O MERCADO DE ALGODÃO ARBÓREO NO ESTADO DO CEARÁ UMA AVALIAÇÃO ECONÔMICA wagrotec@hotmail.com



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Transcrição:

O MERCADO DE ALGODÃO ARBÓREO NO ESTADO DO CEARÁ UMA AVALIAÇÃO ECONÔMICA wagrotec@hotmail.com POSTER-Desenvolvimento Rural, Territorial e regional FRANK WAGNER ALVES DE CARVALHO 1 ; FRANCISCO DELEON DOMINGOS ALVES 2 ; LEÍLSON COSTA GRANJEIRO 3 ; FRANCISCO CLÁUDIO LOPES FREITAS 4 ; JOAQUIM BRANCO DE OLIVEIRA 5. 1,2,5.INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ - CAMPUS IGUATU, IGUATU - CE - BRASIL; 3,4.UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO - UFERSA, MOSSORÓ - RN - BRASIL. O MERCADO DE ALGODÃO ARBÓREO NO ESTADO DO CEARÁ UMA AVALIAÇÃO ECONÔMICA RESUMO: A cotonicultura se reveste de grande importância para o Nordeste, e especialmente para o Ceará, possuidor do segundo pólo têxtil do país. As atividades ligadas ao algodão geravam milhares de empregos no Estado do Ceará, sendo estas atividades realizadas, muitas vezes, em conjunto com outras culturas de subsistência, como o Milho e o Feijão. Segundo dados da CEPA (1986), a cultura algodoeira ocupou em 1984, o primeiro lugar em área cultivada com 792.932 hectares, o que representava 37,10% da área total cultivada do Estado. Em termos de valor bruto da produção a cultura do algodão também alcançou o primeiro lugar com uma cifra em torno de Cr$ 810 milhões (preços de 1985), o que correspondia a 15,60% do valor bruto da produção total do Estado, superando até mesmo os produtos bovinos e da área de pescado que participaram com 13,50% e 13,70%, respectivamente. Fazendo a relação apenas em termos de lavouras, a participação percentual do algodão no valor bruto da produção chegou a 31,0%, obtendo o segundo lugar a cultura do feijão com apenas 13,0%. Além disso, o algodão já foi um dos principais produtos de exportação do Estado do Ceará, chegando a participar com 18,40% do valor das exportações, sendo 11,5% na forma de fios de algodão e fibras sintéticas, 3,0% em algodão em caroço e 3,9% em tecidos de algodão e fibras sintéticas. Outro aspecto importante a ser considerado, no que tange a cultura algodoeira, era a grande quantidade de mão-de-obra que a mesma absorvia, tanto no campo, como nas diversas usinas de beneficiamento de algodão que existia em todo interior do Estado. No entanto, apesar de toda importância sócio-econômica e social do algodão para o Estado do Ceará, o que se observou foi um declínio vertiginoso na produção dessa cultura nos últimos anos, devido a persistência de uma série de entraves ao desenvolvimento satisfatório da mesma, bem como o aparecimento de novos fatores adversos bastante eficazes em suas ações contrárias a produção de algodão do Estado do Ceará. A redução na oferta dessa matéria prima básica para a indústria têxtil, de óleos e de rações causou enormes prejuízos à economia cearense e foi responsável pelo fechamento de uma grande quantidade de usinas de beneficiamento e, por conseguinte, pela eliminação de inúmeros postos de trabalho tanto no campo quanto nas cidades. Portanto, estudos que venham quantificar a influência de fatos relacionados com a oferta e a demanda de algodão no Estado do Ceará, principalmente a determinação de suas respectivas elasticidades preço da demanda e a elasticidade cruzada da demanda

são de grande utilidade para a análise do comportamento desse mercado no período de tempo considerado (1977 1990) servirá, portanto de fonte de informações para os tomadores de decisões na escolha de novas políticas econômicas para o setor têxtil cearense. Neste contexto, o presente trabalho busca suprir essa lacuna, procurando contribuir para o desenvolvimento econômico do Ceará, do Nordeste e do Brasil. PALAVRAS CHAVE: Mercado, Algodão Arbóreo, Economia. 01. Introdução: O cultivo de algodão no Estado do Ceará, segundo GIRÀO (1997), teve seu início em 1977, tendo essa cultura desempenhado um importante papel no desenvolvimento econômico e social do Estado. Durante muito tempo predominou no Estado do Ceará a produção de algodão arbóreo, especialmente o do tipo Mocó. A exploração era feita de modo conjunto com a pecuária extensiva e culturas de subsistência como o milho e o feijão, isso permitiu que fossem ocupadas áreas pouco dotadas de recursos hídricos e de solos férteis. O algodoeiro mocó, apesar de sua baixa produtividade, possibilitou a geração de receitas, mesmo em anos de escassez de chuvas. Nesse sistema produtivo, o proprietário da terra participava com a mesma e com o capital, enquanto que o trabalho era exercido por parceiros, arrendatários e assalariados (FRANÇA, 1995). O interesse do proprietário da terra por esse sistema residia na cultura comercial do algodão, enquanto que as culturas de subsistência serviam para fornecer ao parceiro condições de sobrevivência época da entressafra e se houvesse alguma sobra serviria para adquirir outros bens alimentícios, de vestuário ou para o lazer (BNB 1990). O fato de o algodão ser plantado praticamente em todo Estado, aliado a outros fatores, fez do Estado do Ceará o segundo pólo têxtil do Brasil, o que obviamente demonstra a grande importância da cotonicultura para a economia cearense. Segundo dados da CEPA (1986), a cultura algodoeira ocupou em 1984, o primeiro lugar em área cultivada com 792.932 hectares, o que representava 37,10% da área total cultivada do Estado. Em termos de valor bruto da produção a cultura do algodão também alcançou o primeiro lugar com uma cifra em torno de Cr$ 810 milhões (preços de 1985), o que correspondia a 15,60% do valor bruto da produção total do Estado, superando até mesmo os produtos bovinos e da área de pescado que participaram com 13,50% e 13,70%, respectivamente. Fazendo a relação apenas em termos de lavouras, a participação percentual do algodão no valor bruto da produção chegou a 31,0%, obtendo o segundo lugar a cultura do feijão com apenas 13,0%. Além disso, o algodão já foi um dos principais produtos de exportação do Estado do Ceará, chegando a participar com 18,40% do valor das exportações, sendo 11,5% na forma de fios de algodão e fibras sintéticas, 3,0% em algodão em caroço e 3,9% em tecidos de algodão e fibras sintéticas. Aliado a esse aspecto, se associarmos a questão da grande vulnerabilidade climática, que é uma regra geral no Nordeste e principalmente no Ceará, o que traz grandes variações na produção, a entraves como o destacado por MOREIRA & MEDEIROS (1980), referente a um sistema de comercialização imperfeito, caracterizado por baixos preços recebidos pelos produtores, bem como, a falta de uma

política de crédito consistente para o setor, teremos uma visão mais clara de todo o processo de declínio no plantio da cultura no Estado. Já CRISÓSTOMO & BANDEIRA (1983) salientaram que as principais causas da baixa produtividade e conseqüentemente, do declínio do cultivo da cultura algodoeira no Ceará estavam ligados a aspectos como o uso de sementes de baixa qualidade, não utilização de práticas de desbaste, pouco ou nenhum combate as pragas e plantas daninhas que afetavam a cultura e ao próprio sistema de parceria em uso (meação) na produção de algodão. Portanto, estudos que venham quantificar a influência de fatos relacionados com a oferta e a demanda de algodão no Estado do Ceará, principalmente a determinação de suas respectivas elasticidades preço da demanda e a elasticidade cruzada da demanda são de grande utilidade para a análise do comportamento desse mercado no período de tempo considerado (1977 1990) servirá portanto de fonte de informações para os tomadores de decisões na escolha de novas políticas econômicas para o setor têxtil cearense. Neste contexto, o presente trabalho busca suprir essa lacuna, procurando contribuir para o desenvolvimento econômico do Ceará, do Nordeste e do Brasil. 02. Área de Estudo O estudo foi realizado no Estado do Ceará, situado geograficamente na região Nordeste do Brasil, possuindo área territorial de cerca de 146.400 Km2 e uma população aproximada de 6,5 milhões de habitantes (1990). Em termos econômicos o Estado do Ceará é a terceira maior força da região ficando atrás dos Estados da Bahia e de Pernambuco. A escolha do Ceará para a realização deste trabalho deve-se ao fato do mesmo possuir o segundo maior pólo-têxtil do Brasil, perdendo apenas para o Estado de São Paulo, logo, fica evidente a importância de se conhecer melhor os aspectos relacionados com a demanda e a oferta de algodão no Estado. 4.0 Metodologia O modelo econométrico adotado neste trabalho teve como base o sistema de equações simultâneas, que, segundo MATOS (1995), é constituído de, pelo menos, duas equações, onde as variáveis econômicas apresentam-se inter-relacionadas de tal forma que uma variável endógena tanto pode receber como provocar influência sobre outra variável, ou seja, uma variável pode ser endógena numa equação e exógena em outra. É importante salientar que variáveis endógenas ou dependentes são aquelas determinadas no próprio sistema, ao passo que as variáveis exógenas ou independentes são aquelas determinadas fora do sistema. As variáveis endógenas defasadas, representadas pelos valores passados das variáveis endógenas do modelo, são também consideradas exógenas, desde que seus valores sejam conhecidos em determinado período de tempo. As variáveis exógenas e endógenas defasadas são denominadas variáveis pré determinadas. Definido o sistema de equações simultâneas, o modelo econômico na forma funcional deve ser transformado em modelo estatístico, na forma linear ou multiplicativa, para que se proceda a estimação estatística dos parâmetros. No entanto, antes que este procedimento seja adotado, deve ser verificado se o modelo é ou não completo. De acordo com MATOS (1995), um modelo econométrico é completo se tiver tantas equações quantas forem as variáveis endógenas, e, portanto, solução única.

5.0 Resultados e Discussão Todos os coeficientes das variáveis explicativas, na equação estrutural de demanda, apresentaram sinais diferentes dos esperados, fato este que requer a análise aprofundada de uma série de questões que poderiam estar influenciando o mercado de algodão em caroço no período de tempo considerado, o que sem dúvida, exigiria um trabalho mais aprofundado e com disponibilidade de tempo maior. As análises são no entanto, mostradas abaixo: O sinal esperado para a variável preço (negativo), não foi observado, ou seja, esperava-se que quanto maior fosse o preço do algodão arbóreo, menor fosse a demanda pelo mesmo. Entretanto, isso não foi verificado. A explicação provável para este fato é a de que o algodão é um produto destinado a produção industrial (têxtil, óleos e rações), ou seja, o algodão não tem o mesmo comportamento da maioria dos produtos agrícolas, que normalmente, estão à disposição do consumidor final logo após serem produzidos no campo. Desse modo, eventuais aumentos de preços pagos aos produtores poderiam ser normalmente incorporados pelo setor de beneficiamento do mesmo e repassado ao produto quando beneficiado. Dos parâmetros estimados, apenas um apresentou sinal contrário ao preconizado pela teoria econômica, no entanto, este parâmetro mostrou-se insignificante para o modelo. Os demais apresentaram sinais coerentes com a teoria econômica e são significativos estatisticamente, pois possuem coeficientes com valores superiores aos respectivos desvios padrões. A variável Preço do algodão arbóreo se apresentou com sinal contrário ao esperado, no entanto devemos ressaltar sua não significância para o modelo. Mas sobre o sinal contrário ao esperado a explicação é que possíveis incentivos de preços não chegavam aos produtores. A variável Preço do Milho (X t3 ) apresentou sinal esperado, ou seja, negativo. Isso significa que quanto maior o preço do milho, menor a quantidade ofertada de algodão arbóreo, exercendo o milho, portanto, o papel de substituto na produção. 6.0 Conclusões e Sugestões A utilização da técnica dos mínimos quadrados de dois estágios para estimar as equações de demanda e de oferta de algodão arbóreo em caroço no Estado do Ceará no período de 1977 a 1990, apresentou resultados satisfatórios para a equação reduzida. Os resultados encontrados para a equação estrutural de demanda foram todos significativos, mas apresentaram sinais contrários aos esperados. Isso pode significar que existiam problemas profundos na produção e comercialização do algodão arbóreo em caroço no Estado do Ceará. Os resultados da equação estrutural de oferta se mostraram mais coerentes com a teoria econômica. Com exceção do preço do algodão arbóreo, pois este não mostrou ser um instrumento eficaz para estimular a produção do mesmo. No entanto, isso deve ser analisado com cautela, pois o algodão arbóreo já vinha sendo eliminado do processo produtivo e com o aparecimento do bicudo o mesmo praticamente deixou de ser cultivado no Ceará. No período considerado o algodão herbáceo atuou como um produto complementar no consumo, pois apresentou elasticidade cruzada da demanda menor que zero. É preciso que se aprofundem os estudos sobre o mercado de algodão em caroço no Estado do Ceará para que possamos detectar outros fatores que influenciam a demanda e a oferta desta cultura e, desse modo, buscar a recuperação da mesma.

Referências BANCO DO NORDESTE DO BRASIL. Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste & Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Centro Nacional de Pesquisa de Algodão. O Algodão no Nordeste Brasileiro e Tecnologias Disponíveis. Fortaleza, 1986. 166p. (Estudos Econômicos e Sociais, 32). BEZERRA, M.G.R. Variação Estacional dos Preços dos Produtos Agropecuários do Ceará e em Unidades Especiais de Planejamento. Fortaleza, CEPA CE, 1980, 103p. (mimeo.) CAMPOS, R.T. Efeitos do Ataque do Bicudo na Cotonicultura do Semi Árido Cearense. Recife, Pernambuco, 1991. 160p. (Tese de Doutorado) CRESPO, J.E.Q. Análise Estrutural do Mercado de Exportação de Açúcar Brasileiro. Fortaleza, UFC, 1997. (Tese de Mestrado) CRISÓSTOMO, J.R. & BANDEIRA C.T. Proposições Sobre a Melhoria da Cultura Algodoeira no Ceará. Campina Grande, PB. EMBRAPA CNPA, 1983. 16p. (EMBRAPA CNPA. Documentos, 26). 06. FRANÇA, F.M.C. Análise Estacional de Preços de Algodão em Caroço, a Nível de Produtor no Estado do Ceará: Abordagem Pela Análise Espectral. Fortaleza, UFC, 1985, 99p. (Tese de Mestrado). FREIRE, E.C.; MOREIRA, J. de A.N. & MEDEIROS, L.C. Contribuição das Ciências Agrárias Para o Desenvolvimento: O Caso do Algodão. Revista de Economia Rural, 18(3): p383 413, jul./set., 1980. FUNDAÇÃO IBGE. Contagem da População: Censo populacional. Fortaleza, 1996. GIRÃO, R. História Econômica do Ceará. Fortaleza, 1997. 27p. KMENTA, J. Elementos de Econometria: Teoria Econométrica Básica, 2 o. Edição, Atlas, São Paulo, 1988. MARTIN, M.A. & PEREZ, M.C.R.C. O Método de Mínimos Quadrados de Dois Estágios (MQ2E): Seus Fundamentos e Aplicação na Estimação da Demanda e da Oferta de Ovos no Estado de São Paulo. Piracicaba, USP/ESALQ, 1975. (Série Pesquisa no. 32). MATOS, O.C. Econometria Básica: Teoria e Aplicações. São Paulo: Atlas, 1995, 241p. SALVATORE, Dominick. Estatística e Econometria. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1982. 262p. SILVA, Antonilda Sena da. Impactos Sociais da substituição de milho pela raspa de mandioca em ração suína, no Estado do Ceará. Fortaleza: UFC / CCA / DEA, 1993. 70p. (Dissertação de Mestrado).