ISRAEL E TERRITÓRIOS PALESTINIANOS OCUPADOS



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Porto Alegre, 13 de abril de À COSMAM COM. SAÚDE E MEIO AMBIENTE DE PORTO ALEGRE At. VEREADOR SEBASTIÃO MELLO PRESIDENTE. Senhor Presidente.

abolicionista para todos os crimes Esperança média de vida: Taxa de mortalidade menores de 5 anos (m/f: 5/4 por 1000 Taxa de literacia nos adultos:

Transcrição:

ISRAEL E TERRITÓRIOS PALESTINIANOS OCUPADOS ESTADO DE ISRAEL Chefe de Estado: Chefe de Governo: Pena de morte: População: Esperança média de vida: Taxa de mortalidade menores de 5 anos (m/f): Shimon Peres Benjamin Netanyahu abolicionista para crimes comuns 7,3 milhões (Israel); 4,4 milhões (TPO) 80,3 anos (Israel); 72,9 anos (TPO) 6/5 por 1000 (Israel); 23/18 por 1000 (TPO) O cessar-fogo acordado em Janeiro de 2009 entre as forças israelitas e grupos armados palestinianos foi, de uma forma geral, respeitado. O exército israelita manteve um controlo draconiano sobre o movimento de palestinianos nos Territórios Palestinianos Ocupados (TPO), incluindo um bloqueio à Faixa de Gaza que agravou ainda mais os problemas no território e manteve sob prisão virtual a sua população de 1,5 milhões de pessoas. As autoridades israelitas rejeitaram ou arrastaram os pedidos de autorização para sair de Gaza apresentados por centenas de palestinianos que necessitavam de tratamento médico especializado. Alguns acabaram por morrer. A maior parte dos habitantes de Gaza estavam dependentes da ajuda internacional, que foi seriamente afectada pelo bloqueio. Em Maio, as forças israelitas mataram nove pessoas a bordo de uma frota naval humanitária que tentava furar o bloqueio em águas internacionais. Na Cisjordânia, a movimentação de palestinianos foi seriamente limitada por centenas de controlos de estrada e barreiras israelitas, e pela vedação/muro de 700 km de extensão que Israel continuou a construir, na maior parte, no interior do território da Cisjordânia. Registou-se um aumento substancial das demolições de casas palestinianas, cisternas de água e outras estruturas na Cisjordânia pelas autoridades israelitas, afectando milhares de pessoas. As autoridades israelitas destruíram igualmente habitações em aldeias beduínas no Sul de Israel. Foi retomada a expansão dos colonatos israelitas ilegais em terras palestinianas capturadas, que tinha sido parcialmente suspensa até 26 de Setembro. Israel não realizou investigações adequadas aos alegados crimes de guerra e outras violações graves da lei humanitária internacional cometidos pelas suas forças durante a Operação "Chumbo Fundido", a ofensiva de 22 dias em Gaza que teve lugar em Dezembro de 2008/Janeiro de 2009, durante a qual cerca de 1400 palestinianos, incluindo mais de 300 crianças, foram mortos. Os soldados e colonos israelitas responsáveis por abusos graves contra palestinianos, incluindo homicídios dolosos, agressões e destruição de propriedade, não foram, de uma maneira geral, responsabilizados pelos seus crimes. As forças militares israelitas mataram 33 civis palestinianos nos TPO, incluindo oito crianças. Centenas de palestinianos foram detidos pelas forças israelitas, sendo que pelo menos 264 se encontravam detidos sem culpa formada ou julgamento ao abrigo de ordens de detenção administrativa, alguns dos quais há mais de dois anos. Os relatos de tortura ou outras formas de maus-tratos eram frequentes, mas as investigações eram raras. Cerca de 6000 palestinianos continuavam detidos em prisões israelitas, muitos deles na sequência de julgamentos militares injustos. Os objectores de consciência ao serviço militar continuaram a ser presos.

Antecedentes Continuou a tensão na região fronteiriça entre Israel e o Líbano. A 3 de Agosto, uma troca de tiros entre militares israelitas e libaneses causou a morte de pelo menos três soldados e de um jornalista libanês. Apesar ter sido mantido, de uma forma geral, o cessar-fogo entre as forças israelitas e os grupos armados palestinianos, estes últimos dispararam rockets e morteiros regularmente e de forma indiscriminada contra o sul de Israel (ver entrada da Autoridade Palestiniana), apesar de em número inferior a anos anteriores. As forças israelitas atacaram e mataram palestinianos alegadamente responsáveis pelos ataques. A 31 de Agosto, quatro colonos israelitas foram mortos a tiro na Cisjordânia. O ataque foi reivindicado pelas Brigadas Izz al-din al-qassam, a ala militar do Hamas, o grupo palestiniano que venceu as eleições de 2006 em Gaza e administra o território. Negociações entre Israel e a Autoridade Palestiniana (AP), excluindo o Hamas, foram organizadas pelos EUA em Setembro. Contudo, foram rapidamente suspensas após o fim, a 26 de Setembro, da moratória parcial israelita de 10 meses à construção de novos colonatos nos TPO, levando a AP a retirar-se das negociações. A moratória excluía Jerusalém Oriental e as áreas circundantes e, na Cisjordânia, a construção por "necessidades de segurança" e de edifícios públicos tinha prosseguido sem entraves. Bloqueio a Gaza e crise humanitária O bloqueio à Faixa de Gaza, em vigor desde Junho de 2007, sufocou a economia e arrastou ainda mais as pessoas para a pobreza. Por entre a continuação dos problemas de saúde e saneamento, cerca de 80% dos habitantes de Gaza encontravam-se dependentes da ajuda humanitária internacional, cujo afluxo era prejudicado pelo bloqueio. A grave escassez de bens e produtos fez aumentar os preços. A maior parte dos projectos de reconstrução da ONU que visavam erguer escolas e centros médicos teve de ser adiada. Como resultado, em Setembro, cerca de 40 mil crianças palestinianas viram as suas inscrições em escolas da ONU rejeitadas. Praticamente todos os habitantes de Gaza estavam aprisionados no pequeno território, incluindo pessoas gravemente doentes que necessitavam de tratamento no exterior e muitos estudantes e trabalhadores que desejavam estudar ou procurar emprego no estrangeiro. Poucos foram autorizados a sair de Gaza. Em Maio, tropas israelitas travaram pela força uma frota humanitária internacional que tentava furar o bloqueio. Mataram nove das pessoas a bordo de uma das embarcações e feriram mais de 50, algumas delas com gravidade. Foram abertos vários inquéritos ao ataque, incluindo dois a cargo da ONU. Em Setembro, a comissão de inquérito nomeada pelo Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas concluiu que os soldados israelitas usaram força letal de forma generalizada e arbitrária, resultando na morte desnecessária ou ferimentos graves de um grande número de pessoas. A comissão de inquérito nomeada pelo governo israelita era pouco independente e transparente. Na sequência das críticas internacionais ao ataque, o governo anunciou o levantamento parcial do bloqueio, embora o mesmo tenha sido insuficiente para melhorar significativamente as condições em Gaza. Israel continuou a proibir todas as exportações de produtos de Gaza até 8 de Dezembro, e a anunciada suavização das restrições às exportações ainda não tinha sido implementada no final do ano. A

Amnistia Internacional considera que o bloqueio constitui punição colectiva e viola a lei humanitária internacional, tendo apelado repetidamente ao seu levantamento. Restrições na Cisjordânia Centenas de controlos de estrada e barreiras militares israelitas restringiram a movimentação dos palestinianos na Cisjordânia, dificultando ou bloqueando o seu acesso ao emprego, educação, instalações de saúde e outros serviços. Até ao final de 2010 tinha sido concluída a construção de cerca de 60 por cento da vedação/do muro de 700 km de extensão. Mais de 85 por cento da extensão total da vedação/do muro fica situada em terras palestinianas, no interior da Cisjordânia. A vedação/o muro separava milhares de palestinianos das suas terras agrícolas e poços de água, e o acesso a Jerusalém Oriental dos palestinianos da Cisjordânia com autorização de entrada só era possível através de três dos 16 postos de controlo da vedação/do muro. Esta situação tinha graves consequências para os doentes e pessoal médico que tentavam deslocar-se aos seis hospitais palestinianos de Jerusalém Oriental. Os palestinianos continuaram a não ter acesso a vastas parcelas de terra junto aos colonatos israelitas criados e mantidos à margem da lei internacional. A população dos colonatos da Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, ultrapassou o meio milhão. Os palestinianos não tinham também acesso, ou tinham acesso limitado, a cerca de 300 km de estradas secundárias usadas pelos colonos israelitas. Contudo, o tempo de viagem dos palestinianos entre a maior parte das cidades, principalmente no Norte, foi reduzido em 2010 devido à remoção de algumas barreiras por parte de Israel e a algumas melhorias na rede de estradas para carros com matrícula palestiniana, embora as viagens continuassem a ser lentas e árduas. Direito a uma habitação adequada desalojamentos forçados Os palestinianos residentes na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, enfrentavam restrições tão apertadas relativamente ao que podiam construir que as mesmas podiam ser consideradas como uma violação do seu direito a uma habitação adequada. Foram levados a cabo desalojamentos forçados na Cisjordânia, incluindo em Jerusalém Oriental, com a justificação de que as casas tinham sido construídas sem autorização. Era quase impossível os palestinianos conseguirem obter estas autorizações das autoridades israelitas. As equipas de demolição, acompanhadas por elementos das forças de segurança, chegavam geralmente sem aviso e quase não davam oportunidade para as famílias retirarem os seus bens. Ao abrigo da lei militar israelita, sob a qual vivem os palestinianos da Cisjordânia, as autoridades não são obrigadas a realojar ou compensar as famílias desalojadas. Os palestinianos de Jerusalém Oriental não tiveram melhor sorte às mãos das autoridades civis israelitas. Em 2010, as autoridades israelitas demoliram 431 estruturas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, uma subida de 59 por cento em relação a 2009. Pelo menos 594 palestinianos metade dos quais crianças foram deslocados depois de as suas casas terem sido demolidas por ordem das autoridades israelitas, enquanto mais de 14 mil palestinianos foram afectados pela demolição de cisternas de água, poços e estruturas relacionadas com os seus meios de subsistência. As forças israelitas demoliram por duas vezes casas e estruturas em Khirbet Tana, uma aldeia da Cisjordânia situada a oeste do Vale do Jordão, numa área declarada "zona militar fechada". A 10 de Janeiro, demoliram as casas de 100 habitantes, a escola da aldeia e 12 currais para animais. A 8 de Dezembro demoliram 10 casas, 17

abrigos para animais e a escola, que tinha sido reconstruída. A aldeia já tinha sido demolida em 2005. Desde os anos 70 que Israel recusa conceder licenças de construção aos habitantes, enquanto nas proximidades foram construídos os colonatos de Mekhora e Itamar. Em Israel, registou-se um aumento significativo das demolições de casas de beduínos na região do Negev (ou Naqab), no Sul do país. Dezenas de aldeias, onde habitam dezenas de milhares de beduínos que são cidadãos de Israel, não são formalmente reconhecidas pelas autoridades israelitas. Estas aldeias não têm serviços básicos e os habitantes vivem sob ameaça constante de destruição das suas casas e de serem expulsos das suas terras. A aldeia "não reconhecida" de al-'araqib, no Negev, onde moram cerca de 250 beduínos, foi destruída oito vezes entre 27 de Julho e 23 de Dezembro pela Administração Territorial de Israel e pelas forças policiais. Após cada demolição, os habitantes reconstruíram abrigos improvisados. Uso excessivo da força As forças de segurança israelitas usaram força excessiva contra civis palestinianos, incluindo manifestantes não violentos na Cisjordânia e em Gaza, bem como agricultores, pescadores e outras pessoas que trabalham na "zona de exclusão" declarada por Israel no interior de Gaza ou nas suas águas costeiras. Segundo o Gabinete da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, 33 civis palestinianos dos TPO, incluindo oito crianças, foram mortos pelas forças militares israelitas durante o ano de 2010. Quinze civis palestinianos, incluindo quatro crianças, foram mortos e mais de 100 ficaram feridos pelas forças israelitas que impõem a "zona de exclusão" de 1500 m no interior das fronteiras norte e leste de Gaza e as restrições marítimas. Dois adolescentes palestinianos morreram ao serem atingidos com munições reais pelas forças de segurança israelitas durante uma manifestação a 20 de Março na aldeia de Iraq Burin, na Cisjordânia. Muhammed Qadus foi atingido no peito; Usaid Qadus foi atingido na cabeça. Em Abril, na sequência de uma investigação da polícia militar israelita, dois oficiais israelitas foram repreendidos pelas mortes. Em Setembro, três pastores palestinianos Ibrahim Abu Said, de 91 anos, o seu neto Hosam Abu Sa id, de 16 anos, e Isma il Abu Oda, de 17 anos foram mortos por tanques israelitas enquanto pastoreavam as suas ovelhas na "zona de exclusão" de Gaza, junto a Beit Hanoun. As autoridades admitiram mais tarde que as três vítimas eram civis e não "terroristas", como tinham afirmado inicialmente, e anunciaram a abertura de uma investigação ao incidente. O seu resultado não era conhecido no final de 2010. Impunidade Soldados israelitas, membros das forças de segurança e colonos continuaram a gozar de impunidade para os abusos dos direitos humanos cometidos contra palestinianos, incluindo homicídios dolosos. A violência dos colonos incluiu ataques com armas de fogo contra palestinianos e a destruição de propriedade de palestinianos. Os perpetradores só foram responsabilizados pelos seus actos em casos extremamente raros. De acordo com um relatório detalhado sobre impunidade publicado em Outubro pela organização israelita de defesa dos direitos humanos B Tselem, o exército israelita

matou 1510 palestinianos entre 2006 e 2009, excluindo aqueles que foram mortos durante a Operação "Chumbo Fundido". Destes, 617, incluindo 104 menores de 18 anos, não participavam em qualquer acto hostil quando foram mortos. A B Tselem apelou à abertura de uma investigação a 288 mortes ocorridas em 148 incidentes, a maior parte na Faixa de Gaza; foram apenas abertas investigações a 22 incidentes, a maioria dos quais na Cisjordânia. A B Tselem informou que só foram abertas quatro investigações no prazo de um mês após o incidente. Duas das investigações foram encerradas sem que qualquer dos soldados envolvidos tivesse sido acusado. Operação "Chumbo Fundido" Embora decorressem investigações militares israelitas a alguns incidentes específicos, as autoridades israelitas não realizaram qualquer investigação independente e de acordo com os padrões internacionais aos alegados crimes de guerra e outras violações graves da lei internacional pelas forças israelitas durante a Operação "Chumbo Fundido". A Missão de Apuramento de Factos da ONU sobre o conflito (o relatório Goldstone) considerou em 2009 que as forças israelitas e os grupos armados palestinianos cometeram crimes de guerra e, possivelmente, crimes contra a Humanidade. Até ao final de 2010, apenas três soldados israelitas tinham sido condenados por crimes relacionados com a Operação "Chumbo Fundido". Dois deles foram considerados culpados de "conduta não autorizada" por terem usado um rapaz palestiniano de 9 anos, Majed R., como "escudo humano", obrigando-o a abrir sacos que julgavam estar armadilhados. Em Novembro, foram despromovidos e condenados a três meses de prisão com pena suspensa. Devido à recusa de ambos os lados em realizar investigações adequadas, a Amnistia Internacional sugeriu que o assunto devia ser resolvido através dos mecanismos de justiça internacional. Em Janeiro, Israel pagou 10,5 milhões de dólares de compensação à ONU pelos edifícios da organização danificados durante a Operação "Chumbo Fundido". Contudo, não foi paga qualquer indemnização às vítimas dos ataques. A ONU afirmou que o pagamento resolvia as questões financeiras relacionadas com a Operação, muito embora o relatório Goldstone tenha recomendado especificamente que a ONU exigisse o pagamento de indemnizações não só para os funcionários da ONU e civis mortos ou feridos nos ataques contra instalações da ONU, mas também para as vítimas civis de outros ataques que ocorreram durante a Operação. Sistema judicial Detenções sem julgamento Israel continuou a impor um sistema de detenção administrativa ao abrigo do qual os palestinianos podem ser detidos durante períodos prolongados sem culpa formada ou julgamento. Pelo menos 264 palestinianos encontravam-se sujeitos a ordens de detenção administrativa no final de 2010. Alguns estavam detidos há mais de dois anos. Moatasem Nazzal, um estudante de 16 anos do campo de refugiados de Qalandiya, nos arredores de Ramallah, foi detido na sua casa sem qualquer explicação, a 20 de Março. Foi interrogado enquanto se encontrava acorrentado. Foi sujeito a três ordens de detenção administrativa consecutivas, que o mantiveram na prisão até 26 de Dezembro de 2010. Condições nas prisões recusa de visitas de familiares

As visitas familiares continuaram a ser negadas a cerca de 680 prisioneiros palestinianos, alguns pelo terceiro ano, porque os palestinianos de Gaza estavam impedidos de viajar para Israel, onde os prisioneiros estavam detidos, desde a imposição do bloqueio a Gaza. Julgamentos injustos Os palestinianos dos TPO sujeitos ao sistema judicial militar israelita continuaram a enfrentar um vasto leque de abusos do seu direito a um julgamento justo. Por rotina, são interrogados sem a presença de um advogado e, apesar de serem civis, são julgados perante tribunais militares e não comuns. Tortura e outras formas de maus-tratos Houve relatos frequentes de alegações consistentes de tortura e outras formas de maus-tratos, incluindo de crianças. Entre os métodos mais comuns incluíam-se os espancamentos, ameaças aos detidos ou às suas famílias, privação do sono e sujeição a posições de esforço dolorosas durante longos períodos. Os tribunais militares e civis israelitas aceitavam confissões alegadamente obtidas sob tortura como prova. A.M., um jovem palestiniano de 15 anos da aldeia de Beit Ummar, nos arredores de Hebron, foi detido a 26 de Maio e levado para o centro de detenção de Gush Etzion, onde foi interrogado durante seis dias, alegadamente com recurso a tortura, e depois libertado após "confessar" ter atirado pedras. O jovem disse que funcionários da segurança lhe ataram um cabo eléctrico aos genitais e ameaçaram dar-lhe choques eléctricos. Em Agosto, duas ONG, uma palestiniana e a outra israelita, apresentaram queixa contra Israel e o exército pela sua alegada tortura. A queixa policial foi encerrada por "falta de provas", enquanto o exército continuava a analisar a queixa no final de 2010. Liberdade de expressão e de associação Registou-se uma subida no número de detenções, julgamentos e condenações de pessoas envolvidas em protestos não violentos contra a vedação/muro. Frequentemente, as autoridades recorreram à Ordem Militar 101, que proíbe ajuntamentos de 10 ou mais pessoas "com fins políticos ou que possam ser interpretados como políticos", a não ser que os mesmos sejam previamente autorizados por um comandante militar israelita. Em Outubro, um tribunal militar israelita condenou Abdallah Abu Rahma a um ano de prisão. Professor e líder do Comité Popular Contra o Muro da Cisjordânia na aldeia cisjordana de Bil in, foi considerado culpado de "organizar e participar numa manifestação ilegal" e de "incitamento". Foi ilibado dos crimes de "atirar pedras" e "posse de armas". Era um prisioneiro de consciência. O antigo técnico nuclear Mordechai Vanunu foi novamente preso em Maio, durante três meses, por ter mantido contactos com um cidadão estrangeiro. Quase imediatamente, foi colocado em prisão solitária. Era um prisioneiro de consciência. Mordechai Vanunu tinha passado anteriormente 18 anos na prisão por revelar a capacidade nuclear israelita a um jornal britânico. Desde a sua libertação em 2004 que está sujeito a supervisão policial no âmbito de uma ordem militar, renovada a cada seis meses. Entre outras coisas, a ordem proíbe-o de comunicar com estrangeiros ou sair do país. Em Outubro de 2010, o Supremo Tribunal israelita rejeitou uma petição para anular as restrições.

Prisioneiros de consciência objectores de consciência em Israel Em Israel, pelo menos 12 objectores de consciência ao serviço militar foram presos. Shir Regev, da aldeia de Tuval, no Norte de Israel, foi preso três vezes, num total de 64 dias, por se recusar a cumprir o serviço militar, visto que se opõe à ocupação militar israelita dos territórios palestinianos. Visitas/relatórios da Amnistia Internacional Delegados da Amnistia Internacional visitaram Israel e os TPO em Abril e Maio. Israel e os Territórios Palestinianos Ocupados: Seguros como casas? A demolição de casas palestinianas por Israel (MDE 15/006/2010) Israel/Territórios Palestinianos Ocupados: Avaliação da Amnistia Internacional às investigações israelitas e palestinianas ao conflito de Gaza (MDE 15/022/2010) Israel/Territórios Palestinianos Ocupados: Conselho dos Direitos Humanos desilude vítimas do conflito de Gaza (MDE 15/023/2010) Israel: Acabar com as restrições arbitrárias contra Vanunu (MDE 15/024/2010)