PROCESSO PGT/CCR/PP N. 8899/2011 PRT 3ª. REGIÃO ÓRGÃO OFICIANTE: DRA.7.2.) CONVENÇÃO COLETIVA



Documentos relacionados
Trata-se de denúncia formulada contra o Sindicato em epígrafe, que noticia

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL

CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO 2007 / / Enfermeiros

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO PROCURADORIA GERAL DO TRABALHO

COMPENSAÇÃO DE JORNADA DE TRABALHO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Neste comentário analisaremos as regras acerca do adicional de insalubridade, dispostas no art. 189 e seguintes da CLT.

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

I CLÁUSULAS ECONÔMICAS

Faço uma síntese da legislação previdenciária e das ações que dela decorreram. 1. A LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA

ADICIONAIS INSALUBRIDADE, PERICULOSIDADE E PENOSIDADE. Art. 7º, XXIII, da Constituição Federal.

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO PROJETO DE LEI Nº 5.606, DE 2001

VERITAE PREVIDÊNCIA SOCIAL SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO ORIENTAÇÕES TRABALHO

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.

CONTRIBUIÇÃO DO GRUPO CMS (CPEE, CSPE, CJE E CLFM) PARA A AUDIÊNCIA PÚBLICA ANEEL No 019/2005

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

ACORDO COLETIVO DE TRABALHO 2007/2008

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO. Processo PGT/CCR /PP nº /2010

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

LEI Nº 2.581/2009. O Prefeito Municipal de Caeté, Minas Gerais, faz saber que a Câmara Municipal aprovou e ele sanciona a seguinte Lei:

Secretaria de Relações do Trabalho Coordenação-Geral de Relações do Trabalho Brasília, 27 de outubro de Memo. Circular n 010 /2011.

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

E M E N T A: RESPONSABILIDADE POR DANO MORAL. DÍVIDA PAGA. TÍTULO INDEVIDAMENTE PROTESTADO. ILEGALIDADE. PROVA. PRESUNÇÃO DO DANO.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

DECRETO Nº 034/2013. O Prefeito do Município de Sertanópolis, Estado do Paraná, no uso de suas atribuições legais e considerando:

Superior Tribunal de Justiça

I PRAZO PARA REMOÇÃO DE CONTEÚDO OFENSIVO POSTADO EM REDES SOCIAIS 24 HORAS - RESPONSABILIDADE DOS PROVEDORES DE CONTEÚDO

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

TERMO ADITIVO A CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO 2010/2011

RESOLUÇÃO Nº 350, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2014.

ORIENTAÇÕES ACERCA DA APLICAÇÃO DA LEI DE 2014

CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO

RESOLUÇÃO NORMATIVA N.º 17/CUn DE 10 DE ABRIL DE Regulamenta o Programa de Monitoria da Universidade Federal de Santa Catarina

PARCELAMENTO ORDINÁRIO DE TRIBUTOS FEDERAIS

EDITAL Nº 01 DE FEVEREIRO DE 2015

PROJETO DE LEI Nº 581/2007

Cria a Procuradoria Geral do Estado e dá outras providências

Parecer Consultoria Tributária Segmentos Horas sobre o regime de sobreaviso

Desembargador JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA Acórdão Nº E M E N T A

RESOLUÇÃO Nº 33, DE 27 DE AGOSTO DE 2010

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO. PROJETO DE LEI N o 7.927, DE 2014 (do Tribunal Superior do Trabalho)

JORNADA DE TRABALHO DURAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, CONTROLE, FALTAS

CIRCULAR DA CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO CONCESSIONÁRIAS E DISTRIBUIDORAS DE VEÍCULOS

TERMO ADITIVO A ACORDO COLETIVO DE TRABALHO 2012/2013

APELAÇÃO CÍVEL N ( ) COMARCA DE AURILÂNDIA APELANTE

ACORDO COLETIVO DE TRABALHO/1994 BENECAP CAIXA BENEFICENTE DOS FUNCIONÁRIOS DA COMPANHIA URBANIZADORA DA NOVA CAPITAL DO BRASIL SINDAF/DF

APELAÇÃO CÍVEL nº /AL ( )

BIBLIOTECA PAULO LACERDA DE AZEVEDO R E G I M E N T O

MINUTA DA RESOLUÇÃO DA COMISSÃO DE IMPLANTAÇÃO DAS 30 HORAS SEMANAIS DO CEFET-MG

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

PARECER REEXAMINADO (*) (*) Reexaminado pelo Parecer CNE/CES nº 204/2008 (*) Despacho do Ministro, publicado no Diário Oficial da União de 19/11/2008

ESTADO DO PIAUÍ PODER JUDICIÁRIO COMARCA DE PAULISTANA

Decreto Nº de 21/09/2009

XIV - CORREICAO ORDINÁRIA

II - VOTO DO RELATOR. Não foram apresentadas emendas no prazo regimental. É o relatório. As proposições alteram dispositivos relacionados ao

Assunto: Representação acerca de possível "afronta ao princípio constitucional da economicidade".

Costa e Yamanaka Advogados

RELATÓRIO DE AUDITORIA INTERNA Nº 03/2009 SERVIÇOS TERCEIRIZADOS

Controle Eletrônico de Assiduidade e Pontualidade. Legalidade, Implicações para as chefias e Posicionamento dos Órgãos de Controle.

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO PROCESSO PGT/CCR/ ICP/ 17664/2013

INDEXAÇÃO Representação; Licitação; INPI; Concorrência; Edital; Capacidade Técnica; Atestado; Prestação de Serviços; Assistência Médica;

Ações Coletivas 7ª e 8ª horas extras Banco do Brasil

CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO 2013/2014

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

LEI Nº , DE 30 DE JUNHO DE

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO 2015/2016

CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO 2014/2015

Conselho Nacional de Justiça

RESOLUÇÃO N 08/2013 TCE, DE 23 DE ABRIL DE 2013

1. Conceito. Jornada de trabalho é o tempo em que o empregado permanece à disposição do empregador, trabalhando ou aguardando ordens.

CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL

RESOLUÇÃO Nº 11, DE 04 DE NOVEMBRO DE Art. 1º Aprovar, na forma do Anexo, a Norma de Capacitação de Servidores da APO.

A SAÚDE DO EMPREGADO, SOB A ÓTICA DO TST, E A SUA REPERCUSSÃO NO DIA A DIA DAS EMPRESAS.

CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO COORDENADORIA PROCESSUAL RESOLUÇÃO CSJT Nº 141, DE 26 DE SETEMBRO DE 2014.

SINDIOCESC Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de SC. Data-base 1º de maio de 2016

- GUIA DO EMPRESÁRIO -

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO Gabinete do Desembargador Federal Marcelo Navarro

A Coordenação de Estágios informa:

Ct Febrac: 570/2014 Brasília, 22 de outubro de 2014.

PLANO DE CARREIRA, CARGOS E SALÁRIO DO PESSOAL TÉCNICO-ADMINISTRATIVO DA FUNDESTE

Incluir, além das instalações portuárias, as áreas de fundeio próximas aos portos.

Gabinete do Conselheiro Antônio Carlos Andrada

Confira a autenticidade no endereço

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CONSELHO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO SECRETARIA DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

Administração Central Comissão Permanente de Regime de Jornada Integral CPRJI 1 MANUAL DE RJI 2014

O conflito envolvendo a devolução da comissão de corretagem no estande de vendas da Incorporadora

CONTRATO PARTICULAR DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS

Assunto: Denúncia sobre possíveis irregularidades na doação de aparas de papel.

PARECER Nº 250/2015. Sob esse tema o art. 60 da Consolidação das Leis do Trabalho - Decreto Lei 5452/4, assim dispõe:

Transcrição:

PROCESSO PGT/CCR/PP N. 8899/2011 PRT 3ª. REGIÃO ÓRGÃO OFICIANTE: DRA. LUTIANA NACUR LORENTZ INTERESSADO 1: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO (PROCURADORIA DO TRABALHO NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA) INTERESSADO 2: 1) SINDICATO DOS EMPREGADOS DE EMPRESAS DE SEGURANÇA E VIGILÃNCIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS; 2) SINDICATO DOS EMPREGADOS EM EMPRESAS DE VIGILÃNCIA E SEGURANÇA E TRANSPORTE DE VALOR DO NORTE DE MINAS GERAIS; 3) SINPROTESV; 4) SINDICATO DAS EMPRESAS DE SEGURANÇA E VIGILÃNCIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS ASSUNTOS: Ilegalidade em Convenção ou Acordo Coletivo (8.7.2.) CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO. ILEGALIDADE DE CLÁUSULA. A cláusula convencionada trata da jornada noturna de trabalho, mantendo para o seu cômputo a hora diurna, o que prejudica o empregado submetido ao trabalho noturno, com repercussão na sua saúde e segurança. Promoção de arquivamento não homologada.

I - RELATÓRIO O Órgão Oficiante arquivou o feito por não vislumbrar ofensas aqueles interesses que transcendem os meramente individuais, assim como à ordem jurídica (fl.44). É, em síntese, o relatório. II VOTO Originou-se o presente do encaminhamento de instrumento coletivo pelo Exmo.Sr. Wagner Gomes do Amaral, Procurador do Trabalho lotado na Procuradoria do Trabalho no Município de Juiz de Fora, à vista do conteúdo da sua cláusula 12ª (fl. 03). A cláusula em questão é do seguinte teor: CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA ADICIONAL NOTURNO Fica ajustado que os empregados abrangidos por esta convenção, quando prestarem serviço entre 22h00min e 05h00min fará jus ao adicional noturno de 40% (quarenta por cento) sobre o valor do salário hora normal. Em razão das peculiaridades do serviço, fica a hora noturna fixada em 60 (sessenta) minutos. PARÁGAFO ÚNICO Na hipótese de parte da jornada do vigilante se incluir no horário noturno e outra parte se concretizar antes ou depois dele, em horário diurno, o mesmo somente terá direito ao recebimento do adicional noturno por àquelas horas efetivamente situadas dentro do limite fixado por lei, ou seja, entre 22h00min e 5h00min. 2

(grifos nossos) O órgão oficiante arquivou o feito por não vislumbrar ilicitude na cláusula, entendendo que esta, embora preveja a elevação da hora noturna, também prevê o aumento do adicional específico. Aduz, entre outros fundamentos, que: O Ministério Público do Trabalho entende que o próprio texto da nossa Constituição do Brasil, de 1988, art. 7º, inciso XXVI c/c com inc. XIII e XIV, possibilitaram a flexibilização de normas e direitos trabalhistas, desde que, evidentemente, seja respeitado o conceito de Acordo Coletivo de Trabalho, ou seja, um acordo entre categoria profissional e empresa com base em concessões recíprocas (ou seja, a natureza jurídica tem de ser de transação) e não um pseudo acordo que, na verdade chancela uma renúncia, ou uma submissão. (fl. 40) De fato, a Constituição Federal vigente alçou o Sindicato à condição de administrador de conflitos, permitindo a flexibilização de direitos previstos no art. 7º, o que pressupõe, a nosso ver, a existência de uma situação grave e temporária do empregador ou do setor econômico respectivos, de sorte a permitir que se privilegie alguns direitos, como, por exemplo, a manutenção do trabalho e do salário, em detrimento de outros, como aqueles em que a flexibilização é permitida, em prol da categoria profissional específica. No presente, nada é dito a respeito, identificando-se uma cláusula inserida na negociação coletiva da categoria, finalizada com a assinatura da convenção coletiva de trabalho em questão, que prevê, para uma categoria em que o trabalho noturno é uma realidade perene, a invalidação de um direito voltado à preservação da saúde dos trabalhadores em geral. A redução da hora noturna, que repercute naturalmente na jornada noturna trabalhada, diminuindo-a, visa minimizar o impacto desse tipo de trabalho que, por 3

ser realizado no período destinado a repouso, leva necessariamente ao desgaste do trabalhador. Esta é uma realidade definida em estudos especializados e consignada, inclusive, pela Organização Internacional do Trabalho, que defende sempre que o trabalhador não deve permanecer no trabalho noturno, mas sofrer sempre remanejamento periódico para o horário diurno, para que os efeitos danosos do trabalho desenvolvido no período noturno não se perpetuem, possibilitando-se a sua recuperação. É certo que a cláusula em questão prevê o aumento do percentual pago a título de adicional noturno. Todavia, essa previsão não representa um ganho para o trabalhador interessado, uma vez que ela vem atrelada ao aumento da hora noturna trabalhada. Assim, o ganho é neutralizado com esse aumento, evidenciando-se, na verdade, uma sobrecarga do trabalhador, que passará a ter uma jornada noturna maior do que a prevista legalmente, o que, certamente, não será compensado com a perda efetivada. Não é demais observar que, justamente pelo prejuízo causado ao trabalhador, a legislação, ao disciplinar o trabalho noturno, não somente prevê a diminuição da hora noturna, como também o pagamento de adicional. A compensação, portanto, não se faz apenas monetariamente, mas realmente, haja vista o período de tempo menor trabalhado no horário considerado legalmente como noturno. A cláusula em questão afasta estas compensações, ficando o trabalhador a mercê apenas do dano trazido a sua saúde. Importante observar que o c. Tribunal Superior do Trabalho tem jurisprudência com relação à matéria, afirmando que a redução ficta da hora noturna tem por objetivo garantir a higidez física e mental do trabalhador, tratando-se de norma de ordem pública, sequer passível de alteração por meio de norma coletiva (Processo TST-RR-800750-02.2001.5.17.0001, acórdão unânime 4

da SBDI-1, publicado no DJ de 19.04.2001, Relator Ministro Renato de Lacerda Paiva). No mesmo sentido o processo TST-E-ED-RR-423/2006-022-13-00.0, acórdão unânime da SBDI-1, publicado no DJ de 9.10.2009 Relatora Minsitra Maria de Assis Calsing). Nessas condições, entendo que o Parquet deva diligenciar junto às partes convenentes quanto ao prejuízo trazido à categoria pela cláusula convencionada, adotando as providências necessárias nesse sentido, alertando para o fato de que a data-base da categoria é janeiro. III - CONCLUSÃO Em conclusão, não homologo a promoção de arquivamento encaminhada, deixando de designar membro específico para atuação (inciso II, artigo 10, da Resolução nº 69/2007), em respeito à autonomia organizacional da Regional. Brasília, 23 de agosto de 2011. Eliane Araque dos Santos Relatora 5