UM MÉTODO DE TRANSCRIÇÕES E ANÁLISE DE VÍDEOS: A EVOLUÇÃO DE UMA ESTRATÉGIA. Fernando Henrique de Lima 1



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UM MÉTODO DE TRANSCRIÇÕES E ANÁLISE DE VÍDEOS: A EVOLUÇÃO DE UMA ESTRATÉGIA Fernando Henrique de Lima 1 1 Universidade Federal de Minas Gerais/Departamento de Matemática, delima.fernando@gmail.com Resumo Este artigo apresenta um modelo para transcrição e análise de vídeos desenvolvido a partir das transcrições de videogravações de um projeto de pesquisa com foco em modelagem matemática. O objetivo é sugerir uma estratégia para transcrever vídeos que possibilite ao pesquisador trabalhar os dados a partir dos eventos críticos. É discutida, também, a importância dessa mídia para pesquisas na educação matemática e realizada uma breve comparação entre transcrições e vídeos no que diz respeito aos dados da pesquisa. O modelo aqui apresentado pode ser dividido em 6 fases: (i) assistir aos vídeos; (ii) selecionar os eventos críticos; (iii) descrever os eventos críticos; (iv) transcrever os eventos críticos; (v) Discutir os dados encontrados e (vi) limpar as transcrições. A conclusão é que o modelo apresentado pode ajudar os pesquisadores a compreender de forma mais apurada seus dados e economizar tempo na análise de vídeos. Além disso, é perceptível que tanto os vídeos como as transcrições podem ser consideradas como dados da pesquisa. Palavras-chave: Modelo de Transcrições. Análise de vídeos. Modelagem Matemática. Eventos críticos. Educação matemática. INTRODUÇÃO Com o surgimento de novas tecnologias, pesquisas em diversos campos do conhecimento começaram a se modernizar no que diz respeito ao método de análise dos dados. Atualmente, um dos aspectos metodológicos mais utilizados em pesquisas é a análise de vídeos (PLANAS, 2006). Para a análise de seus dados, é comum que os pesquisadores assistam aos vídeos e, logo depois, transcrevam as falas dos sujeitos envolvidos nas pesquisas com o objetivo de utilizá-las em seus trabalhos. Este, na maioria das vezes cansativo e maçante, é objeto de estudo e discussão de muitos pesquisadores (POWELL; FRANCISCO; MAHER, 2004, PLANAS, 2006, GARCEZ; DUARTE; EISENBERG, 2011). E é nesse contexto que se encaixa este artigo. O objetivo desse artigo é sugerir uma estratégia ou modelo de trabalho para transcrições de vídeos visando uma melhor análise dos dados e discutir a importância dessa análise em pesquisas na educação matemática. Tal modelo foi criado a partir das transcrições de vídeos de um projeto de pesquisa 1 que tinha por foco o desenvolvimento de um projeto de modelagem matemática tema que será discutido no decorrer desse artigo. Inicialmente, as transcrições dos vídeos ocorreram de forma bruta e, a partir de uma reflexão do método utilizado e leitura de algumas referências em análise de vídeos, o método foi apurado até se transformar na estratégia que será apresentada aqui. 1 Pesquisa desenvolvida com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, processo n. 473850/2011-7) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG, processo n. PPM 00235/13).

Na próxima seção deste artigo, apresento uma revisão bibliográfica sobre transcrição e análise de vídeos. Em seguida, discuto e analiso o processo de criação do modelo de transcrição e, finalmente, apresento algumas considerações a respeito da modelo construído. UM POUCO SOBRE VÍDEOS E TRANSCRIÇÕES Transcrever vídeos é a ação de transformar o que se ouve (palavras, músicas, sons, etc.) em textos escritos. De extrema importância para várias partes da sociedade, como legenda de filmes, entre outros, a transcrição vem sendo usada com certa frequência como recurso metodológico em pesquisas na área da educação (PLANAS, 2006). Muitos pesquisadores gravam com o auxílio de câmeras suas pesquisas e, posteriormente, transcrevem os dados para serem utilizados em artigos, periódicos, dissertações e teses. Portanto, o trabalho com transcrição é de extrema importância para a comunidade acadêmica atual. Nessa perspectiva, existem alguns autores que dedicam seus trabalhos ao estudo da importância dos vídeos e das transcrições para pesquisas qualitativas. Pallatieri e Grando (2010) destacam a importância dos vídeos para o professor de matemática que deseja entender o pensamento matemático de seus alunos. Os autores entendem a videogravação como instrumento fundamental para registrar esse movimento das ações mentais e corporais. Ou seja, através dos vídeos, o professor tem a possiblidade de perceber nas ações corporais das crianças (ao interagir com materiais) um possível movimento do pensamento acontecendo, até mesmo, o pensamento que reconhecemos como matemático. (PALLATIERI; GRANDO, 2010, p. 23). Apesar de destacar especificamente o vídeo como instrumento para entender o pensamento de crianças, Pallatieri e Grando (2010) destacam a importância do vídeo como registro de ações mentais e corporais, o que se encaixa na maioria das pesquisas. Ainda sobre vídeos, podemos destacar outra importância fundamental desse aspecto metodológico. Segundo Garcez, Duarte e Eisenberg (2011), os vídeos auxiliam professores a entenderem não só seus alunos, como também colaboram para a melhoria do discurso do próprio professor. Nesse momento, cabe um exemplo interessante. Um professor precisa ministrar uma aula e, preocupado com seu próprio desempenho, decide preparar a aula e gravar a si próprio para assistir sua performance. Ao analisar seus vídeos, percebe exatamente onde deve melhorar e quais pontos estão bons. A situação pode parecer simples e despretensiosa, mas ela nos fornece uma boa visão do quão importante pode ser a análise de um vídeo. Segundo Powell, Francisco e Maher (2004) apud Clement (2000) e Martin (1999), o vídeo é um importante e flexível instrumento para coleta de informação oral e visual. Ele pode capturar comportamentos valiosos e interações complexas e permite aos pesquisadores reexaminar continuamente os dados. Ele estende e aprimora as possiblidades da pesquisa observacional pela captura do desvelar momento-a-momento, de nuances sutis na fala e no comportamento não verbal. E é superior às notas do observador, uma vez que não envolve edição automática (p. 86). Ou seja, vídeos, como aspecto metodológico, permitem aos pesquisadores observar detalhes que, talvez, passem despercebidos no decorrer da pesquisa de campo. Nesse sentido, entendo, então, que os vídeos possuem extrema importância para as pesquisas que utilizem tal metodologia.

Para a educação matemática, os ganhos também são notáveis. Muitas pesquisas recentes utilizam os vídeos como metodologia de pesquisa (ARAÚJO; ROCHA; MARTINS, 2014, CAMPOS, 2013, ROCHA, 2015, TORISU, 2014) e é perceptível a influência dos vídeos nos resultados finais observados por esses pesquisadores. Vídeos, então, podem contribuir positivamente para várias pesquisas. Mas, o que fazer com os vídeos? Será que só assisti-los é suficiente para garantir um bom tratamento dos dados? É nesse momento que surgem as transcrições dos vídeos. As transcrições, assim como os vídeos e áudios gravados em pesquisas, têm sua importância no âmbito de muitos trabalhos. As transcrições permitem ao pesquisador uma análise criteriosa a respeito de cada fala de seus sujeitos de pesquisa. Enquanto desenvolvia esse trabalho, observei como as palavras carregam consigo bastante significado. A simples leitura de uma fala me fazia pensar de maneira diferente a respeito do discurso de um sujeito de pesquisa. Importante pontuar que a ideia aqui não é decidir o que é melhor, ler transcrições ou assistir vídeos, muito pelo contrário. Acredito que as duas fontes de dados têm seu valor e devem trabalhar juntas visando a melhor análise dos dados. Porém, a pergunta que pode surgir nesse momento é: quais são os dados, os vídeos ou as transcrições? Esse questionamento faz sentido, a partir do momento que pensamos no que vamos utilizar na pesquisa. Pirie (1998) diz que os dois pontos de vista coexistem, ou seja, existem pesquisadores que acreditam que os dados são as transcrições e existem outros que preferem tomar os vídeos como dados. Acredito que ambos, tanto vídeos como transcrições, podem ser tomados como dados, ao mesmo tempo. Tudo depende da importância que cada aspecto metodológico tem na pesquisa. No decorrer do artigo, meu ponto de vista ficará mais claro já que vídeos e transcrições andam lado a lado e ambos são de extrema relevância para a pesquisa. Outro aspecto importante quando se fala em transcrições é: como transcrever os dados visando sua otimização. Durante minhas observações/investigações, encontrei duas pesquisas que trabalham com elaboração de estratégias para transcrição: Powell, Francisco e Maher (2004) e Planas (2006). Ambos chamam suas estratégias de modelo de transcrição. Meu objetivo, nesse artigo, é propor um modelo de transcrição a partir do trabalho que desenvolvi em duas pesquisas. A intenção não é impor um método ou dizer qual método é melhor. Acredito que cada modelo tenha sua força e seja importante para suas respectivas pesquisas. Destacarei, apenas, os pontos onde o modelo que proponho se destaca objetivando a análise de uma dada pesquisa. Antes de apresentar esse modelo, um aspecto que merece destaque quando se fala sobre vídeos e transcrições é o que é chamado de evento crítico. Para Powell, Francisco e Maher (2004) eventos são sequências conectadas de expressões e ações (p. 104) que, no contexto da pesquisa, requerem explicação e estudo dos sujeitos e/ou pesquisadores envolvidos. Para eles, um evento é chamado crítico quando demonstra uma significativa ou contrastante mudança em relação a uma compreensão prévia, um salto conceitual em relação a uma concepção anterior. Eventos críticos são contextuais. Um evento é crítico em sua relação a uma questão particular perseguida pela pesquisa. Assim, uma instância na qual os aprendizes apresentam uma explicação matemática ou argumento, pode ser significativa para uma questão de pesquisa preocupada com a construção de justificação matemática ou demonstração pelos estudantes e, como tal, pode ser identificada com um evento crítico. (POWELL; FRANCISCO; MAHER, 2004, p. 104-105).

Podemos entender, então, eventos críticos como aqueles momentos que, de uma forma direta ou indireta, são importantes para a pesquisa. Quando se analisa um vídeo, a busca por eventos críticos é um dos principais pontos do modelo discutido por esse artigo. A partir desse ponto, discuto um pouco sobre o contexto das pesquisas de onde os vídeos foram gravados e os aspectos metodológicos dessa pesquisa. CONTEXTO E ASPECTOS METODOLÓGICOS O modelo que será apresentado na próxima seção é fruto de uma estratégia utilizada para transcrever nove vídeos que foram gravados no decorrer de um projeto de pesquisa 2 intitulado Aprendizagem expansiva em projetos de modelagem orientados pela educação matemática crítica 3. A estratégia utilizada não foi a mesma para todos os vídeos e este trabalho se destaca justamente por apresentar o processo evolutivo da estratégia principal de transcrição. Para entendermos o modelo proposto e sua importância para a análise de vídeos para pesquisas na educação matemática, precisamos discutir um pouco sobre a pesquisa que foi desenvolvida enquanto os vídeos eram gravados. Nessa pesquisa, 5 alunos e 3 pesquisadoras da Universidade Federal de Minas Gerais tinham o propósito de desenvolver um projeto de modelagem matemática orientado pela Educação Matemática Crítica (ARAÚJO, 2009). Modelagem matemática é um termo que possui diversas concepções. Para Barbosa (2004), modelagem é um ambiente de aprendizagem no qual os alunos são convidados a problematizar e investigar, por meio da matemática, situações com referência na realidade (p. 4). Araújo (2002) diz que modelagem é uma abordagem, por meio da matemática, de um problema nãomatemático da realidade, ou de uma situação não-matemática da realidade, escolhida pelos alunos reunidos em grupos, de tal forma que as questões da Educação Matemática Crítica embasem o desenvolvimento do trabalho. (p. 39). Apesar de não haver uma definição ou concepção única, podemos entender modelagem como o uso de ferramentas da matemática para solucionar um problema com referência na realidade (GIBRAM, 2011). O grupo de alunos e pesquisadoras em questão estava interessado em trabalhar com o tema compra de imóveis e todo o trabalho foi desenvolvido a partir disso. O grupo se reunia em encontros periódicos um total de nove sendo todos eles gravados com o auxílio de uma filmadora. O modelo de transcrição foi desenvolvido a partir das transcrições dos vídeos filmados nesses encontros. Como já apontado, esse modelo passou por uma evolução durante o processo de transcrição dos vídeos. Inicialmente, um dos vídeos foi transcrito inteiramente, o que possibilitou uma análise mais geral a respeito do método utilizado. Em um primeiro momento, apresento a primeira estratégia utilizada para as transcrições, que foram dados para a pesquisa dos autores Araújo e Lima (2015). Logo depois, apresento a evolução do método, com as transcrições utilizadas por Araújo, Campos e Torisu (2015) em outra pesquisa. 2 A partir desse momento, chamarei o projeto de pesquisa de PP, para evitar repetições desnecessárias. 3 Esse projeto de pesquisa foi coordenado pela professora Jussara Araújo, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Os dados dessa pesquisa são as transcrições dos vídeos do PP e os e-mails trocados entre o autor desse artigo e seu grupo de orientação. Na próxima seção, além de apresentar o modelo de transcrição, analiso cada detalhe do modelo fazendo um paralelo com sua utilidade no que diz respeito ao PP e a compreensão do pensamento matemático dos sujeitos de pesquisa. UM MODELO PARA TRANSCRIÇÃO DE VÍDEOS Como aluno de iniciação científica 4, uma das minhas tarefas era transcrever os vídeos do PP. O processo para definição do melhor modelo de transcrição nem sempre é fácil. É preciso analisar a situação, os objetivos da pesquisa, a qualidade das gravações, entre outros fatores para só depois determinar a melhor maneira de transcrever os vídeos. Muitos pesquisadores se apoiam em outras pesquisas para definir o melhor método de transcrição. Para o PP em questão, preferi buscar um modelo próprio, que pudesse suprir as necessidades da pesquisa. Com a pouca falta de experiência em trabalhos que envolvessem transcrição, decidi, inicialmente, transcrever um dos vídeos por completo, na tentativa de entender como esse processo funciona. Durante todo o processo de transcrição contei com o auxílio de um grupo de orientação composto pela minha orientadora, professora Jussara Araújo, e por seus alunos de mestrado e doutorado. A iniciativa de transcrever um vídeo por completo se mostrou eficiente nos primeiros dias: todas as falas estavam transcritas e, caso precisássemos de qualquer dado para a pesquisa 5, era só consultar a transcrição e lá estavam as falas. Porém, ao mesmo tempo que era eficiente, era cansativa e maçante. Tal percepção fica clara no trecho de um e-mail enviado por mim para o grupo de orientação. Pois bem, a pedido da Jussara [minha orientadora], envio pra vocês um BREVE relato sobre as transcrições. Bem, eu ainda não transcrevi muita coisa, porque os vídeos são muito extensos, mas já deu pra sentir e observar alguns detalhes. O primeiro deles é que, apesar de ser um trabalho legal [...], é bem trabalhoso e demanda BASTANTE tempo. Eu estou gastando, em média, 30 minutos para transcrever por volta de 5 minutos de vídeo. Não sei se esse tempo é bom ou ruim, mas espero que com o tempo eu possa reduzi-lo. (E-mail enviado ao grupo de orientação por Fernando Lima 6 em 22/09/14). Nota-se que o trabalho de transcrever vídeos, apesar de simples, parece não ser tão rápido. Naquele momento, eu gastava muito tempo para transcrever poucas falas do vídeo e a estratégia utilizada parecia não ser a melhor. Como o objetivo era encontrar uma maneira mais eficiente de realizar as transcrições, continuar era necessário e interessante para o sucesso da pesquisa. O vídeo escolhido para a transcrição tinha exatos 01:59:13 de duração e levei um mês inteiro para transcrevê-lo por completo, levando em consideração minhas atividades diárias de aluno de graduação. A transcrição de todas as falas rendeu um arquivo com 56 páginas. 4 Aluno da Licenciatura em Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais, bolsista de iniciação científica do CNPq, orientado por Jussara Araújo. 5 As transcrições desse vídeo foram utilizadas na pesquisa de Araújo e Lima (2015).

Como fim das transcrições do primeiro vídeo, iniciei o processo de seleção de dados, junto com minha orientadora, para trabalharmos em nossa pesquisa. Começamos, então, a procurar nas transcrições os eventos críticos para o artigo. Depois de separadas as falas e escrito a artigo, o momento era de reflexão. Precisávamos analisar o método escolhido para transcrição e definir nosso próximo passo na busca por um bom modelo. A primeira análise feita foi com relação ao tempo gasto para transcrição. Chegamos à conclusão que tal tempo é inviável, principalmente quando os vídeos precisam ser transcritos com certa rapidez. Outra análise feita diz respeito à quantidade de falas transcritas vs. falas utilizadas no artigo. Aproximadamente 10% das falas foram importantes para entender o discurso dos sujeitos e só 3% do total foi de fato utilizado no artigo. Tais números impressionam, pois, aparentemente, muitas falas foram transcritas e não foram necessárias de uma maneira ou de outra no trabalho final. Mas como fazer para evitar transcrever falas que não são úteis para a pesquisa em desenvolvimento? Foi a partir dessa pergunta que começamos a elaborar um novo modelo de transcrição, baseando nossas escolhas nos problemas observados no primeiro método. Precisávamos transcrever os dados dos vídeos restantes para outra pesquisa (ARAÚJO; CAMPOS; TORISU, 2015). Incialmente, com o conhecimento adquirido a partir da primeira experiência com a transcrição e com o auxílio do trabalho feito por Powell, Francisco e Maher (2010), desenvolvemos um modelo de transcrição que pode ser dividido nas seis fases descritas abaixo. Fase 1: Assistir aos vídeos; Fase 2: Selecionar os eventos críticos; Fase 3: Descrever os eventos críticos; Fase 4: Transcrever os eventos críticos; Fase 5: Discutir os dados encontrados; Fase 6: Limpar as transcrições. Essas fases não são tão deslocadas umas das outras. O que quero dizer com isso? Às vezes, é difícil encontrar uma separação clara entre elas a fase X termina aqui e a fase Y começa ali, por exemplo. Acredito que algumas delas funcionem muito bem juntas e isso será mostrado nas próximas seções desse artigo, onde descrevo, discuto e analiso com cuidado cada uma delas e mostro como elas colaboraram para os objetivos finais da pesquisa. FASE 1: ASSISTIR AOS VÍDEOS Na primeira tentativa de transcrição, optamos por transcrever o vídeo por completo, sem antes assisti-lo. O contrário do que proponho na primeira fase do modelo. A ideia é, basicamente, assistir aos vídeos gravados durante a pesquisa sem a intenção de registrar acontecimentos ou relatar fatos do vídeo. É aconselhado que o pesquisador assista aos vídeos para se acostumar com as filmagens, reconhecer os sujeitos, entender sobre o que eles estão discutindo, entre outras coisas. Contudo, isso não significa que os vídeos devem ser assistidos de forma displicente. É importante que o pesquisador tenha em mente os objetivos de sua pesquisa e já na primeira observação vislumbre alguns resultados, ou seja, a análise de dados, por mais que superficial, já está presente na primeira observação dos vídeos.

Apesar de simples, essa fase carrega uma importância fundamental. O contato inicial com os vídeos abre a mente do pesquisador para o que propomos na fase 2 desse modelo. FASE 2: SELECIONAR OS EVENTOS CRÍTICOS Como dito anteriormente, as fases nem sempre são deslocadas umas das outras. A fase 2, por exemplo, está muito conectada com a anterior. Aqui, o(s) pesquisador(es) deve(m) selecionar os eventos críticos. Para isso, deve-se assistir ao vídeo novamente com um olhar clínico diferente do empregado na fase 1 na busca de momentos que podem ser interessantes para a pesquisa em questão. A importância da fase anterior fica evidente nesse momento. É bem mais interessante selecionar os dados depois de assistir aos vídeos ao menos uma vez. Uma primeira observação contribui bastante para o olhar do pesquisador na segunda observação dos vídeos. Falando sobre a importância dessa fase, no momento de seleção dos eventos críticos resultados não antes previstos podem surgir, o que é algo relevante para o momento de análise dos dados. Para contextualizar a situação, colocarei uma situação encontrada durante a seleção dos eventos críticos para o PP. O interesse era desvendar a evolução do comportamento de um dos sujeitos de pesquisa do PP. Inicialmente, pensávamos que esse sujeito apresentava um comportamento mais linear, isto é, sua evolução era constante ao longo da pesquisa. Basicamente, imaginávamos que esse sujeito começou de um jeito e terminou de outro, mas o percurso foi linear, constante e previsível. Todavia, na seleção dos eventos críticos, percebemos que o sujeito, mesmo tendo um comportamento previsível, não apresentava uma evolução linear. Durante um mesmo vídeo, ele evoluía e retrocedia seu pensamento, o que demonstrou uma diferença a respeito da teoria inicial. Para clarear, achávamos que o sujeito se comportava como uma função linear de primeiro grau. A partir da fase 2, descobrimos que seu comportamento era mais parecido com uma função seno. Friso que tal percepção do comportamento do sujeito só foi possível na fase 2. Daí sua importância para compreensão dos dados e dos pensamentos dos sujeitos. Para seleção dos eventos críticos, utilizamos apenas os vídeos, papéis e canetas para registrar tais momentos. A figura 1 mostra um exemplo de como fizemos a seleção dos eventos críticos. Figura 1: um exemplo de seleção dos eventos críticos. Fonte próprio autor.

Essa seleção é feita apenas pelo registro do tempo (de acordo com o vídeo), seguido de uma curta descrição do que acontece no tempo relatado. Tal descrição nos leva diretamente para a fase 3, que acontece concomitantemente com a fase 2. FASE 3: DESCREVER OS EVENTOS CRÍTICOS Nessa fase, é preciso descrever o que acontece nos eventos críticos. Essa descrição também acontece em duas partes. Na primeira, como pode ser observado na figura 1, o(s) pesquisador(es) devem relatar em textos curtos o que acontece em tal situação. Essa primeira parte auxilia na localização do pesquisador dentro do vídeo, pois os textos curtos sinalizam a principal ideia do evento crítico. Na segunda parte, é preciso que o(s) pesquisador(es) façam descrições mais elaboradas dos eventos críticos. Isso exige que os vídeos, ou ao menos os eventos críticos sejam assistidos mais uma vez, o que pode ser considerado um ponto forte do modelo aqui proposto. Sobre descrição dos eventos críticos, Powell, Fransciso e Maher (2004) destacam que devido à intensidade da mídia, o uso de dados de vídeo resulta frequentemente numa enorme quantidade de informação. Para propósitos analíticos, isso leva ao desafio de não apenas se familiarizar com o conteúdo dos dados do videoteipe, mas também de conhecê-lo em seus mínimos detalhes. (p. 102). Assim sendo, descrever os dados colabora para a compreensão de tais mínimos detalhes, fazendo com que essa fase seja de suma importância para a análise dos dados como um todo. A partir do momento em que os dados estão descritos, podemos partir para a fase 4, que é a transcrição propriamente dita. FASE 4: TRANSCREVER OS EVENTOS CRÍTICOS Depois de descrever, inicia-se o processo de transcrição dos dados. Nessa fase, é preciso ouvir/assistir aos eventos críticos e registrar, em forma de texto, tudo que os participantes do vídeo falam. Todos as fases anteriores foram elaboradas a fim de diminuir a carga de trabalho da fase 4, além de refinar os dados. Enquanto na primeira estratégia se transcrevia todas as falas, para depois selecionar os eventos críticos, nesse modelo fazemos o caminho inverso. A economia de tempo observada na mudança de métodos foi notável. Apesar dos números serem frios e incertos, levou menos de um mês para transcrever todos os dados colhidos com os oito vídeos restantes. Enquanto esse tempo quase não foi suficiente para transcrever um vídeo completo. Apesar de não ser um dos objetivos desse artigo, acredito ser importante citar o modo como foram formatadas as transcrições. A figura 2 abaixo mostra o estilo empregado para destacar as transcrições nos artigos em que elas foram utilizadas. Separar em duas colunas a primeira com os sujeitos e a segunda com as falas facilita a compreensão dos textos e das situações.

Figura 2: formatação de transcrição utilizada nesse modelo. Pedro: Mas hospital ficou parecido com shopping, não? Aline: Ah não! Jussara: Mas se a gente classificasse essas respos... perguntas de acordo com a semelhança de respostas? Pedro: Semelhança de respostas, é! Aline: Hã!? Tipo assim... Jussara: É igual você falou aí. Hospital ficou meio parecido com shopping. Vamos separar nesses grupos. Fernanda: É como se, entre aspas, tivesse o mesmo grau de relevância essas duas coisas. Pedro: É algo que [local onde] eu vou, esporadicamente. Jussara: Pois é, oh... hospital e shopping é parecido. A simpatia do imóvel é parecido com indústria!? Aline: Então o que se destaca entre 0 e 3 poderia ficar em um grupo, entre 4 e 6 um outro grupo...? Fonte ARAÚJO; LIMA, 2015, p. 7. Assim que a transcrição dos dados estiver finalizada, podemos começar a fase 5 do modelo. FASE 5: DISCUTIR OS EVENTOS CRÍTICOS Essa fase surgiu a partir da necessidade de discussão dos dados encontrados. As pesquisas desenvolvidas com as transcrições dos vídeos do PP envolvem muitos pesquisadores e, mesmo que todos participem do processo inteiro de transcrição, é interessante que esses mesmos pesquisadores discutam os dados apresentados pela transcrição. Ou seja, a fase 5 é basicamente um prelúdio do que pode aparecer de discussão e análise dos dados da pesquisa. Como cada pesquisador tem sua percepção a partir dos dados recolhidos nos passos anteriores, a discussão é o momento de compartilhar entendimentos e ideias. Mesmo pesquisas realizadas por um único pesquisador precisam de um momento de discussão, que nesse caso pode ser entendido como uma reflexão dos dados transcritos. Analiticamente falando, essa, talvez, seja a fase mais interessante de todo o processo de transcrição e análise de vídeos. É nesse momento que os pesquisadores em Educação Matemática podem ver o desenvolvimento do pensamento matemático de seus sujeitos de pesquisa acontecendo e tendo a oportunidade de discutir ou refletir sobre tais dados. A partir do momento que se discute, descobre-se que nem todos os dados serão utilizados, ou, até mesmo, que alguns dos dados podem ser utilizados em outras pesquisas. Isso nos leva à sexta e última fase desse método. FASE 6: LIMPAR AS TRANSCRIÇÕES A limpeza de dados é a finalização do processo de análise de vídeos. Nesse momento separa-se os dados que vão colaborar para a pesquisa dos dados que não colaborarão ou que serão úteis em outros trabalhos. Importante dizer que essa fase pode não acontecer, caso a discussão gerada na fase 6 não levante a possiblidade de dados que não serão utilizados.

Antes de destacarmos algumas considerações sobre o modelo aqui apresentado, gostaria de evidenciar que o método utilizado pode apresentar seus pontos fracos. Mas nenhum método é isento de falhas. Cabe ao pesquisador saber como trabalhar com as adversidades do modelo. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desse artigo é, basicamente, apresentar uma estratégia de trabalho para transcrições de vídeos. Entretanto é importante ressaltar que o objetivo, em nenhum momento, foi ditar o que os pesquisadores devem ou não fazer no momento de transcrever seus vídeos. Acredito que cada estratégia tenha seu valor e cabe ao pesquisador decidir quais são as que mais atendem as suas necessidades. No trabalho desenvolvido durante as transcrições, o interesse, assim como em todas as pesquisas, era particular cada pesquisador tem um objetivo de pesquisa e utilizar esse modelo foi efetivo por diversos motivos tais como: entendimento do pensamento matemático dos sujeitos; vislumbre de algumas situações que, antes das transcrições, não havia sido observadas; redução do tempo de trabalho para transcrever vídeos etc. No desenvolvimento desse modelo também descobrimos o quanto os vídeos são úteis no âmbito de várias pesquisas. Vale destacar a importância dessa mídia para professores da educação básica, que podem compreender melhor o pensamento de seus alunos ao assistir vídeos de seus alunos em sala de aula. Uma discussão iniciada nas primeiras seções desse artigo pode ser problematizada agora. A questão gira em torno de vídeos como dados X transcrições como dados. A partir dos dados apresentados nesse trabalho, podemos entender que ambos podem ser tratados como dados. Os vídeos, de certo modo, apresentam as filmagens mostrando o que aconteceu no decorrer da pesquisa. Já as transcrições representam a carga textual do que os vídeos representam. Ao mostrarmos como o processo de transcrição evoluiu, vimos que as transcrições, assim como os vídeos, colaboraram bastante para os resultados da pesquisa. Apesar de alguns pesquisadores acreditarem que os vídeos não devem ser transcritos (PALLATIERI; GRANDO, 2011), pois nessa ação se perde muito das vantagens que os vídeos trazem, acredito que as duas mídias podem se ajudar. Os vídeos geram as transcrições, que por sua vez permitem aos pesquisadores assistirem aos seus vídeos muitas vezes. O que representa uma vantagem para qualquer pesquisa que utilize essa metodologia de pesquisa. REFERÊNCIAS ARAÚJO, J. L. Cálculo, tecnologias e modelagem matemática: as discussões dos alunos. 2002. 173f. Tese (Doutorado em Educação Matemática), Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro. 2002. ARAÚJO, J. L. Uma abordagem sócio-crítica da modelagem matemática: a perspectiva da educação matemática crítica. Alexandria Revista de Educação em Ciências e Tecnologia, Florianópolis, v. 2, n. 2, p.55-68, jul. 2009. Disponível em: <http://alexandria.ppgect.ufsc.br/files/2012/03/jussara.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2015. ARAÚJO, J. L.; CAMPOS, I. S.; TORISU, E. M. Motives tovoluntarilyparticipate in a mathematicalmodellingproject. In: INTERNATIONAL COMMUNITY OF TEACHERS OF MATHEMATICAL MODELLING AND APPLICATIONS, 17., 2015. Nottingham. Resumos... Nottingham: Universityof Nottingham, 2015. p. 12.

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