Mestre em Economia/UFMT e Gestor Governamental (SEPLAN/MT). Email: edmarvieira@seplan.mt.gov.br.



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Transcrição:

Governo do Estado de Mato Grosso Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral Superintendência de Planejamento Coordenadoria de Avaliação ET CAV/SP/SEPLAN nº 10/2013 Educação: o desafio da qualidade Edmar Augusto Vieira 1 Introdução O desafio da educação pode ser apropriadamente resumido na formulação: assegurar condições de acesso, permanência e êxito dos alunos na escola. Salvo em situações mais específicas populações isoladas e/ ou em situação de elevada vulnerabilidade social a questão do acesso está relativamente equacionada, uma importante conquista das duas últimas décadas. Mas, segundo dados de avaliações oficiais, os sistemas educacionais não estão alcançando índices satisfatórios no que se refere ao aprendizado (proficiência) adquirido pelos alunos. A situação de Mato Grosso (MT) é mais grave do que a do Brasil ou do Centro Oeste. E, como sabemos, a situação do Brasil é bastante crítica em termos de comparação internacional, conforme indicam as avaliações do PISA 2. O presente estudo objetiva fornecer um panorama sobre a qualidade da educação básica em Mato Grosso, com destaque para o ensino médio, utilizando dados de avaliações realizadas pelo Ministério da Educação. Demanda por educação em Mato Grosso Antes de examinar dados relativos à qualidade do ensino, vejamos alguns aspectos da demanda educacional em Mato Grosso. Segundo o Censo Escolar de 2012, o conjunto das redes de ensino (pública e privada) atende a um contingente de 941,9 mil alunos na educação básica, o que equivale a 29,5% da população estadual (estimada em 3,19 milhões de habitantes). Metade desse contingente de alunos (468,75 mil) é atendida pela rede estadual; a rede municipal responde por 40,35% (380,09 mil matrículas), enquanto as redes privada e federal respondem por 9,28% (87,4 mil) e 0,61% (5,7 mil), respectivamente. 1 Mestre em Economia/UFMT e Gestor Governamental (SEPLAN/MT). Email: edmarvieira@seplan.mt.gov.br. 2 O PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), mantido pela OCDE, avalia a proficiência dos alunos de 15 anos de idade em matemática, leitura e ciências. As avaliações são realizadas a cada três anos. Na edição de 2012, o Brasil ficou na 57ª posição numa lista de 65 países participantes. E Mato Grosso ficou na 19º posição entre as 27 unidades federativas, considerando a média das pontuações obtidas nas três áreas avaliadas. 1

Figura 1 Distribuição das matrículas por rede de ensino: Mato Grosso, 2012 (%) 9,28 0,61 40,35 49,77 Federal Estadual Municipal Privada Fonte: Censo Escolar de 2012. Elaboração própria a partir dos microdados. A modalidade regular de ensino (da creche ao ensino médio) responde por 81,5% das matrículas (767,2 mil); a educação de jovens e adultos (EJA) abrange 10,7% (101,05 mil matrículas). A educação especial (modalidade substitutiva) representa 0,4% das matrículas (3,75 mil alunos). Não há informação sobre modalidade de ensino para 7,4% das matrículas constantes da base do Censo Escolar. As matrículas da EJA estão fortemente concentradas na rede estadual, que atende 86,5% (87,4 mil alunos) da demanda dessa modalidade. A EJA representa 18,64% de todos os alunos atendidos pela rede estadual de ensino e constitui evidência de parte dos problemas enfrentados pelo ensino regular 3 (como a evasão escolar). Para atender a esse contingente de alunos - que beira a um terço de toda a população estadual -, são mobilizados cerca de 2,68 mil estabelecimentos de ensino, 39,78 mil professores e 41,5 mil turmas de estudantes (média de 22,7 alunos por turma). A média de idade dos professores é 38 anos e 80% (31,8 mil) são mulheres. 3 O público da EJA está se tornando, provavelmente, cada vez menos adulto e cada vez mais jovem, fenômeno conhecido como juvenização. A média de idade dos alunos da EJA da rede estadual é 28,8 anos, sendo que 47% deles têm menos de 25 anos de idade. E apenas 27% têm mais de 34 anos. 2

Tabela 1 Total de matrículas por dependência administrativa e modalidade de ensino: Mato Grosso, 2012. Dependência administrativa Total de matrículas Não informada Modalidade de ensino Ensino regular Educação Especial - Modalidade Substitutiva Federal 5.709 2 5.403 304 Estadual 468.752 23.597 357.136 629 87.390 Municipal 380.090 44.503 325.190 88 10.309 Privada 87.372 1.804 79.477 3.040 3.051 Total 941.923 69.906 767.206 3.757 101.054 Fonte: Censo Escolar 2012 elaboração própria com base nos microdados. Figura 2 EJA Distribuição das matrículas por etapa de ensino: Mato Grosso, 2012 (todas as redes) (%) 0,7 7,4 4,5 8,5 Creche 21,5 Pré-escola Ensino Fundamental Ensino médio Educação profissional 57,3 Sem informação Fonte: Censo Escolar 2012 elaboração própria com base nos microdados. Qualidade da educação básica O Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) é realizado nos anos ímpares e é composto por duas avaliações complementares, uma amostral e outra censitária. A avaliação amostral tem como universo de referência os alunos das redes públicas e privadas matriculados na 4ª série/5º ano e 8ª série/ 9º ano do ensino fundamental e na 3ª série do ensino médio. Os resultados são apresentados para o País, macrorregiões e unidades federativas. A avaliação censitária conhecida como Prova Brasil tem como universo de referência alunos nos anos iniciais e finais do ensino fundamental das escolas públicas que possuem pelo menos 20 alunos nessas etapas, sendo que seus resultados são detalhados por escola e ente federativo (além de unidades maiores de 3

agregação). As duas avaliações são compatibilizadas para possibilitar a disponibilização de dados para diferentes níveis de agregação. Em ambas as avaliações são aplicados testes que avaliam, com base numa matriz de referência, conhecimentos, habilidades e competências em língua portuguesa e matemática, esperadas para cada etapa da escolarização. A tabela a seguir apresenta o desempenho que os alunos devem alcançar nas avaliações SAEB. Por exemplo, na 3ª série do ensino médio os alunos devem superar 350 pontos, em matemática, e 300 pontos, em língua portuguesa. Considera-se satisfatória, em termos de referência internacional, a situação em que 70% dos alunos estejam com desempenho acima dos pontos especificados 4. Tabela 2 Pontuação mínima (escala SAEB) para um aprendizado adequado, conforme a etapa e a disciplina. Série/ Etapa Matemática Língua Portuguesa 4 /5 anos do ensino fundamental Acima de 225 Acima de 200 8 /9 anos ensino fundamental Acima de 300 Acima de 275 3ª Série ensino médio Acima de 350 Acima de 300 Fonte: Todos pela educação A tabela 3 apresenta os resultados para o Brasil, Centro-Oeste e estados do Centro-Oeste, em 2011. A observação mais relevante está no baixo desempenho como problema generalizado da educação no País. Tome-se o caso da matemática, que se encontra em situação mais crítica. Ainda nos anos iniciais do ensino fundamental (4 /5 anos), apenas 36,3% das crianças brasileiras (todas as redes de ensino) demonstraram proficiência compatível com o esperado para a etapa; esse índice cai para 16,9% ao fim do ensino fundamental (8 /9 anos) e para apenas 10,3% ao fim do ensino médio. Este é um fenômeno generalizado para o caso da matemática: à medida que a escolarização avança, uma proporção cada vez menor dos alunos consegue alcançar os níveis de proficiência esperados. Em língua portuguesa tende a ocorrer perda de desempenho na passagem dos anos iniciais para os anos finais do ensino fundamental. Mas, entre esta última etapa e o final do ensino médio, as proporções de alunos com desempenho satisfatório são mantidas entre constantes e ligeiramente crescentes. 4 Ver Todos pela educação: Nota técnica preliminar: metodologia para obtenção das metas finais e parciais. São Paulo, 2007. Ver também meta 3 do Todos pela educação: Todo aluno com aprendizado adequado à sua série, em: www.todospelaeducacao.org.br. A meta de ter 70% dos alunos com aprendizado adequado tem por referência o ano 2021, sendo requisito para o Brasil alcançar o desempenho médio dos países da OCDE. 4

Tabela 3 Alunos com aprendizado compatível com a etapa escolar que estão frequentando: Brasil, Centro-Oeste e estados do Centro-Oeste, 2011 (%). Língua Portuguesa Matemática 4ª/5º EF 8ª/9º EF 3ª EM 4ª/5º EF 8ª/9º EF 3ª EM Brasil 40,0% 27,0% 29,2% 36,3% 16,9% 10,3% Centro-oeste 47,2% 28,6% 30,0% 41,7% 17,2% 10,1% Mato Grosso do Sul 48,3% 30,4% 37,6% 43,7% 18,4% 12,7% Mato Grosso 36,0% 23,4% 24,4% 30,8% 12,8% 7,4% Goiás 46,9% 27,3% 26,3% 40,4% 16,0% 8,4% Distrito Federal 57,9% 36,2% 40,3% 53,0% 24,4% 15,8% Fonte: Todos pela Educação (dados básicos do MEC/INEP SAEB) A situação de Mato Grosso é evidenciada em destaque na tabela 3 e na figura 3. Pode-se constatar que apenas 24,4% e 7,4% dos alunos aprenderam o esperado em língua portuguesa e matemática, respectivamente, ao fim do ensino médio. Ao fim do ensino fundamental, a proporção de alunos com aprendizado compatível para essa etapa chega a 23,4% e 12,8% (português e matemática, respectivamente). Figura 3 Alunos com aprendizado adequado (%) 40,0% 35,0% 30,0% 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% Alunos com aprendizado compatível com a série/ etapa escolar, em língua portuguesa e matemática: Mato Grosso, 2011 (todas as redes) (%). 5,0% 0,0% 36,0% 30,8% 23,4% 12,8% 24,4% 7,4% 4ª/5º EF 8ª/9º EF 3ª EM Etapa escolar Língua Portuguesa Matemática Fonte: Todos pela educação dados básicos do MEC/INEP - SAEB Visto em retrospectiva, o desempenho da educação tem apresentado avanços entre 2001 e 2011, pelo menos no nível fundamental. Em Mato Grosso, a 5

proporção de alunos com desempenho satisfatório nos anos iniciais do ensino fundamental aumentou de 13,7% para 36%, em língua portuguesa (figura 4), e de 8,6% para 30,8%, em matemática (figura 5). Nos anos finais do ensino fundamental (8 /9 anos) a evolução foi de 17,3% para 23,4%, em português (figura 6), e de 10,3% para 12,8%, em matemática (figura 7). Figura 4 50,00% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% Alunos com aprendizado compatível com a série/ ano - 4ª/5º EF Português (%) 2001 2003 2005 2007 2009 2011 Brasil Centro-oeste Mato Grosso Fonte: Todos pela educação (dados básicos do MEC/INEP) 6

Figura 5 40,00% Alunos com aprendizado compatível com a série/ ano - 4ª/5º EF Matemática (%) 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% Brasil Centro-oeste Mato Grosso 5,00% 0,00% 2001 2003 2005 2007 2009 2011 Fonte: Todos pela educação (dados básicos do MEC/INEP) Figura 6 35,00% Alunos com aprendizado compatível com a série/ ano - 8ª/9º EF - Port. (%) 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% Brasil Centro-oeste Mato Grosso 5,00% 0,00% 2001 2003 2005 2007 2009 2011 Fonte: Todos pela educação (dados básicos do MEC/INEP) 7

Figura 7 20,00% 18,00% 16,00% 14,00% 12,00% 10,00% 8,00% 6,00% 4,00% 2,00% 0,00% Alunos com aprendizado compatível com a série/ ano - 8ª/9º EF - Mat. (%) 2001 2003 2005 2007 2009 2011 Brasil Centro-oeste Mato Grosso Fonte: Todos pela educação (dados básicos do MEC/INEP) O drama do ensino médio Entretanto, não há boas notícias no caso do ensino médio. Em Mato Grosso (todas as redes de ensino) a proporção de alunos com aprendizado satisfatório caiu de 25,8% para 24,4%, em português (figura 8), e de 10,1% para 7,4%, em matemática (figura 9). Os resultados das avaliações oficiais lançam uma interrogação sobre até que ponto o ensino médio consegue agregar algum valor em termos de conhecimento adicional e sobre as possíveis causas desse fenômeno. De fato, é grande a porcentagem de alunos que, ao fim da educação básica, não consegue resolver questões com o nível de complexidade estabelecido o 8 /9 ano do ensino fundamental. A boa notícia é que, desde 2007, tem havido melhora no desempenho dos alunos, tanto em português como matemática, revertendo a tendência negativa observada entre 2001 e 2007. 8

Figura 8 35,00% Alunos com aprendizado compatível com a série/ ano - 3ª série do ensino médio - Português (todas as redes) (%) 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% Brasil Centro-oeste Mato Grosso 5,00% 0,00% 2001 2003 2005 2007 2009 2011 Fonte: Todos pela educação (dados básicos do MEC/INEP) Figura 9 16,00% Alunos com aprendizado compatível com a série/ ano - 3ª série do ensino médio Matemática (todas as redes) (%) 14,00% 12,00% 10,00% 8,00% 6,00% Brasil Centro-oeste Mato Grosso 4,00% 2,00% 0,00% 2001 2003 2005 2007 2009 2011 Fonte: Todos pela educação (dados básicos do MEC/INEP) 9

O drama do ensino médio: o caso da rede estadual de ensino A rede estadual de ensino atende cerca de 90,8% das matrículas do ensino médio em Mato Grosso, incluindo a EJA. No ensino médio regular a participação da rede estadual chega a 89,8%. Por isso, a rede estadual tem papel determinante na qualidade do ensino médio no Estado. A figura 10 apresenta a distribuição dos alunos da terceira série (ensino médio) da rede estadual conforme a pontuação (proficiência) obtida em língua portuguesa no SAEB de 2011. A linha ascendente da figura, com valores expressos no segundo eixo, mostra a distribuição de freqüência acumulada até determinado nível da escala. Os três pontos em destaque mostram a porcentagem de alunos com aprendizado abaixo do compatível com cada uma das três etapas básicas da escolarização, a saber: 4º/5º anos do ensino fundamental; 8º/9º anos do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio. Pode-se verificar que 81,6% dos alunos da rede estadual apresentaram desempenho abaixo do desejável para a 3ª série do ensino médio. Ou, inversamente, apenas 18,4% (100 81,6 = 18,4) apresentaram desempenho satisfatório. Observa-se, ainda, que 64,8% dos alunos ao fim do ensino médio apresentaram desempenho abaixo do esperado para o 8º/9º anos do ensino fundamental. Figura 10 25,0 Distribuição dos alunos da rede estadual por desempenho no SAEB (3ª série nsino Médio - Língua portuguesa) (%) 120,0 20,0 15,0 10,0 64,8 81,6 100,0 80,0 60,0 40,0 5,0 13,0 20,0 0,0 Até 150 150-175 175-200 200-225 225-250 250-275 275-300 300-325 325-350 350-375 Classes de pontuação no SAEB 0,0 frequência relativa frequência relativa acumulada (2º eixo) Fonte: MEC/INEP elaboração própria com base nos microdados do SAEB/2011. 10

A situação é ainda mais crítica no caso da matemática. Conforme figura 11, 97,4% dos alunos da rede estadual apresentaram, ao fim do ensino médio, desempenho abaixo do esperado para a etapa (até 350 pontos na escala do SAEB). Ou seja, apenas 2,6% deles apresentaram desempenho satisfatório (acima de 350 pontos). O mais grave é que a grande maioria (78,5%) exibiu desempenho abaixo do esperado para o 8º/9º anos do ensino fundamental. Figura 11 Distribuição dos alunos da rede estadual por desempenho no SAEB (3ª série ensino Médio - Matemática) (%) 20,0 18,0 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 97,4 78,5 26,6 Até 150 150-175 175-200 200-225 225-250 250-275 275-300 300-325 325-350 350-375 375-400 120,0 100,0 80,0 60,0 40,0 20,0 - frequência relativa frequência relativa acumulada (2º eixo) Fonte: MEC/INEP elaboração própria com base nos microdados do SAEB/2011. A qualidade da educação segundo o IDEB O índice de desenvolvimento da educação básica (IDEB) leva em conta duas variáveis, com pesos iguais: o rendimento escolar (dado pelas taxas de aprovação) e a proficiência (pontuação dos alunos nas avaliações do SAEB e da Prova Brasil). O IDEB varia de zero a dez. A meta do Ministério da Educação é elevar o IDEB do Brasil para níveis de referência internacional até 2021, véspera do bicentenário da independência do País. Assim, até 2021 espera-se que o Brasil (todas as redes) atinja os seguintes índices no IDEB: 6,0 (anos iniciais do ensino fundamental); 5,5 (anos finais do ensino fundamental) e 5,2 (ensino médio). As observações a seguir se limitam ao ensino médio. As tabelas 3 a 5 apresentam dados sobre a evolução do IDEB e de seus componentes (rendimento e proficiência), entre 2005 e 2011, para a terceira série do ensino médio. Observa-se que o IDEB aumentou em 19,2%, no caso da rede estadual. Quanto aos componentes do índice, a variação foi de 13% 11

para o rendimento escolar e 5,5% para a proficiência. Assim, o IDEB da rede estadual melhorou sobretudo em função de aumentos na taxa de aprovação dos alunos, que subiu de 65% para 73%, em média. A contribuição da aprendizagem (proficiência) para a evolução do IDEB da rede estadual foi de aproximadamente 30%. Tabela 4 Evolução do índice de desenvolvimento da educação básica (IDEB), 2005 a 2011 Ensino médio regular Dependência 2005 2007 2009 2011 Var 05/11 (%) Total (4) 3,1 3,2 3,2 3,3 6,5% Privada 5,3 5,3 5,8 5,7 7,5% Estadual 2,6 3,0 2,9 3,1 19,2% Fonte: MEC/INEP Tabela 5 Evolução do índice de rendimento escolar (P) (média das taxas de aprovação) 2005 a 2011 - Ensino médio regular Dependência 2005 2007 2009 2011 Var 05/11 (%) Total (4) 0,73 0,77 0,74 0,75 2,6% Privada 0,94 0,95 0,96 0,95 0,8% Estadual 0,65 0,75 0,72 0,73 13,0% Fonte: MEC/INEP Tabela 6 Evolução do índice de proficiência (N) (média padronizada das provas de matemática e língua portuguesa), 2005 a 2011 - Ensino médio regular Dependência 2005 2007 2009 2011 Var 05/11 (%) Total (4) 4,22 4,20 4,29 4,43 4,9% Privada 5,58 5,57 6,04 5,98 7,2% Estadual 4,00 4,01 4,06 4,22 5,5% Fonte: MEC/INEP O funcionamento do IDEB parece indicar que há um trade off entre rendimento escolar e proficiência. Ou seja, as escolas deveriam perseguir simultaneamente metas de melhoria nos dois indicadores. Em tese, a escola poderia facilitar os mecanismos de aprovação para obter maior IDEB; entretanto, os alunos chegariam ao fim do ciclo escolar com menor proficiência, o que poderia, no limite, anular o efeito dos ganhos de rendimento. Situação inversa ocorreria se a escola perseguisse metas de proficiência sacrificando o rendimento (retenção de alunos com menor aprendizagem). Entretanto, é possível que, em sistemas de baixo desempenho, a facilitação das aprovações pode não implicar em 12

prejuízos proporcionais em termos de proficiência. Nesse caso, haveria incentivos para melhorar o IDEB adotando-se a regra do menor esforço. É importante assinalar que, apesar do aumento das taxas de aprovação, estas continuam muito baixas, em termos de comparação internacional. Ou seja, nosso sistema de ensino continua convivendo com taxas muito elevadas de reprovação, acarretando custos econômicos e sociais significativos. A título de comparação, na rede privada as médias de aprovação foram de 95% em Mato Grosso. Assim, é importante que as escolas busquem mecanismos de reduzir as reprovações, sem descuidar dos requisitos de aprendizagem. Entretanto, há um limite objetivo para a mudança do IDEB associada a taxas de aprovação. Supondo que a rede estadual alcance taxas de aprovação média de 90% (cinco pontos abaixo da rede privada), ainda assim teria que obter proficiência de 5,7 pontos (média normalizada das provas de português e matemática), para que o IDEB atinja a meta de 5,2 pontos estipulada para 2021. Ou seja, a rede estadual teria que alcançar, até 2021, um nível de proficiência 37% superior ao alcançado em 2011. Num cenário menos otimista em que as taxas de aprovação máxima sejam de 80%, a proficiência exigida seria de 6,5 pontos, ou 54% acima do observado em 2011. Finalmente, se mantivermos estagnado o nível atual de aprovação (73%), o alcance da meta do IDEB exigiria proficiência em nível praticamente inalcançável de 7,1 pontos, ou 130% superior ao verificado em 2011. Essas simulações sugerem que, para alcançar níveis de referência internacional (média dos países da OCDE), as escolas precisam avançar simultaneamente em rendimento e proficiência. Conclusão e sugestões A última década presenciou melhorias significativas na qualidade do ensino fundamental, mas o ensino médio permaneceu estagnado. O pouco avanço que houve no IDEB do ensino médio da rede estadual, entre 2005 e 2011, pode ser atribuído, em grande medida, ao aumento das taxas de aprovação, que continuam baixas. Em tese, o ensino médio poderia melhorar mediante maior esforço circunscrito à etapa ou mediante recepção de alunos mais bem preparados na etapa anterior (ou ambas as coisas). Entretanto, há certa defasagem temporal nos efeitos de melhoria no ensino fundamental sobre o ensino médio. Ignorando-se problemas de fluxo escolar, os alunos avaliados na 3ª série do ensino médio em 2011 foram aqueles (em termos de representatividade) avaliados no 4 /5 anos em 2005, momento em que o ensino fundamental apresentava indicadores muito ruins e ainda em fase de deterioração. Sistemas de ensino de baixo desempenho como é caso brasileiro podem ser melhorados com menor esforço do que aqueles que já se encontram em estágio intermediário ou avançado. Medidas como maior acompanhamento dos alunos em dificuldade de aprendizagem, incentivos aos alunos que se 13

destacam e maior controle da indisciplina escolar podem gerar impactos significativos. Igualmente importante é ajustar o conteúdo, o método e as avaliações escolares às expectativas explicitas ou implícitas nas avaliações oficiais do MEC, o que deve orientar a qualificação e a prática dos professores em sala de aula. Assegurar que os professores atuem em disciplinas de suas áreas de formação/ habilitação pode parecer algo trivial, mas deve ser relevante no atual contexto de Mato Grosso. Por fim, é preciso investir na profissionalização da gestão escolar, na melhoria da infraestrutura das escolas e em políticas salariais que tornem o magistério uma carreira mais atrativa. 14