Estudos sobre as influências na formação do preço do algodão

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Transcrição:

1 Estudos sobre as influências na formação do preço do algodão Edivaldo Acácio Bahia Filho Bacharel em Relações Internacionais UNAERP Universidade de Ribeirão Preto Campus Guarujá edivaldo_filho@cargill.com Rubens Carneiro Ulbanere Coordenador do Núcleo de Pesquisas Fernando Eduardo Lee UNAERP Universidade de Ribeirão Preto Campus Guarujá rulbanere@superig.com.br Bruno Silva de Jesus Especialista em Gestão Estratégica USP Universidade de São Paulo brunosacademico@gmail.com RESUMO Diversos fatores influem na formação do preço do algodão e em decidir qual mercado vender. A origem da pluma no mundo é divergente entre diversos autores, mas no Brasil teve início nos primeiros anos da colonização. Existem métodos para classificar o algodão: 1) o teste visual, conhecido como take-up. 2) o teste de HVI. O grau da folha, o comprimento e a resistência da fibra, o micronaire e a coloração da pluma são os demais elementos fundamentais na avaliação da qualidade. Podem-se aplicar acréscimos e decréscimos no preço de acordo com a diferença entre o negociado e o recebido. Os preços percorreram nos últimos 10 anos grandes oscilações. Houve um aumento na produção mundial, mas a China enfrenta problemas de abastecimento e declina em seu consumo. Diversas discussões abrangem a formação do preço, as exportações e o mercado doméstico. Com este trabalho procurou-se analisar os principais fatores influentes na formação de preço do algodão em pluma brasileiro e a sua importância comparando os mercados externo e interno. A metodologia do trabalho

2 pode ser caracterizada como qualitativa, sendo que foram utilizadas fontes bibliográficas e rede mundial de computadores. Os principais resultados mostram que a demanda e a oferta mundial são os fatores mais importantes que direcionam o nível dos preços e fomenta-o às demais combinações influentes. Para que seja alcançada a melhor análise entre ambos os mercados, exportação ou doméstico, é fundamental que as tradings tenham profissionais capacitados para discernir a projeção de custos e responsabilidades decorrentes de todo o processo de negociação e execução do contrato, assim deve-se concluir em qual mercado é favorável atuar em determina época. Palavras-Chave: Algodão, Cotação do algodão, Tradings. 1. Introdução. O mercado de produtos agrícolas apresenta um ritmo crescente a cada ano. O crescimento não ocorre apenas em volume, mas também nas formas de comercialização, na agilidade dos negócios, em tecnologia e principalmente na estrutura de informações. A cada dia que passa, notamos um aperfeiçoamento nas formas de comercialização e uma dependência maior das informações que tem influência direta e indireta sobre os preços de determinado produto. Dificilmente, hoje, algum produto agrícola escapa da fórmula: produção + informação + comercialização = lucro. (EDITORA AGROECONÔMICA SAFRAS & MERCADO LTDA, 2011). Segundo ICAC (2011), o algodão é um produto com relativa importância em termos mundiais. Por não se tratar de um produto diretamente ligado ao consumo humano ou com baixa derivação para alimentação animal ou nas oleaginosas, a sua referência se dá diretamente na indústria têxtil mundial. É um produto, inicialmente, condicionado mais à fatores como renda e população. Por este motivo, os fatores econômicos afetam diretamente os preços de uma forma mais evidente do que em outras commodities, como por exemplo, a soja e o milho. Assim, a avaliação sempre passará por uma análise econômica inicial, antes de qualquer afirmação pura e simples de oferta e demanda. O Brasil passou de deficitário em seu abastecimento de algodão para exportador e player no mercado internacional. A área plantada e as condições de produção melhoram a

3 cada ano (a uma visão de longo prazo), induzindo-nos a avaliar que em um futuro próximo o país terá condições de competir cada vez com mais força no mercado externo. Para isto, terá que adotar políticas de controle de estoques e principalmente exportações. É importante avaliar este prazo futuro no âmbito das exportações, já que somente elas poderão oferecer uma liquidez sensata ao mercado interno de algodão, inibindo condições semelhantes aos produtos chamados de mercado interno apenas, como milho (que também está mudando de perfil aos poucos), arroz e feijão, segundo Safras & Mercados (2011). 2. Objetivos. a) Analisar a formação de preço do algodão através de suas principais influências no âmbito das tradings; b) Analisar e comparar as tendências dos preços de algodão entre os mercados externo e interno. 3. Materiais e métodos. Para a elaboração deste trabalho foi realizada pesquisa na internet, na qual foram consultados diversos sites especializados no ramo do mercado futuro de mercadorias e opções. A parte textual segue as exigências das normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas e Técnicas). Para coleta de dados, optou-se por uma ferramenta intitulada Google Book Search. Esse serviço permite fazer pesquisas em livros. Esse método oferece acesso a vários livros digitalizados, muitos deles esgotados. Optou-se pelo complemento para obtenção das informações, com entrevistas de campo, aplicadas junto à merchants e especialistas no mercado de algodão. Foram realizadas seis reuniões, no âmbito comercial, buscando evidenciar os principais fatores influentes na formação de preço do algodão e como é feita a análise para seguir nos mercados externo e interno. O método utilizado neste trabalho é a pesquisa quanti-qualitativa, pois pretende associar análise estatística à investigação dos significados das relações humanas e do mercado, privilegiando uma melhor compreensão do tema estudado. Para GIL (1999 apud BOAS), a pesquisa tem um caráter pragmático, é um processo formal e sistemático de desenvolvimento do método cientifico. O objetivo fundamental da

4 pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos. 4. Justificativa. Segundo o MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (MAPA, 2011), devido o aumento de produtividade do algodão, o Brasil, em 12 anos, passa de maior importador mundial para o terceiro maior exportador mundial do produto, o que destaca a importância do segmento na cotonicultura como alavanca do crescimento econômico e desenvolvimento social, distribuindo renda, gerando empregos, expandindo o nosso poder de player e proporcionando melhoria da qualidade de vida, é incontestável. A definição do tema surgiu a partir do ingresso no próprio setor comercial através de uma empresa multinacional, a Cargill Agrícola S/A. 5. Revisão bibliográfica. 5.1 Importância do algodão para o mundo. Muitos autores divergem sobre a origem do algodão. Alguns a situam no continente americano enquanto outros afirmam ser originário do Paquistão ou ainda da Índia. Segundo Beltrão (1999), as referências históricas vêm de muitos séculos antes de Cristo. Os árabes foram os primeiros que fiaram e teceram a fibra de algodão, embora de forma rudimentar. Com o incremento do comércio com o Oriente, a partir da descoberta do caminho marítimo para as Índias, o algodão começou a ganhar importância na Europa. Até o século XVII a lã predominava neste continente. O algodão teve um papel fundamental na Revolução Industrial. A primeira indústria matriz foi têxtil, a qual inicialmente trabalhava com lã, substituída mais tarde pelo algodão. Nos Estados Unidos, o algodão apareceu como cultura comercial por volta de 1785. Até então, os únicos descaroçadores conhecidos eram os de rolo e seu pequeno rendimento restringia a produção de fibra. Em 1792, um professor chamado Eli Whitney, baseado no princípio do uso do pente, inventou o descaroçador-de-serra, muito mais rendoso que o descaroçador-de-rolo e que permitiu o grande desenvolvimento da cultura nos EUA e apenas em meados do Século XVIII, com a Revolução Industrial, que o algodão foi transformado na principal fibra têxtil e no mais importante produto das Américas, conforme Beltrão (1999).

5 O algodão obteve uma grande importância na Revolução industrial. Inicialmente trabalhado com lã e que com o passar do tempo foi substituído pelo algodão, transformado na principal fibra têxtil e no mais importante produto das Américas. Durante a Revolução Industrial os norte-americanos exportavam algodão para a Inglaterra como um fator de desenvolvimento da economia americana. Além dos Estados Unidos o Brasil também fornecia algodão para as indústrias inglesas. No século XX, a cotonicultura já havia assumido grande importância econômica, que através deste marco, despertou o interesse da pesquisa agro-econômica. Beltrão (1999). Segundo o COMITÊ CONSULTIVO INTERNACIONAL DO ALGODÃO (ICAC, 2011), durante os últimos 10 anos, a área plantada com algodão no mundo oscilou entre 30.611 e 35.880 milhões de hectares. Ainda neste mesmo período, a produção mundial variou de 16.866 a 20.722 milhões de toneladas. 5.2 O algodão para o Brasil. O algodão no Brasil, com o uso de espécies nativas e importadas em seu cultivo, teve início nos primeiros anos da colonização. Dois grandes religiosos famosos os padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega defenderam a instalação de uma indústria têxtil em nosso país. Em carta a Simão Rodrigues, superior dos Jesuítas em Lisboa, Nóbrega pediu o envio de tecelões para fiar o algodão e tecê-lo. Anchieta defendia a mesma opinião e a justificativa: Para vestir, há muito algodão. Em 1576, Pero de Magalhães Gandavo informava que as camas dos índios eram feitas de algodão. Mais tarde, em 1627, na sua história do Brasil, o autor dizia: [...] Pano? Faz-se de algodão, com menos trabalho do que lá se faz de linho e lã, porque debaixo do algodoeiro o pode a fiandeira estar colhendo e fiando. [...] (SALVADOR, 1627, p. 16, grifo do autor). Conta-se que, quando nomeado governador da capitania do Ceará, em 1619, Martim Soares Moreno recebeu recomendação para semear algodoeiros. Nesta época, porém, as culturas de algodão não eram mais do que roças em volta das casas. Fiação e tecelagem eram feitas, domesticamente, com instrumentos rudimentares. Açúcar e pau-brasil eram à base da economia da colônia e o algodão destinava-se ao consumo interno, servindo principalmente para a fabricação de panos grossos, destinados a vestir os escravos. Há registros, porém, de que ainda no primeiro século de colonização alguns poucos fardos

6 foram expulsos, desorganizaram quase por completo a economia brasileira, principalmente no Nordeste, onde os batavos se estabeleciam. Segundo Beltrão (1999), no Brasil, o primeiro estado produtor foi o Maranhão que se seguiu por todo o Nordeste como a grande primeira região algodoeira do país. No estado de São Paulo, a primeira fábrica têxtil iniciou suas operações em 1813, com dez teares. O primeiro descaroçador-de-serra do Brasil foi instalado em Limoeiro, no Pernambuco, em 1820. Em São Paulo foi em Sorocaba, no ano de 1851. Beltrão (1999). No Século XIX, os Estados Unidos já se projetavam como grandes produtores de algodão e na mesma época, no Brasil, a cultura entrou em decadência. O café monopolizava a atenção dos agricultores, principalmente em São Paulo, pelo seu preço atrativo relativamente alto na época com uma grande oferta. Beltrão (1999). Segundo o ICAC (2011), O Brasil é o quinto maior produtor e consumidor (seguido pela China (Mainland), Índia, Turquia e Paquistão) de algodão. Relativo a outras safras plantas, o algodão não é a principal commodities no Brasil. As principais são o milho, soja, trigo e a cana-de-açúcar. A produção do algodão brasileiro está limitada pelo acréscimo de custo de controle de pestes, fertilizantes, análises laboratoriais e o transporte do algodão às algodoeiras, assevera ICAC (2011). Segundo a CONAB (2011), a produção brasileira de algodão teve uma crescente ao decorrer das safras nos últimos 11 anos, com exceção das safras 2002/03, 2006/07 e 2009/10, que tiveram pequenos recuos devido ao mercado. A projeção para 2011/12 é de 1.953 milhões de toneladas, um recorde nacional neste século, conforme a Figura 1.

7 Figura 1 Produção do algodão brasileiro por safra. Fonte: CONAB (2011) Desde 2005 a 2010, a Indonésia seguida respectivamente do Paquistão, Coréia do Sul e China, foi o principal destino das exportações brasileiras de algodão. Em 2009, atingiu seu ápice com 124 mil toneladas. Em 2010 a Coréia do Sul superou o alvo brasileiro seguida da China, que em 2011 é o principal parceiro brasileiro em diversas atividades comerciais, principalmente do algodão, afirma CONAB (2011). 6. Resultados e discussão. 6.1. Apresentação da formação de preço do algodão. Vários especialistas observam a existência de diversos fatores influentes para delimitar o preço do algodão em pluma brasileiro. Segundo Prado (2011), no algodão, como em outros mercados, predomina a economia de livre mercado, o preço é estipulado de acordo com a lei de oferta e demanda, ambas dão este direcionamento. Britto (2011), afirma que além da demanda e oferta, o mercado futuro tem uma posição importante na definição de negociação da entrega ou retirada do algodão. Existem 3 participantes do mercado: os especuladores, a Bolsa de valores e o Hedger, que podem ser o produtor, as cooperativas, as indústrias de insumos, as indústrias têxteis ou os exportadores.

8 A produção, o câmbio, a renda, os subsídios, os juros, os impostos, os estoques, armazenagens, fretes, seguros, bolsa de Nova York, economia local e política, comparativos entre os paralelos, como por exemplo, o Polyester e a viscose, são os demais fatores importantes que podem influenciar diretamente no preço do algodão. Caruso assevera que quando a procura é maior do que a oferta, os preços tendem a aumentar e que quando a oferta é maior que a procura, os preços tendem a cair. Consideram-se elementos importantes nesta equação: 1) o desejo e a necessidade do cliente final; 2) o poder de compra do mesmo. Alguns pontos devem ser bem observados, como por exemplo, a bolsa de Nova York e os meses de Hedge utilizados neste mercado de algodão, H (março), K (maio), N (julho), V (outubro) e Z (dezembro), que valorizam a pluma naquela determinada época. O preço do mercado é determinado pelo próprio mercado, o hedger apenas determina a sua margem (BRITTO, 2011). Não há uma fórmula para calcular o preço, mas há diversos fatores que chegam a uma combinação. Se faz dinheiro com basis atrativos (ABRAO, 2011). [...] Não existe preço ideal, mas sim a margem ideal baseada no seu custo de produção e em quanto está valorizado o seu produto. [...] OLIVEIRA (2011). Os níveis de basis e futuros poderiam ter relação invertida o tempo todo, mas dependendo das condições de mercado, ambos se movem na mesma direção, segundo Abrão (2011). We are basis traders which we buy when the market goes up (sell futures to hedge), and we sell when the market drops (buy back the futures) (ABRAO, 2011). 6.1 Comparação dos mercados externo e interno. A venda do algodão para os mercados externo e interno, é uma definição de pura análise em comparação ao cenário atual. O Brasil tem um mercado doméstico muito forte e é o 5º maior exportador de algodão do mundo. Então, sempre se deve analisar quem está pagando mais, de acordo com as qualidades e tipos do algodão entre outras condições. [...] Qual está melhor naquele momento? Esta é uma decisão difícil, mas constante. [...], assevera Abrao (2011). Os elementos fatoriais são diversos, como por exemplo, a influência dos impostos no mercado interno, se tiver aquecida a oferta e se pagar mais do que a exportação,

9 comparando as demandas interna e externa, é o início de uma análise. A sua margem é o que pesa mais, lembrando-se do comparativo FOB, segundo Caruso (2011). [...] O principal fator desta decisão é o maior lucro, o momento da negociação. [...]. (PRADO, 2011). Existem alguns riscos que comparando os mercados externo e interno, podem oferecer às tradings. Primeiramente seria os contratos comprados em safra futura, que pode haver quebra de plantio. O tempo é um fator imprevisível para uma safra, tanto ao plantar quanto a colher. O risco de preço também é um fator importante, por exemplo, contratos comprados muito baratos e vendas muito caras, conforme Pontes (2011). Conforme Prado (2011), tanto para mercado interno, quanto para mercado externo, às chances de bons negócios são as mesmas, entretanto, é fundamental a atuação com clientes nestes dois tipos de mercado, para obter maior flexibilidade de tipos e qualidades na venda, uma vez que nem sempre o que é previsto na compra, é o que a trading receberá. Segundo Abrão (2011), não se pode negociar apenas compras para fins de exportação, pois se houver algum tipo de barreira pelo governo, a trading poderá perder bons negócios, assim como o que aconteceu este ano de 2011 na Índia. A melhor opção é ser flexível e negociar com opções para mercado doméstico. O risco de entrega logístico e fiscal no Brasil é sempre iminente, assim como o crédito de PIS e CONFINS, mas como todo risco, ele poder ser muito lucrativo também. Quanto maior o risco, maior é a sua margem de ganhos ou de perda. (PONTES, 2011). Segundo Caruso (2011), custos e riscos para ambos além do default, é o sinistro, seguros e a diferença de mercado, hoje mais evidente na exportação. No mercado doméstico, há a responsabilidade da entrega, posto ou a retirar. [...] Negociar para obter a opção de mercados é um excelente benefício para executar com mais facilidades o contrato [...]. (OLIVEIRA, 2011). 6.2 Contexto das entrevistas realizadas com traders, merchants e líderes do negócio. As pesquisas de campo foram realizadas com seis profissionais no âmbito comercial, buscando evidenciar os principais fatores influentes na formação de preço do algodão e como é feita a análise para seguir nos mercados externo e interno. O primeiro entrevistado foi o Sr. Odair Britto, casado, 51 anos, líder da plataforma de negócios do algodão no Brasil pela Cargill Agrícola S.A., que enfatizou ser o mercado futuro,

10 a demanda e oferta e o consumo das demais commodities, como os principais fatores influentes. Explicou que o especulador é o que tem maior força na direção futura entre os demais players devido ao poder financeiro. Afirmou que uma das grandes preocupações relativamente é o preço, pois em determinados contratos podem atingir os extremos e isso pode causar o não cumprimento do contrato e que o mercado por ditar os níveis, ele é tendencioso para definir em que mercado seguir. O preço é o indicador principal. O segundo entrevistado foi o Sr. Edson Abrao, casado, 27 anos, Cotton Merchant da Cargill Cotton, em Memphis, nos Estados Unidos. Em sua opinião, o mercado de algodão deveria ser dividido em duas direções com respeito ao descobrimento do preço: 1) a seção da demanda e da oferta; 2) a seção especulativa. Abrao explica que o mercado do algodão é relativamente pequeno em tamanho e em participação, quando comparado com outras commodities, mas nos últimos anos, vem se tornando um mercado exploratório para investimentos, o que favorece as grandes oscilações como, por exemplo, a abertura de spreads de quase 600% nos preços entre novembro de 2008 à Março de 2011 e acredita que os mercados externo e interno tem grandes vantagens, mas devem ser definidas no melhor momento e principalmente com mais opção na negociação para ambas as direções. A Srta. Merchant Camila Caruso foi a 3ª entrevistada. Solteira e ocupando o cargo pleno de uma multinacional, citou diversos fatores influentes, como: produção, impostos, consumo, armazenagem, exposição de mercados, mas concluiu que o principal fator influente é oferta e demanda e que a melhor maneira de se chegar ao preço ideal é trabalhar dentro da própria margem. Em sua opinião, além do preço ser o facilitador da decisão em que mercado seguir, as responsabilidades de entrega e a logística pesam nesta decisão levando em consideração os riscos e todos os custos decorrentes. A quarta entrevistada foi a Sra. Giovanna Pontes, casada, 28 anos, economista, afirma que a primeira lei da economia é a demanda e oferta, e para a formação de preço do algodão não seria diferente. Muitas outras questões são relevantes para uma composição sólida, como por exemplo, a influência de aspectos macroeconômicos, renda e consumo. Em sua opinião, há um ponto de equilíbrio chamado Break even Point, sendo através dele, trabalhada a margem de ganho para a formação do preço. Os riscos e os ganhos são os principais fatores para a decisão em atuar no mercado externo ou no mercado interno. A Srta. Barbara Oliveira é a quinta entrevista, solteira, 27 anos, Assistant Controller da unidade de negócios de algodão da Cargill Agricola S.A., afirmou que existem diversos

11 fatores para influenciar na formação de preço do algodão, como por exemplo, a oferta e demanda, especulação, mercado futuro, custos de produção e etc. Todos os fatores dão a opção de definir o mercado a ser executado, mas o beneficio principal é o a flexibilidade de opção na negociação e a comparação dos custos. A última entrevistada foi a Srta. Neide Prado, solteira, 28 anos, Trader de algodão, afirma que assim como em qualquer outro mercado que predomina a lei da economia de livre mercado, o preço é dado pela lei da oferta e da demanda. No mercado de algodão não é diferente, a demanda e a oferta mundial ditam o preço desta commodity. A trading é um atravessador no mercado de algodão, ela compra do produtor e vende para a fábrica que vai fazer o fio ou tecido para aí então ser vendido ao consumidor final. Nesta atividade, a trading busca o maior lucro, ou seja, se vender para uma fiação no mercado interno em determinado momento dá mais lucro do que vender para uma fiação no exterior, ela vai optar pelo mercado interno, afirma Prado (2011). 7. Conclusões. Conforme a metodologia adotada para a realização deste trabalho, pode-se concluir que foi possível identificar os principais fatores influenciadores na formação de preço do algodão em pluma brasileiro e comparar os mercados externo e interno. Nos últimos anos, o mercado de algodão veio crescendo devido à especulação e à comparação da cultura entre as principais commodities. A demanda e a oferta, a renda, o consumo, a macroeconomia, o câmbio, os impostos e subsídios, assim como diversos outros fatores, por exemplo, o mercado futuro, que é manuseado pelos players e potencialmente influenciado pelos especuladores, são os delimitadores do preço. Tornam o mercado altista ou baixista a qualquer momento. A formação do preço é baseada pela combinação de diversos fatores. O ponto de equilíbrio do próprio mercado, através da bolsa de Nova York, é o início desta análise. Uma vez ofertado muito algodão no mercado, a tendência é o preço cair e quando há muita procura pela pluma, a tendência é o preço subir. Através dessas oscilações, os especuladores manipulam o mercado e as tradings analisam suas margens de ganho, comparando a valorização do algodão para determinado período. Também se devem descontar todos os custos decorrentes da operação, como, por exemplo, fretes, seguros, custos de produção,

12 armazenagem, e posteriormente travar o preço com hedge, em caso de venda futura, através da bolsa americana da costa leste. A decisão de se atuar nos mercados interno e/ou externo também é uma análise que deve ser refletida no contrato do negócio. A melhor opção é a compra do algodão através de condições flexíveis para ambos os mercados. Esta questão se torna um benefício no momento de executar a entrega do algodão. Posteriormente, deve-se fazer uma análise comparando muitos fatores, entre eles os tributos, os custos de fretes e seguros, o preço ofertado e a qualidade do algodão. Na exportação, a qualidade e o tipo do algodão são fatores importantes para negociar com fiações externas. Mesmo o governo dando subsídios para exportação e isentando impostos, a falta de algodão tipo 21 e 31, pode se tornar crucial para a decisão. Pode-se dizer que após as combinações essenciais, a análise de todos os fatores influentes, os comparativos considerando todos os custos, chega-se à margem atrativa do basis para a definição de um preço ideal naquele momento do negócio. 8. Referências citadas e selecionadas. BELTRÃO, N.E. de M. (Org.). O agronegócio do algodão no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para transferência de tecnologia, 1999. V.1, p.1-1023. BOAS, V. PGM 0101 Metodologia da Pesquisa. Disponível em: <http://www.ucs.br ccet/defq/vvbgmiss/aula1.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2011, 02: 09:00. BOLSA BRASILEIRA DE MERCADORIAS. Ágios e deságios Padrões universais. Disponível em: <http://www.bbmnet.com.br/pages/portal/bbmnet/pages/mercadoalgodao/mercadoalgod ao.asp>. Acesso em: 20 jun. 2011, 01:43:55. BRASIL. Ministério da agricultura, pecuária e abastecimento. Algodão. Disponível em: < http://www.agricultura.gov.br/vegetal/culturas/algodao>. Acesso em: 25 ago. 2011, 01:20:05.

13 CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA ESALQ/USP. Indicador de Preços do Algodão. Disponível em: <http://www.cepea.esalq.usp.br/algodao>. Acesso em: 21 ago. 2011, 02:14:55. COMITÊ CONSULTIVO INTERNACIONAL DO ALGODÃO. Country Facts. Disponível em: < http://www.icac.org/econ_stats/country_facts/e_brazil.pdf >. Acesso em: 02 out. 2011, 02:58:25. EDITORA AGROECONOMICA SAFRAS & MERCADO LTDA. Análise fundamental e atualização mercadológica. Rio Grande do Sul, 2011. ESTADOS UNIDOS. Departamento de Agricultura dos Estados Unidos USDA. Cotton Outlook. Disponível em: http://www.usda.gov/oce/forum/2011_speeches/2011-cotton.pdf. Acesso em: 21 ago. 2011, 05:45:09. HULL, John C. Fundamentos dos mercados futuros e de opções. 4ª ed, São Paulo: Revista e ampliada, 2005. SALVADOR, F. V. História do Brasil. 3ª ed, Bahia: Melhoramentos, 1627. SILVA, L.; MENEZES, M. Metodologia da pesquisa e Elaboração de Dissertação. 2001. Disponível em: <http://projetos.inf.ufsc.br/arquivos/metodologia%20da%20pesquisa%2 03a%20edicao.pdf>. Acesso em 23 jun. 2011, 13:22:00. TEIXEIRA, G. O que significa metodologia. Disponível em: http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=21&texto=1338. Acesso em: 19 jun. 2011, 22:09:06.