Newsletter Novembro 2011 Grupo Tabagismo Região Centro EDITORIAL O tabagismo em tempo de crise A crise, actualmente domina tudo e todos, e é presumível que a dependência Tabágica, condicionada por este factor, se venha a agravar. O ambiente social envolvente e as incertezas da crise, provocam ansiedade, que levarão até os fumadores, que teriam no seu horizonte imediato a cessação tabágica, a persistirem no hábito de fumar. A componente económica, que aparentemente, poderia ser um factor major, corre assim o risco de ser minimizada. Podemos tomar como referência os comportamentos observados na Casa dos Segredos, programa televisivo de grande audiência, em que ao mínimo conflito, ansiedade, entre os concorrentes, ressalta, através da televisão, o fumar obsessivo e compulsivo. É pois urgente que os meios de comunicação façam parte responsável da luta antitabágica e mostrem o distanciamento devido aos interesses económicos mais imediatos Cabe-nos também a nós como cidadãos e profissionais de saúde, empenhados na cessação tabágica, um papel mais reforçado e activo no apoio a todos aqueles que querem deixar de fuma António Paisana Cigarro Eletrónico Cigarro fora da Lei! Autor: António Luís Miranda dos Santos Serra Coordenador da área de Tabagismo da U.L.S. Guarda, E.P.E. O cigarro eletrónico foi inventado na China em 2004 e foi apresentado como uma alternativa segura ao cigarro convencional e uma solução para ajudar os consumidores a deixar de fumar. Rapidamente se espalhou pelo mundo e as suas vendas têm vindo a crescer constantemente.
Imagem adaptada do The NEW ENGLAND JOURNAL of MEDICINE, Perspective, Julho de 2011 O cigarro eletrónico é um cilindro metálico que mimetiza um cigarro tradicional no tamanho e na aparência mas que não contem tabaco (?). È constituído por três partes, uma que contem a pilha que fornece energia ao led que simula a combustão do cigarro e ao vaporizador/atomizador, que é ativado quando deteta o fluxo aéreo e um cartucho onde se encontram as substâncias que são vaporizadas produzindo fumo, semelhante na aparência ao fumo do cigarro convencional. É um dispositivo reutilizável e recarregável, pois existem recargas e/ou embalagens com líquido para recarregar a cápsula do cartucho. Na compra do Kit é disponibilizado um cabo para recarregar a pilha, podendo assim ser reutilizável. O cartucho, a peça bucal, contem propileno-glicol, água, aromatizantes com diversos tipos de sabores e cheiros por ex. chocolate, maçã, morango ou tabaco (!) e pode conter ou não nicotina. São disponibilizados quatro tipos de cartuchos consoante a quantidade de nicotina alta, média, baixa e sem nicotina. Cigarro Eletrónico dispositivo de dispensa de nicotina ou um produto de tabaco? Desde o início da comercialização do cigarro eletrónico (e-cigar ou e-cigarrete) que as autoridades de saúde de diversos países têm vindo a tomar posição sobre este produto, mas a questão não é simples Existem diversas marcas de cigarros eletrónicos e todas elas se furtam a esta questão.
Por um lado, no seu marketing, dizem que muitos fumadores deixaram de fumar com a sua utilização. Ora, sendo assim, então este será mais um método para deixar de fumar. E onde estão os estudos que comprovam e suportam esta afirmação? Se os cigarros eletrónicos podem ser utilizados para deixar de fumar então deverão ser considerados dispositivos de dispensa de nicotina com uma utilização semelhante a outros produtos que contêm nicotina (sistemas trans-dérmicos, gomas e pastilhas). Até hoje nenhuma marca de cigarros eletrónicos avançou com pedidos de registo como medicamento em nenhum país do mundo, pois teriam que demonstrar cientificamente a segurança e eficácia do cigarro eletrónico no abandono do tabagismo. Não se pode esquecer o que se passou nos Estados Unidos da América quando a FDA (Food and Drug Administration) tentou regulamentar a comercialização dos cigarros eletrónicos (ecigarrete) considerando-os como dispositivos de dispensa de nicotina. De imediato a situação foi posta em tribunal e um juiz decidiu que o cigarro eletrónico podia continuar a ser vendido e utilizado livremente No entanto quer a FDA, quer outras entidades científicas de renome mundial, têm alertado para os perigos da utilização destes dispositivos, pois o consumo de quaisquer quantidades de nicotina leva à dependência. A comercialização destes dispositivos com aromas apelativos para as crianças e jovens poderá levar à dependência e ao consumo dos cigarros tradicionais levando ao aparecimento de todas as doenças relacionas com o tabaco. Não se pode subestimar o poder do marketing, pois este leva ao consumo e uso do cigarro eletrónico nos locais de diversão dos jovens (bares e discotecas) onde é proibido fumar os cigarros tradicionais, por ser um cigarro sem tabaco (?). Foram divulgados alguns estudos sobre a composição do líquido contido nas cápsulas dos cartuchos onde é referido a existência de produtos cancerígenos (nitrosaminas, relacionadas com a extração da nicotina da planta do tabaco) e tóxicos (dietilenoglicol, um anticongelante tóxico), bem como outros produtos. Ora, como é sabido, a nicotina, contida nos cigarros eletrónicos, só existe em quantidades rentáveis, do ponto de vista comercial, na planta do tabaco. Sendo assim o cigarro eletrónico é um produto de tabaco.
A FDA anunciou em abril deste ano que considera o e-cigarrete (cigarro eletrónico) como um produto de tabaco. Assim irá ser regulamentado como todos os outros produtos do tabaco, obrigando as empresas que comercializam este produto a dar todas as informações sobre a verdadeira composição do líquido que existe nos cartuchos dos cigarros eletrónicos. Sabe-se que a quantidade de nicotina existente em muitos cartuchos de cigarros eletrónicos ultrapassam a dose letal para qualquer ser humano, se ingerida na totalidade de uma só vez. Fica assim evidente a sua perigosidade se ingerida acidentalmente. A venda do cigarro eletrónico encontra-se generalizada através da internet e quiosques em diversos locais muito frequentados pelos consumidores. Não estão sujeitos a qualquer controle por nenhuma entidade de saúde ou de defesa do consumidor podendo assim ser vendidos sem nenhum controle, quer na sua composição quer na sua construção. A Organização Mundial da Saúde já tomou posição sobre o cigarro eletrónico desaconselhando o seu uso. Em Portugal as autoridades de saúde também já se pronunciaram sobre este gadget eletrónico desaconselhando a utilização deste tipo de produtos, por não ser possível assegurar a sua qualidade, segurança e eficácia/desempenho. Mas, depois de tudo isto, a situação continua como antes venda livre! Salve-se quem puder! Bibliografia 1. THE NEW ENGLAND JOURNAL OF MEDICINE, Perspective, 21 de Julho de 2011 2. INFARMED, Circular Informativa N.º 156/CD, Data: 12/08/2011 3. THE NEW ZEALAND MEDICAL JOURNAL, 21 de Janeiro de 2011, Vol. 124, N.º 1328 4. http://www.fda.gov/newsevents/newsroom/pressannouncements/ucm173222.htm
PREVENÇÃO DAS RECAÍDAS (PERSPEPTICA DO MÉDICO) Resumo da intervenção no Congresso do EMASH realizado em 13 e 14 / 10 / 2011 Autor: Maria Manuel Marques Açafrão Coordenadora Regional do Tabagismo da ARS Centro IP A Cessação Tabágica é um processo de aprendizagem, um adquirir de experiências, ou seja, uma aprendizagem progressiva do dia a dia sem tabaco. As recaídas na cessação tabágica, são mais uma regra que uma excepção, surgem na sua maioria aos seis meses após o inicio do processo. É importante o profissional saber distinguir Lapso (manifestação de um comportamento isolado em determinado contexto concreto e específico) da Recaída (readaptação dos padrões de consumo anterior ao período de abstinência). As causas mais frequentes das recaídas, podem estar relacionadas com o profissional ou com o utente. Em relação ao profissional, este, por vezes desvaloriza o nível da dependência, tendo como consequência uma subdosagem do tratamento, identifica erradamente a fase da mudança, dá apoio psicológico e seguimento insuficiente ou tem pouca disponibilidade para dar o apoio necessário., não valoriza os efeitos secundários do tratamento assim como o síndrome de abstinência. As causas mais frequentes relacionadas com o fumador é a baixa motivação, baixo nível de autoeficácia, o não cumprimento do tratamento, os efeitos secundários do tratamento, as alterações desfavoráveis à sua volta ou a incapacidade de procurar estratégias para ultrapassar as situações críticas Existem algumas situações que são mais propícias ao aparecimento da recaída, são elas, as situações intrapessoais (estados emocionais negativos ou positivos, difícil controlo pessoal de não resistência a impulsos ou tentações) e as situações interpessoais (parceiros, amigos, familiares, pressão social, estados emocionais positivos).
As recaídas, sejam quais forem as causas são acompanhadas por um sentimento de frustração do fumador e é importante não dramatizar e culpabilizá-lo por isso, deverá ser explicado que se trata de uma etapa frequente e normal. Fumador Ex.Fumador O fumador tem um puzzle montado, o cigarro dá resposta a qualquer alteração, na prevenção das recaídas é necessário desmontar esse puzzle e montar outro com comportamentos saudáveis Alguns fumadores são mais preditivos à recaída, como é o caso de fumadores que fumam mais de 20 cigarros por dia, ter idade inferior a 17 anos, o sexo feminino, fumar o primeiro cigarro nos 30 minutos após acordar, viver com fumadores, ter antecedentes de depressão, haver abuso de álcool ou outras drogas ou aparecimento de sintomas de privação em tentativas anterioes. Desde a primeira consulta é importante insistir na prevenção das recaídas, esta é uma arma terapêutica de sucesso na cessação tabágica, a qual oferece múltiplas estratégias que fomentam a aquisição e manutenção de hábitos, atitudes e comportamentos mais saudáveis. Depois da identificação das situações de alto risco para a recaída, é importante, fazer a sua abordagem com o utente e elaborar planos estratégicos / alternativos a evitar estas situações. A única arma eficaz contra as recaídas é o AUTOCONTROLO. A utilização de medicamentos está indicada para facilitar a abordagem cognitivocomportamental, sempre acompanhada de uma avaliação clínica cuidada. tabágica. A terapêutica cognitiva-comportamental (TCC) melhora as taxas de sucesso na cessação A entrega ao utente de material de auto-ajuda é fundamental para o ajudar a gerir situações de risco, aumentando assim a autoconfiança e o autocontrolo. Quanto maior o período de abstinência, maior é o autocontrolo, a autoconfiança e a autoeficácia do tratamento
As recaídas no pós parto, surgem em 70 80 % após os primeiros meses a seguir ao parto ou um ano após o mesmo. As causas mais frequentes destas recaídas devem-se á ausência da principal motivação para deixar de fumar (gravidez) que era a saúde do bebé; a existência do tabagismo do parceiro, idade jovem, o ambiente social favorável a fumar, peso ideal difícil de recuperar após o parto ou o stress associado à nova situação. A cessação tabágica pode agravar ou desencadear a ansiedade ou o síndrome depressivo e conduzir à recaída, é fundamental identificar logo de início afim de ser possível prevenir a sua evolução. É necessário reforçar o seguimento dos ex. fumadores durante as primeiras semanas e meses seguintes na consulta de Cessação Tabágica. Alguns fumadores são mais propícios a manterem-se abstinentes, são eles, sexo masculino, ter idade superior a 40 anos, motivação sólida, não se preocupar com aumento de peso, parceiro (a) não fumador (a) ou abstinência total ao tabaco nas primeiras quatro semanas de tratamento. Bibliografia 1.Yves Martinet, Abraham Bohadana, O Tabagismo da prevenção à abstinência Climepsi Editores 2. Cordenação Pestana Eduarda, Tabagismo, do diagnóstico ao tratamento, Lidel 3. Ruiz, C. A. Jiménez, Fagerstrom, KO, Tratado Tabaquismo Biblioteca Aula Medica 4. DGS Cessação Tabágica ProgramaTipo de actuação Dezembro de 2007 5. Rosemberg J Nicotina droga Universal 6. Ferrero, M.B; Mezquita, M.A; Garcia, M.T. Manual de Preveción y Tratamiento del Tabaquismo 2009 7. http://www2.cochrane.org/reviews/en/topics/94_reviews.html Se é profissional de saúde ou está ligado, de alguma forma a esta áreas. Esta Newsletter á sua. Colabore enviando artigos CONTACTOS:mmanuelacafrao@gmail.com Juditemaia@årscentro.min-saude-pt