A REVISTA VEJA E A CONSTRUÇÃO DE SUJEITOS SAUDÁVEIS Lucimar Alberti - UFRGS Introdução Durante o século XX, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial, começaram a surgir diversas críticas ao mundo tal qual estava posto. As promessas de progresso e a crença que a ciência acabaria com todas as mazelas da humanidade perderam espaço para um olhar mais incrédulo, para não dizer mais pessimista em relação aos rumos do mundo. A ideia de um futuro brilhante logo a frente não fazia mais tanto sentido, na medida em que a Europa encontrava-se mais uma vez em reconstrução e agora pairava sobre o mundo a ameaça de um conflito nuclear entre soviéticos e americanos. Dentro desse contexto, passaram a surgir críticas a esse conjunto de princípios que, de maneira ampla, se convencionou chamar de modernidade. Entre essas críticas surgiram os Estudos Culturais que possibilitaram, a partir dos anos cinquenta e sessenta, um novo olhar às práticas sociais de uma maneira geral. Através da interconexão de elementos variados e, colocando em evidência aspectos da vida que até então passavam despercebidos, essa nova forma de olhar acabou por renovar e expandir as análises acerca do social. A discussão em torno do conceito de cultura e a entrada das classes populares nas temáticas de pesquisa atuaram na ampliação dos olhares sobre os fenômenos sociais. Além disso, tais estudos acabaram por externar de forma mais contundente algumas críticas ao paradigma moderno. Em termos gerais, essa transformação pode ser entendida como aquilo que Stuart Hall chamou de A centralidade da Cultura (HALL, 1997). Próximo a esse processo, mas seguindo um caminho um tanto diferente, aconteceram as pesquisas de Michel Foucault sobre as relações de poder e suas articulações na produção de corpos dóceis. Em suas pesquisas, Foucault estudou o surgimento desse poder e principalmente as transformações de um poder a outro, que neste caso seria a transição de um poder sobre o corpo máquina para um poder sobre o corpo enquanto espécie (SIBILIA, 2002). Para Foucault, se na modernidade o soberano deixava viver e fazia morrer, na pósmodernidade teríamos um poder que faz viver e deixa morrer (FOUCAULT, 1999). O poder agora deveria ser entendido como um biopoder, ou seja, um poder que opera sobre a vida dos indivíduos, construindo-os enquanto sujeitos de uma determinada forma. Sua ação não cuidaria apenas do adestramento dos corpos, mas, sim, de normalizar as condutas, não apenas enquanto grupo, mas também como indivíduos.
Nota-se que ocorreu durante o século XX um deslocamento no campo de análise das ciências sociais e humanas. De uma maneira ampla, verifica-se que aspectos da vida social, que antes eram ignorados ou que recebiam menos atenção, passaram a ser observados com um olhar mais atento. Ao mesmo tempo, novas propostas de análise se constituíram trazendo para o centro dos debates questões que pareciam naturalizadas. Assim, se antes as camadas populares eram entendidas como desprovidas de cultura, observa-se agora que suas práticas trazem em si significados próprios. Também se torna compreensível que muitas práticas, que aparentemente visavam ao bem comum da população representam, na verdade, tentativas de normalizar as condutas e preparar os corpos. Em outras palavras, a partir das alterações nas maneiras de pensar a ciência, abriram-se novas perspectivas para se pensar o social. Assim, percebe-se que o século XX trouxe algumas alterações nas possibilidades de pensar e produzir o conhecimento científico, principalmente no que diz respeito à vida organizada enquanto sociedade. Dentro desse contexto e também como decorrente dele, o século XXI traz problematizações e possibilidades próprias deste início de século e, por isso, essas alterações devem ser examinadas sobre a luz de novas indagações. Pois ao considerar as inúmeras transformações tecnológicas na área das comunicações, das mídias e mesmo da maior integração do mundo trazido pela globalização, torna-se necessário repensar e construir a crítica daquilo que foi produzido ao longo do século XX. Logo, considerando que mudaram os meios de construir e divulgar os discursos e que os modos de ser sujeito foram reconfigurados deve-se verificar o que isso produz para o mundo contemporâneo e, mesmo, em que tipos de sujeitos estamos nos transformando. Em outras palavras, trata-se de avançar nas análises de maneira a acompanhar as alterações que aconteceram nesses últimos anos. Entre as inúmeras mudanças que podem ser percebidas gostaria de dar mais atenção aos discursos que tratam da promoção da saúde, presentes nos meios de comunicação. Mais especificamente, apresentar alguns elementos que permitem pensar que os meios de comunicação, neste caso, uma revista de circulação nacional, atuam na construção de sujeitos saudáveis, preocupados com sua saúde e, principalmente, com a preservação e prolongamento da vida. No entanto, devido ao pouco espaço disponível e também por esta produção ser minha primeira aproximação com o tema, optei por analisar apenas um exemplar da Revista Veja por considerar que ela pode oferecer elementos importantes para reflexão. Cuidados com a vida
Ao longo do tempo, com o consequente desenvolvimento da sociedade industrial, instaurou-se a necessidade de docilizar os corpos de maneira a torná-los mais produtivos. Para além disso, era necessário precaver-se de qualquer possibilidade de perda da capacidade produtiva, não apenas das pessoas enquanto indivíduos mas também do seu conjunto enquanto grupo. Tratava-se, agora, nas sociedades industriais surgidas a partir do século XVII, de extrair o máximo possível das populações. Expressão essa, aliás, que foi ela própria criada nesse período (SIBILIA, 2002). Assim, aquilo que antes era o povo torna-se agora a população e, como tal, precisava ser governada para melhor servir às necessidades do capitalismo incipiente. Será dentro deste processo que irá surgir dois poderes que, complementares, atuarão no disciplinamento dos corpos e na regulação das condutas. Em suas pesquisas Foucault percebeu a ação desses dois poderes, não excludentes, mas complementares que atuam na constituição da sociedade moderna. Um poder disciplinar, que atua no indivíduo e um poder biológico, que atua sobre as massas (FOUCAULT, 2005). Esse poder biológico, ou também chamado biopoder, age na regulação das condutas e, para isso, terá necessidade de mecanismos contínuos, reguladores e corretivos [ ] Um poder dessa natureza tem de qualificar, medir, avaliar, hierarquizar (FOUCAULT, 1999, p.135). Assim, o Estado moderno criou uma série de instrumentos estatísticos que serviam para mapear as condutas dessas populações e, ao mesmo tempo, dar suporte à criação de políticas que visavam prolongar a vida humana. Dessa forma, a medicina e a higiene passaram a ocupar um papel central nessas sociedades marcadas pelo biopoder. Ocupa-se, agora, não mais das causas eventuais de morte, mas daquelas que rotineiramente se apresentam e vão diminuindo a força e efetividade do grupo social. Em outras palavras, tratase agora de encarar "a doença como fenômeno da população." (FOUCAULT, 2005, p.291) Mas como colocar em ação uma política de governamento que aconteça de maneira naturalizada? Como, na contemporaneidade, agiria um biopoder desse tipo para nos construir enquanto sujeitos responsáveis por nosso próprio corpo e nossa própria saúde? De acordo com Rose essa forma de governo depende da proliferação de pequenas instâncias reguladoras ao longo de um território e da multiplicação delas, em um nível 'molecular'. (ROSE, p.38, 1999). Trata-se, então, de colocar em circulação dispositivos que atuem indiretamente na formação de sujeitos de determinados tipos. Sujeitos esses ocupados em cuidar de sua própria saúde e de seu bem estar, principalmente, através das suas próprias escolhas. Assim, para que o biopoder contemporâneo atue na construção desses corpos, é imprescindível que as escolhas pareçam totalmente livres de qualquer direcionamento.
No entanto, permanece a questão posta no parágrafo anterior: como se dá esse processo? Talvez uma possibilidade de resposta esteja relacionada àquilo que Rose denomina como expertises da subjetividade ou engenheiros da alma humana (ROSE, 1999). Através de uma série de discursos de novos profissionais, nossa subjetividade vem sendo construída na direção de um governo do corpo enquanto ser biológico. Para Rose Tem surgido e se multiplicado uma família inteira de novos grupos profissionais, cada um afirmando seu virtuosismo no que diz respeito ao eu, ao classificar e medir a psique, ao predizer suas vicissitudes, ao diagnosticar as causas de seus problemas e ao prescrever remédios. (ROSE, 1999, p.32). Assim, os novos discursos ou novas expertises vão guiando nossas escolhas, atuando como um poder normalizador, já indicado por Foucault (FOUCAULT, 1999). Essas expertises, por sua vez, atuariam como uma flexibilização da lei, pois não se trata de impor a lei, fazendo com que todos tenham, via estatuto, a obrigação de manter seus índices de glicemia dentro daqueles estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde. Aqui trata de fazer com que a população entenda isso como algo adequado, através da repetição e divulgação da importância de manter seus respectivos índices de saúde dentro do tolerável, ou mesmo, do aceitável. De acordo com Rose o governo da subjetividade exige, pois, que as autoridades ajam sobre as escolhas, os desejos e a conduta dos indivíduos de uma forma indireta. (ROSE, 1999, p.42). Como dito anteriormente, ocorre uma alteração substancial no governo da população: deixou de ser um poder que atuava na produção da morte, ou, na autorização da vida para se tornar um governo da produção da vida e na autorização da morte. Em outras palavras, o que importa agora é fazer viver prolongando ao máximo o tempo útil do sujeito. Para além desses novos profissionais, constituiu-se também uma série de novos artefatos culturais que colaboram na circulação dessas expertises. Esses artefatos compreendem desde revistas especializadas em saúde, musculação, comportamento ou nutrição, passando por cadernos especiais de jornais e revistas que, mesmo não possuindo como tema central a promoção da saúde, destinam espaço para o tema. Sem deixar de considerar os programas televisivos que tratam dessa temática em alguma medida, seja como assunto principal, ou então, como edições especiais. O que se percebe é que a questão dos cuidados com a saúde ganhou espaço nos diversos meios de comunicação. Se no início o biopoder tratava de identificar os problemas das populações, quantificado-os e criando aparatos para solucioná-los, atualmente tem-se a impressão que o biopoder atua através da divulgação dessas expertises ou dessas engenharias da alma. Dessa maneira, subjetivando
nossos eus em direção a um sujeito ocupado em ser saudável, preocupado em realizar escolhas saudáveis que permitam que ele próprio, através delas, torne-se mais produtivo e menos dependente dos cuidados do Estado. Essa divulgação, ou, a circulação dessas expertises se dá, na contemporaneidade, entre outras formas, através de diversos meios de comunicação que abrem espaço para que esses discursos cheguem até a população de várias maneiras e em diversos momentos. Ao longo desse processo vamos nos tornando sujeitos de um determinado tipo. A Revista Veja e a promoção de cuidados Assim, levando em consideração o que foi argumentado até aqui e assumindo que os meios de comunicação atuam na divulgação desses discursos acerca dos cuidados com a manutenção de nossa saúde, gostaria de realizar alguns apontamentos sobre o papel da Revista Veja nesse processo. E, além disso, analisar como essa revista atua na divulgação de discursos que tratam dos cuidados com a saúde e do prolongamento da vida. A escolha da Revista Veja explica-se pelo seu forte discurso liberal, que, nas palavras de Maria Ribeiro do Valle contribui para que a revista acabe perpetuando a lógica de um sistema capitalista que se baseia no acúmulo de bens. Essa lógica vai ser transmitida pelos meios de comunicação e isso vai reger o comportamento das pessoas, que tenderão a se comportar de acordo com os modelos apresentados pela mídia. (VALLE, 2012, p.132). Essa perpetuação e construção de comportamentos acaba se alinhando com as disposições do biopoder analisado por Michel Foucault, uma vez que, para o filósofo, o capitalismo atuou na disciplinamento e controle dos corpos, a fim de retirar dos mesmos o seu potencial máximo enquanto trabalhadores. Além disso, trata-se de um veículo de comunicação com amplo alcance na sociedade brasileira, fazendo-se presente tanto através de sua forma impressa como digital. Aliás, praticamente todo o seu acervo pode ser obtido de forma gratuita ao acessar o site da revista, em sua sessão Acervo Digital. Dessa maneira, considerando a facilidade de acesso à Revista acabei escolhendo sua edição 2402, ano 47, nº49 de 3 de dezembro de 2014 para realizar uma breve análise. Convém destacar que, devido ao pouco espaço disponível no presente texto, não colocarei imagens dos anúncios ou outras imagens, apesar de citá-los quando compreender necessário. A preferência aqui será dada aos textos escritos, como reportagens e entrevista da referida edição. A edição aqui analisada traz como matéria principal, estampada em sua capa, a transição na equipe que irá governar o Ministério da Fazenda a partir do mês de Janeiro.
Assim, boa parte desse número trata de questões relativas à administração pública nos seus mais diferentes aspectos, como a contenção de despesas por parte da máquina pública e o maior incentivo a determinados setores da indústria. Em outras palavras, boa parte da edição analisada ocupa-se de elementos de caráter político, o que de certa maneira não é estranho, uma vez que em poucos dias haveria a mudança de comando em diversos ministérios, o que, por si só, já ocuparia muito espaço em qualquer jornalístico. No entanto, apesar dessa maior ênfase a esse assunto, a temática do cuidado e promoção da saúde se faz presente nessa edição, principalmente em três momentos: na entrevista da edição, com o cardiologista italiano Marco Bobbio; nos anúncios de seguros; e também nos anúncios de alimentos que se inserem na chamada linha saudável, normalmente aqueles que são descritos como sem gordura ou ligth. De qualquer maneira, o que se pretende não é analisar de maneira isolada cada um desses itens ou reproduzi-los por aqui, mas, sim, demonstrar como esses elementos participam de um discurso articulado que trata, essencialmente, de divulgar modos saudáveis de vida. Como já referido anteriormente, a temática da saúde não ocupa o espaço central nessa edição, no entanto, nem por isso o tema fica ausente na revista. A começar pela entrevista do cardiologista Marco Bobbio, a qual apresenta já em seu título, Moderação e serenidade, a ideia central defendida por ele. Para o médico, a prevenção de doenças aconteceria através de um estilo de vida saudável, marcado pelo equilíbrio como forma adequada para se prevenir possíveis doenças. Para o entrevistado, mais que realizar exames preventivos, trata-se de levar uma vida equilibrada, ou serena. Além de propor uma vida marcada pelo equilíbrio na alimentação e nos demais hábitos de vida, o cardiologista também atua na desconstrução da prática médica, alegando que boa parte dos exames apresenta falso positivo ou falso negativo. Em outras palavras, os exames, de acordo com o entrevistado, não dariam conta de realmente atestar o quadro de saúde do paciente. A desconstrução da medicina enquanto prática preventiva parece indicar uma proposta de ação onde os sujeitos seriam menos dependentes da ciência médica e tornariam se assim, responsáveis por sua própria saúde. Mais do que colocar a confiança na medicina e na sua expertise, estaria nas mãos das pessoas adotarem as medidas adequadas para construírem suas próprias vidas saudáveis. Essa construção de vida saudável insere-se naquilo que já foi apontado acima como a ação de uma engenharia da alma, que visa nos construir enquanto sujeitos modernos (ROSE, 1998). Temos aqui um exemplo da ação de um biopoder que,
atuando através de novas expertises ou novas tendências na área da saúde, vem construindo nossas subjetividades enquanto sujeitos pós-modernos. Além da entrevista no interior da revista é possível identificar alguns anúncios e peças publicitárias que acabam atuando como discursos não-escritos que corroboram o expresso na entrevista citada acima. De forma similar ao que ocorre com as reportagens, os anúncios não são todos sobre saúde ou mesmo fazem referência a elementos desse tipo. No entanto, alguns desses anúncios divulgam valores que remetem à ideia do cuidado com a saúde e com estilos de vida saudáveis. Anúncios de alimentos sem gordura ou light, a divulgação de anúncios onde a atividade física encontra-se relacionada a uma possível velhice mais saudável. Ou, ainda, a imagem de uma família feliz, reunida em torno de uma mesa, preparando salada. Essas imagens acabam atuando como discursos que colaboram na construção de subjetividades que visam nos construir enquanto sujeitos saudáveis. Os discursos presentes na Revista Veja ao menos considerando a edição que estou analisando atuam no sentido de construir a subjetividade de seus leitores na direção de sujeitos que se ocupem de cuidar de sua própria saúde, que construam suas próprias vidas e, mais precisamente, se ocupem de agir na construção de um estilo de vida saudável. Esse discurso, por sua vez, procura mais que se preocupar com a saúde das pessoas, buscando também construir determinados tipos de sujeitos que atuem em sua autoregulação. Essa regulação, imposta aos sujeitos por eles próprios, educados para isso através dos meios de comunicação, procura atuar naquilo que Foucault chamou de normalização das condutas (FOUCAULT, 1999). Essa normalização aconteceria através da ação de um biopoder que procuraria governar todos os indivíduos através de diversos dispositivos que atuariam na divulgação de discursos, tal como o de vida saudável, já referido acima, em meios de comunicação, como o que analisamos aqui. Outro ponto a ser considerado aqui é a relevância dada a ideia de prevenção ou do precaver-se contra possíveis problemas futuros. Os diferentes anúncios de seguros presentes na revista indicam, entre outras coisas, uma preocupação em assegurar que a população tenha sempre que possível alguma espécie de garantia para uma vida tranquila no futuro. Ou, ao menos, que pense estar garantido contra possíveis problemas. Essa tranquilidade se daria através da contratação de seguros de vida ou de planos de saúde que permitiriam às pessoas não mais se preocuparem com possíveis incidentes. Por outro lado, esses anúncios também podem indicar outro aspecto da lógica capitalista. A oferta de seguros e a insistência para que as pessoas adquiram esse tipo de produto pode representar, também, uma tentativa de
construir, junto aos leitores da revista, a ideia de buscar proteção para além daquela oferecida pelos meios tradicionais, neste caso, os sistemas de saúde, sejam privados ou públicos. Em ambos os casos, essa prática levaria em consideração a constante preocupação em diminuir custos, tanto no sistema público como no sistema privado. Atualmente alguns pesquisadores têm voltado suas atenções para compreender esses processos e de que maneira esse tipo de discurso tem nos construído enquanto sujeitos. Para Alfredo Veiga-Neto, refletindo sobre as contribuições de Foucault, uma importante questão a ser respondida seria entender de que maneiras nós mesmos nos constituímos como sujeitos modernos, isto é, de que maneiras cada um de nós se torna essa entidade a que chamamos de sujeito moderno. (VEIGA-NETO, 2005, p.131). Parte da resposta a esse tipo de questionamento poderá ser alcançada a partir do momento em que concentrarmos nossos esforços e curiosidade para buscar entender por que, cada vez mais, os meios de comunicação, as lojas e franquias, diferentes profissionais, publicações especializadas ou nãoespecializadas, enfim, os diversos espaços e atores da sociedade têm procurado divulgar e investir em cuidados com nossa vida enquanto ser biológico. Conclusão Apesar de este artigo representar uma primeira aproximação com a temática aqui analisada, acredito que os apontamentos realizados indicam um movimento curioso. Inicialmente acreditava que as reportagens e demais itens apresentariam uma forte preocupação com os cuidados com a saúde. No entanto, um olhar mais atento revelou que as imagens e reportagens dispostas na revista tratam, essencialmente, de prevenção, de um cuidado que anteceda a doença ou mesmo a necessidade de qualquer tipo de cuidado. Ao oferecer seguros e insistir em hábitos saudáveis percebe-se que o governamento das pessoas se dá através do reforço constante da ideia de prevenção. E, junto a isso, a insistência na comercialização de produtos e valores vinculados à prevenção e a um cuidado que anteceda a própria ocorrência de qualquer incidente. É bem possível que futuras análises envolvendo corpos documentais mais extensos possam mostrar outras informações e padrões discursivos presentes tanto na Revista Veja, como em outros artefatos midiáticos. Referências Bibliográficas FOUCAULT, Michel. A história da sexualidade. Vol.I a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005. HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções de nosso tempo. Educação & Realidade. Porto Alegre, v. 22, nº2, p. 15-46,jul./dez. 1997. MILLER, Peter; ROSE, Nikolas. Governando o presente. São Paulo: Editora Paulus, 2012. ROSE, Nikolas. Governando a alma: formação do eu privado. In.: Liberdades Reguladas a pedagogia construtivista e outras formas de governo do eu. Petrópolis: Vozes, 1999. SIBILIA, Paula. O homem pós-orgânico: Corpo, subjetividade e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará, 2002. VALLE, Maria Ribeiro do. A imprensa entre o civismo, o papel histórico e o sensacionalismo. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1809-58442012000200007&script=sci_arttext. Acessado em 02 de Janeiro de 2014. VEIGA-NETO, Alfredo. Foucault & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica; 2005.