PROCESSO PGT/CCR/PP N. 8899/2011 PRT 3ª. REGIÃO ÓRGÃO OFICIANTE: DRA. LUTIANA NACUR LORENTZ INTERESSADO 1: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO (PROCURADORIA DO TRABALHO NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA) INTERESSADO 2: 1) SINDICATO DOS EMPREGADOS DE EMPRESAS DE SEGURANÇA E VIGILÃNCIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS; 2) SINDICATO DOS EMPREGADOS EM EMPRESAS DE VIGILÃNCIA E SEGURANÇA E TRANSPORTE DE VALOR DO NORTE DE MINAS GERAIS; 3) SINPROTESV; 4) SINDICATO DAS EMPRESAS DE SEGURANÇA E VIGILÃNCIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS ASSUNTOS: Ilegalidade em Convenção ou Acordo Coletivo (8.7.2.) CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO. ILEGALIDADE DE CLÁUSULA. A cláusula convencionada trata da jornada noturna de trabalho, mantendo para o seu cômputo a hora diurna, o que prejudica o empregado submetido ao trabalho noturno, com repercussão na sua saúde e segurança. Promoção de arquivamento não homologada.
I - RELATÓRIO O Órgão Oficiante arquivou o feito por não vislumbrar ofensas aqueles interesses que transcendem os meramente individuais, assim como à ordem jurídica (fl.44). É, em síntese, o relatório. II VOTO Originou-se o presente do encaminhamento de instrumento coletivo pelo Exmo.Sr. Wagner Gomes do Amaral, Procurador do Trabalho lotado na Procuradoria do Trabalho no Município de Juiz de Fora, à vista do conteúdo da sua cláusula 12ª (fl. 03). A cláusula em questão é do seguinte teor: CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA ADICIONAL NOTURNO Fica ajustado que os empregados abrangidos por esta convenção, quando prestarem serviço entre 22h00min e 05h00min fará jus ao adicional noturno de 40% (quarenta por cento) sobre o valor do salário hora normal. Em razão das peculiaridades do serviço, fica a hora noturna fixada em 60 (sessenta) minutos. PARÁGAFO ÚNICO Na hipótese de parte da jornada do vigilante se incluir no horário noturno e outra parte se concretizar antes ou depois dele, em horário diurno, o mesmo somente terá direito ao recebimento do adicional noturno por àquelas horas efetivamente situadas dentro do limite fixado por lei, ou seja, entre 22h00min e 5h00min. 2
(grifos nossos) O órgão oficiante arquivou o feito por não vislumbrar ilicitude na cláusula, entendendo que esta, embora preveja a elevação da hora noturna, também prevê o aumento do adicional específico. Aduz, entre outros fundamentos, que: O Ministério Público do Trabalho entende que o próprio texto da nossa Constituição do Brasil, de 1988, art. 7º, inciso XXVI c/c com inc. XIII e XIV, possibilitaram a flexibilização de normas e direitos trabalhistas, desde que, evidentemente, seja respeitado o conceito de Acordo Coletivo de Trabalho, ou seja, um acordo entre categoria profissional e empresa com base em concessões recíprocas (ou seja, a natureza jurídica tem de ser de transação) e não um pseudo acordo que, na verdade chancela uma renúncia, ou uma submissão. (fl. 40) De fato, a Constituição Federal vigente alçou o Sindicato à condição de administrador de conflitos, permitindo a flexibilização de direitos previstos no art. 7º, o que pressupõe, a nosso ver, a existência de uma situação grave e temporária do empregador ou do setor econômico respectivos, de sorte a permitir que se privilegie alguns direitos, como, por exemplo, a manutenção do trabalho e do salário, em detrimento de outros, como aqueles em que a flexibilização é permitida, em prol da categoria profissional específica. No presente, nada é dito a respeito, identificando-se uma cláusula inserida na negociação coletiva da categoria, finalizada com a assinatura da convenção coletiva de trabalho em questão, que prevê, para uma categoria em que o trabalho noturno é uma realidade perene, a invalidação de um direito voltado à preservação da saúde dos trabalhadores em geral. A redução da hora noturna, que repercute naturalmente na jornada noturna trabalhada, diminuindo-a, visa minimizar o impacto desse tipo de trabalho que, por 3
ser realizado no período destinado a repouso, leva necessariamente ao desgaste do trabalhador. Esta é uma realidade definida em estudos especializados e consignada, inclusive, pela Organização Internacional do Trabalho, que defende sempre que o trabalhador não deve permanecer no trabalho noturno, mas sofrer sempre remanejamento periódico para o horário diurno, para que os efeitos danosos do trabalho desenvolvido no período noturno não se perpetuem, possibilitando-se a sua recuperação. É certo que a cláusula em questão prevê o aumento do percentual pago a título de adicional noturno. Todavia, essa previsão não representa um ganho para o trabalhador interessado, uma vez que ela vem atrelada ao aumento da hora noturna trabalhada. Assim, o ganho é neutralizado com esse aumento, evidenciando-se, na verdade, uma sobrecarga do trabalhador, que passará a ter uma jornada noturna maior do que a prevista legalmente, o que, certamente, não será compensado com a perda efetivada. Não é demais observar que, justamente pelo prejuízo causado ao trabalhador, a legislação, ao disciplinar o trabalho noturno, não somente prevê a diminuição da hora noturna, como também o pagamento de adicional. A compensação, portanto, não se faz apenas monetariamente, mas realmente, haja vista o período de tempo menor trabalhado no horário considerado legalmente como noturno. A cláusula em questão afasta estas compensações, ficando o trabalhador a mercê apenas do dano trazido a sua saúde. Importante observar que o c. Tribunal Superior do Trabalho tem jurisprudência com relação à matéria, afirmando que a redução ficta da hora noturna tem por objetivo garantir a higidez física e mental do trabalhador, tratando-se de norma de ordem pública, sequer passível de alteração por meio de norma coletiva (Processo TST-RR-800750-02.2001.5.17.0001, acórdão unânime 4
da SBDI-1, publicado no DJ de 19.04.2001, Relator Ministro Renato de Lacerda Paiva). No mesmo sentido o processo TST-E-ED-RR-423/2006-022-13-00.0, acórdão unânime da SBDI-1, publicado no DJ de 9.10.2009 Relatora Minsitra Maria de Assis Calsing). Nessas condições, entendo que o Parquet deva diligenciar junto às partes convenentes quanto ao prejuízo trazido à categoria pela cláusula convencionada, adotando as providências necessárias nesse sentido, alertando para o fato de que a data-base da categoria é janeiro. III - CONCLUSÃO Em conclusão, não homologo a promoção de arquivamento encaminhada, deixando de designar membro específico para atuação (inciso II, artigo 10, da Resolução nº 69/2007), em respeito à autonomia organizacional da Regional. Brasília, 23 de agosto de 2011. Eliane Araque dos Santos Relatora 5