pesquisa Cultura no Brasil



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Transcrição:

pesquisa Cultura no Brasil

I NTRODUÇÃO No senso comum a palavra cultura é usada como sinônimo de conhecimento e erudição. Porém, é um termo com várias acepções e diferentes níveis de profundidade e especificidade. O estudo O hábito de lazer cultural do brasileiro elaborado pelo Sistema Fecomércio- RJ que abrange Fecomércio-RJ, Sesc Rio e Senac Rio com base na pesquisa Perfil do consumo de cultura do brasileiro, encomendada à Ipsos Public Affairs, não pretende analisar os hábitos de cultura do brasileiro, mas os hábitos de lazer relacionados à cultura, como ler um livro, assistir a um filme no cinema, visitar exposições, ir ao teatro e a espetáculos de dança. O levantamento, de abrangência nacional, foi realizado em mil domicílios situados em 70 cidades e 9 regiões metropolitanas, e procurou compreender a visão da população sobre atividades culturais de lazer; os motivos que a levam ou não a procurar por essas atividades e a avaliação dos consumidores sobre sua participação no ambiente cultural. A apuração se deu entre os dias 23 e 30 de janeiro, com uma margem de erro de três pontos percentuais. Capa - quadro de Tarsila do Amaral - Abaporu - Tarsila pintou um quadro para dar de presente para o escritor Oswald de Andrade, seu marido na época. Quando viu a tela, assustou-se e chamou seu amigo, o também escritor Raul Bopp. Ficaram olhando aquela figura estranha e acharam que ela representava algo de excepcional. Tarsila lembrou-se então de seu dicionário tupiguarani e batizaram o quadro como Abaporu (o homem que come). Foi aí que Oswald escreveu o Manifesto Antropófago e criaram o Movimento Antropofágico, com a intenção de deglutir a cultura européia e transformá-la em algo bem brasileiro. Este Movimento, apesar de radical, foi muito importante para a arte brasileira e significou uma síntese do Movimento Modernista brasileiro, que queria modernizar a nossa cultura, mas de um modo bem brasileiro. O Abaporu foi a tela mais cara vendida até hoje no Brasil, alcançando o valor de US$1.500.00. Foi comprada pelo colecionador argentino Eduardo Costantini. Texto retirado site oficial www.tarsiladoamaral.com.br As instituições que compõem o Sistema Fecomércio-RJ têm como missão: contribuir para a formação e desenvolvimento da cidadania, das potencialidades do ser humano e do bem estar social; criar condições para que pessoas e organizações possam viver e empreender na sociedade do conhecimento, aprimorando as atividades de comércio de bens, serviços e turismo e; promover e incentivar o crescimento empresarial, em harmonia com o desenvolvimento sustentável da sociedade. Sendo assim, por agregar todos os objetivos acima e considerar a cultura um dos principais meios de inserção social, um fator essencial para o desenvolvimento do país, o Sistema Fecomércio-RJ decidiu tomar o pulso do brasileiro sobre o assunto. A meta é repensar o papel da cultura numa sociedade moderna que não considera lazer cultural uma forma de entretenimento. Para isso, é preciso agregar esforços. É fundamental uma política de parceria público-privada. Mas seria leviano transferir a responsabilidade apenas para o governo e iniciativa privada. É necessário um esforço individual do cidadão para que em um futuro não muito distante a população brasileira possa ser formada por consumidores de cultura. Fecomércio-RJ - 1

CULTURA NO BRASIL: UMA QUESTÃO DE FALTA DE HÁBITO Mais da metade dos entrevistados (55%) não leu nenhum livro, não foi ao teatro, não visitou nenhuma exposição de arte, assistiu a um show de música ou dança ou sequer foi ao cinema em 2007. O motivo: falta de hábito ou gosto. É o que revela o estudo da Fecomércio-RJ sobre O O hábito de lazer cultural do brasileiro, encomendada à Ipsos Public Affairs. O levantamento aponta também para uma inércia em relação à cultura, que passa necessariamente pela questão intergeracional - em geral, os pais não têm o hábito de freqüentar ambientes culturais, como museus, cinema ou teatro, e por isso, não estimulam os filhos. Conforme podemos perceber pela leitura das tabelas a seguir, esta análise independe do gênero, da faixa etária, da classe social, da renda ou do grau de escolaridade. Fecomércio-RJ - 2

Por que não leu algum livro? Fecomércio-RJ - 3

Por que não assistiu a alguma peça de teatro? Fecomércio-RJ - 4

Por que não visitou alguma exposição de arte (escultura, pintura, fotografia)? Fecomércio-RJ - 5

Por que não foi ao cinema? Fecomércio-RJ - 6

Por que não foi a algum show de música? Fecomércio-RJ - 7

Por que não foi a algum espetáculo de dança? Fecomércio-RJ - 8

UMA VISÃO DISTORCID ORCIDA: POUCO É SUFICIENTE A opção ler um livro aparece no topo do ranking de preferências dentre a minoria (45%) que usufruiu de pelo menos uma das atividades culturais listadas na pesquisa. Em 2007, você... (pergunta feita para todos os entrevistados, os que freqüentam ou não ambientes culturais) A preferência pelo livro encontra justificativa por ele estar mais ao alcance da população e ter o benefício de permitir uma ampla circulação de um mesmo produto. Show de música e cinema também são favorecidos pela pulverização, apesar do baixo número de salas de cinema num país de dimensões continentais como o Brasil. Segundo o IBGE, 89,1% dos municípios brasileiros possuem bibliotecas públicas. No caso de teatros, essa proporção é de 21,2% e no de salas de cinema, 8,7%. Não se trata, no entanto, apenas de um problema de falta de salas. A ausência de equipamentos está diretamente relacionada à indiferença da população em relação a programas como teatro ou cinema. É preciso considerar ambos os fatores: a falta de incentivos por parte do poder público e a inércia da maioria da população diante da agenda cultural. Fecomércio-RJ - 9

Além do baixo percentual de pessoas que consomem bens culturais, o número de livros lidos, espetáculos de teatro, dança e música assistidos, exposições de arte visitadas e filmes assistidos no cinema é ínfimo. Apesar disso, metade dos usuários avalia que o volume consumido é suficiente. Você avalia que foi um número de vezes (ou livros) suficiente? Isso reforça a análise de que, até para a pequena parcela que freqüenta ambientes culturais, o hábito ainda não é intrínseco ao seu cotidiano. Por exemplo, o leitor brasileiro e o freqüentador de cinema lê um livro e vê um filme, em média, a cada dois meses e meio. Em 2007, quantas vezes você: Fecomércio-RJ - 10

UMA OPÇÃO: NÃO CONHEÇO, POR ISSO NÃO GOSTO A pesquisa revela ainda que 24% da população não gostam de nenhuma das atividades culturais citadas. Dentre as listadas, o cinema é opção de lazer cultural preferida dos brasileiros, apesar de não ser a mais consumida. Esse cenário ilustra que o brasileiro não se aventura em atividades que não conhece o nível de desconhecimento cultural da população é elevado e dentro do quadro de opções o cinema é o que lhe parece mais confortável, devido à semelhança com a televisão. Por or ordem de preferência, o que você mais gostaria de fazer? Além de boa parte da população abrir mão do acesso a qualquer alternativa acima, a maioria ainda demonstra sinais de que não vai sair dessa inércia em 2008 e optar por uma aproximação com a cultura. Fecomércio-RJ - 11

VAL ALOR OR: PAGO MUITO PELO MEU DESCONHECIMENTO A pesquisa sinaliza também o valor que o brasileiro acha justo pagar, em reais, por cada um dos bens culturais citados. Pelos valores sugeridos podemos observar que o consumidor acha coerente pagar pelo produto o piso ou uma média dos preços disponíveis no mercado, seja ele formal ou informal. Apesar de estar presente no consciente coletivo que o preço é o fator decisivo para a baixa presença do público nos espetáculos culturais, o levantamento apurou que esse fator muitas vezes não chega a ser cogitado. A falta de hábito ou gosto por este tipo de programa normalmente aparece como primeiro obstáculo e impede o consumidor até mesmo de pensar na viabilidade do custo. Fecomércio-RJ - 12

CONCL ONCLUSÃO E PROPOSTA: A leitura detalhada do estudo O O hábito de lazer cultural do brasileiro mostra que a falta de estímulo à cultura gerou um ciclo que perdura por gerações no país. Seja na família, no círculo de amizades ou na escola, a costumeira socialização a que estamos sujeitos, não incentiva o jovem a criar hábitos culturais como os abordados pela pesquisa. Em geral, os pais não passam para os filhos os hábitos culturais porque a maioria deles os desconhece. Na escola, a qualidade do ensino ainda deixa a desejar e a não gera a motivação necessária. Para se ter uma idéia da situação da cultura no Brasil, em 2006, apenas 4,2% dos municípios brasileiros tinham uma secretaria municipal exclusiva para a cultura, segundo o IBGE. A despesa dos municípios brasileiros na área era de 0,9% do total da receita arrecadada, o que ajuda a explicar os números de salas de teatro ou cinema no país. É preciso uma ruptura com os paradigmas, um esforço nacional de longo prazo para interromper a inércia da falta de incentivo aos hábitos de cultura. Afinal, para gostar, é preciso conhecer, e a valorização de hábitos culturais tem que começar cedo. A cultura forma uma sociedade mais consciente, compõem a identidade do cidadão, que respeita a si mesmo e ao outro tanto quanto valoriza a sua cultura. Ela é fundamental para auto-estima de um povo, para formar valores éticos e solidários em um país com manifestações culturais tão ricas como o Brasil. Fecomércio-RJ - 13