DA INEXIGIBILIDADE DE CERTIDÕES NEGATIVAS DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS EM PLEITO DE ALVARÁ JUDICIAL COM FUNDAMENTO NA LEI Nº 6.858, NO DECRETO Nº 85



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Transcrição:

DA INEXIGIBILIDADE DE CERTIDÕES NEGATIVAS DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS EM PLEITO DE ALVARÁ JUDICIAL COM FUNDAMENTO NA LEI Nº 6.858, NO DECRETO Nº 85.845, NA LEI Nº 8.036 E NO DECRETO Nº 99.684 RÔMULO SANTA ROSA ALVES Defensor Público do Estado de Alagoas em exercício nas 20ª e 21ª Varas Cíveis da Comarca de Maceió (Sucessões) Comumente se observa em decisões proferidas nos autos de pleito de alvará judicial para levantamento de valores a que faz alusão a Lei nº 6.858, de 24 de novembro de 1980, regulamentada pelo Decreto nº 85.845, de 26 de março de 1981, assim como a Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990 (art. 20, inciso IV), regulamentada pelo Decreto nº 99.684, de 08 de novembro de 1990 (art. 38, 1º, 2º e 3º), a determinação aos interessados para trazerem aos autos certidões negativas de débitos tributários deixados pelo falecido. Analisando detidamente as supramencionadas legislações, constata-se que inexiste qualquer dispositivo legal a exigir dos dependentes ou dos sucessores, para levantamento daqueles valores, quaisquer documentos comprobatórios de inexistência de débitos tributários deixados pelo falecido. O procedimento especial, quer seja ele judicial, quer seja ele extrajudicial, estabelecido para levantamento de valores a que faz alusão aquelas legislações dantes referidas, não se confunde com os procedimentos de inventário e arrolamento regidos pelo Código de Processo Civil, tal como foi explicitamente estabelecido no art. 1.037, deste diploma legal, conforme se pode observar: Art. 1.037. Independerá de inventário ou arrolamento o pagamento dos valores previstos na Lei nº 6.858, de 24 de novembro de 1980. (grifos nossos) A orientação adotada pelo novel Código Civil já constava das legislações que regiam o procedimento especial de levantamento de valores pelos dependentes e sucessores do falecido, deixando assim translúcido que tais valores deveriam ser C:\Documents and Settings\Giffoni\Configurações locais\temporary Internet Files\Content.IE5\3EDHCK3S\ARTIGO1.doc 1/8

pagos independentemente de qualquer formalidade adotada para os procedimentos de inventário e arrolamento, conforme se pode verificar: Art. 1º. Os valores devidos pelos empregadores aos empregados e os montantes das contas individuais do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e do Fundo de Participação PIS-PASEP, não recebidos em vida pelos respectivos titulares, serão pagos, em quotas iguais, aos dependentes habilitados perante a Previdência Social ou na forma da legislação específica dos servidores civis e militares, e, na sua falta, aos sucessores previstos na lei civil, indicados em alvará judicial, independetemente de inventário ou arrolamento. (grifos nossos) Lei nº 6.858, de 24 de novembro de 1980 Art. 5º. Na falta de dependentes, farão jus ao recebimento das quotas de que trata o art. 1º deste Decreto os sucessores do titular, previstos na lei civil, indicados em alvará judicial, expedido a requerimento do interessado, independentemente de inventário ou arrolamento. (grifos nossos) Decreto nº 85.845, de 26 de março de 1981 Art. 20. A conta vinculada do trabalhador no FGTS poderá ser movimentada nas seguintes situações: IV falecimento do trabalhador, sendo o saldo pago a seus dependentes, para esse fim habilitados pera a Previdência Social, segundo o critério adotado para a concessão de pensões por morte. Na falta de dependentes, farão jus ao recebimento do saldo da conta vinculada os seus sucessores previstos na lei civil, indicados em alvará judicial, expedido a requerimento do interessado, independente de inventário ou arrolamento; (grifos nossos) Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990 Art. 37. O saldo da conta vinculada do trabalhador que vier a falecer será pago a seu dependente, para esse fim habilitado C:\Documents and Settings\Giffoni\Configurações locais\temporary Internet Files\Content.IE5\3EDHCK3S\ARTIGO1.doc 2/8

perante a Previdência Social, independentemente da autorização judicial. 3º. Na falta de dependentes, farão jus ao recebimento do saldo da conta vinculada os sucessores do trabalhador, na forma prevista no Código Civil, indicados em alvará judicial, expedido a requerimento do interessado, independetemente de inventário ou arrolamento. (grifos nossos) Decreto nº 99.684, de 08 de novembro de 1990 Com pequenas diferenças na redação dos dispositivos legais dantes transcritos, observa-se que o intuito do legislador foi afastar as formalidades constantes dos procedimentos de inventário e arrolamento que não se coadunavam com a celeridade processual, a simplicidade e informalidade do pleito de expedição de alvará judicial, além de proteger os dependentes e sucessores do titular falecido. Indubitavelmente, para os procedimentos de inventário e arrolamento exige explicitamente o Código de Processo Civil a comprovação de pagamento de todos os tributos e da inexistência de débitos tributários deixados pelo falecido (arts. 1.026, 1.031, caput e 2º e 1.036, 5º), cuja exigência não foi estabelecida quando se trata de levantamento de valores com fulcro na Lei nº 6.858, no Decreto nº 85.845, na Lei nº 8.036 e no Decreto nº 99.684, pois, quando o legislador quis resguardar o interesse do Estado ao recebimento das suas receitas tributárias, assim o fez explicitamente. Também não se vislumbra da Lei nº 6.858, do Decreto nº 85.845, da Lei nº 8.036 e do Decreto nº 99.684 qualquer dispositivo legal estabelecendo a aplicação subsidiária das normas previstas no Código de Processo Civil para o inventário e o arrolamento, o que demonstra que não se quis formalizar e solenizar excessivamente (e, acresça-se ainda, burocratizar ) o pedido de expedição de alvará judicial com a aplicação de normas atinentes aos procedimentos de inventário e arrolamento. Acresça-se ainda, que o art. 192, do Código Tributário Nacional, ao estatuir que nenhuma sentença de julgamento de partilha ou adjudicação será proferida sem prova da quitação de todos os tributos relativos aos bens do espólio, ou às suas rendas, é comumente erroneamente invocado para amparar a exigência de comprovação de inexistência de débitos tributários para a expedição de alvará judicial com base naquelas legislações. C:\Documents and Settings\Giffoni\Configurações locais\temporary Internet Files\Content.IE5\3EDHCK3S\ARTIGO1.doc 3/8

Acontece, que tal dispositivo do Código Tributário se refere aos procedimentos de inventário e arrolamento, haja vista que no pleito de expedição de alvará judicial não há sentença de julgamento de partilha ou adjudicação. Ademais, o art. 192, do Código Tributário, foi derrogado pela Lei nº 11.441, de 04 de janeiro de 2007, que efetivou profundas mudanças na disciplina dos procedimentos de inventário e arrolamento estabelecida no Código de Processo Civil (arts. 982 e 1.031). Ao fazer minuciosa análise sobre o alvará independente, assim se manifestaram Sebastião Amorim e Euclides de Oliveira, em sua obra Inventários e Partilhas Direito das Sucessões Teoria e Prática, 14ª edição, São Paulo, Livraria e Editora Universitária de Direito, 2001, pág. 341: O processo é muito simples, prescindindo das formalidades de partilha, já que a atribuição é feita diretamente aos beneficiários, mediante autorização para levantamento dos depósitos a quem de direito. (grifos nossos) E mais adiante, à pág. 343, acrescentam: Nas hipóteses já enunciadas, de valores previstos na Lei 6.858/80, o pagamento faz-se prioritariamente aos dependentes do falecido e sem necessidade de qualquer procedimento judicial (salvo, nos casos de depósitos e aplicações financeiras, se houver outros bens sujeitos a inventário). A lei visou facilitar os pagamentos, determinando se façam pela via administrativa. Mas foi além, sobrepondo-se à ordem de vocação hereditária prevista na lei civil, para dar precedência aos dependentes do falecido, antes que aos sucessores. Aliás, assim já dispunham as leis referentes ao PIS/PASEP e ao FGTS, mandando pagar essas verbas aos beneficiários da pensão previdenciária. Ora, se o processo é muito simples, prescindindo das formalidades de partilha, pois a lei visou facilitar os pagamentos, como afirmam os ilustres membros da Magistratura paulista, qualquer exigência feita para a expedição do alvará judicial que desvirtue tal simplicidade, informalidade e facilidade é destituída de amparo legal. C:\Documents and Settings\Giffoni\Configurações locais\temporary Internet Files\Content.IE5\3EDHCK3S\ARTIGO1.doc 4/8

Desta feita, a exigência de que os interessados tragam aos autos as certidões negativas de débitos tributários como condição para a expedição de alvará judicial para levantamento de valores a que faz referência a legislação citada, não encontra qualquer respaldo legal, afrontando o princípio constitucional da celeridade processual, hoje explicitamente estabelecido no art. 5º, inciso LXXVIII, da Carta Constitucional de 1988. Tanto é verdade, que a percepção dos valores deixados pelo titular falecido há de se revestir de simplicidade e informalidade, que o Decreto nº 85.845 e o Decreto nº 99.684 estabeleceram a possibilidade de levantamento dos valores na esfera administrativa, em que não há qualquer exigência de comprovação de inexistência de débitos tributários deixados pelo falecido, conforme se pode observar dos seguintes dispositivos legais: Art. 2º A condição de dependente habilitado será declarada em documento fornecido pela instituição de previdência ou, se for o caso, pelo órgão encarregado, na forma da legislação própria, do processamento do benefício por morte. Parágrafo único. Da declaração constarão, obrigatoriamente, o nome completo, a filiação, a data de nascimento de cada um dos interessados e o respectivo grau de parentesco ou relação de dependência com o falecido. Art. 3º. À vista da apresentação da declaração de que trata o art. 2º, o pagamento das quantias devidas será feito aos dependentes do falecido pelo empregador, repartição, entidade, órgão ou unidade civil ou militar, estabelecimento bancário, fundo de participação ou, em geral, por pessoa física ou jurídica, a quem caiba efetuar o pagamento. (grifos nossos) Decreto nº 85.845, de 26 de março de 1981 Art. 37. O saldo da conta vinculada do trabalhador que vier a falecer será pago a seu dependente, para esse fim habilitado perante a Previdência Social, independentemente da autorização judicial. (grifos nossos) Decreto nº 99.684, de 08 de novembro de 1990 C:\Documents and Settings\Giffoni\Configurações locais\temporary Internet Files\Content.IE5\3EDHCK3S\ARTIGO1.doc 5/8

Dessarte, se na esfera administrativa não se exige do dependente a comprovação de inexistência de débitos tributários deixados pelo falecido, não se justifica tal exigência quando o pleito de expedição de alvará para levantamento desses mesmos valores for feito judicialmente, pois ubi eadem legis ratio, ibi ipsa lex (onde há a mesma razão da lei, aí deve a lei ser a mesma). Neste particular, assim se manifesta Maria Helena Diniz, em sua obra Curso de Direito Civil Brasileiro Direito das Sucessões, 6º volume, 17ª edição, São Paulo, Saraiva, 2003, pág. 101: O levantamento será feito, em primeiro lugar, pelos dependentes ou pelos sucessores que têm também a qualidade de dependentes, sem necessidade de autorização judicial, bastando que façam a solicitação junto às pessoas físicas ou jurídicas responsáveis pelo pagamento dos valores. O recebimento de tais valores opera-se administrativamente, bastando comprovação do saldo e apresentação da certidão de dependência fornecida pelo INSS, acompanhada de declaração de inexistência de outros bens a inventariar. Mesmo havendo dependente menor, a solicitação será feita sem intervenção judicial, pois a sua quota ficará depositada em caderneta de poupança, rendendo juros e correção monetária, e somente será disponível após o menor completar 18 anos, salvo autorização do magistrado para aquisição de imóvel destinado à residência do menor e de sua família ou para dispêndio necessário à sua subsistência e educação (Lei nº 6.858/80, art. 1º, 1º, e Dec. n. 85.845/81, art. 6º). É preciso lembrar que os valores serão pagos, em quotas iguais, aos dependentes habilitados; logo, a viúva ou companheira terá apenas uma porção igual às atribuídas aos demais beneficiários, ficando, portanto, afastada a hipótese de meação. Não havendo dependente habilitado perante a Previdência Social, para o levantamento será necessário alvará judicial, indicando os sucessores aptos para tanto. C:\Documents and Settings\Giffoni\Configurações locais\temporary Internet Files\Content.IE5\3EDHCK3S\ARTIGO1.doc 6/8

As quotas somente poderão ser levantadas pelos sucessores, mediante alvará judicial, se ficar comprovada a inexistência de dependentes habilitados (Dec. n. 85.845/81, art. 5º). - grifos nossos No mesmo sentido é a lição de Sebastião Amorim e Euclides de Oliveira, em sua obra Inventários e Partilhas Direito das Sucessões Teoria e Prática, 14ª edição, São Paulo, Livraria e Editora Universitária de Direito, 2001, pág. 344: O levantamento de valores na esfera administrativa é feito mediante simples apresentação do pedido ao órgão pagador (empregador, banco ou outra entidade), acompanhado dos documentos relativos à quantia em depósito, e de certidão de dependência fornecida pela Previdência Social. O interessado firmará declaração, em formulário próprio, de inexistência de bens a inventariar, habilitando-se ao recebimento das importâncias a que faz jus. Quando do regulamento das supracitadas leis, os referidos decretos regulamentadores não estabeleceram qualquer exigência quanto à comprovação de inexistência de débitos tributários para o levantamento dos valores deixados pelo titular, cujo pedido for providenciado na esfera administrativa, o que por si só já demonstra ser despicienda esta mesma exigência quando o pleito de levantamento daqueles mesmos valores for feito judicialmente. Cabe acrescer, que se providenciado o pleito de levantamento dos valores deixados pelo falecido na esfera administrativa for exigida a comprovação de inexistência de débitos tributários do titular, tal decisão é passível de ser atacada por mandado de segurança quando a autoridade coatora for agente público ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público, com fundamento no direito líquido e certo que têm os dependentes de perceber aqueles valores e na ilegalidade da exigência não estabelecida em lei, conforme garante o art. 5º, inciso LXIX, da Carta da República de 1988. Nos tempos hodiernos, quando se observa que toda a sociedade se mobiliza para exigir que o Poder Judiciário não perpetue a tramitação infindável dos feitos submetidos à sua apreciação, resultando desta mobilização mudanças profundas no próprio Código de Processo Civil que visam a uma prestação jurisdicional célere, C:\Documents and Settings\Giffoni\Configurações locais\temporary Internet Files\Content.IE5\3EDHCK3S\ARTIGO1.doc 7/8

não se concebe que exigências destituídas de amparo legal venham a protelar o provimento jurisdicional definitivo, privilegiando-se a forma em detrimento do fundo. Não raras vezes, vemos que a tramitação dos feitos ultrapassa prazos razoáveis estabelecidos para a tramitação processual, cujas causas, por mais justas que sejam (como a quantidade exacerbada de processos, a deficiência de estrutura material e pessoal, etc), podem ser contornadas por simples atitudes processuais do Juízo, como sói se apresentar o presente caso em análise, cuja exigência de comprovação de inexistência de débitos tributários do falecido para o levantamento dos valores referidos não foi estabelecida na legislação, consistindo em exigência despicienda que somente vem a retardar a prestação jurisdicional final. A falsa imagem transmitida por alguns de que os feitos se arrastam por longos anos em decorrência de atitudes protelatórias dos patronos das partes se apresenta evidente quando se observa que mesmo quando não existe litigância entre elas e não há interesse dos patronos na perpetuação da tramitação processual, os feitos ainda assim passam longos meses e anos em tramitação. Também é comum observar nos feitos em tramitação que as certidões negativas de débitos tributários do falecido juntadas aos autos pelas partes perdem a sua validade ainda durante a tramitação processual, ante a demora na tramitação do feito, necessitando que os interessados juntem novas certidões, o que faz o feito se arrastar por longo tempo desnecessariamente, acumulando centenas de processos nas Varas Cíveis. Por todas estas razões expendidas, não se vislumbra a necessidade de ser comprovada a inexistência de débitos tributários do falecido para a liberação dos valores deixados pelo titular a que se referem a Lei nº 6.858, de 24 de novembro de 1980, o Decreto nº 85.845, de 26 de março de 1981, a Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990 e o Decreto nº 99.684, de 08 de novembro de 1990, devendo o Juízo analisar o pleito de expedição de alvará judicial para levantamento daqueles valores independentemente da juntada aos autos de certidões negativas de débitos tributários. C:\Documents and Settings\Giffoni\Configurações locais\temporary Internet Files\Content.IE5\3EDHCK3S\ARTIGO1.doc 8/8