CARACTERIZAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA E ANÁLISE DOS REMANESCENTES FLORESTAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO NIOAQUE UTILIZANDO GEOTECNOLOGIAS



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CARACTERIZAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA E ANÁLISE DOS REMANESCENTES FLORESTAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO NIOAQUE UTILIZANDO GEOTECNOLOGIAS MSc. Emerson Figueiredo Leite 1 Dr. Roberto Rosa 2 1 Doutorando em Geografia UFU/IG, Bolsista CAPES/DS figueiredo_geo@yahoo.com.br 2 Professor Associado 2 UFU/IG rrosa@ufu.br 1, 2 Universidade Federal de Uberlândia UFU/IG Av. João Naves de Ávila, 2160 - Campus Santa Mônica Sala 1H05 - CEP 38.408-100 / Uberlândia MG RESUMO A bacia hidrográfica do Rio Nioaque está inserida em terras do Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil, sendo o Rio Nioaque um dos importantes afluentes da margem direita do Rio Miranda, e este por sua vez, importante afluente da margem esquerda do Rio Paraguai. Compreendida entre os paralelos 20 35 e 21 35 S e meridianos 55 30 e 56 10 W.Gr., e com uma área de aproximadamente 325.600 ha, a Bacia Hidrográfica do Rio Nioaque exerce papel importante como tributário Rio Miranda, carreando sedimentos e poluentes das diversas e complexas formas de uso e ocupação da terra no interior de sua bacia. O uso e ocupação da terra estão intimamente relacionados com a fragmentação da vegetação original da bacia hidrográfica e devem ser considerados quando se pensa em um manejo adequado ás potencialidades ambientais da área. Desta forma, pretende-se neste artigo, caracterizar o uso e ocupação da terra da Bacia Hidrográfica do Rio Nioaque e analisar os remanescentes florestais, bem como sua adequabilidade à legislação vigente, utilizando das geotecnologias atuais através de aplicação de metodologias do geoprocessamento. Para tanto, utilizamos as geotecnologias disponíveis gratuitamente no Brasil, como o software Spring (Sistema para Processamento de Informações Georreferenciadas) e dados dos Satélites Cbers (China-Brazil Earth Resources Satellite) e da Série Landsat 7 (Land Remote Sensing Satélite). Para a entrada dos dados no Spring, inicialmente foi criado um Banco de Dados e definido seu Modelo de Dados. Uma vez criado o Banco de Dados, definiu-se o Projeto com suas referências geográficas (coordenadas geográficas ou planas) e o sistema de projeção, requisitos importantes do software. Após definidos estes parâmetros, passamos para a inclusão e manipulação de dados no Spring, como as cartas topográficas base e a imagens de satélite. Foram realizados downloads das Cenas 225/75 e 225/74 do satélite Landsat 7 datadas de 27 de julho de 1999, e das Cenas 164/124, 164/123 datadas de 22 de setembro de 2008, e 165/123 de 19 de setembro de 2008 do satélite Cbers 2b, que compõem o mosaico da área de estudo, possibilitando também uma analise temporal. Estas imagens foram classificadas segundo operação do software Spring, denominada classificação pixel-a-pixel. Este processo de classificação consiste na extração de informações das imagens no sentido de reconhecer padrões e objetos homogêneos. O classificador adotado foi o classificador MAXVER-ICM (Máxima Verossimilhança - Interated Conditional Modes), que além de associar classes considerando pontos individuais da imagem, o classificador considera também a dependência espacial na classificação. No processo de classificação elaboramos uma chave de interpretação, que é definida pela interação dos vários elementos que levam à interpretação de um dado presente na imagem em análise. Constitui-se da descrição da imagem em termos de tonalidade, tamanho, forma, arranjo espacial, textura ou outro elemento que dê uma característica à mesma. Após este procedimento e a classificação em si, obtemos o mapa de uso e ocupação da terra da Bacia Hidrográfica do Rio Nioaque, bem como as áreas de remanescentes florestais. Analisou-se o uso e ocupação da terra numa perspectiva temporal e relacionando a fragmentação da vegetação na área da bacia, bem como correlacionando com a legislação ambiental vigente, aqui considerado o Código Florestal - Lei 4.771/65 Áreas de preservação permanente em seu artigo 2º. Este trabalho contribui para o discurso geográfico que adota a bacia hidrográfica como unidade de análise ambiental, bem como corrobora com a adoção das novas geotecnologias e metodologias do geoprocessamento para este tipo de análise. EIXO TEMÁTICO: 4-Avances en el uso de las tecnologías de información geográfica

Introdução A caracterização do uso e ocupação da Terra tem grande relevância pela necessidade de garantir a sua sustentabilidade diante das questões ambientais, sociais e econômicas a ele relacionadas e trazidas à tona no debate sobre o desenvolvimento sustentável. O avanço da tecnologia espacial colocou o momento da disponibilidade de produtos de satélites imageadores da Terra como marco de uma nova era dos estudos de Uso e ocupação da Terra, pois ao mesmo tempo em que lhe dá uma nova metodologia de pesquisa, revela a concepção teórica que orienta a apreensão espacial e temporal do uso da Terra no seu conjunto para a gestão da apropriação do espaço geográfico global ou local (IBGE, 2006). Nesse contexto, compreendem-se as Geotecnologias como o conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise e oferta de informações com referência geográfica. Dentre elas destacam-se soluções em hardwares e softwares, capacitação de pessoal (peoplewares), bem como os sistemas de informação geográfica (SIGs), cartografia digital, sensoriamento remoto, sistema de posicionamento global e a topografia. Uma vez juntas constituem poderosas ferramentas para tomada de decisões, conforme tem explicado Rosa (2005). Compreendemos por Sensoriamento Remoto como a técnica que utiliza sensores, equipamentos para processamento e transmissão de dados, na captação e no registro da energia refletida ou emitida por elementos na superfície terrestre ou por outros astros, com o objetivo de estudar o ambiente terrestre através do registro das interações entre a radiação eletromagnética e as componentes do planeta terra e suas diversas manifestações, conforme definições de Novo (1989), Rosa (1992) e Teixeira & Christofoletti (1997). Este artigo objetiva a caracterização do uso e ocupação da terra e a análise dos remanescentes florestais da Bacia Hidrográfica do Rio Nioaque utilizando geotecnologias, aqui representadas pelas imagens de satélite e softwares de geoprocessamento. O uso e ocupação da terra estão intimamente relacionados com a fragmentação da vegetação original da bacia hidrográfica e devem ser considerados quando se pensa em um manejo adequado ás potencialidades ambientais da área. Para tanto, utilizamos de geotecnologias, como o software Spring (Sistema para Processamento de Informações Georreferenciadas) e dados dos Satélites Cbers (China-Brazil Earth Resources Satellite) e da Série Landsat 7 (Land Remote Sensing Satélite), disponíveis gratuitamente no Brasil numa política de democratização dos dados espaciais alavancada pelo Governo Brasileiro através do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE e seus respectivos parceiros. A área de estudo, a bacia hidrográfica do Rio Nioaque, está inserida em terras do Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil, sendo o Rio Nioaque um dos importantes afluentes da margem direita do Rio Miranda, e este por sua vez, importante afluente da margem esquerda do Rio Paraguai. Compreendida entre os paralelos 20 35 e 21 35 S e meridianos 55 30 e 56 10 W.Gr. (Figura 01), possui uma área de aproximadamente 325.600 ha, a Bacia Hidrográfica do Rio Nioaque exerce papel importante como tributário Rio Miranda, carreando sedimentos e poluentes das diversas e complexas formas de uso e ocupação da terra no interior de sua bacia.

FIGURA 01 Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Nioaque, Mato Grosso do Sul Como formação vegetal a bacia hidrográfica apresenta áreas com remanescentes de Floresta Estacional Semi-Decidual, Savana-Cerrado e áreas de tensão entre Savana Arbórea Densa e Floresta Estacional, com a predominância de solos do tipo Latossolos, Argissolos, Neossolos, Plintossolos e Vertissolos. Sua geologia compreende rochas do Grupo São Bento, da Formação Serra Geral e Formação Botucatú, também Formação Aquidauana, Aluviões Atuais e rochas do Grupo Cuiabá (BRASIL, 1982). Caracterização do uso e ocupação da terra e discussão acerca dos resultados Inicialmente foi criado um Banco de Dados e definido um Modelo de Dados utilizando o software Spring -INPE 4.33. Uma vez criado o Banco de Dados, definiu-se o Projeto com suas referências geográficas (coordenadas geográficas ou planas) e o sistema de projeção, requisitos importantes do software. Após definidos estes parâmetros, passamos para a inclusão e manipulação de dados no Spring, como as cartas topográficas base e a imagens de satélite. Maiores informações sobre o manuseio do software Spring -INPE 4.33 são encontradas em Câmara et all.(1996). Foram realizados downloads das Cenas 225/75 e 225/74 do satélite Landsat 7 datadas de 27 de julho de 1999, e das Cenas 164/124, 164/123 datadas de 22 de setembro de 2008 do satélite Cbers 2b, que compõem o mosaico da área de estudo,

possibilitando também uma analise temporal. Uma caracterização mais específica sobre o Satélite Cbers é feita por Epiphanio (2005). As imagens, com referencial cartográfico e dispostas como planos de informação no banco de dados, foram classificadas segundo operação do software Spring, denominada classificação pixel-a-pixel. Dentre alternativas, o processo de classificação utilizado consiste na extração de informações das imagens no sentido de reconhecer padrões e objetos homogêneos através do classificador MAXVER-ICM (Máxima Verossimilhança - Interated Conditional Modes). Este, além de associar classes considerando pontos individuais da imagem, o classificador considera também a dependência espacial na classificação (CÂMARA et all., 1996). FIGURA 02 Screenshot do Spring -INPE 4.33 apresentando função acoplar imagem de satélite sobre imagem classificada para aperfeiçoamento do resultado final Devido as limitações dos algoritmos de classificação e à diversidade de comportamentos espectrais dos alvos estudados em áreas heterogêneas, os resultados da classificação digital feita anteriormente apresenta erros de omissão e inclusão e requer uma análise mais aprimorada dos resultados. Para isso, aplicou-se a metodologia de classificação híbrida, que aproveita as características de agilidade da classificação pixel-a-pixel, neste caso, com a acuidade e conhecimento do interprete sobre a área estudada (MOREIRA, 2007). Na classificação do uso da terra leva-se em conta o tipo de uso da terra na data do mapeamento, o manejo empregado e a estrutura de produção, procurando com isso caracterizar da melhor forma possível as classes de uso definidas. As classes de uso da terra podem ser definidas como unidades simples ou associações de classes, dependendo da área estudada e da escala de trabalho adotada (Espínola et al., 2000). Aqui consideramos as seguintes classes: Corpos d água: incluídos nesta classe todos os reservatórios de água como açudes e lagoas; Uso antrópico: áreas ocupadas por pastagens naturais ou antrópicas, predominantemente por gramíneas e forrageiras para pastoreio, característica de uso da pecuária; também áreas ocupadas por culturas anuais, perenes, irrigadas ou não; Vegetação Densa: apresenta áreas com remanescentes de Floresta Estacional Semi-Decidual, Savana-Cerrado e áreas de tensão entre Savana Arbórea Densa e Floresta Estacional; Área urbana: áreas de uso intensivo,

ocupada por edificações de diversos portes, com infra-estrutura composta por vias pavimentadas, sistema de drenagem implantado, etc., como vilas e cidades. FIGURA 03 Resultado do processo de classificação de uso e ocupação da terra na bacia hidrográfica do rio Nioaque, MS No processo de classificação elaboramos uma chave de interpretação, que é definida pela interação dos vários elementos que levam à interpretação de um dado presente na imagem em análise. Constitui-se da descrição da imagem em termos de tonalidade, tamanho, forma, arranjo espacial, textura ou outro elemento que dê uma característica à mesma e o resultado pode ser apresentado na Figura 03. Após este procedimento e a classificação em si, obtemos a Tabela 01 com a estatística de uso e ocupação da terra da Bacia Hidrográfica do Rio Nioaque, que apresentam áreas ocupadas pelas respectivas classes estudadas. Conforme explica Rosa (2007), a identificação atual das formas de utilização e ocupação da terra em seu processo histórico, tem sido imprescindível ao estudo dos processos que desenvolvem na região, tornando-se de fundamental importância na media em que os efeitos de seu mau uso causam deterioração no meio ambiente. Dentre os problemas gerados pelo mau uso da terra, o autor cita a erosão e os assoreamentos entre os exemplos de degradação. Tabela 01 Uso e ocupação da terra na Bacia Hidrográfica do Rio Nioaque/MS * Ano 1999 2008 Classes km² % km² % Uso Antrópico 2047,72 62,89 1998,91 61,39 Vegetação Densa 1170,04 35,93 1147,69 35,24 Solo Exposto 36,05 1,11 103,72 3,19 Urbano 1,47 0,05 2,12 0,07 Água 0,72 0,02 3,56 0,11 * km²: área ocupada pela classe em quilômetros quadrados; %: Porcentagem em relação a área total da bacia ocupada pela classe.

Observando os dados da Tabela 01 podemos verificar que a variação em área ocupada pelas classes Vegetação Densa e Uso Antrópico é pequena. Porém, ao observamos estas mesmas classes nos mapas de classificação na Figura 03 nota-se que áreas ocupadas por florestas no baixo curso foram substituídos por uso antrópico, e nas áreas situadas no alto curso, onde o relevo é mais dissecado observa-se uma regeneração da classe aqui denominada de Vegetação Densa. A área urbana apresenta no período crescimento de 44% em sua área. Pensando em coibir usos indevidos e poupar áreas produtivas a degradá-las, no arcabouço legislativo brasileiro é instituído em 15 de setembro de 1965 o Código Florestal - Lei 4.771/65, que em seu Art. 1 reconhece como de utilidade às terras que revestem, as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação e considera que As ações ou omissões contrárias às disposições deste Código na utilização e exploração das florestas são consideradas uso nocivo da propriedade (Art. 302, XI, "b", do Código de Processo Civil). Para isso, o Código Florestal Brasileiro considera em seu Art. 2. Como áreas de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja de 30 m (trinta metros) para os cursos d'água de menos de 10 m (dez metros) de largura; de 50 m (cinqüenta metros) para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 m (cinqüenta metros) de largura; de 100 m (cem metros) para os cursos d'água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200 m (duzentos metros) de largura; de 200 m (duzentos metros) para os cursos d água que tenham de 200 (duzentos) a 600 m (seiscentos metros) de largura; de 500 m (quinhentos metros) para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 m (seiscentos metros). Em redação determinada pela Lei nº 7.803/89 deve-se manter essas especificações da Legislação Florestal ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais; e nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 m (cinqüenta metros) de largura ; bem como em topo de morros, montes, montanhas e serras; encostas ou partes destas, com declividade superior a 45, equivalente a 100% na linha de maior declive; nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 m (cem metros) em projeções horizontais. Stefanes (2005) citado por Bronaut & Paranhos Filho (2006) relata que é possível verificar que não existe um controle efetivo da manutenção e recuperação da vegetação em áreas de preservação permanente - APP, principalmente ao longo dos mananciais hídricos do Estado de Mato Grosso do Sul. Para verificar estas especificidades apresentadas pela Lei e diagnosticar a aplicação correta por parte dos proprietários rurais, urge utilizar imagens de alta resolução espacial para que o cálculo seja o mais fiel possível, o que não aplicou-se a este artigo. Bronaut & Paranhos Filho (2006) avaliaram o uso de imagens de satélite Landsat ETM+ na identificação e monitoramento das áreas de preservação permanente ao longo dos corpos hídricos no Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil. Segundo os autores a delimitação das APP dos cursos d água com largura superior a 30m é satisfatória, favorecendo a caracterização das faixas a partir das margens e evidenciar alguns usos das áreas. Porém os mesmos ressaltam que em algumas das áreas analisadas não se pode estimar os limites das áreas de preservação permanente, devido a resolução espacial da imagem do satélite utilizado ser de 30m, ou pela resposta espectral causar pequenas confusões durante a interpretação.

Considerações finais Este trabalho contribui para o discurso geográfico que adota a bacia hidrográfica como unidade de análise ambiental, bem como corrobora com a adoção das novas geotecnologias e metodologias do geoprocessamento para este tipo de análise. Apesar das dificuldades apresentadas quanto a resolução das imagens de satélite, atingimos o objetivo de caracterizar o uso e ocupação da terra na bacia hidrográfica do rio Nioaque, MS, Brasil e apresentar os valores desta ocupação, bem como uma analise sucinta da dinâmica da vegetação densa na bacia. Outra dificuldade encontrada aqui é a presença de sombras na parte mais dissecada (alto curso do rio Nioaque), o que confundiu as tentativas de mensuração, exigindo para tal atividade de caracterização imagens com resoluções espaciais mais afinadas. Este trabalho não se finda, buscando novas alternativas de mapeamento bem como de novos produtos de sensoriamento remoto e metodologias. Agradecimentos Agradecimento a CAPES/DS, a Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Geografia e Secretaria de Pós-Graduação em Geografia UFU-MG e ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais-INPE. Bibliografias BRASIL. Lei n. 4.771, de 15 de setembro de 1965. Dispões sobre o Código Florestal brasileiro. BRONAUT, Renata Porto Morais & PARANHOS FILHO, Antonio Conceição. Avaliação do uso de imagens de satélite Landsat ETM+ na identificação e monitoramento das áreas de preservação permanente ao longo dos corpos hídricos. Anais 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, Brasil, 11-15 novembro 2006, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p.431-437. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual técnico de uso da terra. Manuais técnicos em geociências. n. 7. Rio de Janeiro, 2006. CÂMARA, Gilberto; SOUZA, Ricardo Cartaxo Modesto; FREITAS,Ubirajara Moura; GARRIDO,Juan; MITSUO Ii; Fernando. Spring: Integrating Remote Sensing And Gis by Object-oriented Data Modelling. Image Processing Division (DPI), National Institute for Space Research (INPE), Brazil. Computers and Graphics, vol. 15, n.6, July 1996. www.inpe.br/spring EPIPHANIO, José Carlos N. CBERS Satélite Sino-brasileiro de Recursos Terrestre. Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goiânia, Brasil, 16-21 abril 2005, INPE, p. 915-922 ROSA, Roberto. Geotecnologias na Geografia Aplicada. Revista do Departamento de Geografia, 16 (2005) 81-90. ROSA, R. Introdução ao sensoriamento remoto. Uberlândia: Editora UFU, 1992. NOVO, Evlyn Márcia L. de Moraes. Sensoriamento Remoto: Princípios e Aplicações. 2ª ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1989.