Meire Daiana Morais Damasceno 2 Universidade Federal do Amazonas, AM. Palavras-Chave: Rede social, facebook, ecossistemas, comunicação, educação.



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Transcrição:

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação Rio de Janeiro, RJ 4 a 7/9/2015 Redes Sociais Digitais: o Ecossistema Comunicacional do Facebook e suas Possibilidades Comunicativas 1 Resumo Meire Daiana Morais Damasceno 2 Universidade Federal do Amazonas, AM A sociedade está cada vez mais interligada com o avanço da tecnologia e com a internet. Nesse panorama, evidencia-se, sobretudo, o potencial das redes sociais, que cada vez mais se fazem presentes no cotidiano dos seres humanos através plataformas que possibilitam a interação com o mundo em tempo real, criando assim, novas maneiras de aprender, pesquisar, se comunicar. E neste cenário de expansão das redes sociais digitais, destacamos Facebook, que apresenta diversos elementos que formam um ecossistema interligado, interdependente e transdisciplinares, com um campo de diálogos híbridos, formando um ambiente que pode ser apropriado para, possivelmente, favorecer o processo de ensino-aprendizagem. Nessa perspectiva o objetivo deste artigo é analisar o ecossistema comunicacional do facebook e como essa rede social pode complementar o aprendizado dentro e fora de sala de aula. Palavras-Chave: Rede social, facebook, ecossistemas, comunicação, educação. 1 Introdução A quantidade de redes sociais existentes, os aplicativos e facilidades tecnológicas que proporcionam interações sem precedentes denunciam: vive-se atualmente em uma sociedade em rede. Potencializada pelo poder agregador da rede mundial de computadores (Internet), as pessoas estão mais conectadas e literalmente do que nunca. As redes sociais, que antes existiam apenas no plano físico, agora são mantidas e reproduzidas no ambiente virtual, onde cada uma representa o nó de uma grande teia, auxiliando a construir o gigante ecossistema chamado sociedade. Este ambiente virtual hoje tem o suporte de plataformas voltadas especialmente para hospedar os vários tipos de relações, atores e redes. É o caso do Facebook, grande comunidade virtual com diversas possibilidades comunicativas que podem ser melhor exploradas pelos 1 Trabalho apresentado no GP Multimídia do XV Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCCOM) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

2 integrantes de redes sociais diversas, para potencializar seus objetivos e atingir de forma mais eficaz o seu público-alvo. Nesse caso, as redes sociais constituem elementos que potencializam e mantem as necessidades de ambos os lados e permitem construir um intenso processo de comunicação e aprendizado: o Facebook, para continuar existindo e unindo cada vez mais pessoas, deve acompanhar as demandas dos seus usuários; e estes, por si, precisam ficar a par quanto aos seus mecanismos comunicativos para assim manter conectada a sociedade em rede. Com base nisto, torna-se relevante entender, o que está subjacente ao Facebook, enquanto ecossistema comunicacional constituído por uma rede de interação com sistemas diversos que dependem um do outro para coexistir e como esse ecossistema pode complementar o aprendizado dentro e fora de sala de aula. 2 Redes Sociais O contexto da sociedade contemporânea suscita a relação intensa entre a sociedade e tecnologia. Com a evolução da tecnologia da informação, vislumbra-se o desenvolvimento de uma sociedade em rede, que interliga e conecta pessoas de diversos lugares do mundo, estreita laços em torno de situações, gostos ou pessoas em comum. Nesse panorama, evidencia-se, sobretudo, o potencial das redes sociais em ambientes virtuais, que cada vez mais se fazem presentes no cotidiano dos seres humanos. De acordo com Castells (2004, p. 94), estas são [...] redes de comunicação que envolvem a linguagem simbólica, os limites culturais, as relações de poder e assim por diante. Esse potencial das redes virtuais é cada vez mais incorporado ao cotidiano dos sujeitos, que podem ser empresas, pessoas, analisados individualmente ou como uma unidade coletiva. Capra (2002, p. 93) destaca que o padrão de rede (network pattern), especificamente, é um dos padrões de organização mais básicos de todos os sistemas vivos. Em todos os níveis de vida desde as redes metabólicas das células até as teias os componentes e os processos dos sistemas vivos se interligam em forma de rede. Ainda segundo Capra (2002, p. 96), essa forma de organização é compreendida quando consignado que [...] para interpretar alguma coisa, nós a situamos dentro de um determinado contexto de conceitos, valores, crenças ou circunstâncias. Ademais, [...] para compreender o

3 significado de alguma coisa, temos de relacioná-la com outras coisas no ambiente, no seu passado ou no seu futuro. Nada tem sentido em si mesmo CAPRA (2002, p.97). Cada ser humano e ainda seus próprios ambientes percorrem sua rede interna de conexões, as quais associam ao seu cotidiano, experiência e lembranças, que também são consideradas conexões. É por essa razão que a era digital, também chamada de cultura do acesso, de identidades líquidas, de interações constantes, de reconstrução de movimentos, em formação cultural, está colocando o homem não só no seio da revolução técnica, mas também de uma sublevação cultural (SANTAELLA, 2003). Esse movimento comunicacional, que se potencializa com a web 2.0, influencia o crescimento de uma espécie de conectividade generalizada (LEMOS, 2003), formada por estruturas ramificadas e interligadas, que se retroalimentam por meio dos pontos convergentes da rede, denominados de nós. Cada nó intervém nas ramificações e no circuito da rede, alterando ou não, todo o caminho do fluxo de informação, além de poder ser modificado por ele. Esse compartilhamento fomenta a interatividade entre os sujeitos, caracterizada por Marteleto (2001, p.72) como [...] um sistema de nodos e elos; uma estrutura sem fronteiras; uma comunidade não geográfica; um sistema de apoio ou um sistema físico que parece com uma árvore. Com tais conceitos, chega-se à alusão de que as redes sociais possuem a complexidade de um ecossistema social diferenciado, interligado e interativo. Portanto, não poderá ser relacionada somente como uma estrutura midiática, nem considerada unicamente como um método de repassar as informações, porém como nova uma inteligência coletiva expandida em toda parte (LÉVY, 2000, p.32) Enquanto ecossistemas interativos, as redes sociais existem em ambientes virtuais e guardam em si possibilidades comunicativas potentes. 3 O Ecossistema Comunicacional das Redes Sociais Digitais O termo ecossistema comunicacional apropria da biologia a ideia de que, assim como na natureza, a comunicação é estruturada por meio de diversos sistemas que coexistem em situação de interdependência, os quais englobam suas próprias formas de existir e de se organizar. Entretanto ao mesmo tempo, em que se conecta com os outros sistemas, cria uma relação de interdependência para o funcionamento do todo.

4 Quando inserido no contexto da comunicação, a ideia de sistema interdependente traduzse de forma semelhante: o ecossistema comunicacional parte da necessidade de se pensar na comunicação por meio de uma visão sistêmica sendo esta capaz de identificar as ligações de fatos de componentes do sistema como um todo para que esta seja eficaz em qualquer lugar do mundo. Para tanto, é preciso entender que os diversos elementos que compõem o ecossistema comunicacional são interligados, interdependentes e transdisciplinares. De acordo com Morin (1977, p.305): Não podemos dissociar a atividade fenomênica duma célula do processo de comunicação [...]. Temos de supor que a mínima célula comporta bilhões de unidades moleculares e que a comunicação entre estas unidades, entre a esfera generativa e a esfera fenomênica (que se sobrepõem) confunde-se com a atividade permanente de reorganização, produção, troca, transformações duma formidável microfábrica química. O conceito exposto pelo autor se configura de modo adequado para o mundo web 2.0: contemporâneo, interativo, online, amplamente conectado verdadeiro ecossistema global, grande rede formada por diversas outras redes sociais, cada uma com os seus respectivos nós que coexistem e se entrelaçam. É natural, em uma era marcada pela conectividade otimizada por meio da rede mundial de computadores (Internet), que essas redes sociais também migrassem para o ciberespaço. Aos poucos, se tornou mais recorrente esse movimento de migração, fazendo com que surgissem soluções em suportes digitais para melhor quantificar e organizar a intensa atividade entre os indivíduos que a integram. Lévy (apud MARTINS; SILVA, 2000, p. 211) acresce múltiplos desdobramentos a esse processo, contextualizando que: [...] a essência da cibercultura está talvez nessa passagem entre seleções, hierarquias e sínteses por toda parte diferentes e em constante mutação conforme as pessoas, os grupos e as circunstâncias. Consequentemente, a cibercultura integra, relaciona e promove, via Internet, a formação de grupos, que trocam informações de forma ilimitadas por meio da difusão de mensagens que se multiplicam pela interconexão planetária. Em função desse ambiente criado pela web 2.0, marcado especialmente pela variedade de suportes para redes sociais, os nós que existem na realidade são transportados para o ciberespaço. Neste, a interação existe sem necessidade e demandas complexas, ou seja, não é preciso sair de casa para manter vivos os interesses em comum, pois no ciberespaço as interações são constantes,

5 pois segundo Maturana e Varela (2001), os seres vivos estão em constante processo de conhecimento e interação, de forma autônoma e dependente. Considerando que esse repasse de informações extrapola o físico e não é mais presencial (emissor-receptor), expande-se essa interação entre diversos membros e coletivos, tornando a comunicação e a proposição dialógica, fluídas e liquidas características estas das relações de tempo e espaço na sociedade em rede. O online passa a ser não apenas as relações comunicativas entre as pessoas, mas abrangerá um campo mais amplo, incluindo também os territórios, as mercadorias, os objetos, o meio ambiente, a natureza etc. Deve-se considerar, portanto, o processo comunicativo em rede como ecossistema, submetido como todos demais a uma interação, troca e renovação de relações com os outros ecossistemas no interior da biosfera que torna cada parte uma rede que se interliga a outras redes. Destaca-se ainda, as proposições sobre essa nova relação que o homem estabelece com a comunicação, agora que está imerso na cibercultura, amplifica, exterioriza e modifica funções cognitivas humanas como o raciocínio, a memória e a imaginação e identidade. Segundo Levy (1999, p.158): O que é preciso aprender não pode mais ser planejado nem precisamente definido com antecedência. [...] Devemos construir novos modelos do espaço dos conhecimentos. No lugar de representação em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em níveis, organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes superiores, a partir de agora devemos preferir a imagem em espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetivos ou os contextos, nos quais cada um ocupa posição singular e evolutiva. O ecossistema da rede social digital é, como nunca, similar ao ecossistema da natureza: possui autorregulação, autopoiese e possibilita troca a de informações, interesses e conexões. Alguns nós são produto direto da web 2.0, ou seja, não existiam antes no plano físico, contudo isso não os faz menos reais. Do mesmo modo como um biólogo pode estudar a migração de uma população de pássaros, é possível estudar a migração de usuários de determinada rede social digital para outra e usar essa informação para refletir sobre as possibilidades comunicativas dentro do mundo da web 2.0. Carvalho; Nevado; Menezes (2005, p. 351) reitera que é preciso reconhecer que o surgimento dessas tecnologias na dinâmica social (e escolar) faz surgir novas ideias sobre como conceber e viabilizar um novo modelo educacional que seja suportado pela tecnologia. As práticas estabelecidas anteriormente são alteradas e esse novo meio de comunicação em rede

6 invade o cotidiano das pessoas, provocando diferentes estilos de relacionamento, impulsionando expressivamente, como consequência, a espiral dos saberes. 4 Necessidade da Autopoiese Institucional As organizações não demoraram a assimilar que o ambiente virtual é um terreno fértil para seu crescimento. Estas dependem de uma ampla divulgação de suas atividades para que sejam conhecidas pela sociedade e assim, possam se desenvolver ainda mais. Para acompanhar as viabilidades do ambiente virtual, muitas organizações buscam atuação também nas plataformas de redes sociais, pois a presença digital fortalece laços com o seu público-alvo. A empresa, a escola, a universidade, o artista, o pensador, o produto, dentre outros exemplos, boa parte já migrou para o ambiente virtual. As oportunidades que este lhes oferece, no entanto, estão ainda em processo de descobrimento, pois é fato que as ferramentas de uma rede social na web podem transformar realidades, oferecendo um rápido retorno ao que por ela é disseminado. Tomando o processo de ensino-aprendizagem, em especial o que ocorre na sala de aula, como exemplo das reflexões a partir de Edgar Morin, é possível observar a forma cartesiana com a qual os conhecimentos são repassados aos estudantes, sobretudo no contexto brasileiro, em uma configuração que não associa a teoria com a prática cotidiana, e, por conseguinte, não atraindo a atenção do discente. O professor, como figura máxima da sala de aula, aparece sempre à frente, em aulas que se assemelham a um monólogo, seguindo roteiro pré-estabelecido, focando somente na disciplina que ministra, sem articular conteúdos com outras disciplinas. As provas de múltipla escolha testam apenas quem tem a melhor memória e não se preocupam em promover a aprendizagem para a vida. Cada disciplina vive por si e para si. Morin (2001) propõe um método que analise as partes em sua relação com o todo, por meio do pensamento complexo, cuja origem significa justamente abraçar o todo. A palavra-chave é a multidisciplinaridade, isto é, o enlace entre as disciplinas. Explorar todas as possibilidades de fazer chegar esse modelo educativo mais efetivo inclui também abraçar o ambiente virtual em que boa parte dos alunos já estão.

7 A apropriação destas estratégias na sala de aula, em especial a web 2.0, permite desvendar uma gama de possibilidades que explorem os conteúdos por meio de fotos, vídeos, hipertextos, animações, conversas em tempo real partindo de qualquer local em um ambiente totalmente diferente, mas muito próximo da realidade do aluno. Um exemplo desta apropriação pode se constitui pelo Facebook, um suporte de rede social popular entre os jovens e com amplas possibilidades comunicativas que podem mudar a tradicional configuração do processo de ensino-aprendizagem. 5 Facebook e suas Possibilidades Comunicativas De acordo com Santaella (2004) o desenvolvimento do ciberespaço tem como quesito fundamental o crescente surgimento de comunidades virtuais. O Facebook é uma comunidade virtual, ou ainda, um suporte para redes sociais, criado em 2004 pelo americano Mark Zuckerberg com o objetivo de estreitar nós, criar novos, compartilhar eventos, acontecimentos e experiências, dividir fotos e vídeos, permitir inovações e colaborações, prover entretenimento e outras oportunidades mais, que crescem a cada dia. É um espaço virtual informal usado massivamente para aproximar as pessoas. Da mesma forma que um indivíduo compartilha sua realidade nesta plataforma, ele pode interferir/modificar a realidade de outros participantes e vice-versa. Realidades são alteradas, construídas e reconstruídas a fim de se adaptarem a este ambiente virtual e continuar coexistindo no mesmo. A velocidade da troca de informações também torna o próprio Facebook, como o ecossistema principal aqui analisado, um instrumento em constante modificação para acompanhar as expectativas dos usuários. Nele, segundo Muñoz e Towner (2009), professores se conectam com seus alunos, enviando informações referentes às aulas pela rede, criando eventos, postando links úteis e outras atividades fora da sala de aula. Para Santaella (2004, p. 44), tais interações indicam que essas comunidades virtuais, são formadas como um [...] espaço informacional multidirecional que depende da interação do usuário, permite a este o acesso, a manipulação a transformação e o intercâmbio de seus fluxos codificados de informação.

8 Para tanto, é preciso estar atento para as necessidades de quem usa o Facebook e seus recursos. Por exemplo, que tipo de conteúdo essas pessoas mais se interessam, a atualidade do que buscam, o perfil de grupos, entre outros aspectos. Como ecossistema, o Facebook também precisa de alguns elementos para manter-se vivo: interação, usuários, publicações, sendo que dessas últimas, podem surgir novos comentários, realimentando a rede e fazendo emergir, dessa forma, novos elos e nodos. Esses conceitos de rede são amplos e complexos, e não se utilizam apenas das experiências vivenciadas por meio de contatos nos sites de redes sociais, uma vez que se baseiam no que existe na realidade. Todavia, estas comunidades são objetos de estudos das ciências sociais por gerarem uma aproximação entre os usuários quando estão conectados, diminuindo as escalas relacionais micro e macro espaciais. Nesta perspectiva, o Facebook é uma rede social que cria agilidade de acesso às informações, ou seja, uma espécie de globalização, interligando regiões, usuários e ampliando esse conhecimento, ressignificando os conceitos de tempo e espaço. A possibilidade de gerar um debate em tempo real das ideias, ou a disseminação de informações rompe as fronteiras do tempo e espaço. Essa relação é determinada por interesses em comum, por elos que vão se constituindo a partir de ideias ou opiniões. Os membros desses grupos tornam-se agentes dos processos comunicacionais, saindo da posição de sujeitos inertes, que atuam como simples receptores. De fato, eles passam a ser atuantes, com a proposição de agentes transformadores, caracterizando o começo de novas ações. São portadores de informações e poderes distintos por serem diferentes entre si, os quais ao mesmo tempo, podem assumir uma forma mais representativa em uma rede e mais atuante em outras redes (SANTAELLA; LEMOS, 2010), criando assim um caráter híbrido de sua participação. Considerando o exposto sobre o Facebook e frente a essa amplitude estabelecida pela web 2.0, pela cibercultura e pelos processos de virtualização do conhecimento, presume-se que este último e a aprendizagem, podem ser fortalecidos e estimulados a partir do diálogo e do estabelecimento de relações com as novas tecnologias. Considera-se então o Facebook, como um campo de diálogos híbridos, ambiente que pode ser apropriado para, possivelmente, favorecer o processo de ensino-aprendizagem, ou seja, [...] uma organização viva, em que seres humanos e objetos técnicos interagem em um processo

9 complexo que se auto-organiza na dialógica de suas redes de conexões (SANTOS, 2010, p. 39), características essenciais para a utilização desse espaço como ferramenta de propagação do conhecimento. 5 Conclusão A sociedade de hoje encontra-se amplamente conectada devido os avanços da web 2.0. Por isso, as possibilidades comunicativas advindas da tecnologia voltada para o mundo virtual pode ajudar a criar nós e estreitar ainda mais laços gerados nas redes sociais que existem na realidade. O Facebook é exemplo atual de plataforma popular com esta finalidade. O Facebook se molda às necessidades do mundo moderno, da mesma forma que este último deve se adaptar aos recursos trazidos pelo primeiro. É um processo semelhante ao de um ecossistema biológico, que faz a autorregulação de acordo com as mudanças do meio ambiente. Se a sociedade em rede deve acompanhar essas mudanças trazidas pelo mundo da web 2.0, inclusive suas amplas possibilidades comunicativas proporcionadas por plataformas como o Facebook, é possível imaginar que redes sociais físicas, como uma sala de aula, possam se beneficiar e ampliar sua abrangência. Um exemplo é o processo de ensino-aprendizagem. Se os docentes melhor explorassem as possibilidades comunicativas do Facebook, por exemplo, talvez fosse possível alcançar os alunos de maneira mais efetiva e agregando enorme conhecimento e novos debates ao modelo usado em sala de aula. Seria a tradução da autorregulagem que deve ser aplicada em ecossistemas, a exemplo do próprio Facebook. Referências CASTELLS, Manuel. A Internet e Sociedade em Rede. In: Moraes, D. de (Org). Por uma outra comunicação. Mídia, mundialização cultural e poder. Rio de Janeiro: Record, 2004. CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: Ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Editora Pensamento Cultrix, 2002. CARVALHO, M. J. S.; Nevado, R. A. de; Menezes, C. S. de. (2007) Arquiteturas pedagógicas para a educação à distância. In: Nevado, R. A. de; Carvalho, M. J. S.; Menezes, C. S. de. (Orgs.).

10 Aprendizagem em rede na educação à distância: estudos e recursos para formação de professores. 1 ed. Porto Alegre: Ricardo Lenz. LEMOS, André. Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003. LÉVY, Pierre. A revolução contemporânea em matéria de comunicação. In: MARTINS, Francisco Menezes; SILVA, Juremir Machado da. Para navegar no século XXI. 2. ed. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs, 2000.. Cibercultura. São Paulo: 1999. MARTELETO, Regina Maria. Análise das Redes Sociais: aplicação nos estudos de transferência da informação. Ciências da Informação. Brasília. 2001. MORIN, Edgar. O método I: a natureza da natureza. 2. ed. Portugal: Publicações Europa América, 1977.. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. MUÑOZ, Caroline Lego; TOWNER, Terri. Opening Facebook: How to Use Facebook in the College Classroom. Society for Information Technology and Teacher Education conference. Charleston, South Carolina. 2009. SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.. Navegar no ciberespaço, o perfil cognitivo do leitor imerso. São Paulo: Paulus, 2004 SANTAELLA; Lucia; LEMOS, André. Redes Sociais Digitais: a cognição conectiva do Twitter. São Paulo: Paulus, 2010. SANTOS, Edmeá. Educação online para além da EAD: um fenômeno da cibercultura. In: Silva, M; Pesce, L; Zuin, A (Orgs). Educação Online: cenário, formação e questões didático-metodológicas. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010.