A UTILIZAÇÃO DO TERMO IMERSÃO SOCIAL NAS PESQUISAS EM ADMINISTRAÇÃO



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Transcrição:

A UTILIZAÇÃO DO TERMO IMERSÃO SOCIAL NAS PESQUISAS EM ADMINISTRAÇÃO Deborah Stocco Machado (UEM) Maurício Reinert do Nascimento (UEM) RESUMO O termo imersão social (social embeddedness), utilizado inicialmente na Sociologia Econômica, tem aparecido com frequência em artigos na área de Administração e Estudos Organizacionais. Muitos autores utilizam a imersão social, mas poucos a definem de maneira clara. O objetivo do estudo é compreender como o termo imersão social é utilizado nas pesquisas em Administração. A base desse trabalho foi uma pesquisa realizada em periódicos internacionais em 2005 que identificou a importância da utilização do artigo Economic Action and Social Structure: The Problem of Embeddedness de Granovetter (1985) na área de administração. Essa pesquisa continuará a pesquisa anterior. Foi pesquisados artigos nos periódicos acadêmicos (1985-2008): RAE, RAC, RAUSP e Organizações e Sociedade; e a atualização da pesquisa em periódicos internacionais (2004-2008). Depois de levantados os artigos, verificou-se em quais o termo era definido e se esse mesmo termo é operacionalizado. Assim chegar-se-á a uma definição de imersão social e qual tem sido a importância desse termo para a administração. Palavras-chave: Sociologia econômica. Imersão social. Redes sociais. INTRODUÇÃO O termo imersão social (social embeddedness) tem aparecido com frequência em artigos na área de Administração e Estudos Organizacionais. Em pesquisa realizada para esse trabalho, na base de dados Social Science Citation Index, foram encontrados 1.449 artigos, em 405 diferentes periódicos, que referenciaram Granovetter (1985) entre os anos de 1985 e 2004. Os três periódicos que tiveram o maior número de artigos citando Granovetter (1985) são da área de Administração e Estudos Organizacionais são: Administrative Science Quarterly com 39 artigos, Academy of Management Review, com 38 artigos, e Organization Studies, com 37 artigos. Além desses, outros 3 periódicos da área estão entre os 10 que mais citaram esse artigo. Os resultados indicam a importância do conceito também para a área de Administração e Estudos Organizacionais. No Brasil, diversos trabalhos também fazem referência ao termo e utilizam Granovetter (1985) como suporte teórico para a sua utilização como, por exemplo, Baldi e Vieira (2006), Andion e Serva (2006) e Machado-da-Silva, Fonseca e Crubellate (2005). Esse conceito surge na Sociologia Econômica (SWEDBERG, 1997), e é importante especialmente para a análise de redes sociais. Para a compreensão do conceito faz-se necessário conhecer o desenvolvimento da Nova Sociologia Econômica (NSE). Swedberg (2004) define a Sociologia Econômica (SE) como a aplicação de idéias, conceitos e métodos sociológicos aos fenômenos econômicos. Ela surgiu no fim do século XIX

começo do século XX, em que a economia política precisava de novas explicações para entender o comportamento dos agentes econômicos. Assim autores da sociologia clássica propuseram maneiras diferentes de ver a economia, sendo eles Pareto, Durkheim, Weber e Schumpeter. Para os quatro a economia deveria se aproximar, de formas diferentes, da sociologia. Então pode-se dizer que a Sociologia Econômica surgiu nesse contexto (STEINER, 2006). Raud-Mattedi (2005) afirma que a Sociologia Econômica não veio para substituir a economia, mas sim para complementá-la. A SE entrou em decadência a partir dos anos 1930, ficando praticamente esquecida. Não houve continuidade em seus estudos (RAUD-MATTEDI, 2005). Foi então em 1970 que surgiu a NSE a partir dos trabalhos de Mark Granovetter (STEINER, 2006). O artigo Economic Action and Social Structure: The Problem of Embeddedness, de Granovetter (1985), é considerado um marco para a NSE (SWEDBERG, 1997). Nele o autor propõe que toda ação do indivíduo, inclusive a econômica, está imersa (embedded) em uma rede de relacionamentos sociais, a qual influencia essa ação e seus resultados. Segundo o próprio autor, ao escrever o texto ele dialogava com autores da economia funcionalista, tal como Oliver Willianson, e da economia marxista, tal como Samuel Bowles (KRIPPNER et al., 2004). A imersão social é aplicável a qualquer ação humana, mas Granovetter (1985, 1992) enfatiza a sua utilização na ação econômica. Isso ocorre porque o autor busca, com o desenvolvimento do termo, estabelecer o espaço de atuação da Sociologia Econômica. Esse conceito foi retomado por Granovetter, pois já havia sido apresentado por Karl Polanyi, e para ele significava o enfraquecimento dos limites dos processos sociais, juntando assim fatores econômicos com não econômicos (KRIPPNER ET AL., 2004). Em virtude da importância do termo, optou-se pelo seu estudo a partir do artigo de Granovetter (1985). O objetivo é compreender como o termo imersão social é utilizado nas pesquisas em Administração. Para a sua realização foram pesquisados periódicos acadêmicos, nacionais e internacionais, da área. Ao pesquisar a utilização do termo nos periódicos de administração busca-se clarear o termo a partir da sua operacionalização nas pesquisas. REFERENCIAL TEÓRICO Será apresentado a seguir o referencial teórico. Ele contempla uma análise histórica da SE, dos autores clássicos até seu ressurgimento na década de 70. Além disso, descreve-se o termo imersão social a partir dos trabalhos de Granovetter e Polanyi. SOCIOLOGIA ECONÔMICA A SE surgiu no fim do século XIX começo do século XX, em que a economia política precisava de novas explicações para entender o comportamento dos agentes econômicos. Assim autores da sociologia clássica propuseram maneiras diferentes de ver a economia. Para Durkheim a sociologia econômica deveria substituir a economia, já Weber acredita que a sociologia econômica veio acrescentar tanto para a sociologia quanto para a economia, explicando assim, fenômenos não explicados pela teoria econômica (STEINER, 2006). Steiner (2006) argumenta que o objetivo da SE é analisar a construção social das relações de mercado e a origem social dos fenômenos econômicos, tanto a economia quanto a SE tem por objeto os fenômenos econômicos, no entanto, elas se diferenciam na abordagem e na metodologia. Sendo assim, a SE não vem substituir ou criticar a Economia Clássica, mas sim complementá-la, trazer repostas a questões que a economia não comenta Para a SE é 70

necessário incluir ao comportamento do ator econômico as motivações não econômicas (RAUD-MATTEDI, 2005). A Sociologia Econômica ficou esquecida a partir dos anos 1930, e só ressurgiu nos anos 70, denominada de Nova Sociologia Econômica (RAUD-MATTEDI, 2005). E o que diferencia a nova da antiga é que, a NSE propõe análises sociológicas em temas econômicos, como mercados, contratos, comércio, etc. já a antiga só se preocupava com pré-requisitos institucionais da vida econômica (RAUD-MATTEDI, 2005, p. 61-62). A ascensão da NSE ocorreu a partir da publicação do artigo de Mark Granovetter (1985) Economic Action and Social Structure: The Problem of Embeddedness. Nesse artigo, o autor traz o conceito social embeddedness que passa a ser considerado como um conceito teórico crucial para a área. Além de Granovetter, que continua escrevendo até hoje, outros autores também são de grande importância como: Wayne Barker, Ronald Burt, Neil Fligstein, David Stark, Richard Swedberg, Brian Uzzi, Viviana Zelizer, etc. (SWEDBERG, 2004). Apesar de a Nova Sociologia Econômica já ter passado por mudanças em relação à antiga, a partir dos anos 1990, ela vem sofrendo novas mudanças (SWEDBERG, 2004). A partir dos anos 90, alguns tópicos passaram a ser abordados mais amplamente como riqueza, capacidade empresarial, o papel do direito na economia, finanças estratificação e estudos históricocomparados (SWEDBERG, 2004). O que pode-se dizer sobre essa área é que ela apresenta grande crescimento tanto no âmbito nacional, quanto internacional, como pode ser constato no artigo de Swedberg (2004) nos Estados Unidos, onde a SE renasceu e teve uma grande expressão, ela já se encontra nas principais universidades, como Harvard. Outro ponto é que existem duas coletâneas básicas, nesse país, da área sendo elas: The Sociology of Economic Life e Readings in Economic Sociology. Na Europa, principalmente na França, o campo também tem expandido, tendo grandes nomes como Frédéric Lebaron, Philippe Steiner e Michel Calloon, já outros países apresentam apenas algumas contribuições individuais para a área. DE POLANYI A GRANOVETTER O termo imersão social surgiu por meio de trabalhos de Karl Polanyi, mas foi por Granovetter que ele ganhou repercussão com o artigo Economic Action and Social Structure: The Problem of Embeddedness (1985). Apesar dos dois autores trazerem esse termo para a Sociologia Econômica, o significado, entretanto, não é o mesmo. Granovetter, não deixa explicito sua definição, mas pode-se dizer que para ele embeddedness são as redes de relacionamento nas quais o indivíduo está inserido, já Polanyi significa enfraquecimento dos limites dos processos sociais, juntando assim fatores econômicos com não econômicos (KRIPPNER ET AL., 2004). Granovetter (1985) discute alguns meios para chegar ao termo embeddedness. O primeiro é em relação à perspectiva super-socializada (oversocialized) e sub-socializada (undersocialized) da ação humana. As duas dizem respeito à atomização humana, entretanto a primeira é a visão dos sociólogos, em que a sociedade tem grande peso para o ator, pois os valores, normas são interiorizados, assim o indivíduo será influenciado por aquilo que acredita, existindo uma razão social para poder tomar suas decisões. Já a visão sub-socializada é a dos economistas, em que o indivíduo não leva os outros em consideração na sua decisão, ele só se preocupa consigo mesmo para a tomada de decisão. Com esses dois pontos de vista, Granovetter (1985) propõe uma terceira dimensão, entre esses dois pontos, uma teoria meso, 71

em que os atores não tomam decisões de forma atomizada, os indivíduos estão imersos em uma rede de relacionamentos. Assim Granovetter tenta mostrar, por meio desse artigo, que a ação econômica é influenciada e não auto-regulada como propõe Adam Smith e os economistas clássico, ou então, que as relações sociais não são externas ao comportamento dos indivíduos. Para defender a idéia da imersão social, Granovetter (1985) debate com os economistas sobre a confiança e má-fé na vida econômica, por meio do ponto de vista desses, o autor consegue expor sua idéia. Para os economistas o mercado como auto-regulador teria forças para suprir a má-fé, mas não é isso que vinha acontecendo. Existindo algumas explicações para o fato, como a perspectiva super-socializada e a sub-socializada, em que questões sociais estariam sendo explicadas pelo ponto de vista neoclássico, e outro ponto é que os arranjos que foram criados para desencorajar a má-fé não serviriam mais para tal função, e que certo grau de confiança deveria existir para que pudesse haver uma ação econômica. Assim a solução do autor são as redes de relacionamentos, em que indivíduos realiza transações com aqueles que são de sua confiança e que possuem informação suficiente para que ocorra a ação. No entanto, as redes sociais, podem também gerar oportunidades para a má-fé nas seguintes ocasiões: a existência de grande confiança em uma outra pessoa, ocasionando oportunidades para ganhos por meio da má-fé; grupos que mantêm uma forte confiança interna podem se aproveitar para se utilizarem da má-fé, mas todos devem manter segredo, se um denunciar o outro, ocorrerá um efeito dominó; e por último a estruturação da rede social pode levar a uma grande dimensão de má-fé. Assim as redes geram confiança, mas não garante a má-fé. O último ponto trabalhado por Granovetter (1985) é denominado a questão dos mercados e hierarquias. O autor debate com Williamson sobre quais seriam as condições para uma ação econômica. Williamson discorda que o mercado seja auto-suficiente para se equilibrar, por causa dos custos de transação. Assim ele propõe a teoria da Hierarquia, em que transações ocorrem em empresas hierarquicamente organizadas, então Granovetter explica por meio da imersão social, o que Williamson não consegue explicar, pois para o primeiro não é a estrutura da organização e suas hierarquias que realmente importam, mas sim a rede social em que a organização está imersa. Sendo assim Raud-Mattedi (2005) apresenta o que seria o termo embeddedness, em que a ação econômica é socialmente situada, ou seja, os indivíduos não agem por si só, mas suas ações estão imersas em uma rede de relacionamentos, em que as informações são facilitadas e os comportamentos oportunistas são limitados. Com todas essas idéias propostas por Granovetter surgiu grande repercussão e junto críticas, como a que pode ser vista em uma conversa em que Krippner (2004) questiona Granovetter por ter mudado o termo criado por Polanyi, e assim o ter usado abusivamente. No entanto o autor argumenta que não usou o termo de Polanyi, pois quando escreveu seu artigo não o tinha em mente, e que esse termo teria sido retirado de uma palestra que assistiu de Harrison White. Ele diz ter ficado constrangido ao perceber, quando publicou seu artigo, que utilizava o termo já utilizado por Polanyi, Wayne Baker que o lembrou disso. Porém o usava de forma, significado, diferente, não retomando, assim o termo já existente. Granovetter também é criticado por Krippner por discutir apenas os aspectos sociais das redes sociais, não trata assuntos como cultura, política, etc. Mas o autor deixa bem claro, que desde o início de seu artigo ele se propôs a discutir apenas os aspectos sociais das redes, entretanto diz saber o quão amplo é esse assunto. Para ele, mesmo quando os mercados são impessoais, de alguma forma eles estão imersos, seja na estrutura, seja na cultura, etc. sendo colocados em um processo social, e os fenômenos culturais, não podem ser separados de relações sociais, os dois juntos produzem maiores informações. 72

O autor não tinha noção da repercussão que seu artigo daria, ele ainda enfatiza não saber que seria tão influente, de acordo com ele, se soubesse teria tido mais cuidado ao escrever seu artigo. Deste modo Granovetter termina sua defesa concluindo que as redes sociais é o meio entre o macro e o micro, isso era o que faltava na sociologia (KRIPPNER ET AL., 2004). Nessa mesma conversa Fred Block discute a definição do termo embeddedness e para ele Polanyi não teve tempo de explicar muitas coisas em seu artigo, por causa do prazo estabelecido para a publicação, sendo este prazo antes do fim da segunda guerra mundial, deixando algumas contradições. Dessa forma Block diz que cabe aos sociólogos econômicos revigorar a noção do termo embeddedness, complementando ainda, que existe muita coisa para se basear, para elaborar um conceito para embeddedness (KRIPPNER ET AL., 2004). Para Gillian Hart o termo se tornou tão importante por causa de dois fatores, sendo o primeiro um debate sobre o desenvolvimento do estado e o seu papel na economia, os neoliberais alegaram que os milagres do Leste-Asiático foi causado pelo mercado, no entanto o termo embeddedness foi usado de contra argumento sobre o papel do estado nesse contexto. E o segundo argumento é a idéia do capital social (KRIPPNER ET AL., 2004). As contradições que existem em torno da imersão social não estão perto de uma solução. Entretanto, devido a importância do termo para as pesquisas em Administração, busca-se aqui deixar mais claro seu significado a partir da sua operacionalização. Apresenta-se agora o método utilizado na pesquisa. METODOLOGIA O método utilizado foi o levantamento bibliográfico e a análise documental. Foram pesquisados periódicos nacionais e internacionais. Para a seleção dos periódicos nacionais usou-se o critério de importância e tempo de publicação, sendo selecionados os seguintes periódicos: RAE e RAE- eletrônica, publicadas pela Fundação Getúlio Vargas; Organizações e Sociedade, da Universidade Federal da Bahia; RAC e RAC- eletrônica, Revista de Administração Contemporânea; e RAUSP, Revista de Administração da Universidade de São Paulo. Depois de definidos os periódicos, eles foram analisados um a um, artigo por artigo, a partir de 1985 até 2008, averiguando quais possuíam em suas referências o artigo Economic Action and Social Structure: The Problem of Embeddedness, de Mark Granovetter. Os artigos que citavam o autor foram analisados buscando o termo embeddedness (imersão social). Caso o termo aparecesse, analisou-se se aprofundava o conceito, ou não. Para avaliar a profundidade do conceito, foi verificada a quantidade de vezes que aparecia no artigo e se definia de alguma forma, o conceito. A partir dos nacionais que citavam Granovetter e aprofundavam o conceito, foi feito mais uma análise em que consistia classificar se o artigo operacionalizava o conceito embeddedness. Sendo assim poderia ser classificado como operacionaliza indiretamente, em que o autor se utiliza de outras variáveis, como os laços, ou fica implícito que o autor está fazendo a medida do termo embeddedness, ou operacionaliza diretamente, em que o autor explica claramente como vai ser feita a medida do embeddedness. Já para o levantamento dos artigos internacionais foram usados os periódicos já utilizados em um levantamento bibliográfico anterior, realizado em periódicos internacionais até 2005, que identificou a importância da utilização do artigo Economic Action and Social Structure: The Problem of Embeddedness de Granovetter (1985) na área de administração. 73

A seleção para os sete periódicos internacionais aconteceu da seguinte forma, primeiramente foram identificados os 15 periódicos internacionais que mais citaram Granovetter (1985), e desses foram selecionados os sete que podem ser considerados da área de administração, sendo eles: Academy of Management Journal, Administrative Science Quartely, Organization Science, Organization Studies, Strategic Management Journal, Journal of Management Studies e Academy of Management Review. Como o último periódico não publica artigos com pesquisa empírica, ele foi descartado da amostra final. Então realizou-se o levantamento a partir das bases de dados Ebsco e Proquest, procurando-se por artigos que falavam sobre embeddedness. A partir desses artigos encontrados pelas bases de dados, executou-se um procedimento diferenciado dos artigos nacionais, em que esses artigos, por já possuírem o assunto de imersão social, foram classificados, diretamente, como operacionaliza o conceito indiretamente ou diretamente. RESULTADOS E DISCUSSÕES Por meio do levantamento bibliográfico obteve-se 38 artigos de periódicos nacionais que citam Granovetter (1985) e 38 artigos de periódicos internacionais. Figura 1: Artigos que citam Granovetter (1985) Com esses dados, pode-se identificar que o artigo de Granovetter demorou um pouco mais tempo para ter repercussão no Brasil, já que o primeiro artigo constatado foi em 1999 e depois só em 2002, enquanto nos periódicos internacionais o primeiro é de 1990. Outro fator é que o pico dos artigos com citação de Granovetter nos periódicos internacionais foi em 2003, já nos nacionais só em 2007. Outro achado é que o assunto foi bastante discutido nos periódicos internacionais entre o período de 1997 a 2004 e depois disso demonstra-se em queda, apresentando apenas um artigo por ano. Já nos periódicos nacionais a alta começou em 2002 e até 2007 apresentava-se 74

em tendência de aumento, já em 2008 teve uma queda, porém continuando, ainda, a cima da quantidade dos artigos internacionais. Depois de selecionado esses artigos, verificou-se quantos aprofundavam no assunto e o resultado para os nacionais foram seis. Desses seis artigos, quatro operacionalizaram o conceito de imersão, sendo dois indiretamente e dois diretamente. Já entre os internacionais 23 artigos operacionalizam o conceito de imersão social. Desses 23, 10 operacionalizam diretamente e 13 indiretamente. Com esse resultado pode-se notar que os artigos nacionais, apesar de apresentar a mesma quantia de artigos que trazem o artigo de Granovetter (1985), mostrando a mesma força de repercussão, não tratam o assunto de forma mais profunda, não trazem definições e não operacionalizam o conceito, muitas vezes só citam imersão e Granovetter. De maneira geral, a operacionalização ocorreu por meio da análise de redes, ou seja, a imersão foi utilizada como sinônimo de redes de relacionamento. A operacionalização dessa maneira está coerente com a maneira que Granovetter (1985) utiliza o termo. Para ele, estar imerso socialmente significa estar imbricado em uma rede de relacionamentos. Todavia, a operacionalização ocorre de maneira diferente, nos diferentes artigos. Alguns operacionalizam imersão a partir da estrutura de redes, utilizando medidas tais como densidade e centralidade. Outros utilizam medidas de relacionamento, tais como laços fortes ou laços de amizade. Essas diferenças na maneira de operacionalizar o termo dificultam a comparação entre os artigos. Outro aspecto relevante é que muitos artigos utilizam de metodologias quantitativas de pesquisa quando operacionalizam imersão social. Isso decorre dos trabalhos iniciais de Granovetter, os quais possuem características quantitativas em decorrência da utilização de Análise de Redes Sociais. Entretanto diversos trabalhos que operacionalizaram o conceito eram qualitativos, demonstrando uma flexibilidade na sua utilização. Tabela 1 Artigos que citam Granovetter (1985) Total Aprofunda Operacionaliza Diretamente Indiretamente Nacional 38 6 4 2 2 Internacional 38 38 23 10 13 Total 76 44 27 12 15 Fonte: Dados da pesquisa CONCLUSÕES E PROPOSTAS A primeira conclusão a ser destacada é quanto aos diferentes significados do termo imersão social para Polanyi (2000; 2001) e Granovetter (1985; 1992). O termo é utilizado de maneira bastante diferente nos dois casos. O que é importante ressaltar é que, independente das críticas a um ou outro autor, compreender que ambos falam de coisas diferentes é ponto de partida essencial para quem vai utilizar o termo nas suas pesquisas. Não fazer essa distinção pode gerar problemas nas análises e interpretações dos dados. A Sociologia Econômica, e principalmente o termo imersão social, é um assunto novo na 75

administração e não tem sido ainda muito trabalhado no Brasil. O assunto precisa ser abordado mais profundamente, principalmente faltam pesquisas empíricas. Por mais que a operacionalização do conceito requeira alguns cuidados, ele já foi bastante utilizado em pesquisas no exterior, o que pode facilitar nas pesquisas no país. Com os artigos que operacionaliza o conceito, todos eles, tanto nacionais, quanto internacionais, utilizam-se, de forma direta ou indireta, o mapeamento de redes, quem está ligado a quem, para medir a imersão social embeddedness. O que falta para que esse assunto seja mais trabalhado é uma definição para o termo embeddedness. Sendo assim, por meio dos artigos selecionados, que citam Granovetter (1985) e operacionalizam o conceito, pode-se concluir que o termo significa a influência que a ação social tem na economia por meio das redes sociais que as pessoas estão inseridas. LIMITAÇÕES As limitações encontradas nesse trabalho foram à procura por todas as revistas de 1985 a 2008 nos periódicos nacionais, pois houve volumes que não estavam disponíveis pela internet e a biblioteca central da Universidade Estadual de Maringá não possuía um dos que ainda faltava. Assim foi preciso buscar um dos artigos da Organizações e Sociedade na biblioteca da EAESP-FGV. REFERÊNCIAS ANDION, C.; SERVA, M. Teoria das organizações e a nova sociologia econômica. RAE, v.46, n.2, 2006. BALDI, M.; VIEIRA, M.M.F. Calçado do vale: imersão social e redes interorganizacionais. RAE, v.46, n.3, 2006. GRANOVETTER, M. Economic Action and Social Structure. American Journal of Sociology, Chicago, v.91, n.3, p.481-510, Nov.1985. GRANOVETTER, M. Problems of explanation in economic sociology. In: NOHRIA, N.; ECCLES, R. Networks and Organizations: structure, form, and action. Boston : Harvard Business School Press, 1992. KRIPPNER, G. et al. Polanyi Symposium. Socio-Economic Rewiew, Oxford, v.2, n. 1, p. 109-135, jan.2004. MACHADO-DA-SILVA, C.L.; FONSECA, V.; CRUBELLATE, J.M. Unlocking the institutionalization process. Acessado em 05 de março de 2007, http://anpad.org.br/periodicos/content/frame_base.php?revista=2, BAR, v.2, n.1, 2005. POLANYI, K. A Grande Transformação: as origens da nossa época. 2 ed. Rio de Janeiro : Campus, 2000. POLANYI, K. The economy as instituted process. In: GRANOVETTER, M.; SWEDBERG, R. The Sociology of Economic Life. 2 ed. Cambridge, MA : Westview Press, 2001. RAUD-MATTEDI, C. Análise crítica da Sociologia Econômica de Mark Granovetter. Política e Sociedade, n. 6, p.59-82, abril 2005. STEINER, P. A Sociologia Econômica. São Paulo: Atlas, 2006. SWEDBERG, R. New economic sociology: what has been accomplished, what is ahead? Acta Sociologica. v. 40, 1997. SWEDBERG, R. Sociologia econômica. Tempo Social, n.2, p.7-34, novembro 2004. 76