REDISCUTINDO A COESAO E A COERENCIA Leonor Lopes Favero - FFLCH - USP o objetivo da comunica ao e rediscutir a questao da coesao e da coerencia. I. COESAO 1. Ha inumeras propostas de classifica ao das rela oes coesivas que podem estabelecer-se formalmente num texto. Vejamos algumas: 1.1 Halliday e Hasan (1976) Para esses autores, como se sabe, as pri~ cipais mecanismos de coesao sac a referencia (pessoa, d~ monstrativa, comparativa), a substituiyao (nominal, verbal, frasal), a conjunyao (aditiva, adversativa, causal, temporal, continuativa) e a lexical (repeti ao, sinonimia, hiperonimia, hiponimia, uso de nomes genericos, coloca- ao). 1.2 Marcuschi (1983) propoe, como ele mesmo diz, "urn esquema provis5rio com quatro grupos de mecanis mas: repetidores. substituidores. seqaenaiadores e moduladores." (p. 15) 1.3 A Gramatica da Lingua Portuguesa de Mateus et al (1983) divide a coesao em gramatical e lexical. 1.4 Favero e Koch (1985) consideram tres os t.:!:. pas de coesao: referencial (exoforica, endoforica, definitiviza ao), lexical (reitera ao, substitui ao) e seqtle~ cial (temporal e par conexao).
~ao e elipse nao resiste a uma analise mais acurada,pois se a substitui~io se da quando "uma expressao puder simplesmente ser substituida por outra no texto." (Brown e
tuiyao e por reiterayao. 2.1.1 A substituiyao se da quando um comp~ nente e retomado (=anafora) ou precedido (=catafora) por nal, verbal, adverbial e numeral e exercem fun~ao de pr -sintagma, pro-constituinte, pro-ora~ao. Exemplos: (1) Tenho um automovel. Ele e verde. ele: pro-forma pronominal - fun~ao: pro-sintagma (2) as cientistas defendem a hipotese de que os primeiros habitantes da America foram os asiaticos. Essa hipotese e bastante plausivel. essa: pro-forma pronominal - fun~ao: pro-constituinte. (3) Lucia corre todos os dias no Ibirapuera. Fernanda faz 0 mesmo. faz 0 mesmo: pro-forma verbal - fun~ao: pro-ora~ao (faz 0 mesmo = forma cristalizada) (4) Paula nao ira a Ubatuba em janeiro. La faz muito calor. la: pro-forma adverbial - fun~ao: pro-sintagma (5) Mariana e LuIs Paulo sao irmaos. Ambos estudam in gles e frances. ambos: pro-forma numeral - fun~ao: pro-sintagma (6a)Quem fez isso? (6b)Nao sei. ~ 6b - elipse de ora~ao 2.1.2 A reiterayao (do lat. l'eiteral'e = repetir) e a repeti~ao de expressoes no texto (os componen-
~ao se da por: repeti~ao do mesmo item lexical (ex.7), sinonimia (ex.8), hiponimia e hiperonimia (ex.9 e 10), expres- (7) 0 fogo acabara com tudo. A casa estava destrulda. Da casa nao sobrara nada. (8) A crian9a caiu e chorou. Tambem 0 moleque nao fi ca quieto: (9) Os corvos ficaram a espreita. As aves aguardavam o momento de se lan~arem sobre os animais mortos. (11) "Comemora-se este ana 0 sesquicentenario de ~ do de Assis. As comemora~oes devem ser discretas para que dignas de nosso maior escritor. Seria 0 fensa a memoria do Mestre qualquer ~ra~ao que destoasse do recato que governou sua vida." (Folha de S. Paulo, 11/03/89). (12) Paulo anunciou 0 negocio tao esperado: abriria urn restaurante. discurso e consti tui urn meio de articular a informa~ao n.q va a velha. Pode se dar por recorrencia de termos (ex.13), (13) "Irene preta/irene boa/irene sempre de born humor (... )" (M. Bandeira)
(14) "Cheguei. Chegaste/Vinhas fatigada e triste/ E triste e fatigado eu vinha/tinhas a alma de sonhos povoada,/e a alma de sonhos povoada eu tinha." (Bilac) (15) "Na messe que enloirece, estremece a Quermesse. (... )" (Eug~nio de Castro) (16) "Pedro pedreiro, penseiro esperando 0 trem/ que ja vem, que ja vem, que ja vem, que ja vem... " (Chico Buarque de Rolanda) 2.3 Seqftencial "stricto sensu" - chama de mecanismos de coesio seqftencial "stricto sensu" (porque toda 2.3.1 Seqftenciaxio Temporal - ~ra toda co~ sac seja temporal (ja que ela e linear), estou usando 0 tee 17) e atraves de particulas temporais: adverbios de tempo (ex. 18), conectores e expressoes de tempo (ex. 19 e 20), (18) Primeiro vi 0 automovel, depois reparei na mo<;a. (19) Ele nao nos telefonou. Soubemos mais tarde que
(20) 0 capitulo anterior fala das propriedades das s~ lu oes; 0 seguinte, da termoquimica. { congela congeladi 2.3.2 SeqfienciaQao por Conexao 1 - a seqfiencondi ao, conclusao etc. (exs.22a24): (22) Levantou-se, tomou cafe e saiu.
- declarativo: dado pelas senten~as e suas propos i- ~oes que organizam os conhecimentos a respeito de situa- ~oes, eventos e fatos do mundo real e entre as quais se estabelecem rela~oes do tipo logico. - procedimental: dado pelos fatos ou convic~oes num determinado formato, para uso determinado. Armazenado na memoria episodica atraves de determinados modelosglobais, e culturalmente determinado e construido atraves da exp~ riencia e trazido a memoria ativa no momenta da intera~ao verbal, a partir de elementos presentes no texto. Esta ae. mazenado na memoria em estruturas cognitivas: conceitos, modelos cognitivos globais e superestruturas. tica e na memoria episodica. Podem ser primarios (ex.:oq jetos, situa~oes, eventos, a~oes) e secundarios (ex.: a-
sobre 0 que sera feito ou mencionado a seguir. Quando al guem diz que algo aconteceu ou esta acontecendo em dete~ minada situa ao, podemos ativar elementos que as causa e formular hipoteses sobre 0 que sera fei to ou mencionado a inten ao do escritor/locutor; os planos sao modelos cognitivos especificos para 0 conhecimento dessa meta. Ex.: 3.4 "Scripts" - planos estabilizados, utiliz~ dos ou invocados com mui ta freqtlencia para especificar os papeis dos participantes e as a oes deles esperadas; sao estereotipados e con tern uma rotina pre-estabelecida. 3.5 Cenarios - e "0 dominio extendido da ref"!.. to; pode ser descrita em termos de categorias e de regras de forma ao. Por exemplo, as categorias do texto narrat~ vo seriam: situa ao, complica ao, resolu ao, avalia ao e 4. Conclusao: para chegar-se a compreensao do te~ to como urn todo coerente, e necessario que sejam trabalhadas nao so as rela oes coesivas bem como as de cone-
1.) Para urn estudo mais aprofundado da coesao sequen cial, consulte-se Favero (1987). - BEAUGRANDE, R. de e DRESSLER, W. - (1981) Einfflhrung in die Textlinguistik. Ttlbingen,Max Niemeyer. BROWN, G. e YULE, G. - (1983) Discourse Ana lysis. Cambr idge University Press. CHAROLLES, M. - (1985) "Text Connexivity, Text Coherence and Text Interpretation Processing". In: SUzer (ed.) Text Connexity and Text Coherence. Hamburg, Burke. FAvERO, L. L. - (1985) "Coes~o e Coer~ncia na LingUIstica de Texto" in Anais do Semino.rio do GEL, 10(1),146-152. - (1987) "0 Processo de Coordena9~o e Subor-- dina9~o: Uma Proposta de Revis~o" in Kirst e Clemente (org.) Lingflistica Aplicada ao Ensino de Portugues,Po to Alegre, Mercado Aberto. FAvERO, L. L. e KOCH, I. V. - (1985) Como se Constroi a Textualidade (n~o publicado). HALLIDAY, M. A. K. e HASAN, R. - (1976) Cohesion in English, Londres, Longman. MARCUSCHI, L. A. - (1983) Lingflistica de Texto: 0 que e e como se faz. Serie Debates 1, Universidade Federal de Pernambuco. MATEUS, M. H. M. et al. - (1983) Gramo.tica da Lingua Por tuguesa, Coimbra, Almedina.