade sanitária % de ocorrência coleta satisfatória insatisfatória coleta satisfatória insatisfatória Grumari 100,0 Ipanema 50,0 50,0 Prainha 100,0 Arpoador 71,4 28,6 Macumba 100,0 Copacabana 71,4 28,6 Recreio 1 75,0 25,0 Leme 85,7 14,3 Recreio 2 100,0 Flamengo 37,5 62,5 Barra 1 100,0 Galeão 37,5 62,5 Barra 2 100,0 Jardim Guanabara 50,0 50,0 Pepino 87,5 12,5 Ramos 62,5 37,5 São Conrado 75,0 25,0 Moreninha 50,0 50,0 Leblon 87,5 12,5 José Bonifácio 25,0 75,0 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES As praias oceânicas excetuando Ipanema, apresentaram areias com melhor qualidade sanitária do que as praias banhadas pela baía. Essa observação sugere numa primeira abordagem que as praias oceânicas, por apresentarem águas geralmente menos poluídas do que as águas da baía, tenderiam a mostrar níveis mais baixos de poluição das areias. Entretanto pode ocorrer em praias oceânicas como Ipanema, areias com qualidades sanitárias próximas às observadas nas praias da baía a exemplo de Jardim Guanabara, Ramos e Moreninha. Os resultados contribuem para o melhor conhecimento do ambiente dos trabalhadores envolvidos com limpeza das areias. O maior risco continua sendo o manejo dos extravasamentos de águas poluídas por esgotos, devido à presença frequente de agentes etiológicos de diversas doenças, facilmente detectáveis em análises de laboratório. É importante o uso de equipamentos de proteção individual nesses e em outros casos em que há suspeita de contaminação da areia. A questão básica a respeito da qualidade sanitária de areia de praia, não é a de eliminar do convívio humano a poluição e os agentes de doenças possíveis de ocorrer nesse ambiente, o que seria utopia, mas criar condições que possibilitem o estabelecimento de níveis que possam ser considerados normais ou aceitáveis. Para que haja um melhor posicionamento dos órgãos de meio ambiente em relação à saúde pública faz-se necessário o implemento de ações como a criação de parâmetros de avaliação, pesquisas empregando outros indicadores de poluição para uma melhor caracterização das areias, estudos epidemiológicos e correlações de resultados de água e areia. Independente da influência que as águas do mar possam ter sobre as areias e da própria relevância da criação de um padrão para areia de praia, algumas ações são importantes na manutenção das condições de salubridade das areias, tais como: campanhas educativas para estimular a coleta dos resíduos gerados pelos banhistas; aplicação rigorosa da Lei Municipal Nº 2.358/95 que estabelece a proibição de animais (cães, cavalos, gatos, etc.) nas areias das praias; eliminação de línguas-negras através de obras de engenharia; diminuição do aporte de esgotos nas águas do mar; proibição do comércio fixo nas areias e manutenção da limpeza das praias. O lixo gerado pelos banhistas deve ser colocado em sacos plásticos e encaminhado para as caixas coletoras. Cuidado especial também deve ser dado ao lixo gerado pelos quiosques. É importante que seja devidamente colocado nos containers evitando assim a proliferação de ratos, baratas, moscas e outros vetores que podem, direta e indiretamente, contaminar as areias. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (1992). Standard Methods for the examination of Water and Wastwater, 18th Edition. A.P.H.A. Washington, D.C. 2. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY (1973). Physical, Chemical and Microbiological Methods of Solid Waste Testing, US, EPA, Cincinatti, Ohio. 3. CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE CONAMA (1986). Resolução Nº 20 de 18 de junho de 1986. 4. SANCHEZ,P.S.; AGUDO,E.G.; CASTRO,F.G.; ALVES,M..N. & MARTINS,M.T. (1986). Evaluation of the sanitary quality of marine recreational waters and sands from beaches of the São Paulo state, Brazil. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) e Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP/ICB). 5. SILVA,J.P.; MARZOCHI,M.C.A & SANTOS,E.C.L (1991). Avaliação da contaminação experimental de areias de praias por enteroparasitas. Departamento de Ciências Biológicas da Escola Nacional de Saúde Pública - ENSP/FIOCRUZ e Centro de Pesquisas Aplicadas da COMLURB Cadernos de Saúde Pública, RJ, 7(1): 90-99. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7