SOBRE OS SISTEMAS LACUSTRES LITORÂNEOS DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA
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- Alexandra Sales Faria
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1 SOBRE OS SISTEMAS LACUSTRES LITORÂNEOS DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA Magda Maria Marinho Almeida Química Industrial Universidade Federal do Ceará, Mestre em Tecnologia de Alimentos - UFC Fernando José Araújo da Silva Engenheiro Civil Universidade de Fortaleza, Mestre em Engenharia Civil Univ. Federal da Paraíba Rosa de Lisieux Urano de Carvalho Bióloga - Universidade Federal do Ceará, Especialista em Saúde, Trabalho e Meio Ambiente - UFC Divisão de Análises e Pesquisas da Superintendência Estadual do Meio Ambiente SEMACE Endereço: Rua Jaime Benévolo, 1400 Bairro de Fátima, CEP: , Fortaleza-CE Fone: (085) FAX: (085) camila@feq.unifor.br PALAVRAS-CHAVE: lagoas tropicais, qualidade de água, Nordeste Brasileiro
2 SOBRE OS SISTEMAS LACUSTRES LITORÂNEOS DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA INTRODUÇÃO Fortaleza ( Sul; Oeste) tem um área de cerca de 336 km 2, possui apenas três bacias hidrográficas (IPLANCE, 1991), que abrigam em suas áreas de drenagem pelo menos 19 lagoas de pequeno e médio porte (áreas entre 6 e 70 hectares). Existem ainda, pelo menos 4 reservatórios (açudes) que assumem as mesmas funções das formações lacustres naturais. O processo de urbanização tem gerado sérios problemas ambientais, como o aterramento e poluição de estruturas lacustres. Negligencia-se o fato de que as lagoas interferem no equilíbrio hídrico, microclima, valorização da paisagem urbana, constituídas também de potencial para desenvolvimento das atividades de pesca e lazer. Infelizmente, os estudos sobres as estruturas lacustres da região têm se restringido meramente a diagnósticos hidro-ambientais e sócioeconômicos, conforme descrito por Vasconcelos et al. (1995). É importante definir o real quadro hidro-sanitário dos corpos lênticos urbanos de Fortaleza, desenvolvendo uma escala de classificação dos níveis tróficos destas lagoas, atentando também para a aplicação de modelos gerenciais que previnam sua deterioração. METODOLOGIA Listados os corpos lacustres, procedeu-se à identificação in situ de fontes de poluição, como despejo de lixo e efluentes. Considerou-se ainda a presença de vegetação ciliar e de macrófitas. Estas informações definiram o número e a localização dos pontos de amostragem. Para as lagoas menores e com melhor estado de preservação foi escolhido apenas um ponto de amostragem, o mais próximo do meio curso longitudinal. O restante teve até 3 pontos de amostragem, de acordo com a avaliação das visitas de campo. As lagoas e açudes foram monitorizadas durante um período de dez meses, a partir do final do período chuvoso (Fevereiro a Novembro de 1997). Foram analisados 21 parâmetros, sendo tratados constando na Tabela 1 apenas sete: oxigênio dissolvido (O.D.), demanda bioquímica de oxigênio (DBO 5,20 ), amônia, nitrato, fósforo total, condutividade elétrica (CE) e coliformes fecais (CF). As coletas foram realizadas entre 10 e 14:00 horas. Todos os procedimentos analíticos seguiram as descrições contidas em APHA (1992). CARACTERIZAÇÃO DAS FONTES POLUIDORAS De maneira geral, as lagoas e acudes da RMF de Fortaleza vêm sofrendo ao longo dos últimos anos, processo de degradação decorrente do crescimento urbano desordenado e falta de infraestrutura de saneamento. É, principalmente em função da maioria dos corpos lênticos estudados se encontrarem em área de população de baixa renda, que ocorre o desenvolvimento de favelas próximas aos recursos hídricos, e muitas vezes ocupando as faixas de preservação. No estudo realizado pelo SDU (1993) foram dectadas como fonte de poluição, principalmente o lançamento de esgotos domiciliares, industriais e hospitalares sem tratamento, como também disposição de lixo nas margens das lagoas e açudes e/ou transportados por processo de lixiviação das galerias de águas pluviais. Em função da carga poluente acumulada, algumas lagoas como a de Maraponga apresentaram espelho d água reduzido em decorrência de processos de eutrofização e transporte de sedimento. Estes fenômenos já ocasionaram o desaparecimento total de algumas lagoas como Aldeia Velha e Sítio São Jorge. O Quadro 1 apresenta as principais fontes de poluição observadas nas lagoas estudadas.
3 Quadro 1 - Fontes de poluição nas lagoas da RMF. Lagoa/ Açude Tipos de Poluição Esgoto doméstico Lixo Esgoto industrial Outras fontes 1 Opaia x x Mondubim x x Parangaba x x x x Maraponga x x Messejana x x Precabura x Jangurussu x Urucará x x 1 Esgotos hospitalares, criação de animais RESULTADOS E DISCUSSÃO As lagoas do Opaia, Messejana e Parangaba tiveram pelo menos três pontos de coleta, sendo considerados aqui o valor médio dos parâmetros analisados. Esta decisão se deu em razão da proximidade dos resultados obtidos nos diferentes pontos de coleta. Os parâmetros relativos a ph e turbidez não apresentaram qualquer relação com as concentrações de nutrientes, matéria orgânica, oxigênio dissolvido e coliformes fecais. O ph em cerca 70% das amostras de todas as lagoas foi em torno de 7,5. No entanto, as lagoas do Papicu e da Maraponga apresentaram valores médios ligeiramente abaixo de 7 (6,96 e 6,74 unidades, respectivamente). Já a lagoa de Messejana teve ph médio de 8,28, indicando um certo nível de eutrofização, refletido nas elevadas concentrações de oxigênio dissolvido, que provavelmente foi resultante de produtividade primária intensa. Em todas as lagoas a turbidez média foi inferior a 50 UT, sendo maior na lagoa do Opaia (43 UT) e menor na lagoa da Sapiranga (5 UT), as de qualidade da água inferior e superior, respectivamente. A maioria das lagoas apresentaram restrições quanto às concentrações de oxigênio dissolvido e DBO. Os resultados médios foram, no entanto, próximos aos valores limites (OD 5 mg/l e DBO 5 mg/l) em boa parte das amostras, mesmo nas lagoas que apresentaram melhor qualidade de água. Isto sugere que mesmo os corpos lênticos livres de ação antrópica não se adequam aos dispositivos estabelecidos na legislação. Não foi possível estabelecer correlação satisfatória entre os diversos parâmetros, de maneira que indicasse aporte de nutrientes de fonte antropogênica. Correlações lineares e exponenciais de nutrientes e parâmetros discretizados (log ou ln de CF e CE) apresentaram como melhor dos valores um R 2 de 0,2164 entre nitrogênio amoniacal e fósforo total. Isto aponta para necessidade de um estudo limnológico diferenciado dos utilizados em outras regiões do país. Resultados de DBO e OD dentro dos padrões CONAMA, não indicaram necessariamente baixa concentração de nutrientes ou ausência de contaminação fecal objetável. Nenhuma das lagoas atendeu plenamente às exigências contidas na Resolução No 20 do CONAMA (1986). Mesmo aquelas que se apresentaram próprias à balneabilidade (CF < 1000/ 100 ml), não poderiam atender aos parâmetros referentes a NH 3 (0,02 mg NH 3 /L) e fósforo total (0,025 mg P/L), uma vez que a ciclagem de nutrientes em lagos tropicais é maior devido às altas temperaturas e intensa atividade metabólica do plâncton (Esteves, 1988). As lagoas do Mondubim, Urucará e Sapiranga foram as que mais se aproximaram dos limites estabelecidos pelo CONAMA (1986), sendo que a primeira apresentou acentuado grau de contaminação fecal, e as outras duas não atenderam ao limite relativo a fósforo total. Na Tabela 1 são apresentados os resultados dos parâmetros analisados.
4 Tabela 1 - Valor médio dos parâmetros investigados nas lagoas (Fevereiro a Novembro ) Parâmetros Amônia Nitrato P-Total Coli.Fecais DBO Oxigênio Condutividade dissolvido (mg N/L) (mg N/L) (mg P/L) (NMP/100mL) (mg/l) (mgll) (µs/cm) Opaia 1,20 0,90 0, ,9 4,5 315 Mondubim 0,60 0,33 0, ,5 2,5 742 Parangaba 0,90 0,60 0, ,3 5,9 606 Maraponga 0,90 0,30 0, ,2 3,6 410 Messejana 0,40 0,50 0, ,5 10,2 495 Sapiranga 0,20 0,50 1, ,2 4, Urucará 0,20 0,50 0, ,8 4,3 835 Jangurussu 1,16 0,90 0, ,0 6,3 654 Papicu 2,30 1,60 1, ,9 3,0 512 Os resultados de nitrato foram todos menores que 10 mg N/L. As concentrações de Fósforo Total foram altas, considerando o limite determinado pela legislação em águas Classe 2. Os resultados foram sempre superiores a 25 µg P/L, o que caracterizaria as lagoas como Eu-politróficas e Politróficas. A condutividade elétrica manteve-se entre 315 e 835 µs/cm na maioria das lagoas, sendo porém bastante elevadas (em torno de 9000 µs/cm) naquelas que sofrem intrusão marítima. As lagoas de maior frequência para banho e pesca (Opaia, Parangaba e Maraponga), tiveram valores elevados de nutrientes e coliformes (Tabela 1), que estavam associados exclusivamente a despejos de efluentes, lixo e uso inadequado da água, como banho de animais. Nestas lagoas, é comum a mortandade de peixes durante o período de chuvas, devido a fatores como: depleção nas concentrações de oxigênio dissolvido, aumento de turbidez, de amônia, de sulfeto, e variação de temperatura. As Figuras 1 a 3 representam comparativamente os resultados dos parâmetros analisados nas lagoas. Concentração 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 Amônia (mg N/L) Nitrato (mg N/L) P-Total (mg P/L) 0,20 0,00 Opaia Mondubim Parangaba Maraponga Messejana Sapiranga Urucará Jangurussu Figura 1 - Valor médio de nutrientes nas lagoas/açudes
5 Coli.Fecais (Log NMP/100mL) Condutividade (micros/cm) Valor Opaia Mondubim Parangaba Maraponga Messejana Sapiranga Urucará Jangurussu Figura 2 - Valor médio de CF e condutividade elétrica nas lagoas/açudes Concentração (mg/l) DBO (mg/l) Oxigênio dissolvido (mgll) Opaia Mondubim Parangaba Maraponga Messejana Sapiranga Urucará Jangurussu Figura 3 - Valor médio de DBO e OD nas lagoas/açudes. CONCLUSÕES Os parâmetros adotados pelo CONAMA (1986) não se adequam ao enquadramento destas águas como Classe 2. Considerando isto, os critérios relativos a nutrientes, contidos na legislação, divergiram consideravelmente daqueles encontrados no estudo, mesmo nas lagoas com melhor qualidade de água e preservadas da ocupação urbana. Sugere-se então, uma maior discussão sobre os limites e reavaliação destes, principalmente em regiões de clima quente-úmido. Do ponto de vista sanitário, deve-se dar uma maior atenção ao problema de contaminação fecal. AGRADECIMENTO Os autores agradecem o suporte financeiro das seguintes instituições: Superintendência Estadual do Meio Ambiente - SEMACE, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Universidade de Fortaleza - UNIFOR.
6 BIBLIOGRAFIA APHA (1992). Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 18th edition. American Public Health Association. Washington. Conselho Nacional do Meio Ambiente (1988). Resoluções CONAMA. Secretaria Especial de Meio Ambiente. Brasília. Esteves, F. (1988). Fundamentos de Limnologia. Editora Interciência. FINEP. Rio de Janeiro. IPLANCE (1991) Informações Básicas Municipais - Fortaleza. Fundação Instituto de Planejamento do Ceará. Fortaleza. SDU (1993). Programa de Infra-Estrutura Básica de Saneamento de Fortaleza - SANEAR. Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. Fortaleza, Ceará. Vasconcelos, F. P.; Coriolano, L. T. e Souza, M.J. (1995). Análise Ambiental e Sócio- Econômica dos Sistemas Lacustres Litorâneos do Município de Fortaleza. Relatório de Projeto. Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza.
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