O SR. JOSUÉ BENGTSON (PTB-PA) pronuncia o seguinte discurso: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a sociedade brasileira está sob nova e seriíssima ameaça. É sobre essa ameaça que desejo nesta oportunidade me dirigir aos nobres Colegas. Falo do problema do alcoolismo entre jovens, que, independentemente da classe social, assim como do grau de escolaridade, não pára de crescer. Constitui fenômeno em vários países, assola o Brasil e aflige o meu Estado do Pará. O álcool está classificado como droga. A exemplo do cigarro, é considerada droga lícita, mas nem por isso inócua. Os maiores perigos que apresenta consistem, em primeiro lugar, na aceitação, do ponto de vista social, e, em segundo, na fiscalização quase inexistente, quanto a fazer cumprir os controles estabelecidos pela legislação. Sabemos todos das conseqüências do consumo abusivo do álcool, em qualquer idade. Ao lado dos
2 distúrbios de natureza psicológica, com claras alterações da percepção da realidade, o consumo de bebidas enseja o recrudescimento de comportamentos de risco, o surgimento de doenças, o aumento dos índices de acidentes de trânsito e violência doméstica, o consumo de outras drogas, numa escalada progressiva, muitas vezes de dificílimo retorno. Existe uma relação direta entre álcool e delinqüência; álcool e criminalidade; álcool e miséria; álcool e desagregação familiar; álcool e debilitação do organismo; álcool e morte. Imaginem, nobres Colegas, essa mesma devastação num ser ainda em formação, seja física, seja psiquicamente, por vezes mal saído da infância, vulnerável, portanto, sob todos os aspectos. Infelizmente, porém, Senhoras e Senhores Deputados, nobres Colegas, crianças e adolescentes são vítimas hoje de uma cultura perversa, que disseminou o conceito de que não há diversão sem excesso de bebida
3 alcoólica. Beber tornou-se uma obrigação cobrada pelo grupo de amigos, com o qual o jovem tem necessidade de se afirmar. Não o fazer implica ser excluído da balada, que é como se denominam, no linguajar atual, as festinhas que varam as madrugadas e onde outras drogas, como maconha, cocaína e ecstasy também aparecem fartamente, primeiro, ofertadas, depois, vendidas ao preço do pequeno furto doméstico, do roubo, do comércio do sexo, enfim, de todo tipo de violência. Podem alguns dizer que estou indo longe. Lamento, porém. É disso que se trata, Senhor Presidente, e minha preocupação torna-se tanto maior quando sei, pelo que vejo e tenho lido, que, hoje, nem pais nem educadores sabem como enfrentar o desafio de lidar com o problema. Não é outra a conclusão de pesquisa realizada, já no ano de 2000, pela psicóloga Cristina Bardelli, do Instituto de Psicologia da USP. Segundo o estudo, de 140
4 professores de ensino fundamental e médio entrevistados, somente 44 faziam algum tipo de prevenção do uso de bebida alcoólica. Não sei, no entanto, se o trabalho desses mestres produziu algum efeito, até porque o faziam em condições de modo geral precárias, sem apoio especializado, sem a participação dos pais ou o estímulo da direção do estabelecimento. De toda maneira, a pesquisa da Professora Cristina define alguns traços característicos, dentro do universo de alunos: vínculos familiares esgarçados; exemplos dentro da própria casa (não raro, o jovem tem parentes vítimas de alcoolismo); desrespeito à autoridade dos pais; influência dos grupos de inserção, dentro e fora do ambiente de ensino; insegurança típica da idade; facilidade de aquisição, em bares, boates, clubes e pontos de venda próximos às escolas, que não fazem nenhuma restrição à
5 faixa etária. Deixa de dizer, mas é de supor, que esses jovens apresentam baixos índices de desempenho escolar. A autora defende a necessidade de uma abordagem pedagógica do eventual consumidor de álcool, usando a experiência e os relatos de outros estudantes, como ponto de partida para uma reflexão conjunta. Pais e familiares, igualmente, precisam de ajuda, para aprender a lidar com o problema, antes que ele se torne uma doença. Não obstante, Senhor Presidente, é necessário enfatizar a repressão. A lei prevê prisão em flagrante para quem vende ou fornece bebida alcoólica a menores de idade e não discrimina se é o dono do bar ou o próprio pai, dentro do lar. A propósito, nobres Colegas, uma pequena nota na edição da revista Isto É, datada de 1.º de dezembro, informa sobre uma outra pesquisa feita no Rio de Janeiro, com 1.700 mulheres, pela Fiocruz, UFRJ e Conselho Antidrogas. Sugestivamente, tem o seguinte
6 título: Da porta da rua para dentro. E assevera que pais e familiares são, em grande número, responsáveis pelo primeiro contato com drogas, segundo 83% das entrevistadas. Cerca de 53% atribuíram às bebidas alcoólicas a iniciação em outros vícios. A autoridade não pode fazer vista grossa a isso. A legislação aí está para ser cumprida, pois é da complacência para com atitudes aparentemente inofensivas que se tem chegado a grandes dramas humanos, à débâcle social, ao caos nas grandes cidades, já atingindo as menores, também. Com a última palavra sobre a matéria, fica então a Secretaria Nacional Antidrogas. Por seu turno, a sociedade, que se assusta, agastase e clama por providências, é a mesma que tolera e se flexibiliza, diante do pequeno delito, da leve inobservância da norma legal, do primeiro limite ultrapassado. É uma
7 cultura tipicamente brasileira, que precisa mudar, Senhor Presidente. O custo social e até mesmo material, para o Estado, é insuportável. Isso posto, Senhoras e Senhores Deputados, quero por último afirmar o meu total engajamento nessa verdadeira cruzada contra o alcoolismo, que somos chamados a iniciar, bem assim a minha disponibilidade em participar de todas as ações que visem a combatê-lo no meio jovem. E conclamo a todos a fazerem o mesmo. Sr. Presidente, solicito que meu pronunciamento seja divulgado nos meios de comunicação da Casa e no programa A Voz do Brasil. Muito obrigado. 2004_13089_Josué Bengtson_181