Seminários Green Nation Fest Arquitetura e Urbanismo Sustentável ARQ. SIEGBERT ZANETTINI Prof. Titular FAU USP Rio de Janeiro 06/06/2012 1
SUPERAÇÃO DA INSUSTENTABILIDADE Começo a palestra retomando Roger Bastide quando em 76 qualificou este País em seu livro Brasil, terra de contrastes. Essa condição de existir educação, saúde, lazer, só para as faixas sociais alta,média alta e parcela superior da média, de coexistir cidades cosmopolitas e biafras, de perpetuar uma minoria de doutores e uma legião de analfabetos entre outras contradições, são exemplos de contrastes que permanecem até hoje e que, se não houver mudanças estruturais no País, deverão perdurar em boa parte deste século XXI. Desfilemos inicialmente algumas questões nos vários níveis e escalões sociais que continuam a impedir ou retardar a sustentabilidade social, econômica e ambiental no Brasil. A INSUSTENTABILIDADE DE UM PAÍS SEM PROJETO DE NAÇÃO INSUSTENTÁVEL É a permanência de 500 anos de subjugação colonialista exportadora de matéria prima e dependente de decisões externas. È a impunidade da generalidade da administração pública e do poder econômico, na preocupação egoísta dos interesses próprios. È a perpetuação do poder político e econômico nas mãos de corruptos, despreparados e incompetentes, persistindo na manutenção secular da ignorância, usando-a como massa de manobra para interesses escusos de grupos. É a produção de planos urbanos somente preocupados com a circulação de veículos, usando fundos de vales, cobrindo rios e esquecendo que a cidade é espaço de vida. São as políticas públicas de privilégio ao universo financeiro em detrimento das áreas produtivas que geram renda e emprego. 2
É a mobilidade urbana apoiada no transporte individual e sobre pneus, ilógico, ineficiente, poluidor e altamente destruidor dos espaços de vida das cidades. É a postura técnica na engenharia de transporte, que implanta vias e rodovias somente preocupada com declividade e distância, sem atentar ao mínimo a paisagem circundante. É a postura predatória e destruidora das paisagens pelos empreendedores imobiliários. É a ocupação desordenada de nosso território destruindo florestas para o plantio e para o gado, quando possuímos áreas férteis, para alimentar o mundo sem vegetação de porte. É persistirmos na postura de meros consumidores em detrimento da cidadania, do respeito ao espaço de cada indivíduo e da conquista contínua do espaço público, de convivência, de encontro das pessoas e do exercício da vida urbana nas cidades. É a produção de espaços individuais e coletivos sempre subjugados ao lucro e a especulação, com arquitetura de estilos sem qualidade e apenas traduzida em metros quadrados de construção. SUSTENTÁVEL É uma luta intransigente da sociedade, da universidade, das cabeças pensantes e dos profissionais na busca incansável de um mundo melhor, mais justo e mais belo. É resgatar ao homem a sua verdadeira condição de cidadão e não de mero consumidor. 20 anos após a ECO 92 Uma característica estrutural da visão contemporânea da arquitetura está na conjunção de questões interagentes que ocorrem na produção da arquitetura homem, lugar, uso, medida, ambiente, técnica, matéria, ciência e tecnologia enquanto aspectos de um universo objetivo, com o conjunto de variáveis do mundo sensível das ideias e da criação em constante busca da essência, do equilíbrio, do duradouro, com o permanente desafio da procura de excelência estética, econômica e construtiva e no atendimento às satisfações físicas e psíquicas dos indivíduos. Ao colocar estes conceitos sobre a arquitetura contemporânea brasileira que trata da sustentabilidade do projeto urbano às edificações vale um alerta: não devemos confundir a oportunidade do assunto, que precisa ser aprofundado para que a construção atinja um elevado nível técnico e estético, com o 3
oportunismo de utilizar a questão da sustentabilidade como objetivo de marketing e de promoção de vendas. A arquitetura contemporânea apoia-se em fundamentos que incluem questões sobre eco-eficiência, sustentabilidade, utilização de condições climáticas naturais, incorporação de novas formas de energia, interação com os contextos construídos e naturais, uso racional de água, reuso de águas servidas, tecnologias limpas e preocupações com seu uso, operação e manutenção, reciclagem dos materiais e uma relação custo-benefício equilibrada, entre outros aspectos relevantes. Uma arquitetura que deve ser aberta e livre de barreiras à acessibilidade de pessoas, e com ambientes preocupados com a segurança do usuário. O sombreamento adequado pelo verde circundante cria uma ambientação e visuais agradáveis, integrando paisagismo e arquitetura para a obtenção de soluções naturais que resultam em importante contribuição para um microclima desejável. Há que distinguir qual arquitetura se preserva no tempo e aquelas que têm duração ao longo dos séculos pelo seu valor histórico e que guardam relação com o modo construtivo de cada época. No caso das cidades brasileiras de porte significativo, veem-se exemplos de arquitetura da moda, aspecto habilmente explorado pela área imobiliária especulativa, que valorizam estilos, ressaltam o status do proprietário e visam com isso o maior lucro possível. São cópias precárias e anacrônicas dos modelos mediterrâneo, neocolonial clássico, neoclássico entre outros, usando hoje técnicas construtivas tradicionais e que constituem a grande maioria das obras constituída de soluções repetitivas, sem nenhuma qualificação arquitetônica. São apenas metros quadrados de espaços que se repetem à exaustão e constituem o grande porcentual de moradias( casas ou apartamentos) de todas as cidades brasileiras. Esse enorme contingente de edificações desqualifica a cultura das cidades e o que elas têm de diferença, de regionalidade, de herança cultural de cada região do país, igualando-as na quantidade e na pobreza qualitativa dessa arquitetura. Sobram alguns raros exemplos de boa arquitetura moderna e contemporânea do lado de patrimônios históricos, na maioria tombados, e que dão a cada uma delas expressão própria de períodos de séculos anteriores. São os casos de Salvador( Pelourinho e partes da cidade alta e baixa), Recife ( Olinda e alguns monumento isolados), Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, Congonhas, em Minas, Parati e o centro velho no Rio de Janeiro. No restante do país são edifícios isolados, que embora tombados, perderam significância pela destruição do ambiente urbano que o caracterizou, e a cidade de São Paulo é o exemplo mais completo do país de uma cidade sem memória. A muito custo, bairros que ainda mantêm certa unidade urbanística, do tipo Jardim Europa, Jardim América, Jardim Paulistano, Pacaembu e City 4
Lapa, veem-se constantemente ameaçados de descaracterização por pressões de operações urbanas e ganância imobiliária. São Paulo é referência da insustentabilidade urbanística e arquitetônica no país. A sustentabilidade não é uma questão nova. Há 44 anos estamos projetando e contribuindo exemplos bioclimáticos e ecoeficientes. Numa primeira etapa porque abordavam questões ambientais e tecnologias específicas em cada projeto e a partir da década de 80 já com uma visão mais global. É na década de 90, mais precisamente na ECO 92, que definimos a obra sustentável tal qual a vemos hoje. Vamos então, apresentar essas experiências, com projetos que marcaram cada época. - MATERNIDADE VILA NOVA CACHOEIRINHA SP 1968 - RESIDENCIA AMARAL GURGEL SP 1970 - RESIDÊNCIA DE CAMPO ZANETTINI SP 1975 - ESCOLA ESTADUAL DRACENA SP 1976 - RESIDÊNCIA RODOLFO GALVANI- SP 1979 - RESIDÊNCIA CLAUDIO RANZINI ILHA BELA SP 1979 - HOSPITAL MUNICIPAL ERMELINO MATARAZZO SP 1985 - SEDE DA ZANETTINI ARQUITETURA SP 1987 - ESCOLA PANAMERICANA DE ARTE E DESIGN UNID. GROENLÂNDIA SP 1989 - PROJETO CASA LIMPA 1992 - CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ARAÇARIGUAMA SP 1992 - PANAMERICANA ESCOLA DE ARTE DESIGN SP 1997 - HOSPITAL E MATERNIDADE SÃO LUIZ ANÁLIA FRANCO SP 2000 - UNIDADE AVANÇADA PERDIZES HOSP. ALBERT EINSTEIN SP 2007 - CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL VOTORANTIM VAZANTE 2007 - AMPLIAÇÃO DO CENTRO DE PESQUISAS PETROBRAS CENPES ILHA DO FUNDÃO RJ 2010 -BRAZIL RESEARCH & GEOSCIENCES CENTER/BRGC FOR SCHLUMBERGER ILHA DO FUNDÃO RIO DE JANEIRO - 2010 - ÁGUA BONITA ETANOL AÇÚCAR ENERGIA SP 2011 - TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS TJDFT FÓRUM DO MEIO AMBIENTE BRASÍLIA - 2011 - HOSPITAL MATER DEI BELO HORIZONTE MG 2012 - CENTRO DE CONVENÇÕES UNICAMP CAMPINAS SP 2012 5