Dança dos Espíritos Uma Noite no Centro de Candomblé



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Dança dos Espíritos Uma Noite no Centro de Candomblé Pedro Vale de Andrade Arruda CÂMARA 1 Emanoel Francisco Pinto BARRETO 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN RESUMO A reportagem impressa Dança dos Espíritos apresenta um retrato das práticas e costumes dos praticantes do candomblé do centro Ilê Axé Dajó Obá Ogodô, localizado no município de Extremoz-RN. A matéria consiste em um relato descritivo, com características do New Journalism, da celebração de um xirê comemorativo ao Dia das Mães no centro e entrevistas com os participantes do culto, abordando assuntos como a história do candomblé, a experiência de se incorporar um orixá e a marginalização das religiões de origem africana no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: candomblé; Extremoz-RN; New Journalism; xirê. 1. INTRODUÇÃO A reportagem Dança dos Espíritos foi desenvolvida no âmbito do Jornal Livre, projeto de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sob orientação do professor Emanoel Francisco Pinto Barreto e que tem como objetivo integrar os alunos de Comunicação Social em todas as etapas do processo de produção de um jornal impresso, desde a elaboração da pauta à diagramação das páginas. A matéria sobre a qual versa este relato foi produzida no primeiro semestre de 2012 para a edição número 01 do Jornal Livre, que não chegou a ser impressa. O tema de Dança dos Espíritos surgiu espontaneamente entre os estudantes que então faziam parte do conselho editorial do Jornal Livre e foi desenvolvido em uma pauta completa após constatar-se a relevância do assunto. Foi opinião unânime dos participantes do projeto de extensão que as religiões afro-brasileiras são abordadas de maneira escassa e excessivamente formal pela mídia potiguar, merecendo uma abordagem mais humanizada e rica em detalhes pela equipe de reportagem do Jornal Livre. Através de uma das alunas participantes do projeto conseguiu-se o contato do babalorixá (pai de santo) Melquisedec Rocha, fundador do centro Ilê Axé Dajó Obá Ogodô 1 Aluno líder do grupo e estudante do 5º. Semestre do curso de Comunicação Social Jornalismo (UFRN), email: pedrodude@hotmail.com. 2 Orientador do trabalho. Professor do curso de Comunicação Social Jornalismo (UFRN), email: e.barreto@ufrnet.br. 1

(Casa da Energia e Justiça do Reio Ogodô, no idioma Ketu), que convidou a equipe do Jornal Livre a presenciar o xirê - termo usado para designar a cerimônia pública do culto candomblecista e que significa brincadeira, no idioma Ketu da noite da véspera do Dia das Mães. O centro Ilê Axé Dajó Obá Ogodô foi inteiramente construído pelo babalorixá Melquisedec e seu séquito de aproximadamente 120 candomblecistas no ano de 2010. Além do candomblé, a casa também serve como centro para realização das práticas religiosas tradicionais nordestinas da Jurema Sagrada. 2. OBJETIVO O objetivo da reportagem Dança dos Espíritos é apresentar ao público geral uma visão humana e completa do que é o candomblé e quem são os seus praticantes. Para que fosse possível traçar um quadro do que significa o candomblé, a equipe de reportagem procurou responder na matéria questões referentes à origem da religião e sua chegada ao Brasil; os costumes, dogmas e mitos da prática candomblecista; a relação dos frequentadores do centro Ilê Axé Dajó Obá Ogodô com a comunidade e com as igrejas locais e a discriminação e preconceito que os praticantes de religiões afro-brasileiras enfrentam. 3. JUSTIFICATIVA Embora amplamente praticadas em todo o país e de grande significação histórica e cultural, as religiões afro-brasileiras ainda representam uma incógnita para parte significativa dos brasileiros. Os costumes e peculiaridades de religiões como o candomblé - como o sacrifício de animais e a incorporação de orixás - são vistas com desprezo e preconceito, e não é raro que seus praticantes sejam denegridos e marginalizados. Embora o Brasil seja um país laico e com liberdade de culto, o simples dever de seguir seus dogmas religiosos ainda pode ser considerado, para os candomblecistas, um ato de resistência cultural. São especialmente frequentes os conflitos com as igrejas cristãs neopentecostais, que, como afirma o professor Reginaldo Prandi, costumam demonizar as religiões afrobrasileiras: O neopentecostalismo leva ao pé da letra a ideia de que o diabo está entre nós, incitando seus seguidores a divisá-lo nos transes rituais dos terreiros de candomblé e 2

umbanda (PRANDI, 2004). Algumas dessas igrejas chegam a transformar em espetáculo a conversão de supostos ex-candomblecistas e umbandistas: Pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, em cerimônias fartamente veiculadas pela televisão, submetem desertores da umbanda e do candomblé, em estado de transe, a rituais de exorcismo, que têm por fim humilhar e escorraçar as entidades espirituais afro-brasileiras incorporadas, que eles consideram manifestações do demônio (Mariano, 1999, apud PRANDI, 2004). Levando em consideração a maneira como o candomblé e outras religiões afrobrasileiras são geralmente abordados pelos veículos tradicionais de comunicação de massa, optou-se pela produção de uma reportagem que retratasse o xirê de Dia das Mães do centro Ilê Axé Dajó Obá Ogodô e seus participantes de maneira mais pessoal, íntima e humanizada do que ditam os padrões jornalísticos clássicos. O motivo dessa escolha estilística foi causar uma sensação de aproximação entre o leitor e a situação descrita, em vez do alheamento usual que resultaria de uma matéria escrita de maneira objetiva, distante e fria. Dito isso, pode se considerar o texto de Dança dos Espíritos como seguindo a lógica do New Journalism que eclodiu nos Estados Unidos nos anos 60 e pode ser resumido como uma espécie de jornalismo que se vale de recursos literários na construção textual e no qual opiniões e interferências do repórter no assunto abordado são cabíveis. Um dos maiores expoentes desse gênero, o jornalista norte-americano Gay Talese, assim descreve o New Journalism nas notas do autor que acompanham suas reportagens na coletânea Fama e Anonimato : O novo Jornalismo, embora possa ser lido como ficção, não é ficção. É, ou deveria ser, tão verídico, como a mais exata das reportagens, buscando embora uma verdade mais ampla que a possível através da mera compilação de fatos comprováveis, o uso de citações, a adesão ao rígido estilo mais antigo. O novo jornalismo permite, na verdade exige, uma abordagem mais imaginativa da reportagem e consente que o escritor se intrometa na narrativa se o desejar, conforme acontece com freqüência, ou que assuma o papel de observador imparcial, como fazem outros, eu inclusive (TALESE, 2004). 4. MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS A produção da reportagem Dança dos Espíritos teve como bases metodológicas a pesquisa online e a apuração do xirê em si, que se deu através da observação do ambiente e 3

de entrevistas com os participantes da cerimônia. Após ter se combinado com o babalorixá Melquisedec Rocha o encontro no centro Ilê Axé Dajó Obá Ogodô, realizou-se uma pesquisa em documentários e na Internet a respeito da história, mitologia, crenças e costumes do candomblé. No dia da cerimônia, foram utilizadas as técnicas de apuração jornalística de observação e entrevista. Tratando-se de um relato baseado no New Journalism, a observação do ambiente e das pessoas consistiu na parte mais significativa do trabalho. Não foram utilizados gravadores o repórter contou apenas com bloquinho e caneta para anotar algum detalhe mais específico e manter o rigor dos dados obtidos com os entrevistados. O propósito dessa escolha foi imprimir o caráter mais pessoal desejado ao texto, que, embora amparado pelas anotações para não pecar na precisão dos fatos, foi escrito principalmente baseado nas lembranças do repórter. Foram realizadas duas entrevistas, uma com o próprio babalorixá Melquisedec e outra com sua filha, Flaviana Rocha, que incorporou o orixá Oxum durante o xirê. Dois fotógrafos do Jornal Livre completaram a equipe de reportagem. Uma particularidade no trabalho dos dois foi o cuidado para não fotografar nenhum orixá incorporado de frente, o que é proibido pelos candomblecistas e acabaria prejudicando o bom andamento do xirê. 5. DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO O produto jornalístico constituído por Dança dos Espíritos é uma reportagem nos moldes do New Journalism: detalhes que poderiam ser considerados irrelevantes em um texto jornalístico clássico, como a descrição detalhada da aparência dos personagens ou o relato do caminho que a equipe de reportagem precisou percorrer para chegar ao local da ação, são dispostos na matéria de maneira a dar mais textura à reportagem e aproximar o leitor da ação. O lead do texto, que consiste na narração de uma das danças realizadas no xirê de Dia das Mães do centro Ilê Axé Dajó Obá Ogodô, é representativo dessa opção estilística por uma reportagem com veia literária e que pode ser lida como um conto ou romance, embora o rigor jornalístico nunca seja deixado de lado. Essa característica de se assemelhar a uma obra de ficção é um elemento predominante nos textos do New Journalism, como pode ser evidenciado pela abertura de Joe Louis: o Rei como Homem de Meia Idade, 4

história sobre o lutador de boxe Joe Louis publicada por Gay Talese na revista Esquire em 1962 que quebrou com os padrões jornalísticos então vigentes: - Olá, querida - gritou Joe Louis a sua mulher ao vê-la o esperando no aeroporto de Los Angeles. Ela sorriu enquanto aproximava-se e quando estava a ponto de ficar na ponta dos pés para lhe dar um beijo, deteve-se de pronto. Joe, onde está sua gravata? perguntou. Ai, querida ele desculpou-se encolhendo os ombros estive fora toda a noite em Nova York e não tive tempo... (...) (Talese apud WOLFE, 1976). Como Dança dos Espíritos foi pensada para ser publicada em um jornal impresso, a reportagem conta com duas retrancas e um box que, embora de certa forma quebrem a unidade narrativa do texto, são necessários para possibilitar uma diagramação das páginas dinâmica e de leitura mais agradável ao olhar. Enquanto as observações sobre o xirê em si constituem o corpo da reportagem, tanto a entrevista com o babalorixá Melquisedec e com sua filha Flaviana estão dispostas em retrancas próprias; o box, por sua vez, é um pequeno quadro com informações sobre a história do candomblé e é exclusivamente fruto da pesquisa realizada anteriormente à apuração do xirê em si. 6. CONSIDERAÇÕES Apesar de todas suas diferenças e particularidades, a prática do candomblé é apenas uma manifestação religiosa como todas as outras. O estranhamento que a própria equipe de reportagem ainda sentia antes da apuração do xirê em relação à maneira com que os candomblecistas manifestam sua espiritualidade foi dissipado no transcorrer da cerimônia, que no final mais se assemelhava a uma espécie de missa festiva e com danças. Percebeu-se que o companheirismo e a solidariedade que os frequentadores do centro Ilê Axé Dajó Obá Ogodô demonstravam de uns para os outros apresentam um forte contraste com os rótulos de satânica e demoníaca que certas pessoas e entidades, como algumas igrejas neopentecostais, atribuem à prática do candomblé. Por outro lado, o que se encontrou no centro do babalorixá Melquisedec foram pessoas que, a despeito de sua religião, estão disposta a colaborar como puderem para a comunidade e até com as igrejas do município de Extremoz. No final de todo o processo de produção de Dança dos Espíritos, ficou evidente que os preconceitos que parte dos brasileiros têm e que a equipe de reportagem do Jornal Livre 5

tinha acerca das religiões afro-brasileiras decorrem não das particularidades dos costumes religiosos como o sacrifício de animais ou a incorporação de orixás, mas sim do desconhecimento; essa constatação, por sua vez, corroborou a escolha de se produzir uma reportagem com elementos do New Journalism, de maneira a oferecer um relato mais humano e substancial do que seria possível através de um texto jornalístico tradicional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PRANDI, Reginaldo. O Brasil com Axé: Candomblé e Umbanda no Mercado Religioso. Estudos Avançados, São Paulo, v. 18, nº 52, 2004. TALESE, Gay. Fama e Anonimato. São Paulo: Cia. das Letras, 2004. WOLFE, Tom. Radical Chique e o Novo Jornalismo. São Paulo: Cia. das Letras, 2005. 6