Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) Segurança Pública no Brasil



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Transcrição:

Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) Segurança Pública no Brasil 30 de março de 2011

Dando continuidade à tarefa de contribuir com a discussão sobre a percepção da população brasileira em relação ao desempenho do Estado, o Ipea divulga este segundo comunicado referente à primeira pesquisa realizada para o projeto SIPS (Sistema de Indicadores de Percepção Social) sobre o tema da segurança pública. Neste estudo, são apresentadas as diferentes formas de os cidadãos das regiões brasileiras enxergarem como o poder público atua em relação ao problema da criminalidade e da violência.

Os entrevistados responderam a cinco baterias de perguntas. Em primeiro lugar, expressaram o grau de medo em relação a serem vítimas dos seguintes eventos: assassinato, assalto à mão armada, arrombamento da residência e agressão física. Em segundo lugar, responderam sobre qual seu grau de confiança nas instituições policiais e também nas guardas municipais. Em terceiro, avaliaram vários itens ligados às polícias e seus serviços. Por fim, com perguntas direcionadas apenas aos entrevistados que já passaram pela experiência de contato com a polícia, foi feita uma avaliação dos serviços prestados e coletadas informações sobre possíveis problemas ocorridos na interação com os agentes policiais.

Os dados sobre percepção social em relação à segurança pública são contextualizados com o acréscimo de gráficos sobre os gastos na área, os efetivos policiais e as taxas de homicídio doloso por cada região. A taxa de homicídio doloso, que se refere ao ato de tirar a vida de uma pessoa de forma intencional, foi selecionada dentre outras formas possíveis de se indicar criminalidade violenta.

Em que pese o fato de que o planejamento e a gestão da segurança pública no Brasil sejam realizados basicamente tomando por base os estados, as regiões apresentam características bem distintas em relação a requisitos estruturais na área, como os gastos e a proporção de policiais por habitantes. Comparar características estruturais com os dados sobre a percepção social sobre segurança pública mostra como essa relação é complexa.

A pesquisa foi a campo entre os dias 17 e 31 de maio de 2010. A margem de erro da amostra no nível nacional é de 1,86%, para cima ou para baixo, e de 5% para as regiões do país. Os dados sobre população, gastos com segurança pública, efetivos policiais e taxas de criminalidade são provenientes do IBGE, do Anuário 2010 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da Secretaria Nacional de Segurança Pública, e são informações referentes ao ano de 2009.

Com o objetivo de simplificar a apresentação dos resultados da pesquisa, as tabelas mostram apenas as respostas válidas. Foram excluídas as respostas do tipo não sabe e também os casos em que o entrevistado não respondeu. Em nenhuma questão a soma das porcentagens dos que declararam não saber opinar e daqueles que simplesmente não responderam ultrapassou 3% do total de respostas.

Tabela 1 Medo de assassinato por região Muito medo Pouco medo Nenhum medo Centro- Oeste 75,0% 13,4% 11,6% Nordeste 85,8% 8,2% 6,0% Norte 78,4% 14,0% 7,6% Sudeste 78,4% 10,9% 10,7% Sul 69,9% 17,3% 12,8% Fonte: Pesquisa SIPS Ipea, 2010

Gráfico 1 Sensação de segurança, taxa de homicídio doloso por milhão de habitantes e gasto per capita com segurança pública regiões brasileiras 300 250 200 150 100 50 0 BR ASIL Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Sensação segurança (Taxa de indivíduos que não tem medo de serem assassinados por mil habitantes). BRASIL = 97 Violência (H om icídios dolosos por m ilhão habitantes ). BRASIL = 224 Gas to com segurança pública (per capta). BRASIL = R$ 200,07 Fonte: P esquisa SIPS Ipea, 2010, FBSP e IB G E, 2010.

Tabela 2 Confiança nas polícias por região (média para as polícias militar e civil) Confia muito Confia Confia pouco Não confia Centro - Oeste 4,30% 37,05% 34,20% 24,45% Nordeste 5,80% 24,10% 43,45% 26,70% Norte 4,45% 26,15% 47,35% 22,00% Sudeste 3,00% 21,80% 45,10% 30,05% Sul 3,40% 28,00% 43,95% 24,65% Fonte: Pesquisa SIPS Ipea, 2010

Gráfico 2 Confiança nas polícias, taxa de homicídio doloso por milhão de habitantes e número de policiais por cem mil habitantes regiões brasileiras 600 500 400 300 200 100 0 BRASIL Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Confiança nas polícias (Taxa de indivíduos que se declaram confiantes nas polícias estaduais por mil habitantes ). BRASIL = 297 Violência (Hom icídios dolos os por m ilhão habitantes). BRASIL = 224 Policiais por cem m il habitantes (som ados os efetivos das polícias m ilitar e civil). BRASIL = 273 Fonte: Pesquisa SIPS Ipea, 2010, FBSP e IB G E, 2010.

Tabela 3 Avaliação do atendimento prestado pelas polícias por região Ótimo Bom Regular Ruim Péssimo Centro-Oeste 10,8% 29,5% 32,8% 13,4% 13,4% Nordeste 10,1% 36,2% 24,1% 12,1% 17,6% Norte 6,1% 29,3% 40,1% 11,6% 12,9% Sudeste 10,4% 32,0% 29,3% 11,4% 16,8% Sul 10,0% 39,6% 27,6% 9,2% 13,6% Fonte: Pesquisa SIPS Ipea, 2010

Gráfico 3 Avaliação dos atendimentos prestados pelas polícias, número de policiais por 100 mil habitantes e gasto per capita com segurança pública regiões brasileiras 600 500 400 300 200 100 0 BRAS IL Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Avaliação dos serviços prestados por policiais (Taxa de indivíduos que avaliaram bem o atendimento policial por mil habitantes). BRASIL = 43 5 Gasto com segurança pública (per capta). BRASIL = R$ 200,07 Policiais por cem mil habitantes (apenas ef etivos das polícias militar e c ivil). BRASIL = 273 Fonte: Pesquisa SIPS Ipea, 2010, FBSP e IBGE, 2010.

É um grande desafio compreender melhor os fatores que podem levar a uma maior sensação de segurança da população. Em alguns casos, ela está realmente muito relacionada com as taxas de homicídios dolosos.

As taxas de homicídios dolosos são maiores no Nordeste e Norte, regiões onde a sensação de segurança é a menor entre as regiões do país. Mas como se dá essa relação entre a ocorrência efetiva de crimes e a sensação de segurança da população? Esse estudo demonstra que a relação entre os dois fatores existe em alguma medida, mas não se trata de uma relação direta. Isso quer dizer, por um lado, que o maior número de investimentos e de efetivos policiais não necessariamente se traduz em baixas taxas de criminalidade, e, por outro lado, que a diminuição dessas taxas também não se reflete, de forma imediata, na sensação de segurança da população.

Na Região Centro-Oeste se encontra a maior disponibilidade de policiais em relação ao número de habitantes e o mais alto índice de confiança nas polícias, mas com uma taxa de homicídios dolosos acima da média nacional. Ao mesmo tempo, os dados sugerem que os gastos em segurança pública no Sudeste realmente ajudaram a diminuir muito a criminalidade violenta na região. No entanto, essa diminuição não conseguiu fazer com que a sensação de segurança da população se tornasse muito melhor do que a média nacional. De fato, a sensação de segurança é menor do que no Sul ou no Centro-Oeste, regiões com taxas de homicídio doloso atualmente superiores à do Sudeste.

O Nordeste apresenta investimentos públicos em segurança relativamente baixos, ao mesmo tempo em que sustenta uma taxa de homicídios dolosos alta e uma baixa sensação de segurança. No entanto, essa mesma região apresenta índices superiores às médias nacionais no que se refere ao grau de confiança nas suas polícias e à avaliação dos serviços prestados por essas instituições.

Já a população da Região Sul faz, de uma forma geral, uma avaliação ainda mais positiva dos atendimentos realizados pelas polícias e fica em segundo lugar, entre as regiões brasileiras, no que diz respeito ao grau de confiança nas instituições policiais, atrás apenas do Centro-Oeste. Ou seja, as instituições policiais foram relativamente bem avaliadas no Sul e no Nordeste, a despeito de serem aquelas regiões que apresentam os mais baixos gastos per capita com segurança pública e os menores efetivos policias em relação ao tamanho da população.